Falta colocar alternativas de gasto na mesa e ter pacto entre Poderes, diz presidente do TCU


Bruno Dantas avalia que governo acerta ao enfrentar problemas que consumiram base de arrecadação, mas fica vulnerável ao não endereçar para discussão quadro geral dos problemas fiscais

Por Amanda Pupo e Renan Monteiro
Atualização:
Entrevista comBruno Dantaspresidente do TCU

BRASÍLIA – No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é criticado pelo setor produtivo e se encontra isolado na agenda de contenção de gastos tributários, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o avanço da pauta, sob pena de o Brasil quebrar.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Dantas fez um diagnóstico dos motivos que levaram a um esgarçamento da agenda, elevando a percepção de risco fiscal e a reação negativa do setor privado – que cobra um ajuste pelo lado das despesas.

Na avaliação dele, ao mesmo tempo que acerta ao enfrentar os problemas que consumiram a base de arrecadação, o governo se coloca em posição vulnerável ao não pôr na mesa para discussão do Congresso e do Judiciário o quadro geral dos problemas fiscais e a indexação de parte do Orçamento. O maior problema, para Dantas, é promover uma discussão setorizada, o que alimenta a insatisfação e o contra-ataque.

continua após a publicidade

“Perceba que as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal é que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate fiscal é fazer a discussão setorizada”, disse.

Dantas conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira, 11, pouco tempo antes de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), impor uma derrota a Haddad e devolver ao governo a parte da medida provisória que restringia os créditos de PIS/Cofins para bancar a desoneração da folha. Para o ministro do TCU, a reação é um exemplo de por que os problemas não podem ser atacados isoladamente. Nesta quinta-feira, 13, em fala que reverteu parte da depreciação do real registrada na última semana, Haddad foi à público junto da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para garantir que o governo está debruçado sobre uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas públicas.

O presidente do TCU também fez uma análise mais dura sobre o que levou o Brasil a ter um gasto tributário tão alto em proporção ao PIB. Para ele, “dez anos de presidentes fracos” ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram esse cenário. A seguir, os principais trechos da entrevista.

continua após a publicidade
O ministro do TCU Bruno Dantas. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 1/6/2020

O debate da desindexação do Orçamento esquentou de novo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, parece que as regras fiscais no Brasil sempre acabam minadas por um problema que não é resolvido. Vê chance de esse paradigma ser quebrado?

Da nossa cadeira, conseguimos ter diagnósticos muito precisos sobre o quadro macroeconômico, microeconômico. Óbvio que o TCU já se pronunciou diversas vezes sobre grandes questões que o Brasil resiste em endereçar. Eu gosto muito de falar da necessidade de um ajuste na Previdência, de uma reforma administrativa; mas talvez o assunto que eu mais fale e, curiosamente, as pessoas não têm repercutido adequadamente é que, com o volume de gasto tributário que nós temos, vamos levar o Brasil à bancarrota. Numa analogia, se você quer dar uma isenção para o sujeito da cobertura, o morador do primeiro andar vai ter de pagar mais condomínio.

continua após a publicidade

O ministro Haddad tem batido nessa tecla. Mas o humor das últimas semanas pode indicar que o empresariado está dizendo que chegou ao limite dessa revisão de benefícios?

Veja, de novo, os subsídios totais no Brasil estão se aproximando de 6% do PIB [disso, 4,8% de gasto tributário]. Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Só para vocês terem uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, em 2003, esse gasto era de 2%. Com a crise de 2008, o governo investiu no consumo com uma política de desoneração muito forte. Mas não foi aí que nós chegamos a 6%. Nós chegamos a 6% no hiato de dez anos entre o impeachment da presidente Dilma e a volta do presidente Lula. Ou seja, dez anos de presidentes fracos produziram isso no Brasil. Cada setor que tinha capacidade de se organizar e fazer lobby no Congresso foi lá e arrancou o seu naco do Orçamento público. Países desenvolvidos têm isenções fiscais, mas isso geralmente é feito para setores estratégicos ou com elevada capacidade de inovação. Aqui, fazemos isso para tudo. Esses dez anos de presidentes da República fracos ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram isso.

continua após a publicidade

E existe um comando constitucional para redução dos gastos tributários?

Foi a emenda do auxílio emergencial. Só que o governo aprovou a emenda e jogou para o futuro, porque o governo que aprovou a emenda constitucional aumentou o gasto tributário. E é com isso que o ministro Haddad está se deparando. Mas talvez o que esteja faltando é colocar todas as alternativas na mesa e ter pacto nacional com o Executivo, as duas casas do Legislativo e o Judiciário. Sentar todo mundo e falar o seguinte: “nós vamos aqui cortar 2% dos gastos tributários, mas nós também vamos fazer aqui uma reforma da Previdência, que corrija três pontos, que seja – e que renda algo como R$ 200 bilhões”. Se você corrige 2% do gasto tributário, isso equivale a R$ 200 bilhões; mais R$ 200 bilhões de uma eventual desindexação da política do salário mínimo, nós estamos falando aí de R$ 600 bilhões. E, se fizermos uma reforma administrativa, acho que conseguimos mudar esse panorama.

Falta olhar para o quadro geral?

continua após a publicidade

O que eu vejo é que o empresariado tem reclamado de olhar só para receita, né? Está faltando botar tudo na mesa. Tem que olhar o Simples. Tem gente que está no Simples e que não deveria estar né? Tem que olhar os grandes blocos de despesa. Por exemplo, a isenção da cesta básica: faz sentido caviar e salmão estarem na isenção da cesta básica? Ou melhor, faz sentido financiar o feijão do rico, ou era melhor cobrar imposto de todos e dar cashback para o pobre?

Foi o que a Fazenda tentou fazer na reforma tributária?

Perceba que são as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate todo é fazer a discussão setorizada. Tinha que colocar na mesa todas as alternativas. “Olha, tudo bem, vocês querem reformas que cortem direito dos servidores públicos, que atinja a população, ok; mas me mostra aqui onde é que o andar de cima vai pagar conta também”. Porque, tudo bem aumentar a idade mínima para aposentadoria, que talvez seja necessário, mas qual é a contraprestação que o andar de cima vai dar?

continua após a publicidade

O sr. acha que, se o governo fosse um pouco mais incisivo nessa agenda de gastos, talvez o ministro Haddad não ficasse tão isolado na agenda por aumento da arrecadação?

É nesse sentido. Fazer os gestos também. Porque as pessoas não querem se sacrificar sozinhas. De novo, é a questão da MP do crédito de PIS/Cofins. Por que o sujeito que tem crédito de PIS/Cofins vai pagar a conta dos 17 setores que têm desoneração? Esse empresário não entende porque ele está pagando a conta do outro. O que nós não podemos é perder de vista o todo. Se o governo começar a tentar atacar os problemas setorizadamente, o setor que foi atacado se defende reagindo. Se não ficar claro que todo mundo vai ter que perder um pouco para que todos ganhem lá na frente. O risco fiscal hoje infelizmente é pior que o risco de inflação. E é isso que está elevando o juro longo.

Há alguma previsão de o TCU julgar a consulta do governo sobre a possibilidade de limitar o contingenciamento do Orçamento?

Acho que isso é um “não problema”. Não é prioridade. Se fosse um problema premente, certamente responderíamos com rapidez. Contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas) é um dos instrumentos que o governo tem para fazer governança fiscal.

BRASÍLIA – No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é criticado pelo setor produtivo e se encontra isolado na agenda de contenção de gastos tributários, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o avanço da pauta, sob pena de o Brasil quebrar.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Dantas fez um diagnóstico dos motivos que levaram a um esgarçamento da agenda, elevando a percepção de risco fiscal e a reação negativa do setor privado – que cobra um ajuste pelo lado das despesas.

Na avaliação dele, ao mesmo tempo que acerta ao enfrentar os problemas que consumiram a base de arrecadação, o governo se coloca em posição vulnerável ao não pôr na mesa para discussão do Congresso e do Judiciário o quadro geral dos problemas fiscais e a indexação de parte do Orçamento. O maior problema, para Dantas, é promover uma discussão setorizada, o que alimenta a insatisfação e o contra-ataque.

“Perceba que as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal é que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate fiscal é fazer a discussão setorizada”, disse.

Dantas conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira, 11, pouco tempo antes de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), impor uma derrota a Haddad e devolver ao governo a parte da medida provisória que restringia os créditos de PIS/Cofins para bancar a desoneração da folha. Para o ministro do TCU, a reação é um exemplo de por que os problemas não podem ser atacados isoladamente. Nesta quinta-feira, 13, em fala que reverteu parte da depreciação do real registrada na última semana, Haddad foi à público junto da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para garantir que o governo está debruçado sobre uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas públicas.

O presidente do TCU também fez uma análise mais dura sobre o que levou o Brasil a ter um gasto tributário tão alto em proporção ao PIB. Para ele, “dez anos de presidentes fracos” ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram esse cenário. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O ministro do TCU Bruno Dantas. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 1/6/2020

O debate da desindexação do Orçamento esquentou de novo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, parece que as regras fiscais no Brasil sempre acabam minadas por um problema que não é resolvido. Vê chance de esse paradigma ser quebrado?

Da nossa cadeira, conseguimos ter diagnósticos muito precisos sobre o quadro macroeconômico, microeconômico. Óbvio que o TCU já se pronunciou diversas vezes sobre grandes questões que o Brasil resiste em endereçar. Eu gosto muito de falar da necessidade de um ajuste na Previdência, de uma reforma administrativa; mas talvez o assunto que eu mais fale e, curiosamente, as pessoas não têm repercutido adequadamente é que, com o volume de gasto tributário que nós temos, vamos levar o Brasil à bancarrota. Numa analogia, se você quer dar uma isenção para o sujeito da cobertura, o morador do primeiro andar vai ter de pagar mais condomínio.

O ministro Haddad tem batido nessa tecla. Mas o humor das últimas semanas pode indicar que o empresariado está dizendo que chegou ao limite dessa revisão de benefícios?

Veja, de novo, os subsídios totais no Brasil estão se aproximando de 6% do PIB [disso, 4,8% de gasto tributário]. Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Só para vocês terem uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, em 2003, esse gasto era de 2%. Com a crise de 2008, o governo investiu no consumo com uma política de desoneração muito forte. Mas não foi aí que nós chegamos a 6%. Nós chegamos a 6% no hiato de dez anos entre o impeachment da presidente Dilma e a volta do presidente Lula. Ou seja, dez anos de presidentes fracos produziram isso no Brasil. Cada setor que tinha capacidade de se organizar e fazer lobby no Congresso foi lá e arrancou o seu naco do Orçamento público. Países desenvolvidos têm isenções fiscais, mas isso geralmente é feito para setores estratégicos ou com elevada capacidade de inovação. Aqui, fazemos isso para tudo. Esses dez anos de presidentes da República fracos ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram isso.

E existe um comando constitucional para redução dos gastos tributários?

Foi a emenda do auxílio emergencial. Só que o governo aprovou a emenda e jogou para o futuro, porque o governo que aprovou a emenda constitucional aumentou o gasto tributário. E é com isso que o ministro Haddad está se deparando. Mas talvez o que esteja faltando é colocar todas as alternativas na mesa e ter pacto nacional com o Executivo, as duas casas do Legislativo e o Judiciário. Sentar todo mundo e falar o seguinte: “nós vamos aqui cortar 2% dos gastos tributários, mas nós também vamos fazer aqui uma reforma da Previdência, que corrija três pontos, que seja – e que renda algo como R$ 200 bilhões”. Se você corrige 2% do gasto tributário, isso equivale a R$ 200 bilhões; mais R$ 200 bilhões de uma eventual desindexação da política do salário mínimo, nós estamos falando aí de R$ 600 bilhões. E, se fizermos uma reforma administrativa, acho que conseguimos mudar esse panorama.

Falta olhar para o quadro geral?

O que eu vejo é que o empresariado tem reclamado de olhar só para receita, né? Está faltando botar tudo na mesa. Tem que olhar o Simples. Tem gente que está no Simples e que não deveria estar né? Tem que olhar os grandes blocos de despesa. Por exemplo, a isenção da cesta básica: faz sentido caviar e salmão estarem na isenção da cesta básica? Ou melhor, faz sentido financiar o feijão do rico, ou era melhor cobrar imposto de todos e dar cashback para o pobre?

Foi o que a Fazenda tentou fazer na reforma tributária?

Perceba que são as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate todo é fazer a discussão setorizada. Tinha que colocar na mesa todas as alternativas. “Olha, tudo bem, vocês querem reformas que cortem direito dos servidores públicos, que atinja a população, ok; mas me mostra aqui onde é que o andar de cima vai pagar conta também”. Porque, tudo bem aumentar a idade mínima para aposentadoria, que talvez seja necessário, mas qual é a contraprestação que o andar de cima vai dar?

O sr. acha que, se o governo fosse um pouco mais incisivo nessa agenda de gastos, talvez o ministro Haddad não ficasse tão isolado na agenda por aumento da arrecadação?

É nesse sentido. Fazer os gestos também. Porque as pessoas não querem se sacrificar sozinhas. De novo, é a questão da MP do crédito de PIS/Cofins. Por que o sujeito que tem crédito de PIS/Cofins vai pagar a conta dos 17 setores que têm desoneração? Esse empresário não entende porque ele está pagando a conta do outro. O que nós não podemos é perder de vista o todo. Se o governo começar a tentar atacar os problemas setorizadamente, o setor que foi atacado se defende reagindo. Se não ficar claro que todo mundo vai ter que perder um pouco para que todos ganhem lá na frente. O risco fiscal hoje infelizmente é pior que o risco de inflação. E é isso que está elevando o juro longo.

Há alguma previsão de o TCU julgar a consulta do governo sobre a possibilidade de limitar o contingenciamento do Orçamento?

Acho que isso é um “não problema”. Não é prioridade. Se fosse um problema premente, certamente responderíamos com rapidez. Contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas) é um dos instrumentos que o governo tem para fazer governança fiscal.

BRASÍLIA – No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é criticado pelo setor produtivo e se encontra isolado na agenda de contenção de gastos tributários, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o avanço da pauta, sob pena de o Brasil quebrar.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Dantas fez um diagnóstico dos motivos que levaram a um esgarçamento da agenda, elevando a percepção de risco fiscal e a reação negativa do setor privado – que cobra um ajuste pelo lado das despesas.

Na avaliação dele, ao mesmo tempo que acerta ao enfrentar os problemas que consumiram a base de arrecadação, o governo se coloca em posição vulnerável ao não pôr na mesa para discussão do Congresso e do Judiciário o quadro geral dos problemas fiscais e a indexação de parte do Orçamento. O maior problema, para Dantas, é promover uma discussão setorizada, o que alimenta a insatisfação e o contra-ataque.

“Perceba que as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal é que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate fiscal é fazer a discussão setorizada”, disse.

Dantas conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira, 11, pouco tempo antes de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), impor uma derrota a Haddad e devolver ao governo a parte da medida provisória que restringia os créditos de PIS/Cofins para bancar a desoneração da folha. Para o ministro do TCU, a reação é um exemplo de por que os problemas não podem ser atacados isoladamente. Nesta quinta-feira, 13, em fala que reverteu parte da depreciação do real registrada na última semana, Haddad foi à público junto da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para garantir que o governo está debruçado sobre uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas públicas.

O presidente do TCU também fez uma análise mais dura sobre o que levou o Brasil a ter um gasto tributário tão alto em proporção ao PIB. Para ele, “dez anos de presidentes fracos” ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram esse cenário. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O ministro do TCU Bruno Dantas. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 1/6/2020

O debate da desindexação do Orçamento esquentou de novo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, parece que as regras fiscais no Brasil sempre acabam minadas por um problema que não é resolvido. Vê chance de esse paradigma ser quebrado?

Da nossa cadeira, conseguimos ter diagnósticos muito precisos sobre o quadro macroeconômico, microeconômico. Óbvio que o TCU já se pronunciou diversas vezes sobre grandes questões que o Brasil resiste em endereçar. Eu gosto muito de falar da necessidade de um ajuste na Previdência, de uma reforma administrativa; mas talvez o assunto que eu mais fale e, curiosamente, as pessoas não têm repercutido adequadamente é que, com o volume de gasto tributário que nós temos, vamos levar o Brasil à bancarrota. Numa analogia, se você quer dar uma isenção para o sujeito da cobertura, o morador do primeiro andar vai ter de pagar mais condomínio.

O ministro Haddad tem batido nessa tecla. Mas o humor das últimas semanas pode indicar que o empresariado está dizendo que chegou ao limite dessa revisão de benefícios?

Veja, de novo, os subsídios totais no Brasil estão se aproximando de 6% do PIB [disso, 4,8% de gasto tributário]. Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Só para vocês terem uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, em 2003, esse gasto era de 2%. Com a crise de 2008, o governo investiu no consumo com uma política de desoneração muito forte. Mas não foi aí que nós chegamos a 6%. Nós chegamos a 6% no hiato de dez anos entre o impeachment da presidente Dilma e a volta do presidente Lula. Ou seja, dez anos de presidentes fracos produziram isso no Brasil. Cada setor que tinha capacidade de se organizar e fazer lobby no Congresso foi lá e arrancou o seu naco do Orçamento público. Países desenvolvidos têm isenções fiscais, mas isso geralmente é feito para setores estratégicos ou com elevada capacidade de inovação. Aqui, fazemos isso para tudo. Esses dez anos de presidentes da República fracos ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram isso.

E existe um comando constitucional para redução dos gastos tributários?

Foi a emenda do auxílio emergencial. Só que o governo aprovou a emenda e jogou para o futuro, porque o governo que aprovou a emenda constitucional aumentou o gasto tributário. E é com isso que o ministro Haddad está se deparando. Mas talvez o que esteja faltando é colocar todas as alternativas na mesa e ter pacto nacional com o Executivo, as duas casas do Legislativo e o Judiciário. Sentar todo mundo e falar o seguinte: “nós vamos aqui cortar 2% dos gastos tributários, mas nós também vamos fazer aqui uma reforma da Previdência, que corrija três pontos, que seja – e que renda algo como R$ 200 bilhões”. Se você corrige 2% do gasto tributário, isso equivale a R$ 200 bilhões; mais R$ 200 bilhões de uma eventual desindexação da política do salário mínimo, nós estamos falando aí de R$ 600 bilhões. E, se fizermos uma reforma administrativa, acho que conseguimos mudar esse panorama.

Falta olhar para o quadro geral?

O que eu vejo é que o empresariado tem reclamado de olhar só para receita, né? Está faltando botar tudo na mesa. Tem que olhar o Simples. Tem gente que está no Simples e que não deveria estar né? Tem que olhar os grandes blocos de despesa. Por exemplo, a isenção da cesta básica: faz sentido caviar e salmão estarem na isenção da cesta básica? Ou melhor, faz sentido financiar o feijão do rico, ou era melhor cobrar imposto de todos e dar cashback para o pobre?

Foi o que a Fazenda tentou fazer na reforma tributária?

Perceba que são as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate todo é fazer a discussão setorizada. Tinha que colocar na mesa todas as alternativas. “Olha, tudo bem, vocês querem reformas que cortem direito dos servidores públicos, que atinja a população, ok; mas me mostra aqui onde é que o andar de cima vai pagar conta também”. Porque, tudo bem aumentar a idade mínima para aposentadoria, que talvez seja necessário, mas qual é a contraprestação que o andar de cima vai dar?

O sr. acha que, se o governo fosse um pouco mais incisivo nessa agenda de gastos, talvez o ministro Haddad não ficasse tão isolado na agenda por aumento da arrecadação?

É nesse sentido. Fazer os gestos também. Porque as pessoas não querem se sacrificar sozinhas. De novo, é a questão da MP do crédito de PIS/Cofins. Por que o sujeito que tem crédito de PIS/Cofins vai pagar a conta dos 17 setores que têm desoneração? Esse empresário não entende porque ele está pagando a conta do outro. O que nós não podemos é perder de vista o todo. Se o governo começar a tentar atacar os problemas setorizadamente, o setor que foi atacado se defende reagindo. Se não ficar claro que todo mundo vai ter que perder um pouco para que todos ganhem lá na frente. O risco fiscal hoje infelizmente é pior que o risco de inflação. E é isso que está elevando o juro longo.

Há alguma previsão de o TCU julgar a consulta do governo sobre a possibilidade de limitar o contingenciamento do Orçamento?

Acho que isso é um “não problema”. Não é prioridade. Se fosse um problema premente, certamente responderíamos com rapidez. Contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas) é um dos instrumentos que o governo tem para fazer governança fiscal.

BRASÍLIA – No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é criticado pelo setor produtivo e se encontra isolado na agenda de contenção de gastos tributários, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o avanço da pauta, sob pena de o Brasil quebrar.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Dantas fez um diagnóstico dos motivos que levaram a um esgarçamento da agenda, elevando a percepção de risco fiscal e a reação negativa do setor privado – que cobra um ajuste pelo lado das despesas.

Na avaliação dele, ao mesmo tempo que acerta ao enfrentar os problemas que consumiram a base de arrecadação, o governo se coloca em posição vulnerável ao não pôr na mesa para discussão do Congresso e do Judiciário o quadro geral dos problemas fiscais e a indexação de parte do Orçamento. O maior problema, para Dantas, é promover uma discussão setorizada, o que alimenta a insatisfação e o contra-ataque.

“Perceba que as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal é que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate fiscal é fazer a discussão setorizada”, disse.

Dantas conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira, 11, pouco tempo antes de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), impor uma derrota a Haddad e devolver ao governo a parte da medida provisória que restringia os créditos de PIS/Cofins para bancar a desoneração da folha. Para o ministro do TCU, a reação é um exemplo de por que os problemas não podem ser atacados isoladamente. Nesta quinta-feira, 13, em fala que reverteu parte da depreciação do real registrada na última semana, Haddad foi à público junto da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para garantir que o governo está debruçado sobre uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas públicas.

O presidente do TCU também fez uma análise mais dura sobre o que levou o Brasil a ter um gasto tributário tão alto em proporção ao PIB. Para ele, “dez anos de presidentes fracos” ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram esse cenário. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O ministro do TCU Bruno Dantas. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 1/6/2020

O debate da desindexação do Orçamento esquentou de novo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, parece que as regras fiscais no Brasil sempre acabam minadas por um problema que não é resolvido. Vê chance de esse paradigma ser quebrado?

Da nossa cadeira, conseguimos ter diagnósticos muito precisos sobre o quadro macroeconômico, microeconômico. Óbvio que o TCU já se pronunciou diversas vezes sobre grandes questões que o Brasil resiste em endereçar. Eu gosto muito de falar da necessidade de um ajuste na Previdência, de uma reforma administrativa; mas talvez o assunto que eu mais fale e, curiosamente, as pessoas não têm repercutido adequadamente é que, com o volume de gasto tributário que nós temos, vamos levar o Brasil à bancarrota. Numa analogia, se você quer dar uma isenção para o sujeito da cobertura, o morador do primeiro andar vai ter de pagar mais condomínio.

O ministro Haddad tem batido nessa tecla. Mas o humor das últimas semanas pode indicar que o empresariado está dizendo que chegou ao limite dessa revisão de benefícios?

Veja, de novo, os subsídios totais no Brasil estão se aproximando de 6% do PIB [disso, 4,8% de gasto tributário]. Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Só para vocês terem uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, em 2003, esse gasto era de 2%. Com a crise de 2008, o governo investiu no consumo com uma política de desoneração muito forte. Mas não foi aí que nós chegamos a 6%. Nós chegamos a 6% no hiato de dez anos entre o impeachment da presidente Dilma e a volta do presidente Lula. Ou seja, dez anos de presidentes fracos produziram isso no Brasil. Cada setor que tinha capacidade de se organizar e fazer lobby no Congresso foi lá e arrancou o seu naco do Orçamento público. Países desenvolvidos têm isenções fiscais, mas isso geralmente é feito para setores estratégicos ou com elevada capacidade de inovação. Aqui, fazemos isso para tudo. Esses dez anos de presidentes da República fracos ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram isso.

E existe um comando constitucional para redução dos gastos tributários?

Foi a emenda do auxílio emergencial. Só que o governo aprovou a emenda e jogou para o futuro, porque o governo que aprovou a emenda constitucional aumentou o gasto tributário. E é com isso que o ministro Haddad está se deparando. Mas talvez o que esteja faltando é colocar todas as alternativas na mesa e ter pacto nacional com o Executivo, as duas casas do Legislativo e o Judiciário. Sentar todo mundo e falar o seguinte: “nós vamos aqui cortar 2% dos gastos tributários, mas nós também vamos fazer aqui uma reforma da Previdência, que corrija três pontos, que seja – e que renda algo como R$ 200 bilhões”. Se você corrige 2% do gasto tributário, isso equivale a R$ 200 bilhões; mais R$ 200 bilhões de uma eventual desindexação da política do salário mínimo, nós estamos falando aí de R$ 600 bilhões. E, se fizermos uma reforma administrativa, acho que conseguimos mudar esse panorama.

Falta olhar para o quadro geral?

O que eu vejo é que o empresariado tem reclamado de olhar só para receita, né? Está faltando botar tudo na mesa. Tem que olhar o Simples. Tem gente que está no Simples e que não deveria estar né? Tem que olhar os grandes blocos de despesa. Por exemplo, a isenção da cesta básica: faz sentido caviar e salmão estarem na isenção da cesta básica? Ou melhor, faz sentido financiar o feijão do rico, ou era melhor cobrar imposto de todos e dar cashback para o pobre?

Foi o que a Fazenda tentou fazer na reforma tributária?

Perceba que são as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate todo é fazer a discussão setorizada. Tinha que colocar na mesa todas as alternativas. “Olha, tudo bem, vocês querem reformas que cortem direito dos servidores públicos, que atinja a população, ok; mas me mostra aqui onde é que o andar de cima vai pagar conta também”. Porque, tudo bem aumentar a idade mínima para aposentadoria, que talvez seja necessário, mas qual é a contraprestação que o andar de cima vai dar?

O sr. acha que, se o governo fosse um pouco mais incisivo nessa agenda de gastos, talvez o ministro Haddad não ficasse tão isolado na agenda por aumento da arrecadação?

É nesse sentido. Fazer os gestos também. Porque as pessoas não querem se sacrificar sozinhas. De novo, é a questão da MP do crédito de PIS/Cofins. Por que o sujeito que tem crédito de PIS/Cofins vai pagar a conta dos 17 setores que têm desoneração? Esse empresário não entende porque ele está pagando a conta do outro. O que nós não podemos é perder de vista o todo. Se o governo começar a tentar atacar os problemas setorizadamente, o setor que foi atacado se defende reagindo. Se não ficar claro que todo mundo vai ter que perder um pouco para que todos ganhem lá na frente. O risco fiscal hoje infelizmente é pior que o risco de inflação. E é isso que está elevando o juro longo.

Há alguma previsão de o TCU julgar a consulta do governo sobre a possibilidade de limitar o contingenciamento do Orçamento?

Acho que isso é um “não problema”. Não é prioridade. Se fosse um problema premente, certamente responderíamos com rapidez. Contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas) é um dos instrumentos que o governo tem para fazer governança fiscal.

BRASÍLIA – No momento em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é criticado pelo setor produtivo e se encontra isolado na agenda de contenção de gastos tributários, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, defendeu o avanço da pauta, sob pena de o Brasil quebrar.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Dantas fez um diagnóstico dos motivos que levaram a um esgarçamento da agenda, elevando a percepção de risco fiscal e a reação negativa do setor privado – que cobra um ajuste pelo lado das despesas.

Na avaliação dele, ao mesmo tempo que acerta ao enfrentar os problemas que consumiram a base de arrecadação, o governo se coloca em posição vulnerável ao não pôr na mesa para discussão do Congresso e do Judiciário o quadro geral dos problemas fiscais e a indexação de parte do Orçamento. O maior problema, para Dantas, é promover uma discussão setorizada, o que alimenta a insatisfação e o contra-ataque.

“Perceba que as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal é que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate fiscal é fazer a discussão setorizada”, disse.

Dantas conversou com a reportagem na tarde desta terça-feira, 11, pouco tempo antes de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), impor uma derrota a Haddad e devolver ao governo a parte da medida provisória que restringia os créditos de PIS/Cofins para bancar a desoneração da folha. Para o ministro do TCU, a reação é um exemplo de por que os problemas não podem ser atacados isoladamente. Nesta quinta-feira, 13, em fala que reverteu parte da depreciação do real registrada na última semana, Haddad foi à público junto da ministra do Planejamento, Simone Tebet, para garantir que o governo está debruçado sobre uma “revisão ampla, geral e irrestrita” das despesas públicas.

O presidente do TCU também fez uma análise mais dura sobre o que levou o Brasil a ter um gasto tributário tão alto em proporção ao PIB. Para ele, “dez anos de presidentes fracos” ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram esse cenário. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O ministro do TCU Bruno Dantas. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 1/6/2020

O debate da desindexação do Orçamento esquentou de novo. Com a pressão dos gastos obrigatórios, parece que as regras fiscais no Brasil sempre acabam minadas por um problema que não é resolvido. Vê chance de esse paradigma ser quebrado?

Da nossa cadeira, conseguimos ter diagnósticos muito precisos sobre o quadro macroeconômico, microeconômico. Óbvio que o TCU já se pronunciou diversas vezes sobre grandes questões que o Brasil resiste em endereçar. Eu gosto muito de falar da necessidade de um ajuste na Previdência, de uma reforma administrativa; mas talvez o assunto que eu mais fale e, curiosamente, as pessoas não têm repercutido adequadamente é que, com o volume de gasto tributário que nós temos, vamos levar o Brasil à bancarrota. Numa analogia, se você quer dar uma isenção para o sujeito da cobertura, o morador do primeiro andar vai ter de pagar mais condomínio.

O ministro Haddad tem batido nessa tecla. Mas o humor das últimas semanas pode indicar que o empresariado está dizendo que chegou ao limite dessa revisão de benefícios?

Veja, de novo, os subsídios totais no Brasil estão se aproximando de 6% do PIB [disso, 4,8% de gasto tributário]. Isso é insustentável em qualquer lugar do mundo. Só para vocês terem uma ideia, quando o presidente Lula assumiu, em 2003, esse gasto era de 2%. Com a crise de 2008, o governo investiu no consumo com uma política de desoneração muito forte. Mas não foi aí que nós chegamos a 6%. Nós chegamos a 6% no hiato de dez anos entre o impeachment da presidente Dilma e a volta do presidente Lula. Ou seja, dez anos de presidentes fracos produziram isso no Brasil. Cada setor que tinha capacidade de se organizar e fazer lobby no Congresso foi lá e arrancou o seu naco do Orçamento público. Países desenvolvidos têm isenções fiscais, mas isso geralmente é feito para setores estratégicos ou com elevada capacidade de inovação. Aqui, fazemos isso para tudo. Esses dez anos de presidentes da República fracos ou com falta de disposição para enfrentar a questão produziram isso.

E existe um comando constitucional para redução dos gastos tributários?

Foi a emenda do auxílio emergencial. Só que o governo aprovou a emenda e jogou para o futuro, porque o governo que aprovou a emenda constitucional aumentou o gasto tributário. E é com isso que o ministro Haddad está se deparando. Mas talvez o que esteja faltando é colocar todas as alternativas na mesa e ter pacto nacional com o Executivo, as duas casas do Legislativo e o Judiciário. Sentar todo mundo e falar o seguinte: “nós vamos aqui cortar 2% dos gastos tributários, mas nós também vamos fazer aqui uma reforma da Previdência, que corrija três pontos, que seja – e que renda algo como R$ 200 bilhões”. Se você corrige 2% do gasto tributário, isso equivale a R$ 200 bilhões; mais R$ 200 bilhões de uma eventual desindexação da política do salário mínimo, nós estamos falando aí de R$ 600 bilhões. E, se fizermos uma reforma administrativa, acho que conseguimos mudar esse panorama.

Falta olhar para o quadro geral?

O que eu vejo é que o empresariado tem reclamado de olhar só para receita, né? Está faltando botar tudo na mesa. Tem que olhar o Simples. Tem gente que está no Simples e que não deveria estar né? Tem que olhar os grandes blocos de despesa. Por exemplo, a isenção da cesta básica: faz sentido caviar e salmão estarem na isenção da cesta básica? Ou melhor, faz sentido financiar o feijão do rico, ou era melhor cobrar imposto de todos e dar cashback para o pobre?

Foi o que a Fazenda tentou fazer na reforma tributária?

Perceba que são as mesmas pessoas que estão cobrando do ministro Fernando Haddad austeridade fiscal que não querem pagar imposto. Agora, o maior problema desse debate todo é fazer a discussão setorizada. Tinha que colocar na mesa todas as alternativas. “Olha, tudo bem, vocês querem reformas que cortem direito dos servidores públicos, que atinja a população, ok; mas me mostra aqui onde é que o andar de cima vai pagar conta também”. Porque, tudo bem aumentar a idade mínima para aposentadoria, que talvez seja necessário, mas qual é a contraprestação que o andar de cima vai dar?

O sr. acha que, se o governo fosse um pouco mais incisivo nessa agenda de gastos, talvez o ministro Haddad não ficasse tão isolado na agenda por aumento da arrecadação?

É nesse sentido. Fazer os gestos também. Porque as pessoas não querem se sacrificar sozinhas. De novo, é a questão da MP do crédito de PIS/Cofins. Por que o sujeito que tem crédito de PIS/Cofins vai pagar a conta dos 17 setores que têm desoneração? Esse empresário não entende porque ele está pagando a conta do outro. O que nós não podemos é perder de vista o todo. Se o governo começar a tentar atacar os problemas setorizadamente, o setor que foi atacado se defende reagindo. Se não ficar claro que todo mundo vai ter que perder um pouco para que todos ganhem lá na frente. O risco fiscal hoje infelizmente é pior que o risco de inflação. E é isso que está elevando o juro longo.

Há alguma previsão de o TCU julgar a consulta do governo sobre a possibilidade de limitar o contingenciamento do Orçamento?

Acho que isso é um “não problema”. Não é prioridade. Se fosse um problema premente, certamente responderíamos com rapidez. Contingenciamento (bloqueio preventivo de despesas) é um dos instrumentos que o governo tem para fazer governança fiscal.

Entrevista por Amanda Pupo

Repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Formada pela UFPR, com extensão em economia pela FGV. Em Brasília desde 2017. Já acompanhou o Judiciário e o setor de infraestrutura. Hoje dedicada à cobertura de economia, com foco em política fiscal, industrial, além de operações que envolvem o direito concorrencial.

Renan Monteiro

Repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Cobre Energia. É formado em jornalismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e com MBA em Negócios pela USP/Esalq. Passou pelo jornal O GLOBO, Revista Veja e foi trainee de jornalismo econômico do jornal O Estado de S. Paulo e FGV.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.