‘Falta saber quem pagará a conta da transição verde’, diz executivo da Vale


Vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores na mineradora, Gustavo Pimenta fala dos desafios da Vale – e do planeta – para eliminar o carbono e criar energia limpa

Por Sonia Racy
Atualização:
Foto: Arthur Massao Felippe de Toledo/Vale
Entrevista comGustavo PimentaVice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale

Quando atuava fora do Brasil – no Citibank, em Nova York, onde foi vice-presidente de Estratégia e M&A (Fusões e Aquisições) –, Gustavo Pimenta já ouvia pessoas definindo o País como “uma joia rara” em matéria de energia. “Em muitos eventos, a nossa matriz energética era citada como um exemplo: hidrelétrica, eólica, solar, coisas que dificilmente se acham no planeta.” Na AES (antiga Eletropaulo), onde atuou por 12 anos, o meio ambiente fazia parte do seu dia a dia. Executar metas focadas em ESG e baixo carbono virou, em definitivo, sua prioridade.

Agora, como vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores na Vale, ele cuida também das áreas de energia e descarbonização e da crucial questão do momento, a transição energética. Algo essencial para se despoluir rios e mares, preservar florestas, limpar o ar das cidades. “Esse é um tema fundamental para todas as mineradoras”, adverte, pois o setor da siderurgia “responde por 8% de todas as emissões mundiais de carbono”.

E, nesta conversa com Cenários, ele avisa que, para realizar essa transição, “a conta não é pequena” e que “saber quem vai pagá-la é a questão”. Mas o Brasil “é competitivo”, acrescenta, e tem “a grande oportunidade de criar uma cadeia de produção 100% verde”.

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O vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta, que cuida também das áreas de energia e descarbonização na companhia Foto: Divulgação/Vale

A seguir, os principais trechos da conversa:

Como a Vale encara o desafio da transição energética e o que já fez a respeito?

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O setor de produção de aço é muito intensivo e responsável por 8% das emissões mundiais de carbono. Então, esse é um tema fundamental para todas as mineradoras do mundo. E a gente vem atacando de forma estruturada, pensando em alternativas de biocarbono, de etanol, amônia, hidrogênio. Acho que estamos na trajetória certa. E temos realizado ações para acelerar essa transição, não só dos nossos processos produtivos, mas os dos nossos clientes. A Vale também é uma produtora importante dos metais de transição – como cobre, níquel – e tem investido nisso.

Pode falar de metas já definidas e realizadas?

Nós nos organizamos em três tipos de metas. O primeiro, relacionado às nossas atividades: um caminhão a diesel que possa utilizar hidrogênio ou etanol. Segundo, o consumo elétrico da companhia. A meta era zerar até 2025, ter uma matriz 100% renovável – e esse objetivo já foi alcançado no ano passado. Temos o Sol do Cerrado, um grande parque de energia solar para consumo próprio, de quase 800 megawatts. O terceiro escopo são nossos clientes, pois, ao utilizar um minério de alta qualidade, eles podem reduzir a sua emissão de CO₂.

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O Brasil vai liderar a economia verde no mundo? O que falta para isso?

O Brasil é, se não o mais competitivo, um dos países mais competitivos na geração de energia renovável. Temos a oportunidade de entrar no processo de uma industrialização verde. Ou seja, quando as pessoas forem comprar um carro, uma geladeira, poderão ter como critério um produto 100% verde que vai precisar de combustíveis renováveis, hidrelétricas e hidrogênio. Ou seja, criar uma cadeia de produção 100% verde. Muitos países estão se mexendo, os Estados Unidos têm subsidiado muito nessa direção. Não temos a mesma capacidade fiscal deles. Mas temos condições para gerar energia limpa que eles não têm. Estamos bem posicionados, e sou otimista em relação à nossa liderança.

Cerca de 50% da geração de energia nos EUA e na China é à base de carvão. Isso “favorece” o Brasil?

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Sim. Nós temos uma matriz limpa. Quando estava fora do Brasil, participei de muitos eventos onde nossa matriz energética era um exemplo: a hidrelétrica, a eólica, solar, recursos que dificilmente estão disponíveis no resto do mundo.

O consumidor final está disposto a pagar mais por um produto verde?

Esse é um fator importante. Todo mundo quer transacionar, mas a conta não é pequena. Os produtos vão custar mais caro, e existe um debate muito grande, principalmente na Europa, sobre essa “just transition”. Ou seja, falta saber quem vai pagar essa conta da transição verde. E há ainda o debate crucial sobre o limite de subsídios.

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A Vale tem recursos suficientes para chegar à emissão zero em 2050? Qual o investimento para isso?

Sim, temos um compromisso de investir entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões na nossa bacia de descarbonização. Já investimos R$ 5 bilhões no Sol do Cerrado. E a Vale tem uma característica única: o melhor minério de ferro do mundo, muito favorável à transição energética. Só Carajás (PA), no mundo, dispõe de teor de ferro de 65%. É um benefício, porque concentra minério. Temos um produto chamado pelota, que é o aglomerado de minério, muito favorável à transição energética. Assim, para muitos a descarbonização é um risco; para nós, é uma grande oportunidade.

A inteligência artificial impacta a Vale? Vocês a têm utilizado?

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A AI impacta tudo, e com a Vale não é diferente. Temos um parque enorme de equipamentos. Muitas pessoas desconhecem que vários dos nossos caminhões que operam nas minas são 100% remotos. Uma pessoa com um joystick sentada no escritório movimenta um caminhão daquele tamanho, em uma mina distante. Isso tira pessoas da área de risco, é mais segurança para nossos funcionários.

Quando atuava fora do Brasil – no Citibank, em Nova York, onde foi vice-presidente de Estratégia e M&A (Fusões e Aquisições) –, Gustavo Pimenta já ouvia pessoas definindo o País como “uma joia rara” em matéria de energia. “Em muitos eventos, a nossa matriz energética era citada como um exemplo: hidrelétrica, eólica, solar, coisas que dificilmente se acham no planeta.” Na AES (antiga Eletropaulo), onde atuou por 12 anos, o meio ambiente fazia parte do seu dia a dia. Executar metas focadas em ESG e baixo carbono virou, em definitivo, sua prioridade.

Agora, como vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores na Vale, ele cuida também das áreas de energia e descarbonização e da crucial questão do momento, a transição energética. Algo essencial para se despoluir rios e mares, preservar florestas, limpar o ar das cidades. “Esse é um tema fundamental para todas as mineradoras”, adverte, pois o setor da siderurgia “responde por 8% de todas as emissões mundiais de carbono”.

E, nesta conversa com Cenários, ele avisa que, para realizar essa transição, “a conta não é pequena” e que “saber quem vai pagá-la é a questão”. Mas o Brasil “é competitivo”, acrescenta, e tem “a grande oportunidade de criar uma cadeia de produção 100% verde”.

O vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta, que cuida também das áreas de energia e descarbonização na companhia Foto: Divulgação/Vale

A seguir, os principais trechos da conversa:

Como a Vale encara o desafio da transição energética e o que já fez a respeito?

O setor de produção de aço é muito intensivo e responsável por 8% das emissões mundiais de carbono. Então, esse é um tema fundamental para todas as mineradoras do mundo. E a gente vem atacando de forma estruturada, pensando em alternativas de biocarbono, de etanol, amônia, hidrogênio. Acho que estamos na trajetória certa. E temos realizado ações para acelerar essa transição, não só dos nossos processos produtivos, mas os dos nossos clientes. A Vale também é uma produtora importante dos metais de transição – como cobre, níquel – e tem investido nisso.

Pode falar de metas já definidas e realizadas?

Nós nos organizamos em três tipos de metas. O primeiro, relacionado às nossas atividades: um caminhão a diesel que possa utilizar hidrogênio ou etanol. Segundo, o consumo elétrico da companhia. A meta era zerar até 2025, ter uma matriz 100% renovável – e esse objetivo já foi alcançado no ano passado. Temos o Sol do Cerrado, um grande parque de energia solar para consumo próprio, de quase 800 megawatts. O terceiro escopo são nossos clientes, pois, ao utilizar um minério de alta qualidade, eles podem reduzir a sua emissão de CO₂.

O Brasil vai liderar a economia verde no mundo? O que falta para isso?

O Brasil é, se não o mais competitivo, um dos países mais competitivos na geração de energia renovável. Temos a oportunidade de entrar no processo de uma industrialização verde. Ou seja, quando as pessoas forem comprar um carro, uma geladeira, poderão ter como critério um produto 100% verde que vai precisar de combustíveis renováveis, hidrelétricas e hidrogênio. Ou seja, criar uma cadeia de produção 100% verde. Muitos países estão se mexendo, os Estados Unidos têm subsidiado muito nessa direção. Não temos a mesma capacidade fiscal deles. Mas temos condições para gerar energia limpa que eles não têm. Estamos bem posicionados, e sou otimista em relação à nossa liderança.

Cerca de 50% da geração de energia nos EUA e na China é à base de carvão. Isso “favorece” o Brasil?

Sim. Nós temos uma matriz limpa. Quando estava fora do Brasil, participei de muitos eventos onde nossa matriz energética era um exemplo: a hidrelétrica, a eólica, solar, recursos que dificilmente estão disponíveis no resto do mundo.

O consumidor final está disposto a pagar mais por um produto verde?

Esse é um fator importante. Todo mundo quer transacionar, mas a conta não é pequena. Os produtos vão custar mais caro, e existe um debate muito grande, principalmente na Europa, sobre essa “just transition”. Ou seja, falta saber quem vai pagar essa conta da transição verde. E há ainda o debate crucial sobre o limite de subsídios.

A Vale tem recursos suficientes para chegar à emissão zero em 2050? Qual o investimento para isso?

Sim, temos um compromisso de investir entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões na nossa bacia de descarbonização. Já investimos R$ 5 bilhões no Sol do Cerrado. E a Vale tem uma característica única: o melhor minério de ferro do mundo, muito favorável à transição energética. Só Carajás (PA), no mundo, dispõe de teor de ferro de 65%. É um benefício, porque concentra minério. Temos um produto chamado pelota, que é o aglomerado de minério, muito favorável à transição energética. Assim, para muitos a descarbonização é um risco; para nós, é uma grande oportunidade.

A inteligência artificial impacta a Vale? Vocês a têm utilizado?

A AI impacta tudo, e com a Vale não é diferente. Temos um parque enorme de equipamentos. Muitas pessoas desconhecem que vários dos nossos caminhões que operam nas minas são 100% remotos. Uma pessoa com um joystick sentada no escritório movimenta um caminhão daquele tamanho, em uma mina distante. Isso tira pessoas da área de risco, é mais segurança para nossos funcionários.

Quando atuava fora do Brasil – no Citibank, em Nova York, onde foi vice-presidente de Estratégia e M&A (Fusões e Aquisições) –, Gustavo Pimenta já ouvia pessoas definindo o País como “uma joia rara” em matéria de energia. “Em muitos eventos, a nossa matriz energética era citada como um exemplo: hidrelétrica, eólica, solar, coisas que dificilmente se acham no planeta.” Na AES (antiga Eletropaulo), onde atuou por 12 anos, o meio ambiente fazia parte do seu dia a dia. Executar metas focadas em ESG e baixo carbono virou, em definitivo, sua prioridade.

Agora, como vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores na Vale, ele cuida também das áreas de energia e descarbonização e da crucial questão do momento, a transição energética. Algo essencial para se despoluir rios e mares, preservar florestas, limpar o ar das cidades. “Esse é um tema fundamental para todas as mineradoras”, adverte, pois o setor da siderurgia “responde por 8% de todas as emissões mundiais de carbono”.

E, nesta conversa com Cenários, ele avisa que, para realizar essa transição, “a conta não é pequena” e que “saber quem vai pagá-la é a questão”. Mas o Brasil “é competitivo”, acrescenta, e tem “a grande oportunidade de criar uma cadeia de produção 100% verde”.

O vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta, que cuida também das áreas de energia e descarbonização na companhia Foto: Divulgação/Vale

A seguir, os principais trechos da conversa:

Como a Vale encara o desafio da transição energética e o que já fez a respeito?

O setor de produção de aço é muito intensivo e responsável por 8% das emissões mundiais de carbono. Então, esse é um tema fundamental para todas as mineradoras do mundo. E a gente vem atacando de forma estruturada, pensando em alternativas de biocarbono, de etanol, amônia, hidrogênio. Acho que estamos na trajetória certa. E temos realizado ações para acelerar essa transição, não só dos nossos processos produtivos, mas os dos nossos clientes. A Vale também é uma produtora importante dos metais de transição – como cobre, níquel – e tem investido nisso.

Pode falar de metas já definidas e realizadas?

Nós nos organizamos em três tipos de metas. O primeiro, relacionado às nossas atividades: um caminhão a diesel que possa utilizar hidrogênio ou etanol. Segundo, o consumo elétrico da companhia. A meta era zerar até 2025, ter uma matriz 100% renovável – e esse objetivo já foi alcançado no ano passado. Temos o Sol do Cerrado, um grande parque de energia solar para consumo próprio, de quase 800 megawatts. O terceiro escopo são nossos clientes, pois, ao utilizar um minério de alta qualidade, eles podem reduzir a sua emissão de CO₂.

O Brasil vai liderar a economia verde no mundo? O que falta para isso?

O Brasil é, se não o mais competitivo, um dos países mais competitivos na geração de energia renovável. Temos a oportunidade de entrar no processo de uma industrialização verde. Ou seja, quando as pessoas forem comprar um carro, uma geladeira, poderão ter como critério um produto 100% verde que vai precisar de combustíveis renováveis, hidrelétricas e hidrogênio. Ou seja, criar uma cadeia de produção 100% verde. Muitos países estão se mexendo, os Estados Unidos têm subsidiado muito nessa direção. Não temos a mesma capacidade fiscal deles. Mas temos condições para gerar energia limpa que eles não têm. Estamos bem posicionados, e sou otimista em relação à nossa liderança.

Cerca de 50% da geração de energia nos EUA e na China é à base de carvão. Isso “favorece” o Brasil?

Sim. Nós temos uma matriz limpa. Quando estava fora do Brasil, participei de muitos eventos onde nossa matriz energética era um exemplo: a hidrelétrica, a eólica, solar, recursos que dificilmente estão disponíveis no resto do mundo.

O consumidor final está disposto a pagar mais por um produto verde?

Esse é um fator importante. Todo mundo quer transacionar, mas a conta não é pequena. Os produtos vão custar mais caro, e existe um debate muito grande, principalmente na Europa, sobre essa “just transition”. Ou seja, falta saber quem vai pagar essa conta da transição verde. E há ainda o debate crucial sobre o limite de subsídios.

A Vale tem recursos suficientes para chegar à emissão zero em 2050? Qual o investimento para isso?

Sim, temos um compromisso de investir entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões na nossa bacia de descarbonização. Já investimos R$ 5 bilhões no Sol do Cerrado. E a Vale tem uma característica única: o melhor minério de ferro do mundo, muito favorável à transição energética. Só Carajás (PA), no mundo, dispõe de teor de ferro de 65%. É um benefício, porque concentra minério. Temos um produto chamado pelota, que é o aglomerado de minério, muito favorável à transição energética. Assim, para muitos a descarbonização é um risco; para nós, é uma grande oportunidade.

A inteligência artificial impacta a Vale? Vocês a têm utilizado?

A AI impacta tudo, e com a Vale não é diferente. Temos um parque enorme de equipamentos. Muitas pessoas desconhecem que vários dos nossos caminhões que operam nas minas são 100% remotos. Uma pessoa com um joystick sentada no escritório movimenta um caminhão daquele tamanho, em uma mina distante. Isso tira pessoas da área de risco, é mais segurança para nossos funcionários.

Quando atuava fora do Brasil – no Citibank, em Nova York, onde foi vice-presidente de Estratégia e M&A (Fusões e Aquisições) –, Gustavo Pimenta já ouvia pessoas definindo o País como “uma joia rara” em matéria de energia. “Em muitos eventos, a nossa matriz energética era citada como um exemplo: hidrelétrica, eólica, solar, coisas que dificilmente se acham no planeta.” Na AES (antiga Eletropaulo), onde atuou por 12 anos, o meio ambiente fazia parte do seu dia a dia. Executar metas focadas em ESG e baixo carbono virou, em definitivo, sua prioridade.

Agora, como vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores na Vale, ele cuida também das áreas de energia e descarbonização e da crucial questão do momento, a transição energética. Algo essencial para se despoluir rios e mares, preservar florestas, limpar o ar das cidades. “Esse é um tema fundamental para todas as mineradoras”, adverte, pois o setor da siderurgia “responde por 8% de todas as emissões mundiais de carbono”.

E, nesta conversa com Cenários, ele avisa que, para realizar essa transição, “a conta não é pequena” e que “saber quem vai pagá-la é a questão”. Mas o Brasil “é competitivo”, acrescenta, e tem “a grande oportunidade de criar uma cadeia de produção 100% verde”.

O vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Gustavo Pimenta, que cuida também das áreas de energia e descarbonização na companhia Foto: Divulgação/Vale

A seguir, os principais trechos da conversa:

Como a Vale encara o desafio da transição energética e o que já fez a respeito?

O setor de produção de aço é muito intensivo e responsável por 8% das emissões mundiais de carbono. Então, esse é um tema fundamental para todas as mineradoras do mundo. E a gente vem atacando de forma estruturada, pensando em alternativas de biocarbono, de etanol, amônia, hidrogênio. Acho que estamos na trajetória certa. E temos realizado ações para acelerar essa transição, não só dos nossos processos produtivos, mas os dos nossos clientes. A Vale também é uma produtora importante dos metais de transição – como cobre, níquel – e tem investido nisso.

Pode falar de metas já definidas e realizadas?

Nós nos organizamos em três tipos de metas. O primeiro, relacionado às nossas atividades: um caminhão a diesel que possa utilizar hidrogênio ou etanol. Segundo, o consumo elétrico da companhia. A meta era zerar até 2025, ter uma matriz 100% renovável – e esse objetivo já foi alcançado no ano passado. Temos o Sol do Cerrado, um grande parque de energia solar para consumo próprio, de quase 800 megawatts. O terceiro escopo são nossos clientes, pois, ao utilizar um minério de alta qualidade, eles podem reduzir a sua emissão de CO₂.

O Brasil vai liderar a economia verde no mundo? O que falta para isso?

O Brasil é, se não o mais competitivo, um dos países mais competitivos na geração de energia renovável. Temos a oportunidade de entrar no processo de uma industrialização verde. Ou seja, quando as pessoas forem comprar um carro, uma geladeira, poderão ter como critério um produto 100% verde que vai precisar de combustíveis renováveis, hidrelétricas e hidrogênio. Ou seja, criar uma cadeia de produção 100% verde. Muitos países estão se mexendo, os Estados Unidos têm subsidiado muito nessa direção. Não temos a mesma capacidade fiscal deles. Mas temos condições para gerar energia limpa que eles não têm. Estamos bem posicionados, e sou otimista em relação à nossa liderança.

Cerca de 50% da geração de energia nos EUA e na China é à base de carvão. Isso “favorece” o Brasil?

Sim. Nós temos uma matriz limpa. Quando estava fora do Brasil, participei de muitos eventos onde nossa matriz energética era um exemplo: a hidrelétrica, a eólica, solar, recursos que dificilmente estão disponíveis no resto do mundo.

O consumidor final está disposto a pagar mais por um produto verde?

Esse é um fator importante. Todo mundo quer transacionar, mas a conta não é pequena. Os produtos vão custar mais caro, e existe um debate muito grande, principalmente na Europa, sobre essa “just transition”. Ou seja, falta saber quem vai pagar essa conta da transição verde. E há ainda o debate crucial sobre o limite de subsídios.

A Vale tem recursos suficientes para chegar à emissão zero em 2050? Qual o investimento para isso?

Sim, temos um compromisso de investir entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões na nossa bacia de descarbonização. Já investimos R$ 5 bilhões no Sol do Cerrado. E a Vale tem uma característica única: o melhor minério de ferro do mundo, muito favorável à transição energética. Só Carajás (PA), no mundo, dispõe de teor de ferro de 65%. É um benefício, porque concentra minério. Temos um produto chamado pelota, que é o aglomerado de minério, muito favorável à transição energética. Assim, para muitos a descarbonização é um risco; para nós, é uma grande oportunidade.

A inteligência artificial impacta a Vale? Vocês a têm utilizado?

A AI impacta tudo, e com a Vale não é diferente. Temos um parque enorme de equipamentos. Muitas pessoas desconhecem que vários dos nossos caminhões que operam nas minas são 100% remotos. Uma pessoa com um joystick sentada no escritório movimenta um caminhão daquele tamanho, em uma mina distante. Isso tira pessoas da área de risco, é mais segurança para nossos funcionários.

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