Cenário externo poderia levar BC a suspender queda do juro precipitadamente, diz ex-diretor do banco


Para Luis Eduardo Assis, situação fiscal está praticamente dada e não existe a possibilidade de uma explosão de gastos forte o suficiente para alterar a trajetória de queda da Selic

Por Márcia De Chiara
Foto: Estadão
Entrevista comLuis Eduardo AssisEconomista e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central

O economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), não vê a incerteza com o quadro fiscal do País como um obstáculo capaz de interromper a trajetória de queda da taxa básica de juros, a Selic, traçada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Na sua avaliação, a situação fiscal do País está dada. É sabido que o governo não atingirá o déficit zero este ano. Mas ele pondera que há um Orçamento. “Não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros”, afirma.

Para o economista, a preocupação maior é com cenário internacional, que pode gerar impactos nos preços das commodities e do dólar, levando o BC a suspender a queda dos juros antes do que se imagina. Ele frisa que esse é um risco possível, mas não provável.

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De toda forma, Assis alerta para os desdobramentos na economia e na política sobre o nome a ser escolhido pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para ocupar a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto, atual presidente da instituição, que tem seu mandato encerrado este ano.

Segundo o economista, em meio a um cenário de desaceleração da economia previsto para 2023 e de eleições municipais vitais para o PT, o governo poderá escolher um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. “Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

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Até aonde vai a trajetória de corte da taxa básica de juros? A incerteza fiscal pode atrapalhar o cenário de queda?

O Banco Central tende a ser conservador na queda de juros. Acho que agenda está muito pautada pela coerência. Certo ou errado, o BC não vai mudar a maneira como vem atuando no último ano de gestão do atual presidente (Roberto Campos Neto). Vejo também que o BC tem como praticamente único objetivo o controle da inflação. E praticamente o único instrumento que ele usa é a administração da taxa Selic (a taxa básica de juros). Há uma longa discussão se isso pode mudar. Mas certamente não vai mudar este ano. As perspectivas são bastante otimistas, do ponto de vista da inflação. Pode haver um choque. Tem a questão internacional que é preocupante. Mas eu fico muito mais preocupado com a questão internacional. Estou falando de preço de commodities e de guerra, do que com a situação fiscal.

Por quê?

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A situação fiscal está praticamente dada. Bem ou mal existe um orçamento, bem ou mal sabe-se que o governo não vai entregar o déficit primário zerado. É possível estourar o Orçamento? Sim. Mas não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros. Não vejo a questão fiscal como uma grande preocupação. O mercado financeiro fala muito disso, porque faz parte da liturgia falar da questão fiscal. Mas não vejo o BC alterando a trajetória de queda. Também não vejo o BC acelerando a queda de juros, como algumas pessoas começam a falar, de 8% (a taxa Selic) no final do ano. Acho que será alguma coisa entre 9% e 9,5% no final do ano.

O que poderia atrapalhar a queda dos juros?

A minha preocupação maior é o cenário internacional, que pode gerar impactos nas commodities e no dólar. Isso, sim, pode levar o BC a suspender a queda precipitadamente, antes do que se imagina.

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Assis, ex-diretor do BC, alerta para os desdobramentos políticos e econômicos que envolvem escolha do próximo presidente do BC Foto: Helcio Nagamine/ Estadão

Qual seria o estopim dessa mudança no cenário internacional?

O cenário internacional, hoje, é altamente imprevisível, do ponto de vista climático e do ponto de vista das várias guerras que estão em curso. Não acho que seja o cenário mais provável, mas é possível que haja uma confluência de fatores climáticos e de política internacional, de geopolítica, que leve a uma pressão altista no preço das commodities e do dólar. Se isso acontecer, é bastante provável que o BC suspenda a queda dos juros. Isso tem implicações muito interessantes do ponto de vista político.

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Quais?

A decisão mais importante em termos de política econômica este ano é a escolha do novo presidente do BC. Ninguém sabe o que pode passar pela cabeça do presidente da República se houver uma interrupção da queda dos juros. A economia já está em desaceleração e nós temos eleições municipais este ano, absolutamente vitais para as intenções do PT (Partido dos Trabalhadores) em 2026. Se houver uma interrupção da queda dos juros e se isso levar a uma desaceleração mais rápida da economia, com o aumento do desemprego, esse cenário pode influenciar o resultado das eleições municipais. Esse quadro pode criar condições para que o presidente da República escolha um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível. Esse é um fator de risco improvável? É um fator de risco. Mas essa discussão não está sendo feita. Não vejo o mercado financeiro preocupado com o novo presidente do BC. Acho que ao longo do ano vai entrar no radar.

O senhor falou do risco externo, do preço das commodities, das guerras, da questão climática. Qual a influência do Fed, o banco central americano, de manter os juros elevados por mais tempo na decisão do BC?

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O Fed também influencia, mas acho que menos do que parece. A correlação é muito baixa. É claro que podem ter repercussões indiretas. A exemplo do que aconteceu no passado e olhando os números, a queda de commodities foi extremamente importante para a trajetória da inflação.

Como assim?

Commodities de alimentação no ano passado caíram 9% em dólar no mercado internacional. O dólar caiu 7%. No ano passado, o índice de commodities agrícolas em reais caiu 13%. É muita coisa. Isso explica boa parte da queda da inflação que tivemos nos últimos meses. Quando se olha a alimentação no domicílio, houve uma queda extremamente significativa. Por conta do quê? Por conta das taxas de juros? Eu diria que não. Em dezembro de 2022, a alimentação no domicílio no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulava alta de 13%. No ano passado, dezembro de 2023, fechou com -0,5%. Isso tem forte correlação com preços das commodities e com a cotação do dólar. A inflação brasileira depende em grande medida das condições internacionais.

Hoje uma das preocupações do governo é com a desaceleração da economia. Quando o senhor acredita que essa redução dos juros vai começar a estimular a economia, de fato?

A economia está andando de lado por conta dessa defasagem que existe entre (o corte) de juros e nível de atividade. Acredito que, no segundo semestre, possa (com essa queda dos juros) ter um o retorno mais significativo do nível de atividade por conta de uma expansão do crédito. Mas isso a gente vai ter que ver. O fato é que, por mais que o crédito aumente, em razão da queda dos juros, existe outro efeito que é o gasto do governo. O impulso fiscal deste ano é bem menor do que o impulso fiscal do ano passado, haja vista o déficit primário gigantesco que tivemos no ano passado, que não vai se repetir este ano. A desaceleração da economia, com o PIB (Produto Interno Bruto) que pode crescer a metade do que cresceu no ano passado, se dá por conta da redução do impulso fiscal. Este é um ano sem muita pressão inflacionária, mas com a economia desacelerando.

O economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), não vê a incerteza com o quadro fiscal do País como um obstáculo capaz de interromper a trajetória de queda da taxa básica de juros, a Selic, traçada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Na sua avaliação, a situação fiscal do País está dada. É sabido que o governo não atingirá o déficit zero este ano. Mas ele pondera que há um Orçamento. “Não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros”, afirma.

Para o economista, a preocupação maior é com cenário internacional, que pode gerar impactos nos preços das commodities e do dólar, levando o BC a suspender a queda dos juros antes do que se imagina. Ele frisa que esse é um risco possível, mas não provável.

De toda forma, Assis alerta para os desdobramentos na economia e na política sobre o nome a ser escolhido pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para ocupar a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto, atual presidente da instituição, que tem seu mandato encerrado este ano.

Segundo o economista, em meio a um cenário de desaceleração da economia previsto para 2023 e de eleições municipais vitais para o PT, o governo poderá escolher um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. “Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Até aonde vai a trajetória de corte da taxa básica de juros? A incerteza fiscal pode atrapalhar o cenário de queda?

O Banco Central tende a ser conservador na queda de juros. Acho que agenda está muito pautada pela coerência. Certo ou errado, o BC não vai mudar a maneira como vem atuando no último ano de gestão do atual presidente (Roberto Campos Neto). Vejo também que o BC tem como praticamente único objetivo o controle da inflação. E praticamente o único instrumento que ele usa é a administração da taxa Selic (a taxa básica de juros). Há uma longa discussão se isso pode mudar. Mas certamente não vai mudar este ano. As perspectivas são bastante otimistas, do ponto de vista da inflação. Pode haver um choque. Tem a questão internacional que é preocupante. Mas eu fico muito mais preocupado com a questão internacional. Estou falando de preço de commodities e de guerra, do que com a situação fiscal.

Por quê?

A situação fiscal está praticamente dada. Bem ou mal existe um orçamento, bem ou mal sabe-se que o governo não vai entregar o déficit primário zerado. É possível estourar o Orçamento? Sim. Mas não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros. Não vejo a questão fiscal como uma grande preocupação. O mercado financeiro fala muito disso, porque faz parte da liturgia falar da questão fiscal. Mas não vejo o BC alterando a trajetória de queda. Também não vejo o BC acelerando a queda de juros, como algumas pessoas começam a falar, de 8% (a taxa Selic) no final do ano. Acho que será alguma coisa entre 9% e 9,5% no final do ano.

O que poderia atrapalhar a queda dos juros?

A minha preocupação maior é o cenário internacional, que pode gerar impactos nas commodities e no dólar. Isso, sim, pode levar o BC a suspender a queda precipitadamente, antes do que se imagina.

Assis, ex-diretor do BC, alerta para os desdobramentos políticos e econômicos que envolvem escolha do próximo presidente do BC Foto: Helcio Nagamine/ Estadão

Qual seria o estopim dessa mudança no cenário internacional?

O cenário internacional, hoje, é altamente imprevisível, do ponto de vista climático e do ponto de vista das várias guerras que estão em curso. Não acho que seja o cenário mais provável, mas é possível que haja uma confluência de fatores climáticos e de política internacional, de geopolítica, que leve a uma pressão altista no preço das commodities e do dólar. Se isso acontecer, é bastante provável que o BC suspenda a queda dos juros. Isso tem implicações muito interessantes do ponto de vista político.

Quais?

A decisão mais importante em termos de política econômica este ano é a escolha do novo presidente do BC. Ninguém sabe o que pode passar pela cabeça do presidente da República se houver uma interrupção da queda dos juros. A economia já está em desaceleração e nós temos eleições municipais este ano, absolutamente vitais para as intenções do PT (Partido dos Trabalhadores) em 2026. Se houver uma interrupção da queda dos juros e se isso levar a uma desaceleração mais rápida da economia, com o aumento do desemprego, esse cenário pode influenciar o resultado das eleições municipais. Esse quadro pode criar condições para que o presidente da República escolha um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível. Esse é um fator de risco improvável? É um fator de risco. Mas essa discussão não está sendo feita. Não vejo o mercado financeiro preocupado com o novo presidente do BC. Acho que ao longo do ano vai entrar no radar.

O senhor falou do risco externo, do preço das commodities, das guerras, da questão climática. Qual a influência do Fed, o banco central americano, de manter os juros elevados por mais tempo na decisão do BC?

O Fed também influencia, mas acho que menos do que parece. A correlação é muito baixa. É claro que podem ter repercussões indiretas. A exemplo do que aconteceu no passado e olhando os números, a queda de commodities foi extremamente importante para a trajetória da inflação.

Como assim?

Commodities de alimentação no ano passado caíram 9% em dólar no mercado internacional. O dólar caiu 7%. No ano passado, o índice de commodities agrícolas em reais caiu 13%. É muita coisa. Isso explica boa parte da queda da inflação que tivemos nos últimos meses. Quando se olha a alimentação no domicílio, houve uma queda extremamente significativa. Por conta do quê? Por conta das taxas de juros? Eu diria que não. Em dezembro de 2022, a alimentação no domicílio no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulava alta de 13%. No ano passado, dezembro de 2023, fechou com -0,5%. Isso tem forte correlação com preços das commodities e com a cotação do dólar. A inflação brasileira depende em grande medida das condições internacionais.

Hoje uma das preocupações do governo é com a desaceleração da economia. Quando o senhor acredita que essa redução dos juros vai começar a estimular a economia, de fato?

A economia está andando de lado por conta dessa defasagem que existe entre (o corte) de juros e nível de atividade. Acredito que, no segundo semestre, possa (com essa queda dos juros) ter um o retorno mais significativo do nível de atividade por conta de uma expansão do crédito. Mas isso a gente vai ter que ver. O fato é que, por mais que o crédito aumente, em razão da queda dos juros, existe outro efeito que é o gasto do governo. O impulso fiscal deste ano é bem menor do que o impulso fiscal do ano passado, haja vista o déficit primário gigantesco que tivemos no ano passado, que não vai se repetir este ano. A desaceleração da economia, com o PIB (Produto Interno Bruto) que pode crescer a metade do que cresceu no ano passado, se dá por conta da redução do impulso fiscal. Este é um ano sem muita pressão inflacionária, mas com a economia desacelerando.

O economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), não vê a incerteza com o quadro fiscal do País como um obstáculo capaz de interromper a trajetória de queda da taxa básica de juros, a Selic, traçada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Na sua avaliação, a situação fiscal do País está dada. É sabido que o governo não atingirá o déficit zero este ano. Mas ele pondera que há um Orçamento. “Não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros”, afirma.

Para o economista, a preocupação maior é com cenário internacional, que pode gerar impactos nos preços das commodities e do dólar, levando o BC a suspender a queda dos juros antes do que se imagina. Ele frisa que esse é um risco possível, mas não provável.

De toda forma, Assis alerta para os desdobramentos na economia e na política sobre o nome a ser escolhido pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para ocupar a presidência do BC no lugar de Roberto Campos Neto, atual presidente da instituição, que tem seu mandato encerrado este ano.

Segundo o economista, em meio a um cenário de desaceleração da economia previsto para 2023 e de eleições municipais vitais para o PT, o governo poderá escolher um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. “Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Até aonde vai a trajetória de corte da taxa básica de juros? A incerteza fiscal pode atrapalhar o cenário de queda?

O Banco Central tende a ser conservador na queda de juros. Acho que agenda está muito pautada pela coerência. Certo ou errado, o BC não vai mudar a maneira como vem atuando no último ano de gestão do atual presidente (Roberto Campos Neto). Vejo também que o BC tem como praticamente único objetivo o controle da inflação. E praticamente o único instrumento que ele usa é a administração da taxa Selic (a taxa básica de juros). Há uma longa discussão se isso pode mudar. Mas certamente não vai mudar este ano. As perspectivas são bastante otimistas, do ponto de vista da inflação. Pode haver um choque. Tem a questão internacional que é preocupante. Mas eu fico muito mais preocupado com a questão internacional. Estou falando de preço de commodities e de guerra, do que com a situação fiscal.

Por quê?

A situação fiscal está praticamente dada. Bem ou mal existe um orçamento, bem ou mal sabe-se que o governo não vai entregar o déficit primário zerado. É possível estourar o Orçamento? Sim. Mas não existe a possibilidade de uma explosão de gastos que seja forte o suficiente para alterar a trajetória de queda dos juros. Não vejo a questão fiscal como uma grande preocupação. O mercado financeiro fala muito disso, porque faz parte da liturgia falar da questão fiscal. Mas não vejo o BC alterando a trajetória de queda. Também não vejo o BC acelerando a queda de juros, como algumas pessoas começam a falar, de 8% (a taxa Selic) no final do ano. Acho que será alguma coisa entre 9% e 9,5% no final do ano.

O que poderia atrapalhar a queda dos juros?

A minha preocupação maior é o cenário internacional, que pode gerar impactos nas commodities e no dólar. Isso, sim, pode levar o BC a suspender a queda precipitadamente, antes do que se imagina.

Assis, ex-diretor do BC, alerta para os desdobramentos políticos e econômicos que envolvem escolha do próximo presidente do BC Foto: Helcio Nagamine/ Estadão

Qual seria o estopim dessa mudança no cenário internacional?

O cenário internacional, hoje, é altamente imprevisível, do ponto de vista climático e do ponto de vista das várias guerras que estão em curso. Não acho que seja o cenário mais provável, mas é possível que haja uma confluência de fatores climáticos e de política internacional, de geopolítica, que leve a uma pressão altista no preço das commodities e do dólar. Se isso acontecer, é bastante provável que o BC suspenda a queda dos juros. Isso tem implicações muito interessantes do ponto de vista político.

Quais?

A decisão mais importante em termos de política econômica este ano é a escolha do novo presidente do BC. Ninguém sabe o que pode passar pela cabeça do presidente da República se houver uma interrupção da queda dos juros. A economia já está em desaceleração e nós temos eleições municipais este ano, absolutamente vitais para as intenções do PT (Partido dos Trabalhadores) em 2026. Se houver uma interrupção da queda dos juros e se isso levar a uma desaceleração mais rápida da economia, com o aumento do desemprego, esse cenário pode influenciar o resultado das eleições municipais. Esse quadro pode criar condições para que o presidente da República escolha um presidente do BC que não pense 100% da mesma maneira que o mercado financeiro pensa. Daí, teremos um ano de 2025 inesquecível. Esse é um fator de risco improvável? É um fator de risco. Mas essa discussão não está sendo feita. Não vejo o mercado financeiro preocupado com o novo presidente do BC. Acho que ao longo do ano vai entrar no radar.

O senhor falou do risco externo, do preço das commodities, das guerras, da questão climática. Qual a influência do Fed, o banco central americano, de manter os juros elevados por mais tempo na decisão do BC?

O Fed também influencia, mas acho que menos do que parece. A correlação é muito baixa. É claro que podem ter repercussões indiretas. A exemplo do que aconteceu no passado e olhando os números, a queda de commodities foi extremamente importante para a trajetória da inflação.

Como assim?

Commodities de alimentação no ano passado caíram 9% em dólar no mercado internacional. O dólar caiu 7%. No ano passado, o índice de commodities agrícolas em reais caiu 13%. É muita coisa. Isso explica boa parte da queda da inflação que tivemos nos últimos meses. Quando se olha a alimentação no domicílio, houve uma queda extremamente significativa. Por conta do quê? Por conta das taxas de juros? Eu diria que não. Em dezembro de 2022, a alimentação no domicílio no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulava alta de 13%. No ano passado, dezembro de 2023, fechou com -0,5%. Isso tem forte correlação com preços das commodities e com a cotação do dólar. A inflação brasileira depende em grande medida das condições internacionais.

Hoje uma das preocupações do governo é com a desaceleração da economia. Quando o senhor acredita que essa redução dos juros vai começar a estimular a economia, de fato?

A economia está andando de lado por conta dessa defasagem que existe entre (o corte) de juros e nível de atividade. Acredito que, no segundo semestre, possa (com essa queda dos juros) ter um o retorno mais significativo do nível de atividade por conta de uma expansão do crédito. Mas isso a gente vai ter que ver. O fato é que, por mais que o crédito aumente, em razão da queda dos juros, existe outro efeito que é o gasto do governo. O impulso fiscal deste ano é bem menor do que o impulso fiscal do ano passado, haja vista o déficit primário gigantesco que tivemos no ano passado, que não vai se repetir este ano. A desaceleração da economia, com o PIB (Produto Interno Bruto) que pode crescer a metade do que cresceu no ano passado, se dá por conta da redução do impulso fiscal. Este é um ano sem muita pressão inflacionária, mas com a economia desacelerando.

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