Para quem produz como a Petrobras, fazer eólica no mar é brincar de playmobil, diz Prates


Presidente da estatal afirma que companhia planeja investir em alternativas como biocombustíveis e hidrogênio em meio à transição energética e defende mudança na política de preços: ‘Tiramos o bode da sala’

Por Denise Luna
Foto: PEDRO KIRILOS
Entrevista comJean Paul PratesPresidente da Petrobras

RIO - No comando da Petrobras há menos de quatro meses, o ex-senador Jean Paul Prates tem o ambicioso plano de mudar a cara da estatal e recuperar o tempo perdido na corrida pela transição energética. Na mesma semana em que anunciou uma nova estratégia comercial, reduziu significativamente o preço dos combustíveis e viu frustrada a sua intenção de explorar a Margem Equatorial, ele recebeu a equipe do Estadão/Broadcast para uma entrevista.

Prates deixa claro que os tempos são outros na empresa e revela planos de ter todas as refinarias produzindo biocombustíveis e hidrogênio em, no máximo, três décadas. Fora o interesse de entrar na entrada na geração eólica offshore. “Para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil”, compara. O executivo deixa em aberto também a possibilidade de voltar a investir no exterior.

Segundo Prates, nova política da Petrobras vai ser 'o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora' Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Quais são os planos da Petrobras para os parques eólicos offshore?

A gente, daqui a 30 anos, vai ser uma empresa de quê? Do que eu imagino, vai ter parque offshore porque você é uma offshore company, então, para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil. Para quem faz uma sonda, uma FPSO (navio-plataforma) dessas enormes, que fica parada lá produzindo em milhões de poços profundos, agora também injetando carbono direto no subsolo marinho, fazer eólica offshore é um passeio.

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É possível a empresa explorar essa fonte também fora do Brasil?

Pode ser. Eu não acho que seria necessário, mas pode ser sim, não como operador, mas como sócio de alguém para ver uma operação, ter o dia a dia. Eu tenho experiência de transitar do petróleo para eólica e posso dizer que o setor elétrico é muito mais simples que o setor de petróleo. Nos contratos, nos negócios, na tecnologia, na operação, na fabricação e na discussão regulatória. O setor elétrico é mais fácil de trabalhar, e arrisco dizer, até que há uma certa ingenuidade do ponto de vista da preparação dos agentes econômicos. É um setor que está aprendendo a voar voando, tipo filhote de passarinho mesmo, sendo jogado fora do ninho.

Com o processo de venda das refinarias suspenso, como vê o futuro das refinarias da Petrobras?

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De repente você vai para o desafio de produzir óleo vegetal, totalmente inconcebível. Biodiesel eu conheço, mas botar óleo vegetal e do outro lado sair diesel, especificado como diesel, e sem ser perecível como é o diesel R, quem pensava nisso? Mas isso vai estar no futuro? Vai, daqui a 30 anos, certamente, todas as nossas estruturas de refino vão estar processando óleo vegetal em diesel não perecível.

A Petrobras tem planos de produzir hidrogênio?

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A Petrobras vai estar no hidrogênio? Tem que estar. A primeira transição você procura o que está mais próximo de você. Geração de energia elétrica vai puxar você para o lado da energização também. O hidrogênio é o equivalente ao gás, você tem a experiência toda do gás. Tanto é que o marco regulatório do hidrogênio que eu deixei lá pronto (no Senado), basicamente só faz isso, coloca o hidrogênio embaixo da jurisdição da ANP e usa a logística do gás natural.

E como a Petrobras imagina que vai ser a comercialização desse hidrogênio?

Daqui a pouco você está falando de um downstream, em vez de simplesmente, como querem muitos, comprar a BR (Distribuidora, hoje Vibra) do nada e sair fazendo tudo do mesmo. Tem que pensar como chegar próximo ao consumidor do futuro, meu filho ou o filho do meu filho. O cara lá na frente não vai nem ter carro, o carro vai ser compartilhado, tem o veículo autônomo, vai trocar bateria e não abastecer. Será que eu entro na Bolívia e começo a usar minha experiência em exploração e produção para explorar outra coisa, o lítio, ou será que começo a pensar em gás hélio? Em outras coisas? Tudo isso vai estar na diretoria de Transição Energética, lá dentro tem uma subdivisão em gerências. Uma vai tratar de novas tecnologias, outra vai acertar offshore eólico, outra que vai acertar hidrogênio, umas que já estão mais decididas e outras que ainda vão ser estudadas.

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O Ministério de Minas e Energia está ajudando a Petrobras? Como é a relação com a Petrobras? Volta e meia sai uma nota na imprensa dizendo que a sua relação com o ministro não é boa.

Não é verdade, isso é uma intriga enorme. Quando houve a questão do Conselho (de Administração), surgiu esse boato de que a gente não se dava bem, e na verdade a gente se dá muito bem, porque a gente esteve junto no Senado. Foi um momento muito complicado, inclusive a minha própria relatoria no projeto dos combustíveis foi feita em conjunto com o Alexandre (Silveira, ministro de Minas e Energia) e o Rodrigo Pacheco, assim como com o Davi Alcolumbre, que são justamente os aliados na aproximação do governo com partidos, tanto o PSD como o União Brasil. A gente sempre teve uma relação muito boa.

Mas surgiram rumores de que as indicações do ministro para o Conselho de Administração foram impostas. Como foi isso?

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Na questão do Conselho, o que aconteceu foi: o presidente (Lula) tinha me pedido para mandar não só a lista dos diretores, que ele me deu liberdade total, sem a ingerência de ninguém, por isso a gente teve possibilidade de trazer gente da casa, respeitar o plano de sucessão, como também o Conselho. Na semana em que fui entregar a lista da diretoria, ele perguntou sobre os nomes do Conselho de Administração. E pediu uns nomes. Depois disso, na semana seguinte, depois de três semanas, ele recebeu os partidos de alguma forma, e disse: ‘Olha, o pessoal está falando aqui do conselho, eu disse tudo bem, a gente tem que abrir aqui uns espaços’, e aí vazou a primeira lista. Depois, apareceu outra lista com os nomes do ministério, e aí começaram a falar que um atropelou o outro, um quer brigar com o outro. Mas não tem nada disso não, a gente se entende bem.

Então a Petrobras tem recebido apoio do ministro?

O Alexandre tem uma missão muito difícil. Se a minha é difícil, a dele também. Talvez a dele seja até maior, porque ali são três segmentos da economia pesadíssimos: petróleo e gás, energia elétrica – com todas as outras fontes e o imbróglio da Eletrobras – e mineração. No que a Petrobras puder colaborar, ajudar, trabalhar em função do que ela tem possibilidade de análise, de projetos, a Petrobras vai se engajar nisso. Até porque, como ela está em transição energética, está em pelo menos dois desses bolos, se é que não vai pro terceiro por conta do lítio. Ela (Petrobras) está no maior de todos que é o petróleo, mas já transita no setor elétrico quando vende gás, termoelétricas, e vai ter parques eólicos. E até na mineração, talvez, mais cedo ou mais tarde. A gente entende de geologia brasileira e sul-americana como ninguém, então é natural que use isso em algum momento. É amanhã? É depois de amanhã? Não, talvez daqui a cinco, dez anos.

Esta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que pode haver outra redução de preços do diesel e da gasolina em julho, como forma de reduzir o impacto da volta do ICMS. O senhor confirma?

Pode ter em junho ou julho. A gente conversou com ele, mas isso não é certo. A gente não deixou gordura para queimar com imposto, nada disso não. A gente vai ver o movimento, se pode haver um pouco mais de espaço, se houver redução de preço (do petróleo). Lembre-se de que, apesar da gente se livrar do PPI, que é paridade de importação, a gente não baniu a referência internacional. Chegando lá, se a gente puder, vai reduzir, porque isso nos interessa como vendedor, quando ocorrer a reoneração do ICMS.

Como assim?

Foi a solução simplista que o governo anterior deu à questão dos preços. Se você quer baixar preço de vestuário para o brasileiro, é só baixar a alíquota do imposto. Se quiser abaixar o preço da comida, é só baixar o imposto. Governar assim, nós mesmos nos juntamos aqui e a gente governa, vai ser super popular, mas no dia seguinte não tem dinheiro para fazer nada. Foi o que Bolsonaro fez. Depois de ter ferrado com os governadores e ter sido derrotado, a bomba relógio ficou.

O que o senhor pode dizer então dessa nova política de preços da empresa anunciada nesta semana? Como vai funcionar?

O pessoal fica repetindo essa lenga-lenga de que eu vou regionalizar os preços. Não é isso. O objetivo não é regionalizar por regionalizar, porque naturalmente eles já são regionalizados. É por área de influência das refinarias, em um raio de influência em que ela atua de forma mais eficiente do que qualquer outra fonte. Isso é ruim para o Brasil? Não. Isso me obriga a praticar o preço do importado? Não, absolutamente não. Ah, mas (o PPI) era mais previsível... Sim, mas era o pior preço para o brasileiro. Eu sou obrigado a fazer o pior preço para o brasileiro para agradar o cara que quer saber o dia que vai subir o preço?

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora

Qual a vantagem então da nova estratégia de preços?

Meu preço vai volatilizar bem menos. Não é melhor do que eu ficar dizendo que amanhã vai ter aumento, depois de 24h cair de novo, depois subir de novo e cair de novo? No ano Pedro Parente 1 (ex-presidente da Petrobras, que implantou o PPI) houve 118 ajustes de preços. Isso é previsibilidade? Isso é uma fórmula boa? Não é. Durante dois anos (2017/2018) foram mais de 250 ajustes e o preço ficou 10% acima do PPI. Nem o PPI os caras conseguiram cumprir com esse monte de ajustes, quase em tempo real. Isso era útil? Não era útil. Depois viram que estavam errados, mas não revogaram o PPI. Mas também tampouco o praticaram. Ficou um jogo de me engana que eu gosto: nem aplicavam o PPI, nem revogavam o PPI. O que a gente fez? Simplesmente tirou o bode da sala, se é por falta de tirar o PPI, nós tiramos.

E a nova estratégia da empresa, como funciona na prática, como vai ser formado o preço?

Vai ser o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora. O meu preço mínimo é o preço que eu vou embora da negociação. (...) Até para comprar numa feira é assim. O preço que você está disposto a pagar é o preço que o cara está disposto a vender, entre uma coisa e outra, tem um intervalo, e essa é a negociação que a gente recuperou o poder de fazer. Antes, não podia mais, porque tinha que acertar o preço sempre no máximo, que é o PPI, e o PPI o que é? É o meu concorrente.

Mas muita gente disse que não gostou da mudança, que ficou menos transparente...

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora. Não vai ter mais a proteção do PPI. E, eventualmente, algum outro importador que vai dizer: ‘Poxa, eu tinha um preço garantido e agora não tenho mais’. Não existe falta de transparência, porque o sistema é visível.

RIO - No comando da Petrobras há menos de quatro meses, o ex-senador Jean Paul Prates tem o ambicioso plano de mudar a cara da estatal e recuperar o tempo perdido na corrida pela transição energética. Na mesma semana em que anunciou uma nova estratégia comercial, reduziu significativamente o preço dos combustíveis e viu frustrada a sua intenção de explorar a Margem Equatorial, ele recebeu a equipe do Estadão/Broadcast para uma entrevista.

Prates deixa claro que os tempos são outros na empresa e revela planos de ter todas as refinarias produzindo biocombustíveis e hidrogênio em, no máximo, três décadas. Fora o interesse de entrar na entrada na geração eólica offshore. “Para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil”, compara. O executivo deixa em aberto também a possibilidade de voltar a investir no exterior.

Segundo Prates, nova política da Petrobras vai ser 'o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora' Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Quais são os planos da Petrobras para os parques eólicos offshore?

A gente, daqui a 30 anos, vai ser uma empresa de quê? Do que eu imagino, vai ter parque offshore porque você é uma offshore company, então, para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil. Para quem faz uma sonda, uma FPSO (navio-plataforma) dessas enormes, que fica parada lá produzindo em milhões de poços profundos, agora também injetando carbono direto no subsolo marinho, fazer eólica offshore é um passeio.

É possível a empresa explorar essa fonte também fora do Brasil?

Pode ser. Eu não acho que seria necessário, mas pode ser sim, não como operador, mas como sócio de alguém para ver uma operação, ter o dia a dia. Eu tenho experiência de transitar do petróleo para eólica e posso dizer que o setor elétrico é muito mais simples que o setor de petróleo. Nos contratos, nos negócios, na tecnologia, na operação, na fabricação e na discussão regulatória. O setor elétrico é mais fácil de trabalhar, e arrisco dizer, até que há uma certa ingenuidade do ponto de vista da preparação dos agentes econômicos. É um setor que está aprendendo a voar voando, tipo filhote de passarinho mesmo, sendo jogado fora do ninho.

Com o processo de venda das refinarias suspenso, como vê o futuro das refinarias da Petrobras?

De repente você vai para o desafio de produzir óleo vegetal, totalmente inconcebível. Biodiesel eu conheço, mas botar óleo vegetal e do outro lado sair diesel, especificado como diesel, e sem ser perecível como é o diesel R, quem pensava nisso? Mas isso vai estar no futuro? Vai, daqui a 30 anos, certamente, todas as nossas estruturas de refino vão estar processando óleo vegetal em diesel não perecível.

A Petrobras tem planos de produzir hidrogênio?

A Petrobras vai estar no hidrogênio? Tem que estar. A primeira transição você procura o que está mais próximo de você. Geração de energia elétrica vai puxar você para o lado da energização também. O hidrogênio é o equivalente ao gás, você tem a experiência toda do gás. Tanto é que o marco regulatório do hidrogênio que eu deixei lá pronto (no Senado), basicamente só faz isso, coloca o hidrogênio embaixo da jurisdição da ANP e usa a logística do gás natural.

E como a Petrobras imagina que vai ser a comercialização desse hidrogênio?

Daqui a pouco você está falando de um downstream, em vez de simplesmente, como querem muitos, comprar a BR (Distribuidora, hoje Vibra) do nada e sair fazendo tudo do mesmo. Tem que pensar como chegar próximo ao consumidor do futuro, meu filho ou o filho do meu filho. O cara lá na frente não vai nem ter carro, o carro vai ser compartilhado, tem o veículo autônomo, vai trocar bateria e não abastecer. Será que eu entro na Bolívia e começo a usar minha experiência em exploração e produção para explorar outra coisa, o lítio, ou será que começo a pensar em gás hélio? Em outras coisas? Tudo isso vai estar na diretoria de Transição Energética, lá dentro tem uma subdivisão em gerências. Uma vai tratar de novas tecnologias, outra vai acertar offshore eólico, outra que vai acertar hidrogênio, umas que já estão mais decididas e outras que ainda vão ser estudadas.

O Ministério de Minas e Energia está ajudando a Petrobras? Como é a relação com a Petrobras? Volta e meia sai uma nota na imprensa dizendo que a sua relação com o ministro não é boa.

Não é verdade, isso é uma intriga enorme. Quando houve a questão do Conselho (de Administração), surgiu esse boato de que a gente não se dava bem, e na verdade a gente se dá muito bem, porque a gente esteve junto no Senado. Foi um momento muito complicado, inclusive a minha própria relatoria no projeto dos combustíveis foi feita em conjunto com o Alexandre (Silveira, ministro de Minas e Energia) e o Rodrigo Pacheco, assim como com o Davi Alcolumbre, que são justamente os aliados na aproximação do governo com partidos, tanto o PSD como o União Brasil. A gente sempre teve uma relação muito boa.

Mas surgiram rumores de que as indicações do ministro para o Conselho de Administração foram impostas. Como foi isso?

Na questão do Conselho, o que aconteceu foi: o presidente (Lula) tinha me pedido para mandar não só a lista dos diretores, que ele me deu liberdade total, sem a ingerência de ninguém, por isso a gente teve possibilidade de trazer gente da casa, respeitar o plano de sucessão, como também o Conselho. Na semana em que fui entregar a lista da diretoria, ele perguntou sobre os nomes do Conselho de Administração. E pediu uns nomes. Depois disso, na semana seguinte, depois de três semanas, ele recebeu os partidos de alguma forma, e disse: ‘Olha, o pessoal está falando aqui do conselho, eu disse tudo bem, a gente tem que abrir aqui uns espaços’, e aí vazou a primeira lista. Depois, apareceu outra lista com os nomes do ministério, e aí começaram a falar que um atropelou o outro, um quer brigar com o outro. Mas não tem nada disso não, a gente se entende bem.

Então a Petrobras tem recebido apoio do ministro?

O Alexandre tem uma missão muito difícil. Se a minha é difícil, a dele também. Talvez a dele seja até maior, porque ali são três segmentos da economia pesadíssimos: petróleo e gás, energia elétrica – com todas as outras fontes e o imbróglio da Eletrobras – e mineração. No que a Petrobras puder colaborar, ajudar, trabalhar em função do que ela tem possibilidade de análise, de projetos, a Petrobras vai se engajar nisso. Até porque, como ela está em transição energética, está em pelo menos dois desses bolos, se é que não vai pro terceiro por conta do lítio. Ela (Petrobras) está no maior de todos que é o petróleo, mas já transita no setor elétrico quando vende gás, termoelétricas, e vai ter parques eólicos. E até na mineração, talvez, mais cedo ou mais tarde. A gente entende de geologia brasileira e sul-americana como ninguém, então é natural que use isso em algum momento. É amanhã? É depois de amanhã? Não, talvez daqui a cinco, dez anos.

Esta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que pode haver outra redução de preços do diesel e da gasolina em julho, como forma de reduzir o impacto da volta do ICMS. O senhor confirma?

Pode ter em junho ou julho. A gente conversou com ele, mas isso não é certo. A gente não deixou gordura para queimar com imposto, nada disso não. A gente vai ver o movimento, se pode haver um pouco mais de espaço, se houver redução de preço (do petróleo). Lembre-se de que, apesar da gente se livrar do PPI, que é paridade de importação, a gente não baniu a referência internacional. Chegando lá, se a gente puder, vai reduzir, porque isso nos interessa como vendedor, quando ocorrer a reoneração do ICMS.

Como assim?

Foi a solução simplista que o governo anterior deu à questão dos preços. Se você quer baixar preço de vestuário para o brasileiro, é só baixar a alíquota do imposto. Se quiser abaixar o preço da comida, é só baixar o imposto. Governar assim, nós mesmos nos juntamos aqui e a gente governa, vai ser super popular, mas no dia seguinte não tem dinheiro para fazer nada. Foi o que Bolsonaro fez. Depois de ter ferrado com os governadores e ter sido derrotado, a bomba relógio ficou.

O que o senhor pode dizer então dessa nova política de preços da empresa anunciada nesta semana? Como vai funcionar?

O pessoal fica repetindo essa lenga-lenga de que eu vou regionalizar os preços. Não é isso. O objetivo não é regionalizar por regionalizar, porque naturalmente eles já são regionalizados. É por área de influência das refinarias, em um raio de influência em que ela atua de forma mais eficiente do que qualquer outra fonte. Isso é ruim para o Brasil? Não. Isso me obriga a praticar o preço do importado? Não, absolutamente não. Ah, mas (o PPI) era mais previsível... Sim, mas era o pior preço para o brasileiro. Eu sou obrigado a fazer o pior preço para o brasileiro para agradar o cara que quer saber o dia que vai subir o preço?

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora

Qual a vantagem então da nova estratégia de preços?

Meu preço vai volatilizar bem menos. Não é melhor do que eu ficar dizendo que amanhã vai ter aumento, depois de 24h cair de novo, depois subir de novo e cair de novo? No ano Pedro Parente 1 (ex-presidente da Petrobras, que implantou o PPI) houve 118 ajustes de preços. Isso é previsibilidade? Isso é uma fórmula boa? Não é. Durante dois anos (2017/2018) foram mais de 250 ajustes e o preço ficou 10% acima do PPI. Nem o PPI os caras conseguiram cumprir com esse monte de ajustes, quase em tempo real. Isso era útil? Não era útil. Depois viram que estavam errados, mas não revogaram o PPI. Mas também tampouco o praticaram. Ficou um jogo de me engana que eu gosto: nem aplicavam o PPI, nem revogavam o PPI. O que a gente fez? Simplesmente tirou o bode da sala, se é por falta de tirar o PPI, nós tiramos.

E a nova estratégia da empresa, como funciona na prática, como vai ser formado o preço?

Vai ser o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora. O meu preço mínimo é o preço que eu vou embora da negociação. (...) Até para comprar numa feira é assim. O preço que você está disposto a pagar é o preço que o cara está disposto a vender, entre uma coisa e outra, tem um intervalo, e essa é a negociação que a gente recuperou o poder de fazer. Antes, não podia mais, porque tinha que acertar o preço sempre no máximo, que é o PPI, e o PPI o que é? É o meu concorrente.

Mas muita gente disse que não gostou da mudança, que ficou menos transparente...

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora. Não vai ter mais a proteção do PPI. E, eventualmente, algum outro importador que vai dizer: ‘Poxa, eu tinha um preço garantido e agora não tenho mais’. Não existe falta de transparência, porque o sistema é visível.

RIO - No comando da Petrobras há menos de quatro meses, o ex-senador Jean Paul Prates tem o ambicioso plano de mudar a cara da estatal e recuperar o tempo perdido na corrida pela transição energética. Na mesma semana em que anunciou uma nova estratégia comercial, reduziu significativamente o preço dos combustíveis e viu frustrada a sua intenção de explorar a Margem Equatorial, ele recebeu a equipe do Estadão/Broadcast para uma entrevista.

Prates deixa claro que os tempos são outros na empresa e revela planos de ter todas as refinarias produzindo biocombustíveis e hidrogênio em, no máximo, três décadas. Fora o interesse de entrar na entrada na geração eólica offshore. “Para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil”, compara. O executivo deixa em aberto também a possibilidade de voltar a investir no exterior.

Segundo Prates, nova política da Petrobras vai ser 'o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora' Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Quais são os planos da Petrobras para os parques eólicos offshore?

A gente, daqui a 30 anos, vai ser uma empresa de quê? Do que eu imagino, vai ter parque offshore porque você é uma offshore company, então, para nós, fazer eólica no mar é brincar de playmobil. Para quem faz uma sonda, uma FPSO (navio-plataforma) dessas enormes, que fica parada lá produzindo em milhões de poços profundos, agora também injetando carbono direto no subsolo marinho, fazer eólica offshore é um passeio.

É possível a empresa explorar essa fonte também fora do Brasil?

Pode ser. Eu não acho que seria necessário, mas pode ser sim, não como operador, mas como sócio de alguém para ver uma operação, ter o dia a dia. Eu tenho experiência de transitar do petróleo para eólica e posso dizer que o setor elétrico é muito mais simples que o setor de petróleo. Nos contratos, nos negócios, na tecnologia, na operação, na fabricação e na discussão regulatória. O setor elétrico é mais fácil de trabalhar, e arrisco dizer, até que há uma certa ingenuidade do ponto de vista da preparação dos agentes econômicos. É um setor que está aprendendo a voar voando, tipo filhote de passarinho mesmo, sendo jogado fora do ninho.

Com o processo de venda das refinarias suspenso, como vê o futuro das refinarias da Petrobras?

De repente você vai para o desafio de produzir óleo vegetal, totalmente inconcebível. Biodiesel eu conheço, mas botar óleo vegetal e do outro lado sair diesel, especificado como diesel, e sem ser perecível como é o diesel R, quem pensava nisso? Mas isso vai estar no futuro? Vai, daqui a 30 anos, certamente, todas as nossas estruturas de refino vão estar processando óleo vegetal em diesel não perecível.

A Petrobras tem planos de produzir hidrogênio?

A Petrobras vai estar no hidrogênio? Tem que estar. A primeira transição você procura o que está mais próximo de você. Geração de energia elétrica vai puxar você para o lado da energização também. O hidrogênio é o equivalente ao gás, você tem a experiência toda do gás. Tanto é que o marco regulatório do hidrogênio que eu deixei lá pronto (no Senado), basicamente só faz isso, coloca o hidrogênio embaixo da jurisdição da ANP e usa a logística do gás natural.

E como a Petrobras imagina que vai ser a comercialização desse hidrogênio?

Daqui a pouco você está falando de um downstream, em vez de simplesmente, como querem muitos, comprar a BR (Distribuidora, hoje Vibra) do nada e sair fazendo tudo do mesmo. Tem que pensar como chegar próximo ao consumidor do futuro, meu filho ou o filho do meu filho. O cara lá na frente não vai nem ter carro, o carro vai ser compartilhado, tem o veículo autônomo, vai trocar bateria e não abastecer. Será que eu entro na Bolívia e começo a usar minha experiência em exploração e produção para explorar outra coisa, o lítio, ou será que começo a pensar em gás hélio? Em outras coisas? Tudo isso vai estar na diretoria de Transição Energética, lá dentro tem uma subdivisão em gerências. Uma vai tratar de novas tecnologias, outra vai acertar offshore eólico, outra que vai acertar hidrogênio, umas que já estão mais decididas e outras que ainda vão ser estudadas.

O Ministério de Minas e Energia está ajudando a Petrobras? Como é a relação com a Petrobras? Volta e meia sai uma nota na imprensa dizendo que a sua relação com o ministro não é boa.

Não é verdade, isso é uma intriga enorme. Quando houve a questão do Conselho (de Administração), surgiu esse boato de que a gente não se dava bem, e na verdade a gente se dá muito bem, porque a gente esteve junto no Senado. Foi um momento muito complicado, inclusive a minha própria relatoria no projeto dos combustíveis foi feita em conjunto com o Alexandre (Silveira, ministro de Minas e Energia) e o Rodrigo Pacheco, assim como com o Davi Alcolumbre, que são justamente os aliados na aproximação do governo com partidos, tanto o PSD como o União Brasil. A gente sempre teve uma relação muito boa.

Mas surgiram rumores de que as indicações do ministro para o Conselho de Administração foram impostas. Como foi isso?

Na questão do Conselho, o que aconteceu foi: o presidente (Lula) tinha me pedido para mandar não só a lista dos diretores, que ele me deu liberdade total, sem a ingerência de ninguém, por isso a gente teve possibilidade de trazer gente da casa, respeitar o plano de sucessão, como também o Conselho. Na semana em que fui entregar a lista da diretoria, ele perguntou sobre os nomes do Conselho de Administração. E pediu uns nomes. Depois disso, na semana seguinte, depois de três semanas, ele recebeu os partidos de alguma forma, e disse: ‘Olha, o pessoal está falando aqui do conselho, eu disse tudo bem, a gente tem que abrir aqui uns espaços’, e aí vazou a primeira lista. Depois, apareceu outra lista com os nomes do ministério, e aí começaram a falar que um atropelou o outro, um quer brigar com o outro. Mas não tem nada disso não, a gente se entende bem.

Então a Petrobras tem recebido apoio do ministro?

O Alexandre tem uma missão muito difícil. Se a minha é difícil, a dele também. Talvez a dele seja até maior, porque ali são três segmentos da economia pesadíssimos: petróleo e gás, energia elétrica – com todas as outras fontes e o imbróglio da Eletrobras – e mineração. No que a Petrobras puder colaborar, ajudar, trabalhar em função do que ela tem possibilidade de análise, de projetos, a Petrobras vai se engajar nisso. Até porque, como ela está em transição energética, está em pelo menos dois desses bolos, se é que não vai pro terceiro por conta do lítio. Ela (Petrobras) está no maior de todos que é o petróleo, mas já transita no setor elétrico quando vende gás, termoelétricas, e vai ter parques eólicos. E até na mineração, talvez, mais cedo ou mais tarde. A gente entende de geologia brasileira e sul-americana como ninguém, então é natural que use isso em algum momento. É amanhã? É depois de amanhã? Não, talvez daqui a cinco, dez anos.

Esta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que pode haver outra redução de preços do diesel e da gasolina em julho, como forma de reduzir o impacto da volta do ICMS. O senhor confirma?

Pode ter em junho ou julho. A gente conversou com ele, mas isso não é certo. A gente não deixou gordura para queimar com imposto, nada disso não. A gente vai ver o movimento, se pode haver um pouco mais de espaço, se houver redução de preço (do petróleo). Lembre-se de que, apesar da gente se livrar do PPI, que é paridade de importação, a gente não baniu a referência internacional. Chegando lá, se a gente puder, vai reduzir, porque isso nos interessa como vendedor, quando ocorrer a reoneração do ICMS.

Como assim?

Foi a solução simplista que o governo anterior deu à questão dos preços. Se você quer baixar preço de vestuário para o brasileiro, é só baixar a alíquota do imposto. Se quiser abaixar o preço da comida, é só baixar o imposto. Governar assim, nós mesmos nos juntamos aqui e a gente governa, vai ser super popular, mas no dia seguinte não tem dinheiro para fazer nada. Foi o que Bolsonaro fez. Depois de ter ferrado com os governadores e ter sido derrotado, a bomba relógio ficou.

O que o senhor pode dizer então dessa nova política de preços da empresa anunciada nesta semana? Como vai funcionar?

O pessoal fica repetindo essa lenga-lenga de que eu vou regionalizar os preços. Não é isso. O objetivo não é regionalizar por regionalizar, porque naturalmente eles já são regionalizados. É por área de influência das refinarias, em um raio de influência em que ela atua de forma mais eficiente do que qualquer outra fonte. Isso é ruim para o Brasil? Não. Isso me obriga a praticar o preço do importado? Não, absolutamente não. Ah, mas (o PPI) era mais previsível... Sim, mas era o pior preço para o brasileiro. Eu sou obrigado a fazer o pior preço para o brasileiro para agradar o cara que quer saber o dia que vai subir o preço?

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora

Qual a vantagem então da nova estratégia de preços?

Meu preço vai volatilizar bem menos. Não é melhor do que eu ficar dizendo que amanhã vai ter aumento, depois de 24h cair de novo, depois subir de novo e cair de novo? No ano Pedro Parente 1 (ex-presidente da Petrobras, que implantou o PPI) houve 118 ajustes de preços. Isso é previsibilidade? Isso é uma fórmula boa? Não é. Durante dois anos (2017/2018) foram mais de 250 ajustes e o preço ficou 10% acima do PPI. Nem o PPI os caras conseguiram cumprir com esse monte de ajustes, quase em tempo real. Isso era útil? Não era útil. Depois viram que estavam errados, mas não revogaram o PPI. Mas também tampouco o praticaram. Ficou um jogo de me engana que eu gosto: nem aplicavam o PPI, nem revogavam o PPI. O que a gente fez? Simplesmente tirou o bode da sala, se é por falta de tirar o PPI, nós tiramos.

E a nova estratégia da empresa, como funciona na prática, como vai ser formado o preço?

Vai ser o melhor preço para eu não perder e o cliente não ir embora. O meu preço mínimo é o preço que eu vou embora da negociação. (...) Até para comprar numa feira é assim. O preço que você está disposto a pagar é o preço que o cara está disposto a vender, entre uma coisa e outra, tem um intervalo, e essa é a negociação que a gente recuperou o poder de fazer. Antes, não podia mais, porque tinha que acertar o preço sempre no máximo, que é o PPI, e o PPI o que é? É o meu concorrente.

Mas muita gente disse que não gostou da mudança, que ficou menos transparente...

Quem era a favor do fim do PPI gostou, e quem era do mercado e temia o fim do PPI também gostou. Quem não gostou é quem está do outro lado e comprou uma refinaria e vai ter que competir com a Petrobras agora. Não vai ter mais a proteção do PPI. E, eventualmente, algum outro importador que vai dizer: ‘Poxa, eu tinha um preço garantido e agora não tenho mais’. Não existe falta de transparência, porque o sistema é visível.

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