‘Brasil pode ser uma potência ecológica’, diz fundador do Fórum Econômico Mundial


Para o economista Klaus Schwab, País pode influenciar a agenda de uma forma importante, no nível internacional, mas ainda tem obstáculos econômicos, como o baixo nível de investimentos

Por Altamiro Silva Junior
Atualização:
Foto: Fabrice Coffrini|AFP
Entrevista comKlaus SchwabEconomista e fundador do Fórum Econômico Mundial

O economista e engenheiro Klaus Schwab, que fundou há 52 anos o Fórum Econômico Mundial, evento que reúne a nata do capitalismo do planeta todo ano em Davos, nos Alpes suíços, esteve no Brasil esta semana e disse acreditar que o País pode voltar ao mapa mundial.

Para ele, o País pode ganhar mais influências em temas como transição energética, pois será palco nos próximos dois anos de grandes eventos internacionais, como a reunião do G20, grupo dos países mais ricos do mundo, em 2024.

Schwab alertou, porém, que a economia brasileira ainda tem baixo nível de investimento e precisa aumentá-lo, o que requer a participação do setor privado. Em meio à pressão em Brasília para o Banco Central baixar juros, o economista acredita que as taxas no mundo podem já ter atingido seu pico de alta e agora podem começar a cair.

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Schwab se diz esperançoso com o avanço da inteligência artificial, tema que tem inquietado personalidades pelo mundo, e afirma acreditar que ela pode ser aliada do desenvolvimento dos países, embora possa destruir muitos empregos — e criar novos outros.

Em visita ao Brasil, Schwab encontrou-se com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva Foto: Denis Balibouse/Reuters

O economista foi a Brasília, onde se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e participou de um evento sobre competitividade. Em São Paulo, falou com exclusividade ao Estadão/Broadcast.

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A seguir, os principais trechos da conversa.

O senhor tem dito que o mundo está mudando em direção a uma economia verde. Qual papel o Brasil, que tem a Amazônia e uma matriz energética limpa, pode ter neste processo?

O Brasil tem o potencial para ser tornar uma ecopower (potência ecológica). Há enorme oportunidade para energia eólica e a energia solar. Isso sem falar na Amazônia e seu potencial de absorção do carbono, mas que também é importante como fonte de biodiversidade, e o mundo está mais e mais consciente sobre isso. Com a presidência do G20 em 2024 e da COP (a conferência das Nações Unidas para o meio ambiente) em 2025, o Brasil pode influenciar a agenda de uma forma importante, no nível internacional.

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O Brasil pode também influenciar a agenda econômica?

O Brasil tem seus próprios problemas na economia, como inflação relativamente ainda alta, juros altos e um baixo nível de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), abaixo de 20%. Isso quer dizer que o Brasil precisa investir mais. Outro ponto é que o Brasil tem uma dívida de 75% do PIB, um nível alto, mas há muitos países com nível ainda mais elevado.

A economia mundial caminha para uma recessão?

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No momento, estamos indo para um nível de crescimento muito baixo. O mundo está crescendo, com algumas exceções, em uma base baixa. Temos que buscar os níveis sustentáveis de antes da pandemia.

O sr. acha que a inflação vai permanecer alta no mundo por muito tempo?

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Não. Normalmente, no passado, a inflação era causada pelo aumento do consumo, o que criava um desequilíbrio entre oferta e demanda. Agora, temos choques de ofertas, com redução da capacidade de produção por causa da pandemia, além da alta dos preços de energia por causa da guerra da Ucrânia. Acho que esse desequilíbrio entre oferta e demanda pode ser corrigido relativamente rápido.

Então os juros não devem subir mais?

Acho que já atingimos o pico de alta, falando da economia global. Temos visto declarações nesse sentido do Federal Reserve (o banco central americano) e do Banco Central Europeu que indicam que as elevações em breve podem parar. A inflação em muitos países já atingiu o pico e está se desacelerando.

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Como o ambiente de juros altos afeta as empresas, sua competitividade e situação financeira?

No Brasil, para uma empresa captar com títulos privados, precisa pagar ao menos 15%. Na Suíça e na Comunidade Europeia, é 5%, o que afeta a competitividade, porque o custo de capital é muito maior (no Brasil).

Sobre inteligência artificial, algumas personalidades, como o empresário Elon Musk, estão mostrando preocupação com o avanço. O senhor está mais esperançoso ou mais temeroso do progresso dessa indústria?

Como qualquer nova tecnologia, ela traz tremendas oportunidades. Há 25 anos, teve a revolução com as mídias sociais, o que reduziu custos de distribuição e afetou muitas indústrias, como a da mídia. A inteligência artificial vai fazer o mesmo para a produção de bens não materiais, vai destruir muitos empregos e criar outros. É uma oportunidade, com impacto até maior do que as mídias sociais, vai deslocar milhões de pessoas.

Como vê a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). As empresas estão abordando o tema de forma adequada?

É uma mudança fundamental de filosofia dos negócios. Empresários precisam criar prosperidade, mas também olhar as pessoas e o planeta. É um pensamento de longo prazo. Se uma empresa quiser ter os melhores talentos e os consumidores mais leais, precisa mostrar que não quer só fazer o máximo de dinheiro possível, mas também têm um papel social e ambiental.

O senhor tem visto avanços concretos na adoção de práticas ESG pelo mundo?

Sim, temos visto programas sendo implementados, mas o que é importante é criar um sistema que seja comparável e tenha critérios claros. No momento, está uma selva, com cada empresa fazendo seus relatórios, que não são comparáveis. É preciso criar um sistema global comparável para medir as práticas ESG.

Como um estrangeiro, qual sua visão do governo Lula?

Acho que o Lula conseguiu criar uma nova atenção ao Brasil. E na presidência do G20, terá uma grande oportunidade de trazer o Brasil de volta ao mapa.

O economista e engenheiro Klaus Schwab, que fundou há 52 anos o Fórum Econômico Mundial, evento que reúne a nata do capitalismo do planeta todo ano em Davos, nos Alpes suíços, esteve no Brasil esta semana e disse acreditar que o País pode voltar ao mapa mundial.

Para ele, o País pode ganhar mais influências em temas como transição energética, pois será palco nos próximos dois anos de grandes eventos internacionais, como a reunião do G20, grupo dos países mais ricos do mundo, em 2024.

Schwab alertou, porém, que a economia brasileira ainda tem baixo nível de investimento e precisa aumentá-lo, o que requer a participação do setor privado. Em meio à pressão em Brasília para o Banco Central baixar juros, o economista acredita que as taxas no mundo podem já ter atingido seu pico de alta e agora podem começar a cair.

Schwab se diz esperançoso com o avanço da inteligência artificial, tema que tem inquietado personalidades pelo mundo, e afirma acreditar que ela pode ser aliada do desenvolvimento dos países, embora possa destruir muitos empregos — e criar novos outros.

Em visita ao Brasil, Schwab encontrou-se com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva Foto: Denis Balibouse/Reuters

O economista foi a Brasília, onde se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e participou de um evento sobre competitividade. Em São Paulo, falou com exclusividade ao Estadão/Broadcast.

A seguir, os principais trechos da conversa.

O senhor tem dito que o mundo está mudando em direção a uma economia verde. Qual papel o Brasil, que tem a Amazônia e uma matriz energética limpa, pode ter neste processo?

O Brasil tem o potencial para ser tornar uma ecopower (potência ecológica). Há enorme oportunidade para energia eólica e a energia solar. Isso sem falar na Amazônia e seu potencial de absorção do carbono, mas que também é importante como fonte de biodiversidade, e o mundo está mais e mais consciente sobre isso. Com a presidência do G20 em 2024 e da COP (a conferência das Nações Unidas para o meio ambiente) em 2025, o Brasil pode influenciar a agenda de uma forma importante, no nível internacional.

O Brasil pode também influenciar a agenda econômica?

O Brasil tem seus próprios problemas na economia, como inflação relativamente ainda alta, juros altos e um baixo nível de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), abaixo de 20%. Isso quer dizer que o Brasil precisa investir mais. Outro ponto é que o Brasil tem uma dívida de 75% do PIB, um nível alto, mas há muitos países com nível ainda mais elevado.

A economia mundial caminha para uma recessão?

No momento, estamos indo para um nível de crescimento muito baixo. O mundo está crescendo, com algumas exceções, em uma base baixa. Temos que buscar os níveis sustentáveis de antes da pandemia.

O sr. acha que a inflação vai permanecer alta no mundo por muito tempo?

Não. Normalmente, no passado, a inflação era causada pelo aumento do consumo, o que criava um desequilíbrio entre oferta e demanda. Agora, temos choques de ofertas, com redução da capacidade de produção por causa da pandemia, além da alta dos preços de energia por causa da guerra da Ucrânia. Acho que esse desequilíbrio entre oferta e demanda pode ser corrigido relativamente rápido.

Então os juros não devem subir mais?

Acho que já atingimos o pico de alta, falando da economia global. Temos visto declarações nesse sentido do Federal Reserve (o banco central americano) e do Banco Central Europeu que indicam que as elevações em breve podem parar. A inflação em muitos países já atingiu o pico e está se desacelerando.

Como o ambiente de juros altos afeta as empresas, sua competitividade e situação financeira?

No Brasil, para uma empresa captar com títulos privados, precisa pagar ao menos 15%. Na Suíça e na Comunidade Europeia, é 5%, o que afeta a competitividade, porque o custo de capital é muito maior (no Brasil).

Sobre inteligência artificial, algumas personalidades, como o empresário Elon Musk, estão mostrando preocupação com o avanço. O senhor está mais esperançoso ou mais temeroso do progresso dessa indústria?

Como qualquer nova tecnologia, ela traz tremendas oportunidades. Há 25 anos, teve a revolução com as mídias sociais, o que reduziu custos de distribuição e afetou muitas indústrias, como a da mídia. A inteligência artificial vai fazer o mesmo para a produção de bens não materiais, vai destruir muitos empregos e criar outros. É uma oportunidade, com impacto até maior do que as mídias sociais, vai deslocar milhões de pessoas.

Como vê a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). As empresas estão abordando o tema de forma adequada?

É uma mudança fundamental de filosofia dos negócios. Empresários precisam criar prosperidade, mas também olhar as pessoas e o planeta. É um pensamento de longo prazo. Se uma empresa quiser ter os melhores talentos e os consumidores mais leais, precisa mostrar que não quer só fazer o máximo de dinheiro possível, mas também têm um papel social e ambiental.

O senhor tem visto avanços concretos na adoção de práticas ESG pelo mundo?

Sim, temos visto programas sendo implementados, mas o que é importante é criar um sistema que seja comparável e tenha critérios claros. No momento, está uma selva, com cada empresa fazendo seus relatórios, que não são comparáveis. É preciso criar um sistema global comparável para medir as práticas ESG.

Como um estrangeiro, qual sua visão do governo Lula?

Acho que o Lula conseguiu criar uma nova atenção ao Brasil. E na presidência do G20, terá uma grande oportunidade de trazer o Brasil de volta ao mapa.

O economista e engenheiro Klaus Schwab, que fundou há 52 anos o Fórum Econômico Mundial, evento que reúne a nata do capitalismo do planeta todo ano em Davos, nos Alpes suíços, esteve no Brasil esta semana e disse acreditar que o País pode voltar ao mapa mundial.

Para ele, o País pode ganhar mais influências em temas como transição energética, pois será palco nos próximos dois anos de grandes eventos internacionais, como a reunião do G20, grupo dos países mais ricos do mundo, em 2024.

Schwab alertou, porém, que a economia brasileira ainda tem baixo nível de investimento e precisa aumentá-lo, o que requer a participação do setor privado. Em meio à pressão em Brasília para o Banco Central baixar juros, o economista acredita que as taxas no mundo podem já ter atingido seu pico de alta e agora podem começar a cair.

Schwab se diz esperançoso com o avanço da inteligência artificial, tema que tem inquietado personalidades pelo mundo, e afirma acreditar que ela pode ser aliada do desenvolvimento dos países, embora possa destruir muitos empregos — e criar novos outros.

Em visita ao Brasil, Schwab encontrou-se com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva Foto: Denis Balibouse/Reuters

O economista foi a Brasília, onde se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e participou de um evento sobre competitividade. Em São Paulo, falou com exclusividade ao Estadão/Broadcast.

A seguir, os principais trechos da conversa.

O senhor tem dito que o mundo está mudando em direção a uma economia verde. Qual papel o Brasil, que tem a Amazônia e uma matriz energética limpa, pode ter neste processo?

O Brasil tem o potencial para ser tornar uma ecopower (potência ecológica). Há enorme oportunidade para energia eólica e a energia solar. Isso sem falar na Amazônia e seu potencial de absorção do carbono, mas que também é importante como fonte de biodiversidade, e o mundo está mais e mais consciente sobre isso. Com a presidência do G20 em 2024 e da COP (a conferência das Nações Unidas para o meio ambiente) em 2025, o Brasil pode influenciar a agenda de uma forma importante, no nível internacional.

O Brasil pode também influenciar a agenda econômica?

O Brasil tem seus próprios problemas na economia, como inflação relativamente ainda alta, juros altos e um baixo nível de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), abaixo de 20%. Isso quer dizer que o Brasil precisa investir mais. Outro ponto é que o Brasil tem uma dívida de 75% do PIB, um nível alto, mas há muitos países com nível ainda mais elevado.

A economia mundial caminha para uma recessão?

No momento, estamos indo para um nível de crescimento muito baixo. O mundo está crescendo, com algumas exceções, em uma base baixa. Temos que buscar os níveis sustentáveis de antes da pandemia.

O sr. acha que a inflação vai permanecer alta no mundo por muito tempo?

Não. Normalmente, no passado, a inflação era causada pelo aumento do consumo, o que criava um desequilíbrio entre oferta e demanda. Agora, temos choques de ofertas, com redução da capacidade de produção por causa da pandemia, além da alta dos preços de energia por causa da guerra da Ucrânia. Acho que esse desequilíbrio entre oferta e demanda pode ser corrigido relativamente rápido.

Então os juros não devem subir mais?

Acho que já atingimos o pico de alta, falando da economia global. Temos visto declarações nesse sentido do Federal Reserve (o banco central americano) e do Banco Central Europeu que indicam que as elevações em breve podem parar. A inflação em muitos países já atingiu o pico e está se desacelerando.

Como o ambiente de juros altos afeta as empresas, sua competitividade e situação financeira?

No Brasil, para uma empresa captar com títulos privados, precisa pagar ao menos 15%. Na Suíça e na Comunidade Europeia, é 5%, o que afeta a competitividade, porque o custo de capital é muito maior (no Brasil).

Sobre inteligência artificial, algumas personalidades, como o empresário Elon Musk, estão mostrando preocupação com o avanço. O senhor está mais esperançoso ou mais temeroso do progresso dessa indústria?

Como qualquer nova tecnologia, ela traz tremendas oportunidades. Há 25 anos, teve a revolução com as mídias sociais, o que reduziu custos de distribuição e afetou muitas indústrias, como a da mídia. A inteligência artificial vai fazer o mesmo para a produção de bens não materiais, vai destruir muitos empregos e criar outros. É uma oportunidade, com impacto até maior do que as mídias sociais, vai deslocar milhões de pessoas.

Como vê a evolução das práticas ESG (sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança). As empresas estão abordando o tema de forma adequada?

É uma mudança fundamental de filosofia dos negócios. Empresários precisam criar prosperidade, mas também olhar as pessoas e o planeta. É um pensamento de longo prazo. Se uma empresa quiser ter os melhores talentos e os consumidores mais leais, precisa mostrar que não quer só fazer o máximo de dinheiro possível, mas também têm um papel social e ambiental.

O senhor tem visto avanços concretos na adoção de práticas ESG pelo mundo?

Sim, temos visto programas sendo implementados, mas o que é importante é criar um sistema que seja comparável e tenha critérios claros. No momento, está uma selva, com cada empresa fazendo seus relatórios, que não são comparáveis. É preciso criar um sistema global comparável para medir as práticas ESG.

Como um estrangeiro, qual sua visão do governo Lula?

Acho que o Lula conseguiu criar uma nova atenção ao Brasil. E na presidência do G20, terá uma grande oportunidade de trazer o Brasil de volta ao mapa.

Entrevista por Altamiro Silva Junior

Altamiro Silva Junior é repórter especial do Broadcast. Responsável pela cobertura de negócios e bancos de investimento, é formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mestrado em Economia pela mesma universidade. Foi correspondente da Agência Estado em Nova York por quatro anos e seis meses, entre 2012 e 2017.

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