Voto de indicados de Lula no Copom será lido como um BC mais leniente com inflação, diz ex-diretor


Fabio Kanczuk esperava um corte de 0,25 ponto percentual, mas não trabalhava com o cenário de que os quatro diretores escolhidos pelo governo votariam por uma redução maior da Selic

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:
Foto: Leonardo Martins/Divulgação
Entrevista comFabio KanczukEx-diretor do Banco Central

Ex-diretor do Banco Central e head de macroeconomia da ASA Investments, Fabio Kanczuk já esperava um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, mas não trabalhava com o cenário no qual os quatro diretores do BC indicados pelo governo Lula votariam por uma redução maior da Selic, de 0,50 ponto.

Nesta quarta-feira, 8, numa decisão dividida, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros para 10,50% ao ano.

Kanczuk afirma que essa divisão deve fazer com o que o mercado tenha uma leitura de um Banco Central mais tolerante com a inflação. O mercado se debruça com atenção sobre o futuro e o nome que vai comandar a instituição. O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, termina em 31 de dezembro.

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Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual (pp.) nesta quarta-feira, 8, e interrompeu um ciclo de seis cortes consecutivos de 0,50 pp. Foto: Wilton Junior/Estadão

“A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente”, afirma.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estadão.

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O que o sr. achou da decisão do Copom?

Dessa vez, a gente acertou. A gente não esperava que iria haver essa coincidência dos quatro diretores indicados pelo Lula (votarem por 0,50 ponto percentual). A sinalização (do Copom) é de que pode fazer mais um corte de 0,25 ponto porcentual, e acabou o jogo. Mas eu acho que não. Vai fazer mais cortes de 0,25 ponto, para (levar a Selic para o patamar de) 10%, 9,75%, mas o Copom quis tentar dar uma sinalização dura. E a coisa divertida é como vai ser o próximo Copom — se foi só uma coincidência de serem os quatro ou não, se é uma questão política ter os quatro diretores do Lula votando em grupo.

Essa divisão pode ter algum impacto, por exemplo, de um BC mais leniente com a inflação?

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A leitura do mercado vai ser essa. A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente.

O sr. acredita nisso?

Pessoalmente, a minha análise é de que isso não está dado, não. Por exemplo, o Paulo Picchetti (diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos). Ele foi o diretor com quem eu falei nesse ínterim. E eu não vejo a decisão dele como política. Não falei com os outros diretores. Não vejo a decisão dele como política, e ele foi um dos que votou pelo corte de 0,50 ponto. Os outros eu não sei. No caso dele, eu acho mais coincidência do que qualquer outra coisa.

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No boletim Focus, as expectativas de inflação de 2025 estão subindo. Faz sentido o BC manter esse ritmo de corte de 0,25 ponto?

Fazer sentido ou não fazer sentido é uma opinião. Não tem certo ou errado. Cada um tem uma opinião. Eu não sou dono da verdade. A minha opinião — e eu venho falando sobre isso já há bastante tempo — é que está desancorado já faz tempo. Eu nunca entendi a queda de juros. Eu não teria votado por queda de juros nunca. Mas essa é a minha opinião. Eu não estou de nenhuma forma afirmando que eu estou certo e eles estão errados. É uma opinião pessoal de que é muito importante a ancoragem das expectativas. Elas já estavam desancoradas. Nunca chegou a ficar em 3% (número que é o centro da meta da inflação).

Para o sr., a taxa de juros fica nesse patamar de 10% em 2025?

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Eu acho que tende a ficar parada por um bom tempo em torno de 10%. A inflação não vai permitir quedas maiores de juros. O que passa na minha cabeça é que os juros ficam em torno de 10%, e a inflação fica em torno de 4%. Não tem refresco. O Banco Central não pode continuar cortando os juros em 2025.

Ex-diretor do Banco Central e head de macroeconomia da ASA Investments, Fabio Kanczuk já esperava um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, mas não trabalhava com o cenário no qual os quatro diretores do BC indicados pelo governo Lula votariam por uma redução maior da Selic, de 0,50 ponto.

Nesta quarta-feira, 8, numa decisão dividida, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros para 10,50% ao ano.

Kanczuk afirma que essa divisão deve fazer com o que o mercado tenha uma leitura de um Banco Central mais tolerante com a inflação. O mercado se debruça com atenção sobre o futuro e o nome que vai comandar a instituição. O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, termina em 31 de dezembro.

Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual (pp.) nesta quarta-feira, 8, e interrompeu um ciclo de seis cortes consecutivos de 0,50 pp. Foto: Wilton Junior/Estadão

“A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente”, afirma.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estadão.

O que o sr. achou da decisão do Copom?

Dessa vez, a gente acertou. A gente não esperava que iria haver essa coincidência dos quatro diretores indicados pelo Lula (votarem por 0,50 ponto percentual). A sinalização (do Copom) é de que pode fazer mais um corte de 0,25 ponto porcentual, e acabou o jogo. Mas eu acho que não. Vai fazer mais cortes de 0,25 ponto, para (levar a Selic para o patamar de) 10%, 9,75%, mas o Copom quis tentar dar uma sinalização dura. E a coisa divertida é como vai ser o próximo Copom — se foi só uma coincidência de serem os quatro ou não, se é uma questão política ter os quatro diretores do Lula votando em grupo.

Essa divisão pode ter algum impacto, por exemplo, de um BC mais leniente com a inflação?

A leitura do mercado vai ser essa. A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente.

O sr. acredita nisso?

Pessoalmente, a minha análise é de que isso não está dado, não. Por exemplo, o Paulo Picchetti (diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos). Ele foi o diretor com quem eu falei nesse ínterim. E eu não vejo a decisão dele como política. Não falei com os outros diretores. Não vejo a decisão dele como política, e ele foi um dos que votou pelo corte de 0,50 ponto. Os outros eu não sei. No caso dele, eu acho mais coincidência do que qualquer outra coisa.

No boletim Focus, as expectativas de inflação de 2025 estão subindo. Faz sentido o BC manter esse ritmo de corte de 0,25 ponto?

Fazer sentido ou não fazer sentido é uma opinião. Não tem certo ou errado. Cada um tem uma opinião. Eu não sou dono da verdade. A minha opinião — e eu venho falando sobre isso já há bastante tempo — é que está desancorado já faz tempo. Eu nunca entendi a queda de juros. Eu não teria votado por queda de juros nunca. Mas essa é a minha opinião. Eu não estou de nenhuma forma afirmando que eu estou certo e eles estão errados. É uma opinião pessoal de que é muito importante a ancoragem das expectativas. Elas já estavam desancoradas. Nunca chegou a ficar em 3% (número que é o centro da meta da inflação).

Para o sr., a taxa de juros fica nesse patamar de 10% em 2025?

Eu acho que tende a ficar parada por um bom tempo em torno de 10%. A inflação não vai permitir quedas maiores de juros. O que passa na minha cabeça é que os juros ficam em torno de 10%, e a inflação fica em torno de 4%. Não tem refresco. O Banco Central não pode continuar cortando os juros em 2025.

Ex-diretor do Banco Central e head de macroeconomia da ASA Investments, Fabio Kanczuk já esperava um corte de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros, mas não trabalhava com o cenário no qual os quatro diretores do BC indicados pelo governo Lula votariam por uma redução maior da Selic, de 0,50 ponto.

Nesta quarta-feira, 8, numa decisão dividida, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros para 10,50% ao ano.

Kanczuk afirma que essa divisão deve fazer com o que o mercado tenha uma leitura de um Banco Central mais tolerante com a inflação. O mercado se debruça com atenção sobre o futuro e o nome que vai comandar a instituição. O mandato de Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, termina em 31 de dezembro.

Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,25 ponto porcentual (pp.) nesta quarta-feira, 8, e interrompeu um ciclo de seis cortes consecutivos de 0,50 pp. Foto: Wilton Junior/Estadão

“A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente”, afirma.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estadão.

O que o sr. achou da decisão do Copom?

Dessa vez, a gente acertou. A gente não esperava que iria haver essa coincidência dos quatro diretores indicados pelo Lula (votarem por 0,50 ponto percentual). A sinalização (do Copom) é de que pode fazer mais um corte de 0,25 ponto porcentual, e acabou o jogo. Mas eu acho que não. Vai fazer mais cortes de 0,25 ponto, para (levar a Selic para o patamar de) 10%, 9,75%, mas o Copom quis tentar dar uma sinalização dura. E a coisa divertida é como vai ser o próximo Copom — se foi só uma coincidência de serem os quatro ou não, se é uma questão política ter os quatro diretores do Lula votando em grupo.

Essa divisão pode ter algum impacto, por exemplo, de um BC mais leniente com a inflação?

A leitura do mercado vai ser essa. A coincidência ou falta de coincidência de que os quatro que votaram em 0,50 terem sido nomeados pelo Lula vai ser lida pelo mercado como o que vem pela frente é um Banco Central mais leniente.

O sr. acredita nisso?

Pessoalmente, a minha análise é de que isso não está dado, não. Por exemplo, o Paulo Picchetti (diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos). Ele foi o diretor com quem eu falei nesse ínterim. E eu não vejo a decisão dele como política. Não falei com os outros diretores. Não vejo a decisão dele como política, e ele foi um dos que votou pelo corte de 0,50 ponto. Os outros eu não sei. No caso dele, eu acho mais coincidência do que qualquer outra coisa.

No boletim Focus, as expectativas de inflação de 2025 estão subindo. Faz sentido o BC manter esse ritmo de corte de 0,25 ponto?

Fazer sentido ou não fazer sentido é uma opinião. Não tem certo ou errado. Cada um tem uma opinião. Eu não sou dono da verdade. A minha opinião — e eu venho falando sobre isso já há bastante tempo — é que está desancorado já faz tempo. Eu nunca entendi a queda de juros. Eu não teria votado por queda de juros nunca. Mas essa é a minha opinião. Eu não estou de nenhuma forma afirmando que eu estou certo e eles estão errados. É uma opinião pessoal de que é muito importante a ancoragem das expectativas. Elas já estavam desancoradas. Nunca chegou a ficar em 3% (número que é o centro da meta da inflação).

Para o sr., a taxa de juros fica nesse patamar de 10% em 2025?

Eu acho que tende a ficar parada por um bom tempo em torno de 10%. A inflação não vai permitir quedas maiores de juros. O que passa na minha cabeça é que os juros ficam em torno de 10%, e a inflação fica em torno de 4%. Não tem refresco. O Banco Central não pode continuar cortando os juros em 2025.

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