‘É uma chance de ouro que se perde’, diz Prates sobre proibição de explorar foz do Amazonas


Presidente da Petrobras afirma que não perdeu esperança sobre projeto na Margem Equatorial; companhia pediu para Ibama reconsiderar negativa, mas já iniciou retirada de sonda da região

Por Denise Luna
Foto: PEDRO KIRILOS
Entrevista comJean Paul PratesPresidente da Petrobras

RIO - A Petrobras já iniciou os procedimentos para retirar a sonda que mantém na Margem Equatorial, enquanto aguarda uma resposta do Ibama ao pedido de reconsideração da negativa de explorar o local, diz ao Estadão/Broadcast o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Em um primeiro momento, a sonda irá para a Bacia de Campos. Depois, quando sair o licenciamento para a área de Pitu, no Rio Grande do Norte, o equipamento rumará para a Bacia Potiguar, que faz parte da Margem Equatorial, mas sem o mesmo potencial sinalizado pela Bacia da foz do Amazonas.

No comando da Petrobras há menos de quatro meses, Prates diz que ainda tenta obter a licença para a foz, um projeto que poderia garantir o aumento de reservas da empresa. Mas o custo de manter a sonda inativa impede uma espera mais prolongada.

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De acordo com consultoria Wood Mackenzie, o custo seria de US$ 1 milhão por dia de espera pelo aval para perfurar. Isso não quer dizer que a estatal tenha desistido da área, mas o estudo exigido pelo Ibama não depende da empresa, explica Prates.

Segundo Prates, Petrobras se colocou à disposição para esclarecer Ibama, governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais e senadores sobre projeto de exploração na foz do Amazonas Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

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Como ficam agora os planos para a Margem Equatorial após a rejeição do Ibama ao pedido de licença para exploração no local?

Em primeiro lugar, nós não perdemos a esperança, porque, no processo de licenciamento, que não é judicialização, existe o processo do recurso no próprio processo, um pedido de reconsideração em âmbito administrativo. Tem um relatório que indefere a licença e você faz um pedido de reconsideração. É como dizer: dá uma olhada para saber se você quer fazer isso.

Mas o senhor acredita que ainda pode ser aprovado?

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Pedido de reconsideração não tem prazo para responder. Tem pedido de reconsideração, se não me engano, da bacia Pará-Maranhão, com anos e nunca responderam. Não podemos esperar muito tempo para tomar a decisão (de tirar a sonda). A não ser que o próprio Ibama diga: espera aí mais uns dez dias que eu vou realmente fazer uma reconsideração e mandar o resultado. Mas, fora uma manifestação como essa, a gente teria que retirar a sonda de lá. A partir da semana que vem começa a desmobilizar para sair.

Um dos pontos ressaltados pelo Ibama é a falta de projeto de comunicação com a população indígena. Qual é o problema?

Esse processo teve ampla participação da sociedade. Tivemos mais de 67 reuniões informativas, três audiências públicas, recentemente em fevereiro tivemos uma reunião com o Conselho de Caciques dos povos indígenas. O que eu acho é que o Ibama colocou ali no documento que não teve manifestação da Funai. Mas não teve porque o próprio Ibama entendeu (no governo anterior) que não vai ter impacto direto (nas comunidades indígenas), porque está em alto-mar, a 175 km da costa, e o aeroporto não é uma instalação nova, ele é homologado pela Anac, tem licença de operação. Estava sendo ampliado dentro dos seus limites.

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Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar

Então de onde vem esta ideia de falta de comunicação?

O estudo foi dispensado lá atrás, e fizemos todo esse trabalho pensando que essa dispensa realmente era efetiva, e eis que surge de novo essa exigência de um estudo regional. Não é um estudo que a Petrobras faça. Não adianta dizer que a Petrobras não fez, a Petrobras nem pode, teoricamente, fazer. A gente nem sabe se pode. Eu poderia pedir para fazer e bancar, mas talvez até surja uma suspeição lá na frente. É um trabalho de governo, do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

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Políticos da região estão se pronunciando em apoio à Petrobras, isso pode ajudar?

Eu sei que é uma comoção grande essa questão dos Estados, e tudo isso, mas a gente disse várias vezes que era importante esse processo, todo mundo deveria se engajar. A Petrobras se colocou à disposição o tempo todo para esclarecer todo mundo, não só o Ibama, mas governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais, senadores. Todos estão a par do que a Petrobras fez e faz lá para furar esse poço no Amapá, lembrando que é uma licença de apenas um poço.

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Com a negativa do Ibama, a Margem Equatorial pode ser abandonada? Outras empresas podem se interessar?

Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar. É uma chance de ouro que se perde. Se o Ibama não mantiver o processo aberto, se ele arquivar a licença definitivamente, ele sepulta o processo e a gente tem que começar tudo de novo, e podemos inclusive devolver o bloco para ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) porque você pagou o bônus e tem um programa exploratório mínimo. Se você não cumpriu o programa, vai ser multada.

A sonda então vai sair da foz e irá para onde? Bacia Potiguar?

Essa campanha envolve a Margem Equatorial de maneira geral. A Bacia Potiguar é uma bacia mais madura, não deve ter essa dificuldade (de licença), porque não é mistério algum. Lá já tem 437 poços, sendo 249 exploratórios e 188 de produção, não é possível que nem lá a gente consiga.

Quando a sonda vai para o Rio Grande do Norte?

Primeiro, essa sonda vem para cá (Sudeste). O licenciamento da Bacia Potiguar está em andamento e programado para ocorrer depois do furo na foz do Amazonas, o que não está acontecendo. Então, enquanto o licenciamento não acontece, a sonda virá para o Sudeste. Vamos recolher o ônibus para a garagem. Vai fazer umas complementações na bacia de Campos que são necessárias, uns consertos de poço, basicamente, e aí, quando liberar lá, você volta com ela para a Bacia Potiguar.

Mas em termos de reservas? A Petrobras precisa repor as reservas, a Bacia Potiguar seria um meio disso?

Você tem que manter um nível de reposição razoável, para que daqui a 20 ou 30 anos você ainda tenha petróleo, mesmo que seja nos estertores da era do petróleo. Você precisa ter petróleo para fazer seu caixa, porque você vai estar no meio da consolidação da transição energética.

Mas se o Ibama negar definitivamente, como fica?

Nós temos também a possibilidade de voltar a nos internacionalizar um pouco em relação à Guiana, em relação a outros lugares. Talvez diante da impossibilidade de furar na foz, a gente possa testar alguma coisa na Guiana e Suriname. A pena é que lá a gente vai ser mais um. Aqui a gente é a estatal do pedaço, é a host company, a anfitriã. Por enquanto é só uma ideia, uma conversa interna. Compramos o pacote do bid (para leilão de áreas na Guiana), mas antes da questão do Ibama, por segurança, e nem avaliamos ainda.

E quanto à revisão da venda de ativos, em que estágio a diretoria está? A ideia é revisar o Plano Estratégico 2023-2027 até julho, certo?

A gente vai fazer alguns ajustes (no Plano 2023-2027), não tem data ainda para ter pelo menos discussões internas. A gente está cumprindo tudo à risca, não está avançando o sinal em nada. Já revimos e, em alguns casos, já estamos entabulando algumas parceiras em vez de vendas. Certamente não são refinarias, mas em exploração e produção, campos maduros, revitalização e outras áreas também, a gente chama o cara que quer comprar e diz que não vai dar mais. E a receptividade tem sido ótima. Vamos negociar? Vamos. Vamos fechar negócio? Não sei. Ainda não fechamos nada, basicamente, por falta de tempo, principalmente essa questão da estratégia comercial, a questão dos dividendos que está ainda moendo.

O que está na mesa?

Houve sete vendas que já tinham sido feitas, estavam no sign (assinatura) e faltava o closing (fechamento). É como um piano que você já vendeu, o caminhão de mudança está lá embaixo esperando. Quando o piano começa a descer, você fala que não vai mais vender o piano. Se você faz isso, tem que indenizar o cara, porque ele estava com concerto marcado, deixou de comprar outro piano para comprar o seu, e no meio do processo você se arrependeu, mas já estava vendido. É diferente de outros 36 processos que a gente falou que vai rever.

RIO - A Petrobras já iniciou os procedimentos para retirar a sonda que mantém na Margem Equatorial, enquanto aguarda uma resposta do Ibama ao pedido de reconsideração da negativa de explorar o local, diz ao Estadão/Broadcast o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Em um primeiro momento, a sonda irá para a Bacia de Campos. Depois, quando sair o licenciamento para a área de Pitu, no Rio Grande do Norte, o equipamento rumará para a Bacia Potiguar, que faz parte da Margem Equatorial, mas sem o mesmo potencial sinalizado pela Bacia da foz do Amazonas.

No comando da Petrobras há menos de quatro meses, Prates diz que ainda tenta obter a licença para a foz, um projeto que poderia garantir o aumento de reservas da empresa. Mas o custo de manter a sonda inativa impede uma espera mais prolongada.

De acordo com consultoria Wood Mackenzie, o custo seria de US$ 1 milhão por dia de espera pelo aval para perfurar. Isso não quer dizer que a estatal tenha desistido da área, mas o estudo exigido pelo Ibama não depende da empresa, explica Prates.

Segundo Prates, Petrobras se colocou à disposição para esclarecer Ibama, governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais e senadores sobre projeto de exploração na foz do Amazonas Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Como ficam agora os planos para a Margem Equatorial após a rejeição do Ibama ao pedido de licença para exploração no local?

Em primeiro lugar, nós não perdemos a esperança, porque, no processo de licenciamento, que não é judicialização, existe o processo do recurso no próprio processo, um pedido de reconsideração em âmbito administrativo. Tem um relatório que indefere a licença e você faz um pedido de reconsideração. É como dizer: dá uma olhada para saber se você quer fazer isso.

Mas o senhor acredita que ainda pode ser aprovado?

Pedido de reconsideração não tem prazo para responder. Tem pedido de reconsideração, se não me engano, da bacia Pará-Maranhão, com anos e nunca responderam. Não podemos esperar muito tempo para tomar a decisão (de tirar a sonda). A não ser que o próprio Ibama diga: espera aí mais uns dez dias que eu vou realmente fazer uma reconsideração e mandar o resultado. Mas, fora uma manifestação como essa, a gente teria que retirar a sonda de lá. A partir da semana que vem começa a desmobilizar para sair.

Um dos pontos ressaltados pelo Ibama é a falta de projeto de comunicação com a população indígena. Qual é o problema?

Esse processo teve ampla participação da sociedade. Tivemos mais de 67 reuniões informativas, três audiências públicas, recentemente em fevereiro tivemos uma reunião com o Conselho de Caciques dos povos indígenas. O que eu acho é que o Ibama colocou ali no documento que não teve manifestação da Funai. Mas não teve porque o próprio Ibama entendeu (no governo anterior) que não vai ter impacto direto (nas comunidades indígenas), porque está em alto-mar, a 175 km da costa, e o aeroporto não é uma instalação nova, ele é homologado pela Anac, tem licença de operação. Estava sendo ampliado dentro dos seus limites.

Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar

Então de onde vem esta ideia de falta de comunicação?

O estudo foi dispensado lá atrás, e fizemos todo esse trabalho pensando que essa dispensa realmente era efetiva, e eis que surge de novo essa exigência de um estudo regional. Não é um estudo que a Petrobras faça. Não adianta dizer que a Petrobras não fez, a Petrobras nem pode, teoricamente, fazer. A gente nem sabe se pode. Eu poderia pedir para fazer e bancar, mas talvez até surja uma suspeição lá na frente. É um trabalho de governo, do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Políticos da região estão se pronunciando em apoio à Petrobras, isso pode ajudar?

Eu sei que é uma comoção grande essa questão dos Estados, e tudo isso, mas a gente disse várias vezes que era importante esse processo, todo mundo deveria se engajar. A Petrobras se colocou à disposição o tempo todo para esclarecer todo mundo, não só o Ibama, mas governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais, senadores. Todos estão a par do que a Petrobras fez e faz lá para furar esse poço no Amapá, lembrando que é uma licença de apenas um poço.

Com a negativa do Ibama, a Margem Equatorial pode ser abandonada? Outras empresas podem se interessar?

Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar. É uma chance de ouro que se perde. Se o Ibama não mantiver o processo aberto, se ele arquivar a licença definitivamente, ele sepulta o processo e a gente tem que começar tudo de novo, e podemos inclusive devolver o bloco para ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) porque você pagou o bônus e tem um programa exploratório mínimo. Se você não cumpriu o programa, vai ser multada.

A sonda então vai sair da foz e irá para onde? Bacia Potiguar?

Essa campanha envolve a Margem Equatorial de maneira geral. A Bacia Potiguar é uma bacia mais madura, não deve ter essa dificuldade (de licença), porque não é mistério algum. Lá já tem 437 poços, sendo 249 exploratórios e 188 de produção, não é possível que nem lá a gente consiga.

Quando a sonda vai para o Rio Grande do Norte?

Primeiro, essa sonda vem para cá (Sudeste). O licenciamento da Bacia Potiguar está em andamento e programado para ocorrer depois do furo na foz do Amazonas, o que não está acontecendo. Então, enquanto o licenciamento não acontece, a sonda virá para o Sudeste. Vamos recolher o ônibus para a garagem. Vai fazer umas complementações na bacia de Campos que são necessárias, uns consertos de poço, basicamente, e aí, quando liberar lá, você volta com ela para a Bacia Potiguar.

Mas em termos de reservas? A Petrobras precisa repor as reservas, a Bacia Potiguar seria um meio disso?

Você tem que manter um nível de reposição razoável, para que daqui a 20 ou 30 anos você ainda tenha petróleo, mesmo que seja nos estertores da era do petróleo. Você precisa ter petróleo para fazer seu caixa, porque você vai estar no meio da consolidação da transição energética.

Mas se o Ibama negar definitivamente, como fica?

Nós temos também a possibilidade de voltar a nos internacionalizar um pouco em relação à Guiana, em relação a outros lugares. Talvez diante da impossibilidade de furar na foz, a gente possa testar alguma coisa na Guiana e Suriname. A pena é que lá a gente vai ser mais um. Aqui a gente é a estatal do pedaço, é a host company, a anfitriã. Por enquanto é só uma ideia, uma conversa interna. Compramos o pacote do bid (para leilão de áreas na Guiana), mas antes da questão do Ibama, por segurança, e nem avaliamos ainda.

E quanto à revisão da venda de ativos, em que estágio a diretoria está? A ideia é revisar o Plano Estratégico 2023-2027 até julho, certo?

A gente vai fazer alguns ajustes (no Plano 2023-2027), não tem data ainda para ter pelo menos discussões internas. A gente está cumprindo tudo à risca, não está avançando o sinal em nada. Já revimos e, em alguns casos, já estamos entabulando algumas parceiras em vez de vendas. Certamente não são refinarias, mas em exploração e produção, campos maduros, revitalização e outras áreas também, a gente chama o cara que quer comprar e diz que não vai dar mais. E a receptividade tem sido ótima. Vamos negociar? Vamos. Vamos fechar negócio? Não sei. Ainda não fechamos nada, basicamente, por falta de tempo, principalmente essa questão da estratégia comercial, a questão dos dividendos que está ainda moendo.

O que está na mesa?

Houve sete vendas que já tinham sido feitas, estavam no sign (assinatura) e faltava o closing (fechamento). É como um piano que você já vendeu, o caminhão de mudança está lá embaixo esperando. Quando o piano começa a descer, você fala que não vai mais vender o piano. Se você faz isso, tem que indenizar o cara, porque ele estava com concerto marcado, deixou de comprar outro piano para comprar o seu, e no meio do processo você se arrependeu, mas já estava vendido. É diferente de outros 36 processos que a gente falou que vai rever.

RIO - A Petrobras já iniciou os procedimentos para retirar a sonda que mantém na Margem Equatorial, enquanto aguarda uma resposta do Ibama ao pedido de reconsideração da negativa de explorar o local, diz ao Estadão/Broadcast o presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Em um primeiro momento, a sonda irá para a Bacia de Campos. Depois, quando sair o licenciamento para a área de Pitu, no Rio Grande do Norte, o equipamento rumará para a Bacia Potiguar, que faz parte da Margem Equatorial, mas sem o mesmo potencial sinalizado pela Bacia da foz do Amazonas.

No comando da Petrobras há menos de quatro meses, Prates diz que ainda tenta obter a licença para a foz, um projeto que poderia garantir o aumento de reservas da empresa. Mas o custo de manter a sonda inativa impede uma espera mais prolongada.

De acordo com consultoria Wood Mackenzie, o custo seria de US$ 1 milhão por dia de espera pelo aval para perfurar. Isso não quer dizer que a estatal tenha desistido da área, mas o estudo exigido pelo Ibama não depende da empresa, explica Prates.

Segundo Prates, Petrobras se colocou à disposição para esclarecer Ibama, governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais e senadores sobre projeto de exploração na foz do Amazonas Foto: Pedro Kirilos/Estadão

Veja a seguir os principais pontos da entrevista:

Como ficam agora os planos para a Margem Equatorial após a rejeição do Ibama ao pedido de licença para exploração no local?

Em primeiro lugar, nós não perdemos a esperança, porque, no processo de licenciamento, que não é judicialização, existe o processo do recurso no próprio processo, um pedido de reconsideração em âmbito administrativo. Tem um relatório que indefere a licença e você faz um pedido de reconsideração. É como dizer: dá uma olhada para saber se você quer fazer isso.

Mas o senhor acredita que ainda pode ser aprovado?

Pedido de reconsideração não tem prazo para responder. Tem pedido de reconsideração, se não me engano, da bacia Pará-Maranhão, com anos e nunca responderam. Não podemos esperar muito tempo para tomar a decisão (de tirar a sonda). A não ser que o próprio Ibama diga: espera aí mais uns dez dias que eu vou realmente fazer uma reconsideração e mandar o resultado. Mas, fora uma manifestação como essa, a gente teria que retirar a sonda de lá. A partir da semana que vem começa a desmobilizar para sair.

Um dos pontos ressaltados pelo Ibama é a falta de projeto de comunicação com a população indígena. Qual é o problema?

Esse processo teve ampla participação da sociedade. Tivemos mais de 67 reuniões informativas, três audiências públicas, recentemente em fevereiro tivemos uma reunião com o Conselho de Caciques dos povos indígenas. O que eu acho é que o Ibama colocou ali no documento que não teve manifestação da Funai. Mas não teve porque o próprio Ibama entendeu (no governo anterior) que não vai ter impacto direto (nas comunidades indígenas), porque está em alto-mar, a 175 km da costa, e o aeroporto não é uma instalação nova, ele é homologado pela Anac, tem licença de operação. Estava sendo ampliado dentro dos seus limites.

Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar

Então de onde vem esta ideia de falta de comunicação?

O estudo foi dispensado lá atrás, e fizemos todo esse trabalho pensando que essa dispensa realmente era efetiva, e eis que surge de novo essa exigência de um estudo regional. Não é um estudo que a Petrobras faça. Não adianta dizer que a Petrobras não fez, a Petrobras nem pode, teoricamente, fazer. A gente nem sabe se pode. Eu poderia pedir para fazer e bancar, mas talvez até surja uma suspeição lá na frente. É um trabalho de governo, do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Políticos da região estão se pronunciando em apoio à Petrobras, isso pode ajudar?

Eu sei que é uma comoção grande essa questão dos Estados, e tudo isso, mas a gente disse várias vezes que era importante esse processo, todo mundo deveria se engajar. A Petrobras se colocou à disposição o tempo todo para esclarecer todo mundo, não só o Ibama, mas governos de Estados, assembleias legislativas, deputados federais, estaduais, senadores. Todos estão a par do que a Petrobras fez e faz lá para furar esse poço no Amapá, lembrando que é uma licença de apenas um poço.

Com a negativa do Ibama, a Margem Equatorial pode ser abandonada? Outras empresas podem se interessar?

Não existe outra empresa no mundo mais habilitada para fazer essa operação do que a Petrobras. A Petrobras não tem nem um acidente em perfuração de poços em terra, águas rasas, águas profundas, ultraprofundas. Nunca houve vazamento de nenhum poço de perfuração. É um registro histórico exemplar. É uma chance de ouro que se perde. Se o Ibama não mantiver o processo aberto, se ele arquivar a licença definitivamente, ele sepulta o processo e a gente tem que começar tudo de novo, e podemos inclusive devolver o bloco para ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) porque você pagou o bônus e tem um programa exploratório mínimo. Se você não cumpriu o programa, vai ser multada.

A sonda então vai sair da foz e irá para onde? Bacia Potiguar?

Essa campanha envolve a Margem Equatorial de maneira geral. A Bacia Potiguar é uma bacia mais madura, não deve ter essa dificuldade (de licença), porque não é mistério algum. Lá já tem 437 poços, sendo 249 exploratórios e 188 de produção, não é possível que nem lá a gente consiga.

Quando a sonda vai para o Rio Grande do Norte?

Primeiro, essa sonda vem para cá (Sudeste). O licenciamento da Bacia Potiguar está em andamento e programado para ocorrer depois do furo na foz do Amazonas, o que não está acontecendo. Então, enquanto o licenciamento não acontece, a sonda virá para o Sudeste. Vamos recolher o ônibus para a garagem. Vai fazer umas complementações na bacia de Campos que são necessárias, uns consertos de poço, basicamente, e aí, quando liberar lá, você volta com ela para a Bacia Potiguar.

Mas em termos de reservas? A Petrobras precisa repor as reservas, a Bacia Potiguar seria um meio disso?

Você tem que manter um nível de reposição razoável, para que daqui a 20 ou 30 anos você ainda tenha petróleo, mesmo que seja nos estertores da era do petróleo. Você precisa ter petróleo para fazer seu caixa, porque você vai estar no meio da consolidação da transição energética.

Mas se o Ibama negar definitivamente, como fica?

Nós temos também a possibilidade de voltar a nos internacionalizar um pouco em relação à Guiana, em relação a outros lugares. Talvez diante da impossibilidade de furar na foz, a gente possa testar alguma coisa na Guiana e Suriname. A pena é que lá a gente vai ser mais um. Aqui a gente é a estatal do pedaço, é a host company, a anfitriã. Por enquanto é só uma ideia, uma conversa interna. Compramos o pacote do bid (para leilão de áreas na Guiana), mas antes da questão do Ibama, por segurança, e nem avaliamos ainda.

E quanto à revisão da venda de ativos, em que estágio a diretoria está? A ideia é revisar o Plano Estratégico 2023-2027 até julho, certo?

A gente vai fazer alguns ajustes (no Plano 2023-2027), não tem data ainda para ter pelo menos discussões internas. A gente está cumprindo tudo à risca, não está avançando o sinal em nada. Já revimos e, em alguns casos, já estamos entabulando algumas parceiras em vez de vendas. Certamente não são refinarias, mas em exploração e produção, campos maduros, revitalização e outras áreas também, a gente chama o cara que quer comprar e diz que não vai dar mais. E a receptividade tem sido ótima. Vamos negociar? Vamos. Vamos fechar negócio? Não sei. Ainda não fechamos nada, basicamente, por falta de tempo, principalmente essa questão da estratégia comercial, a questão dos dividendos que está ainda moendo.

O que está na mesa?

Houve sete vendas que já tinham sido feitas, estavam no sign (assinatura) e faltava o closing (fechamento). É como um piano que você já vendeu, o caminhão de mudança está lá embaixo esperando. Quando o piano começa a descer, você fala que não vai mais vender o piano. Se você faz isso, tem que indenizar o cara, porque ele estava com concerto marcado, deixou de comprar outro piano para comprar o seu, e no meio do processo você se arrependeu, mas já estava vendido. É diferente de outros 36 processos que a gente falou que vai rever.

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