Equilíbrio fiscal tem de ser ‘comedido’ e abandonar o social é ‘suicídio político’, diz Gleisi


Para presidente do PT, dólar e juros altos prejudicam o Brasil, e não Lula; segundo ela, abandonar políticas públicas com as quais o governo tem compromisso tiraria vitória nas eleições, ‘mais do que a especulação do dólar’

Por Victor Ohana
Foto: Zeca Ribeiro
Entrevista comGleisi HoffmannDeputada federal e presidente do PT

A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, disse que “as regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social” e que o equilíbrio fiscal do governo “tem que ser comedido”, em entrevista exclusiva concedida ao Estadão/Broadcast.

Após sete anos no comando do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada federal do Paraná quer que o seu sucessor na legenda siga comprometido com as bases da sigla e vê “suicídio político” se o governo deixar de lado bandeiras históricas, como sugere o mercado financeiro. “Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar”, afirmou.

Na semana passada, a sua tese de que há um “ataque especulativo” contra a economia brasileira foi contrariada pelo próprio futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que disse que o termo não descreve bem o que ocorre atualmente.

continua após a publicidade
Gleisi disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

“Ele está tendo essas posições muito pelo constrangimento construído pelo Campos Neto”, disse Gleisi no trecho da entrevista publicado pelo Estadão/Broadcast na quinta-feira, 19, quando a deputada conversou com a reportagem. Gleisi também disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas.

Veja outros trechos da entrevista:

continua após a publicidade

A senhora tem falado na existência de um ataque especulativo como um dos principais fatores para a alta do dólar. Ataque especulativo não é uma teoria da conspiração?

Não é uma teoria da conspiração, é uma disputa política com o governo. O que o mercado queria, além dessa redução das despesas em R$ 70 bilhões? Queria que desvinculasse o salário mínimo da Previdência e do BPC, que cortasse os pisos da saúde e da educação, que o salário não tivesse reajuste real. Isso é pedir um suicídio político. Não temos uma bagunça fiscal. No ano passado, houve déficit de R$ 230 bilhões. Este ano, o déficit vai ser de R$ 30 bilhões. Onde está o desajuste? Com os juros da dívida, que, a cada ponto porcentual, aumenta quase R$ 50 bilhões. Nessa toada, vamos ter uma dívida explosiva.

Sobre o pacote fiscal, está convencida de que não haverá cortes de direitos sociais?

continua após a publicidade

Não haverá. Fizemos uma boa revisão do projeto de lei apresentado, em termos principalmente do BPC. O benefício está garantido. O peso vai ser na fiscalização, na biometria, no recadastramento. Tinha vários pontos ali que achamos que não eram bons, e a gente conseguiu retirar.

A necessidade de cumprir o arcabouço fiscal tem feito bem ao governo?

A gente precisa ter equilíbrio fiscal, mas ele tem que ser comedido. Ele não pode matar as políticas públicas que nós defendemos historicamente e que fazem a diferença na vida do povo. Não dá para desvincular salário mínimo da Previdência, não dá para não ter reajuste real de salário mínimo, nem para tirar o piso da saúde e da educação. As regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social que o governo tem.

continua após a publicidade

O dólar alto e os juros prejudicam a imagem do Lula para 2026?

Isso vai prejudicar o Brasil. Não é o Lula. O governo já está entregando, está cumprindo. Não pode deixar de ter as políticas públicas com as quais tem compromisso. Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar.

continua após a publicidade

Em uma reforma ministerial, o governo tem que ampliar mais a frente ampla?

Eu não sei o que o presidente vai fazer, não conversou comigo a esse respeito. Mas acho que os partidos que fazem parte do governo já atestam o pré-compromisso eleitoral com o presidente. O governo já tem uma amplitude. Se puder ampliar, eu não vejo problemas nisso. É importante.

A senhora aceitaria ser ministra?

continua após a publicidade

Nunca conversei sobre isso com o presidente Lula. Isso não está na minha perspectiva. Eu vou levar o PT até julho de 2025.

Há perspectiva de área que a senhora poderia contribuir?

Não, até porque, depois, sobra um período muito pequeno, eu vou ser candidata de novo à reeleição a deputada, não teria nem como. E acho que todos que entrarem no governo a partir de agora têm que ter compromisso com o governo e com a reeleição do presidente, não com a sua própria.

Qual a preocupação que gostaria que se mantivesse na próxima gestão do PT?

Nossa maior preocupação era salvar o PT do cerco de aniquilamento que sofremos. Passamos os últimos anos defendendo o presidente Lula, preso injustamente, e nos defendendo. Foi muito duro, e a gente se ancorou muito na nossa militância. Esse trabalho com a base do PT é fundamental, não pode ser esquecido.

Como tem visto esse movimento em favor do Edinho Silva?

Acho legítimo. O Edinho tem legitimidade para se apresentar como candidato, e outros nomes também. O que importa, mais do que discutir o nome, é a ação programática. O partido tem que atualizar os seus posicionamentos, reafirmando que somos um partido de esquerda. Não somos um partido que vai ao centro, somos um partido que faz alianças com o centro. Até com a direita, fizemos em defesa da democracia. Mas somos um partido de esquerda.

O PT desistiu de revisar a reforma trabalhista e da Previdência?

Não desistimos, só não temos correlação de forças. Olha o Congresso Nacional. Temo que, se a gente colocar esses assuntos para discutir, eles possam piorar. Não há correlação hoje para desconstruir o que foi feito. A gente tem que ir achando brechas. O que estamos tentando é resistir a mais desmantelamentos.

A senhora acha que a esquerda tem errado em algum ponto?

Temos que eleger mais deputados. Crescemos em 2022, mas, no geral, a esquerda não cresceu, porque temos um padrão que favorece a reeleição, com essa dinheirama toda de emenda parlamentar. Temos que pensar como agir.

A extrema direita está mais popular hoje?

É um ciclo histórico. Tivemos fascismo no Brasil, com Plínio Salgado e os camisas verdes. A esquerda era forte também. Com o golpe militar, veio o enfraquecimento da esquerda, mas ela conseguiu se reconstruir. E nasce, desse esforço, o PT e uma forte ascensão da esquerda. É nesse caldo que o PT elege Lula. É um período longevo com a direita na casinha. Com o impeachment da Dilma, começa o enfraquecimento da esquerda e um crescimento da direita. Tem uma onda da extrema direita. Ela vai passar.

A saúde do Lula deixa desespero sobre não ter liderança em 2026?

Não. Não é a condição da saúde do presidente que nos assusta. Teve o acidente, mas ele está bem. Nós queremos que ele seja o nosso candidato. Se ele não quiser, vai ter que delegar a alguém. Mas ele é o candidato que tem condições de disputar as eleições de 2026 e vai chegar bem lá.

Qual o seu grau de preocupação em relação a 2026?

É grande. Estamos numa disputa política muito acirrada, numa sociedade muito dividida. A gente não pode errar, tem que focar naquilo que é a prioridade do povo. Mas não estou falando em relação à saúde do presidente, estou falando do panorama político. A questão da saúde é um ponto de atenção, mas não uma extrema preocupação.

A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, disse que “as regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social” e que o equilíbrio fiscal do governo “tem que ser comedido”, em entrevista exclusiva concedida ao Estadão/Broadcast.

Após sete anos no comando do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada federal do Paraná quer que o seu sucessor na legenda siga comprometido com as bases da sigla e vê “suicídio político” se o governo deixar de lado bandeiras históricas, como sugere o mercado financeiro. “Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar”, afirmou.

Na semana passada, a sua tese de que há um “ataque especulativo” contra a economia brasileira foi contrariada pelo próprio futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que disse que o termo não descreve bem o que ocorre atualmente.

Gleisi disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

“Ele está tendo essas posições muito pelo constrangimento construído pelo Campos Neto”, disse Gleisi no trecho da entrevista publicado pelo Estadão/Broadcast na quinta-feira, 19, quando a deputada conversou com a reportagem. Gleisi também disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas.

Veja outros trechos da entrevista:

A senhora tem falado na existência de um ataque especulativo como um dos principais fatores para a alta do dólar. Ataque especulativo não é uma teoria da conspiração?

Não é uma teoria da conspiração, é uma disputa política com o governo. O que o mercado queria, além dessa redução das despesas em R$ 70 bilhões? Queria que desvinculasse o salário mínimo da Previdência e do BPC, que cortasse os pisos da saúde e da educação, que o salário não tivesse reajuste real. Isso é pedir um suicídio político. Não temos uma bagunça fiscal. No ano passado, houve déficit de R$ 230 bilhões. Este ano, o déficit vai ser de R$ 30 bilhões. Onde está o desajuste? Com os juros da dívida, que, a cada ponto porcentual, aumenta quase R$ 50 bilhões. Nessa toada, vamos ter uma dívida explosiva.

Sobre o pacote fiscal, está convencida de que não haverá cortes de direitos sociais?

Não haverá. Fizemos uma boa revisão do projeto de lei apresentado, em termos principalmente do BPC. O benefício está garantido. O peso vai ser na fiscalização, na biometria, no recadastramento. Tinha vários pontos ali que achamos que não eram bons, e a gente conseguiu retirar.

A necessidade de cumprir o arcabouço fiscal tem feito bem ao governo?

A gente precisa ter equilíbrio fiscal, mas ele tem que ser comedido. Ele não pode matar as políticas públicas que nós defendemos historicamente e que fazem a diferença na vida do povo. Não dá para desvincular salário mínimo da Previdência, não dá para não ter reajuste real de salário mínimo, nem para tirar o piso da saúde e da educação. As regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social que o governo tem.

O dólar alto e os juros prejudicam a imagem do Lula para 2026?

Isso vai prejudicar o Brasil. Não é o Lula. O governo já está entregando, está cumprindo. Não pode deixar de ter as políticas públicas com as quais tem compromisso. Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar.

Em uma reforma ministerial, o governo tem que ampliar mais a frente ampla?

Eu não sei o que o presidente vai fazer, não conversou comigo a esse respeito. Mas acho que os partidos que fazem parte do governo já atestam o pré-compromisso eleitoral com o presidente. O governo já tem uma amplitude. Se puder ampliar, eu não vejo problemas nisso. É importante.

A senhora aceitaria ser ministra?

Nunca conversei sobre isso com o presidente Lula. Isso não está na minha perspectiva. Eu vou levar o PT até julho de 2025.

Há perspectiva de área que a senhora poderia contribuir?

Não, até porque, depois, sobra um período muito pequeno, eu vou ser candidata de novo à reeleição a deputada, não teria nem como. E acho que todos que entrarem no governo a partir de agora têm que ter compromisso com o governo e com a reeleição do presidente, não com a sua própria.

Qual a preocupação que gostaria que se mantivesse na próxima gestão do PT?

Nossa maior preocupação era salvar o PT do cerco de aniquilamento que sofremos. Passamos os últimos anos defendendo o presidente Lula, preso injustamente, e nos defendendo. Foi muito duro, e a gente se ancorou muito na nossa militância. Esse trabalho com a base do PT é fundamental, não pode ser esquecido.

Como tem visto esse movimento em favor do Edinho Silva?

Acho legítimo. O Edinho tem legitimidade para se apresentar como candidato, e outros nomes também. O que importa, mais do que discutir o nome, é a ação programática. O partido tem que atualizar os seus posicionamentos, reafirmando que somos um partido de esquerda. Não somos um partido que vai ao centro, somos um partido que faz alianças com o centro. Até com a direita, fizemos em defesa da democracia. Mas somos um partido de esquerda.

O PT desistiu de revisar a reforma trabalhista e da Previdência?

Não desistimos, só não temos correlação de forças. Olha o Congresso Nacional. Temo que, se a gente colocar esses assuntos para discutir, eles possam piorar. Não há correlação hoje para desconstruir o que foi feito. A gente tem que ir achando brechas. O que estamos tentando é resistir a mais desmantelamentos.

A senhora acha que a esquerda tem errado em algum ponto?

Temos que eleger mais deputados. Crescemos em 2022, mas, no geral, a esquerda não cresceu, porque temos um padrão que favorece a reeleição, com essa dinheirama toda de emenda parlamentar. Temos que pensar como agir.

A extrema direita está mais popular hoje?

É um ciclo histórico. Tivemos fascismo no Brasil, com Plínio Salgado e os camisas verdes. A esquerda era forte também. Com o golpe militar, veio o enfraquecimento da esquerda, mas ela conseguiu se reconstruir. E nasce, desse esforço, o PT e uma forte ascensão da esquerda. É nesse caldo que o PT elege Lula. É um período longevo com a direita na casinha. Com o impeachment da Dilma, começa o enfraquecimento da esquerda e um crescimento da direita. Tem uma onda da extrema direita. Ela vai passar.

A saúde do Lula deixa desespero sobre não ter liderança em 2026?

Não. Não é a condição da saúde do presidente que nos assusta. Teve o acidente, mas ele está bem. Nós queremos que ele seja o nosso candidato. Se ele não quiser, vai ter que delegar a alguém. Mas ele é o candidato que tem condições de disputar as eleições de 2026 e vai chegar bem lá.

Qual o seu grau de preocupação em relação a 2026?

É grande. Estamos numa disputa política muito acirrada, numa sociedade muito dividida. A gente não pode errar, tem que focar naquilo que é a prioridade do povo. Mas não estou falando em relação à saúde do presidente, estou falando do panorama político. A questão da saúde é um ponto de atenção, mas não uma extrema preocupação.

A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, disse que “as regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social” e que o equilíbrio fiscal do governo “tem que ser comedido”, em entrevista exclusiva concedida ao Estadão/Broadcast.

Após sete anos no comando do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada federal do Paraná quer que o seu sucessor na legenda siga comprometido com as bases da sigla e vê “suicídio político” se o governo deixar de lado bandeiras históricas, como sugere o mercado financeiro. “Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar”, afirmou.

Na semana passada, a sua tese de que há um “ataque especulativo” contra a economia brasileira foi contrariada pelo próprio futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que disse que o termo não descreve bem o que ocorre atualmente.

Gleisi disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas  Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

“Ele está tendo essas posições muito pelo constrangimento construído pelo Campos Neto”, disse Gleisi no trecho da entrevista publicado pelo Estadão/Broadcast na quinta-feira, 19, quando a deputada conversou com a reportagem. Gleisi também disse que a tarefa imediata do BC é ter política de redução de juros e que não vai aliviar para Galípolo nas críticas.

Veja outros trechos da entrevista:

A senhora tem falado na existência de um ataque especulativo como um dos principais fatores para a alta do dólar. Ataque especulativo não é uma teoria da conspiração?

Não é uma teoria da conspiração, é uma disputa política com o governo. O que o mercado queria, além dessa redução das despesas em R$ 70 bilhões? Queria que desvinculasse o salário mínimo da Previdência e do BPC, que cortasse os pisos da saúde e da educação, que o salário não tivesse reajuste real. Isso é pedir um suicídio político. Não temos uma bagunça fiscal. No ano passado, houve déficit de R$ 230 bilhões. Este ano, o déficit vai ser de R$ 30 bilhões. Onde está o desajuste? Com os juros da dívida, que, a cada ponto porcentual, aumenta quase R$ 50 bilhões. Nessa toada, vamos ter uma dívida explosiva.

Sobre o pacote fiscal, está convencida de que não haverá cortes de direitos sociais?

Não haverá. Fizemos uma boa revisão do projeto de lei apresentado, em termos principalmente do BPC. O benefício está garantido. O peso vai ser na fiscalização, na biometria, no recadastramento. Tinha vários pontos ali que achamos que não eram bons, e a gente conseguiu retirar.

A necessidade de cumprir o arcabouço fiscal tem feito bem ao governo?

A gente precisa ter equilíbrio fiscal, mas ele tem que ser comedido. Ele não pode matar as políticas públicas que nós defendemos historicamente e que fazem a diferença na vida do povo. Não dá para desvincular salário mínimo da Previdência, não dá para não ter reajuste real de salário mínimo, nem para tirar o piso da saúde e da educação. As regras fiscais não podem se sobrepor à responsabilidade social que o governo tem.

O dólar alto e os juros prejudicam a imagem do Lula para 2026?

Isso vai prejudicar o Brasil. Não é o Lula. O governo já está entregando, está cumprindo. Não pode deixar de ter as políticas públicas com as quais tem compromisso. Isso nos tira a eleição, mais do que essa especulação do dólar.

Em uma reforma ministerial, o governo tem que ampliar mais a frente ampla?

Eu não sei o que o presidente vai fazer, não conversou comigo a esse respeito. Mas acho que os partidos que fazem parte do governo já atestam o pré-compromisso eleitoral com o presidente. O governo já tem uma amplitude. Se puder ampliar, eu não vejo problemas nisso. É importante.

A senhora aceitaria ser ministra?

Nunca conversei sobre isso com o presidente Lula. Isso não está na minha perspectiva. Eu vou levar o PT até julho de 2025.

Há perspectiva de área que a senhora poderia contribuir?

Não, até porque, depois, sobra um período muito pequeno, eu vou ser candidata de novo à reeleição a deputada, não teria nem como. E acho que todos que entrarem no governo a partir de agora têm que ter compromisso com o governo e com a reeleição do presidente, não com a sua própria.

Qual a preocupação que gostaria que se mantivesse na próxima gestão do PT?

Nossa maior preocupação era salvar o PT do cerco de aniquilamento que sofremos. Passamos os últimos anos defendendo o presidente Lula, preso injustamente, e nos defendendo. Foi muito duro, e a gente se ancorou muito na nossa militância. Esse trabalho com a base do PT é fundamental, não pode ser esquecido.

Como tem visto esse movimento em favor do Edinho Silva?

Acho legítimo. O Edinho tem legitimidade para se apresentar como candidato, e outros nomes também. O que importa, mais do que discutir o nome, é a ação programática. O partido tem que atualizar os seus posicionamentos, reafirmando que somos um partido de esquerda. Não somos um partido que vai ao centro, somos um partido que faz alianças com o centro. Até com a direita, fizemos em defesa da democracia. Mas somos um partido de esquerda.

O PT desistiu de revisar a reforma trabalhista e da Previdência?

Não desistimos, só não temos correlação de forças. Olha o Congresso Nacional. Temo que, se a gente colocar esses assuntos para discutir, eles possam piorar. Não há correlação hoje para desconstruir o que foi feito. A gente tem que ir achando brechas. O que estamos tentando é resistir a mais desmantelamentos.

A senhora acha que a esquerda tem errado em algum ponto?

Temos que eleger mais deputados. Crescemos em 2022, mas, no geral, a esquerda não cresceu, porque temos um padrão que favorece a reeleição, com essa dinheirama toda de emenda parlamentar. Temos que pensar como agir.

A extrema direita está mais popular hoje?

É um ciclo histórico. Tivemos fascismo no Brasil, com Plínio Salgado e os camisas verdes. A esquerda era forte também. Com o golpe militar, veio o enfraquecimento da esquerda, mas ela conseguiu se reconstruir. E nasce, desse esforço, o PT e uma forte ascensão da esquerda. É nesse caldo que o PT elege Lula. É um período longevo com a direita na casinha. Com o impeachment da Dilma, começa o enfraquecimento da esquerda e um crescimento da direita. Tem uma onda da extrema direita. Ela vai passar.

A saúde do Lula deixa desespero sobre não ter liderança em 2026?

Não. Não é a condição da saúde do presidente que nos assusta. Teve o acidente, mas ele está bem. Nós queremos que ele seja o nosso candidato. Se ele não quiser, vai ter que delegar a alguém. Mas ele é o candidato que tem condições de disputar as eleições de 2026 e vai chegar bem lá.

Qual o seu grau de preocupação em relação a 2026?

É grande. Estamos numa disputa política muito acirrada, numa sociedade muito dividida. A gente não pode errar, tem que focar naquilo que é a prioridade do povo. Mas não estou falando em relação à saúde do presidente, estou falando do panorama político. A questão da saúde é um ponto de atenção, mas não uma extrema preocupação.

Entrevista por Victor Ohana

Repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, jornalista formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e foca no 29º Curso Estado de Jornalismo de 2018.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.