Com seus 30 anos de experiência no setor elétrico, e comandando há quatro anos a multinacional italiana Enel Brasil, o engenheiro mecânico Nicola Codugno não esconde seu otimismo ao falar do futuro energético do País. “O Brasil é um gigante em termos de recursos renováveis, solar e eólico e está tomando consciência disso. Não tenho dúvida de que o futuro (da energia) é 100% renovável”, garante. Ele também não teme as atuais incertezas da Europa para garantir o fornecimento de gás, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia: “A Europa está mostrando uma resiliência maior do que imaginávamos”.
Nesta conversa com Cenários, o romano Codugno, que já comandou a Enel no Chile e na Eslováquia, fala das duas metas centrais da empresa por aqui – a descarbonização e a eletrificação – e antecipa uma novidade: a introdução de 800 mil medidores digitais inteligentes em São Paulo ainda este ano. Por fim, mostra seu entusiasmo pela chegada ao Brasil da Fórmula E – corridas de carros elétricos. A primeira ePrix no País será dia 25, em São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Qual foi o impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia em termos de energia?
A Europa está mostrando uma resiliência maior do que imaginávamos com a falta do gás russo, e até acelerando sua transição energética com o desenvolvimento de mais projetos de renováveis. Isso confirma um avanço rápido, de todo o mundo, em direção à descarbonização. E, nesse momento específico europeu, os dados indicam que ele pode ser até mais veloz.
Pode citar projetos da Enel em andamento?
São muitos, mas vou destacar a expansão da nossa fábrica de painéis solares na Sicília, que será a maior da Europa, com capacidade para gerar 3 mil megawatts/ano, ganhando autonomia em relação à China e outros mercados. E vamos contribuir não só com usinas, mas também produzindo equipamentos.
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Falando de Brasil, quais os planos prioritários para os próximos anos?
Os projetos que temos no Brasil fazem parte de uma estratégia global centrada em duas diretrizes: a descarbonização e a eletrificação. Descarbonização significa gerar energia sem emissão de CO2, o que implica seguir crescendo com projetos eólicos e solares. Já a eletrificação é a possibilidade de substituir, nos veículos, o uso de gás, diesel, combustíveis fósseis, por energias limpas. Iss0 se completa com o avanço da mobilidade elétrica. A Prefeitura de São Paulo lançou dois projetos como marco legislativo, que vão eletrificar o transporte público. Em dois ou três anos, prefeitos e governadores de outros Estados vão querer implantar esse processo também.
A Enel está apoiando a corrida de carros elétricos, a Fórmula E, no Brasil?
Sim, seremos patrocinadores desse evento maravilhoso, no dia 25 de março. A Fórmula E foi criada há seis anos – e, assim como a Fórmula 1, que trouxe muito desenvolvimento à indústria automotiva de massa, esperamos que a Fórmula E venha trazer inovação avançada para os carros elétricos.
Se uma cidade como São Paulo tiver uma adesão maciça aos carros elétricos, há energia suficiente para uma demanda bem maior?
Essa transição será gradual e nossa previsão é que não haverá crise energética, porque a geração de energia renovável está aumentando. O que precisaremos é modernizar e digitalizar as redes de distribuição para ter uma infraestrutura apta a dar energia nos diferentes pontos da cidade. Geração distribuída com pequenas usinas solares, que investidores têm lançado no País, também está incluída nesse planejamento.
Qual a importância do Brasil para a Enel?
O País é um ponto central da nossa estratégia. Vamos manter o alto nível de investimento com aportes tanto nas redes e infraestrutura quanto na geração. Destaco ainda o investimento na área da eletrificação, transporte elétrico, geração distribuída, eficiência energética e iluminação pública.
A quantas anda o processo de digitalização da rede?
Estamos com projeto em São Paulo para instalar, ainda neste ano, 800 mil medidores digitais inteligentes. Eles vão fornecer informações online ao consumidor sobre seu consumo de energia. Quanto, quando e como ele consome, por exemplo, desligando um ar-condicionado. Num futuro próximo, o cliente escolherá qual plano de tarifa é mais adequado ao seu perfil.
De onde virão esses novos aparelhos?
Serão produzidos em Manaus em vez de se importar da China. Nos próximos anos, serão 8 milhões de unidades só para São Paulo. Essa transição energética vai gerar muitos empregos qualificados e uma expansão de indústria mais sofisticada na área digital, nos setores solar, eólico e de mobilidade elétrica. Uma boa oportunidade para qualificar a mão de obra para atividades mais avançadas.
Acha que o Brasil está pronto para protagonizar a transição para a economia verde no mundo?
É uma conjuntura muito positiva. O Brasil é gigante em termos de recursos renováveis, solar e eólico. O País está tomando consciência dessa janela. Não tenho dúvida de que o futuro é 100% renovável.