Geopolítica tem sido empecilho ao desenvolvimento sustentável, diz ex-primeira-ministra da Noruega


Gro Harlem Brundtland já advogava pela necessidade de um crescimento econômico combinado com preservação ambiental quase quatro décadas atrás, e diz que o mundo demorou muito a agir

Por Beatriz Bulla
Foto: Divulgação/Gro Brundtand
Entrevista comGro BundtlandEx-primeira-ministra da Noruega e pioneira no debate sobre desenvolvimento sustentável

Gro Harlem Brundtland advogava pela necessidade de um crescimento econômico combinado com preservação ambiental quase quatro décadas antes de queimadas na Amazônia ou no Pantanal estamparem manchetes internacionais. Mas o mundo, avalia ela, demorou muito a agir. A diplomata e ex-primeira-ministra da Noruega se tornou liderança global no assunto em 1987, quando presidiu a elaboração do relatório “Nosso Futuro Comum”, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, e cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”. Em entrevista ao Estadão, Brundtland lamenta que a geopolítica esteja “tornando as coisas mais difíceis nos últimos anos”.

“A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca”, afirma, em entrevista concedida por e-mail. “Não há tempo a perder”, afirma a especialista no assunto.

continua após a publicidade

Além de diplomata e política, Brundtland é médica, especialista em saúde pública. Foi a primeira mulher a chefiar o governo da Noruega e ocupou o cargo três vezes. Também foi diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e enviada especial da ONU para questões climáticas. Atualmente, é integrante do The Elders (os anciões, em inglês), grupo fundado por Nelson Mandela que reúne ex-estadistas preocupados com questões globais.

Ela será a palestrante convidada do evento Summit ESG - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado no dia 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.

Leia abaixo a entrevista:

continua após a publicidade

A sra. fala da necessidade de um desenvolvimento global sustentável desde 1987. As questões climáticas nunca foram tão discutidas, talvez porque os riscos a elas associados nunca estiveram tão presentes como hoje. Por que a sociedade demorou tanto para reconhecer o problema? A sra. acredita que agora existe finalmente uma convergência para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável?

Sim, demorou muito! Uma das principais razões é que a humanidade não vive numa ‘sociedade’, mas em quase 200 países diferentes. Acredito que o mundo ainda está lutando para encontrar o melhor caminho a seguir. Receio que a geopolítica esteja tornando as coisas ainda mais difíceis nos últimos anos. A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca.

Chegamos tarde demais?

continua após a publicidade

Não há tempo a perder.

Vista aérea da floresta amazônica no município de Parauapebas, no Estado do Pará Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há anos a sra. fala da ideia de medir o crescimento econômico utilizando instrumentos além do PIB, como indicadores ambientais e sociais. Ainda acredita que esta seria uma forma de mudar como as sociedades lidam com a preservação ambiental?

continua após a publicidade

Sim, a humanidade depende da mudança dos padrões de desenvolvimento e da incorporação do cuidado com a natureza e das preocupações ambientais e sociais em todas as tomadas de decisão.

O que a sra. espera concretamente da próximo encontro do G-20, que será sediado no Brasil e terá a transição energética como um dos temas em debate?

Espero que o G-20 esteja à altura da ocasião, deixe a geopolítica de lado e se concentre no bem comum. A transição energética é certamente uma preocupação comum muito crítica.

continua após a publicidade

O Brasil defende que os países desenvolvidos paguem ao governo brasileiro para ajudar na tarefa de preservação da Floresta Amazônica, algo que é de interesse global. A sra. defende que esse pagamento seja feito?

A Noruega faz parte desse tipo de política há décadas. É um exemplo de como a solidariedade para o bem comum é absolutamente crítica.

Como o Brasil pode contribuir para o debate global sobre desenvolvimento sustentável?

continua após a publicidade

Como país importante e também anfitrião, é fundamental que o Brasil lidere em nome de todo o mundo e apoie o multilateralismo como o mecanismo chave para o sucesso.

Enfrentamos recentemente a pandemia da covid-19. Qual é a principal lição que aprendemos com isso? Há algo que a
sra. acreditava que mudaria globalmente após a covid e que não aconteceu?

As lições da covid são, em primeiro lugar, que o mundo não escolheu a cooperação global e ilustram o quão longe estivemos do tipo de responsabilidade comum da qual depende o nosso futuro comum.

O Summit ESG Estadão - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030 será realizado em 26 de setembro, das 8h30 às 19h, no Teatro B32, em São Paulo. Para se inscrever, acesse este link.

Gro Harlem Brundtland advogava pela necessidade de um crescimento econômico combinado com preservação ambiental quase quatro décadas antes de queimadas na Amazônia ou no Pantanal estamparem manchetes internacionais. Mas o mundo, avalia ela, demorou muito a agir. A diplomata e ex-primeira-ministra da Noruega se tornou liderança global no assunto em 1987, quando presidiu a elaboração do relatório “Nosso Futuro Comum”, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, e cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”. Em entrevista ao Estadão, Brundtland lamenta que a geopolítica esteja “tornando as coisas mais difíceis nos últimos anos”.

“A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca”, afirma, em entrevista concedida por e-mail. “Não há tempo a perder”, afirma a especialista no assunto.

Além de diplomata e política, Brundtland é médica, especialista em saúde pública. Foi a primeira mulher a chefiar o governo da Noruega e ocupou o cargo três vezes. Também foi diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e enviada especial da ONU para questões climáticas. Atualmente, é integrante do The Elders (os anciões, em inglês), grupo fundado por Nelson Mandela que reúne ex-estadistas preocupados com questões globais.

Ela será a palestrante convidada do evento Summit ESG - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado no dia 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.

Leia abaixo a entrevista:

A sra. fala da necessidade de um desenvolvimento global sustentável desde 1987. As questões climáticas nunca foram tão discutidas, talvez porque os riscos a elas associados nunca estiveram tão presentes como hoje. Por que a sociedade demorou tanto para reconhecer o problema? A sra. acredita que agora existe finalmente uma convergência para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável?

Sim, demorou muito! Uma das principais razões é que a humanidade não vive numa ‘sociedade’, mas em quase 200 países diferentes. Acredito que o mundo ainda está lutando para encontrar o melhor caminho a seguir. Receio que a geopolítica esteja tornando as coisas ainda mais difíceis nos últimos anos. A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca.

Chegamos tarde demais?

Não há tempo a perder.

Vista aérea da floresta amazônica no município de Parauapebas, no Estado do Pará Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há anos a sra. fala da ideia de medir o crescimento econômico utilizando instrumentos além do PIB, como indicadores ambientais e sociais. Ainda acredita que esta seria uma forma de mudar como as sociedades lidam com a preservação ambiental?

Sim, a humanidade depende da mudança dos padrões de desenvolvimento e da incorporação do cuidado com a natureza e das preocupações ambientais e sociais em todas as tomadas de decisão.

O que a sra. espera concretamente da próximo encontro do G-20, que será sediado no Brasil e terá a transição energética como um dos temas em debate?

Espero que o G-20 esteja à altura da ocasião, deixe a geopolítica de lado e se concentre no bem comum. A transição energética é certamente uma preocupação comum muito crítica.

O Brasil defende que os países desenvolvidos paguem ao governo brasileiro para ajudar na tarefa de preservação da Floresta Amazônica, algo que é de interesse global. A sra. defende que esse pagamento seja feito?

A Noruega faz parte desse tipo de política há décadas. É um exemplo de como a solidariedade para o bem comum é absolutamente crítica.

Como o Brasil pode contribuir para o debate global sobre desenvolvimento sustentável?

Como país importante e também anfitrião, é fundamental que o Brasil lidere em nome de todo o mundo e apoie o multilateralismo como o mecanismo chave para o sucesso.

Enfrentamos recentemente a pandemia da covid-19. Qual é a principal lição que aprendemos com isso? Há algo que a
sra. acreditava que mudaria globalmente após a covid e que não aconteceu?

As lições da covid são, em primeiro lugar, que o mundo não escolheu a cooperação global e ilustram o quão longe estivemos do tipo de responsabilidade comum da qual depende o nosso futuro comum.

O Summit ESG Estadão - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030 será realizado em 26 de setembro, das 8h30 às 19h, no Teatro B32, em São Paulo. Para se inscrever, acesse este link.

Gro Harlem Brundtland advogava pela necessidade de um crescimento econômico combinado com preservação ambiental quase quatro décadas antes de queimadas na Amazônia ou no Pantanal estamparem manchetes internacionais. Mas o mundo, avalia ela, demorou muito a agir. A diplomata e ex-primeira-ministra da Noruega se tornou liderança global no assunto em 1987, quando presidiu a elaboração do relatório “Nosso Futuro Comum”, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, e cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”. Em entrevista ao Estadão, Brundtland lamenta que a geopolítica esteja “tornando as coisas mais difíceis nos últimos anos”.

“A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca”, afirma, em entrevista concedida por e-mail. “Não há tempo a perder”, afirma a especialista no assunto.

Além de diplomata e política, Brundtland é médica, especialista em saúde pública. Foi a primeira mulher a chefiar o governo da Noruega e ocupou o cargo três vezes. Também foi diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e enviada especial da ONU para questões climáticas. Atualmente, é integrante do The Elders (os anciões, em inglês), grupo fundado por Nelson Mandela que reúne ex-estadistas preocupados com questões globais.

Ela será a palestrante convidada do evento Summit ESG - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado no dia 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.

Leia abaixo a entrevista:

A sra. fala da necessidade de um desenvolvimento global sustentável desde 1987. As questões climáticas nunca foram tão discutidas, talvez porque os riscos a elas associados nunca estiveram tão presentes como hoje. Por que a sociedade demorou tanto para reconhecer o problema? A sra. acredita que agora existe finalmente uma convergência para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável?

Sim, demorou muito! Uma das principais razões é que a humanidade não vive numa ‘sociedade’, mas em quase 200 países diferentes. Acredito que o mundo ainda está lutando para encontrar o melhor caminho a seguir. Receio que a geopolítica esteja tornando as coisas ainda mais difíceis nos últimos anos. A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca.

Chegamos tarde demais?

Não há tempo a perder.

Vista aérea da floresta amazônica no município de Parauapebas, no Estado do Pará Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há anos a sra. fala da ideia de medir o crescimento econômico utilizando instrumentos além do PIB, como indicadores ambientais e sociais. Ainda acredita que esta seria uma forma de mudar como as sociedades lidam com a preservação ambiental?

Sim, a humanidade depende da mudança dos padrões de desenvolvimento e da incorporação do cuidado com a natureza e das preocupações ambientais e sociais em todas as tomadas de decisão.

O que a sra. espera concretamente da próximo encontro do G-20, que será sediado no Brasil e terá a transição energética como um dos temas em debate?

Espero que o G-20 esteja à altura da ocasião, deixe a geopolítica de lado e se concentre no bem comum. A transição energética é certamente uma preocupação comum muito crítica.

O Brasil defende que os países desenvolvidos paguem ao governo brasileiro para ajudar na tarefa de preservação da Floresta Amazônica, algo que é de interesse global. A sra. defende que esse pagamento seja feito?

A Noruega faz parte desse tipo de política há décadas. É um exemplo de como a solidariedade para o bem comum é absolutamente crítica.

Como o Brasil pode contribuir para o debate global sobre desenvolvimento sustentável?

Como país importante e também anfitrião, é fundamental que o Brasil lidere em nome de todo o mundo e apoie o multilateralismo como o mecanismo chave para o sucesso.

Enfrentamos recentemente a pandemia da covid-19. Qual é a principal lição que aprendemos com isso? Há algo que a
sra. acreditava que mudaria globalmente após a covid e que não aconteceu?

As lições da covid são, em primeiro lugar, que o mundo não escolheu a cooperação global e ilustram o quão longe estivemos do tipo de responsabilidade comum da qual depende o nosso futuro comum.

O Summit ESG Estadão - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030 será realizado em 26 de setembro, das 8h30 às 19h, no Teatro B32, em São Paulo. Para se inscrever, acesse este link.

Gro Harlem Brundtland advogava pela necessidade de um crescimento econômico combinado com preservação ambiental quase quatro décadas antes de queimadas na Amazônia ou no Pantanal estamparem manchetes internacionais. Mas o mundo, avalia ela, demorou muito a agir. A diplomata e ex-primeira-ministra da Noruega se tornou liderança global no assunto em 1987, quando presidiu a elaboração do relatório “Nosso Futuro Comum”, na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, e cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”. Em entrevista ao Estadão, Brundtland lamenta que a geopolítica esteja “tornando as coisas mais difíceis nos últimos anos”.

“A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca”, afirma, em entrevista concedida por e-mail. “Não há tempo a perder”, afirma a especialista no assunto.

Além de diplomata e política, Brundtland é médica, especialista em saúde pública. Foi a primeira mulher a chefiar o governo da Noruega e ocupou o cargo três vezes. Também foi diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) e enviada especial da ONU para questões climáticas. Atualmente, é integrante do The Elders (os anciões, em inglês), grupo fundado por Nelson Mandela que reúne ex-estadistas preocupados com questões globais.

Ela será a palestrante convidada do evento Summit ESG - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030, promovido pelo Estadão e que será realizado no dia 26 de setembro, no Teatro B32, em São Paulo.

Leia abaixo a entrevista:

A sra. fala da necessidade de um desenvolvimento global sustentável desde 1987. As questões climáticas nunca foram tão discutidas, talvez porque os riscos a elas associados nunca estiveram tão presentes como hoje. Por que a sociedade demorou tanto para reconhecer o problema? A sra. acredita que agora existe finalmente uma convergência para trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável?

Sim, demorou muito! Uma das principais razões é que a humanidade não vive numa ‘sociedade’, mas em quase 200 países diferentes. Acredito que o mundo ainda está lutando para encontrar o melhor caminho a seguir. Receio que a geopolítica esteja tornando as coisas ainda mais difíceis nos últimos anos. A cooperação multilateral está sofrendo, embora seja mais necessária do que nunca.

Chegamos tarde demais?

Não há tempo a perder.

Vista aérea da floresta amazônica no município de Parauapebas, no Estado do Pará Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há anos a sra. fala da ideia de medir o crescimento econômico utilizando instrumentos além do PIB, como indicadores ambientais e sociais. Ainda acredita que esta seria uma forma de mudar como as sociedades lidam com a preservação ambiental?

Sim, a humanidade depende da mudança dos padrões de desenvolvimento e da incorporação do cuidado com a natureza e das preocupações ambientais e sociais em todas as tomadas de decisão.

O que a sra. espera concretamente da próximo encontro do G-20, que será sediado no Brasil e terá a transição energética como um dos temas em debate?

Espero que o G-20 esteja à altura da ocasião, deixe a geopolítica de lado e se concentre no bem comum. A transição energética é certamente uma preocupação comum muito crítica.

O Brasil defende que os países desenvolvidos paguem ao governo brasileiro para ajudar na tarefa de preservação da Floresta Amazônica, algo que é de interesse global. A sra. defende que esse pagamento seja feito?

A Noruega faz parte desse tipo de política há décadas. É um exemplo de como a solidariedade para o bem comum é absolutamente crítica.

Como o Brasil pode contribuir para o debate global sobre desenvolvimento sustentável?

Como país importante e também anfitrião, é fundamental que o Brasil lidere em nome de todo o mundo e apoie o multilateralismo como o mecanismo chave para o sucesso.

Enfrentamos recentemente a pandemia da covid-19. Qual é a principal lição que aprendemos com isso? Há algo que a
sra. acreditava que mudaria globalmente após a covid e que não aconteceu?

As lições da covid são, em primeiro lugar, que o mundo não escolheu a cooperação global e ilustram o quão longe estivemos do tipo de responsabilidade comum da qual depende o nosso futuro comum.

O Summit ESG Estadão - Empresas e Sociedade pela Agenda 2030 será realizado em 26 de setembro, das 8h30 às 19h, no Teatro B32, em São Paulo. Para se inscrever, acesse este link.

Tudo Sobre
Entrevista por Beatriz Bulla

Repórter que cobre o poder -- economia, política e internacional. Trabalha hoje em São Paulo. Já passou por Brasília e foi correspondente em Washington (EUA). Formada em jornalismo e em direito, foi também pesquisadora visitante na Universidade Columbia, em Nova York.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.