Elevação do rating do País coroa ano, mas há lição de casa pela frente, diz economista da Tendências


Sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto afirma que Brasil ainda terá que trabalhar até o fim da década, provavelmente, para recuperar o grau de investimento

Por Beatriz Bulla
Entrevista comSilvio Campos NetoEconomista e sócio da consultoria Tendências

A elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P Global, nesta terça-feira, “coroa” um ano no qual a percepção de risco sobre a agenda econômica do governo Lula foi reduzida, o crescimento econômico surpreendeu positivamente e a reforma tributária foi aprovada, mas a lição de casa a ser feita nos próximos anos ainda é dura. A avaliação é do economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto.

“Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável”, afirma o economista. “É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais”, diz ele.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências -  Foto: NILTON FUKUDA / ESTADÃO
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A S&P elevou o rating de escala de longo prazo do Brasil de BB- para BB e manteve a perspectiva em estável. Em junho deste ano, a S&P Global já havia revisado a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil, de estável para positiva. A elevação, desta vez, foi motivada pela aprovação da reforma tributária, que marca um progresso na questão fiscal nacional, segundo a classificadora. Agora, o País está dois degraus abaixo do chamado grau de investimento.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual a avaliação do sr. sobre o que levou a S&P a elevar a nota de crédito do País?

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A decisão em si não surpreende, primeiro porque a própria S&P já tinha dado esse sinal quando deu outlook positivo e abriu essa margem de que a nota do Brasil estava desenquadrada. Ao longo deste ano, a percepção de risco foi reduzida em relação à questão da agenda econômica do governo. O setor exportador de commodities garantiu um resultado positivo e ao mesmo tempo tivemos sinais importantes da agenda econômica. Primeiro, com o arcabouço fiscal e diminuição da percepção de risco mais aguda do início do ano.

E tivemos ao longo do ano a atuação importante de mecanismos de controle: o Congresso evitou revisões de reformas feitas nos últimos anos e as próprias reações do mercado, quando surgiram situações preocupantes no cenário econômico, como quando o presidente defendeu mudança em teto de gastos, em meta de inflação. O mercado reagiu e o governo respondeu. Essa decisão coroa um ano no qual as coisas conseguiram se manter equilibradas apesar de um ruído no início de governo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que articularam aprovação da reforma tributária Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
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A agência também mencionou a importância da reforma tributária...

Sim, a aprovação da reforma tributária e o crescimento econômico deste ano, que surpreendeu novamente para cima, foram os fatores que deram tranquilidade para a S&P conceder esse upgrade. O crescimento econômico é o que dá a capacidade para o País honrar seus compromissos.

Olhando para frente, qual a perspectiva de novas elevações na nota de crédito?

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Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável. Primeiro, pela questão fiscal. Vira e mexe temos pressões por mais gastos, temos dúvidas sobre a capacidade do arcabouço de conseguir controlar esse ímpeto por novas despesas, incerteza da capacidade de aumento de arrecadação para colocar o primário na trajetória de queda.

Há um aumento contratado de dívida pelos próximos anos, um fator que também limita novos upgrades.

E tem a questão do crescimento. O Brasil ainda é um país que demonstra ritmo de crescimento potencial baixo. Para obter avanços nas notas é fundamental que se consiga um ritmo maior, sem desequilíbrios, indicando um ganho de PIB potencial.

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É uma notícia positiva, mas que não necessariamente será repetida ao longo deste governo?

É positiva, mas olhando para a frente temos lição de casa muito dura e, por enquanto, sem qualquer tipo de expectativa de um, quanto mais dois upgrades. É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais.

A elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P Global, nesta terça-feira, “coroa” um ano no qual a percepção de risco sobre a agenda econômica do governo Lula foi reduzida, o crescimento econômico surpreendeu positivamente e a reforma tributária foi aprovada, mas a lição de casa a ser feita nos próximos anos ainda é dura. A avaliação é do economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto.

“Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável”, afirma o economista. “É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais”, diz ele.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências -  Foto: NILTON FUKUDA / ESTADÃO

A S&P elevou o rating de escala de longo prazo do Brasil de BB- para BB e manteve a perspectiva em estável. Em junho deste ano, a S&P Global já havia revisado a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil, de estável para positiva. A elevação, desta vez, foi motivada pela aprovação da reforma tributária, que marca um progresso na questão fiscal nacional, segundo a classificadora. Agora, o País está dois degraus abaixo do chamado grau de investimento.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual a avaliação do sr. sobre o que levou a S&P a elevar a nota de crédito do País?

A decisão em si não surpreende, primeiro porque a própria S&P já tinha dado esse sinal quando deu outlook positivo e abriu essa margem de que a nota do Brasil estava desenquadrada. Ao longo deste ano, a percepção de risco foi reduzida em relação à questão da agenda econômica do governo. O setor exportador de commodities garantiu um resultado positivo e ao mesmo tempo tivemos sinais importantes da agenda econômica. Primeiro, com o arcabouço fiscal e diminuição da percepção de risco mais aguda do início do ano.

E tivemos ao longo do ano a atuação importante de mecanismos de controle: o Congresso evitou revisões de reformas feitas nos últimos anos e as próprias reações do mercado, quando surgiram situações preocupantes no cenário econômico, como quando o presidente defendeu mudança em teto de gastos, em meta de inflação. O mercado reagiu e o governo respondeu. Essa decisão coroa um ano no qual as coisas conseguiram se manter equilibradas apesar de um ruído no início de governo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que articularam aprovação da reforma tributária Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

A agência também mencionou a importância da reforma tributária...

Sim, a aprovação da reforma tributária e o crescimento econômico deste ano, que surpreendeu novamente para cima, foram os fatores que deram tranquilidade para a S&P conceder esse upgrade. O crescimento econômico é o que dá a capacidade para o País honrar seus compromissos.

Olhando para frente, qual a perspectiva de novas elevações na nota de crédito?

Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável. Primeiro, pela questão fiscal. Vira e mexe temos pressões por mais gastos, temos dúvidas sobre a capacidade do arcabouço de conseguir controlar esse ímpeto por novas despesas, incerteza da capacidade de aumento de arrecadação para colocar o primário na trajetória de queda.

Há um aumento contratado de dívida pelos próximos anos, um fator que também limita novos upgrades.

E tem a questão do crescimento. O Brasil ainda é um país que demonstra ritmo de crescimento potencial baixo. Para obter avanços nas notas é fundamental que se consiga um ritmo maior, sem desequilíbrios, indicando um ganho de PIB potencial.

É uma notícia positiva, mas que não necessariamente será repetida ao longo deste governo?

É positiva, mas olhando para a frente temos lição de casa muito dura e, por enquanto, sem qualquer tipo de expectativa de um, quanto mais dois upgrades. É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais.

A elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P Global, nesta terça-feira, “coroa” um ano no qual a percepção de risco sobre a agenda econômica do governo Lula foi reduzida, o crescimento econômico surpreendeu positivamente e a reforma tributária foi aprovada, mas a lição de casa a ser feita nos próximos anos ainda é dura. A avaliação é do economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto.

“Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável”, afirma o economista. “É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais”, diz ele.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências -  Foto: NILTON FUKUDA / ESTADÃO

A S&P elevou o rating de escala de longo prazo do Brasil de BB- para BB e manteve a perspectiva em estável. Em junho deste ano, a S&P Global já havia revisado a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil, de estável para positiva. A elevação, desta vez, foi motivada pela aprovação da reforma tributária, que marca um progresso na questão fiscal nacional, segundo a classificadora. Agora, o País está dois degraus abaixo do chamado grau de investimento.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual a avaliação do sr. sobre o que levou a S&P a elevar a nota de crédito do País?

A decisão em si não surpreende, primeiro porque a própria S&P já tinha dado esse sinal quando deu outlook positivo e abriu essa margem de que a nota do Brasil estava desenquadrada. Ao longo deste ano, a percepção de risco foi reduzida em relação à questão da agenda econômica do governo. O setor exportador de commodities garantiu um resultado positivo e ao mesmo tempo tivemos sinais importantes da agenda econômica. Primeiro, com o arcabouço fiscal e diminuição da percepção de risco mais aguda do início do ano.

E tivemos ao longo do ano a atuação importante de mecanismos de controle: o Congresso evitou revisões de reformas feitas nos últimos anos e as próprias reações do mercado, quando surgiram situações preocupantes no cenário econômico, como quando o presidente defendeu mudança em teto de gastos, em meta de inflação. O mercado reagiu e o governo respondeu. Essa decisão coroa um ano no qual as coisas conseguiram se manter equilibradas apesar de um ruído no início de governo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que articularam aprovação da reforma tributária Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

A agência também mencionou a importância da reforma tributária...

Sim, a aprovação da reforma tributária e o crescimento econômico deste ano, que surpreendeu novamente para cima, foram os fatores que deram tranquilidade para a S&P conceder esse upgrade. O crescimento econômico é o que dá a capacidade para o País honrar seus compromissos.

Olhando para frente, qual a perspectiva de novas elevações na nota de crédito?

Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável. Primeiro, pela questão fiscal. Vira e mexe temos pressões por mais gastos, temos dúvidas sobre a capacidade do arcabouço de conseguir controlar esse ímpeto por novas despesas, incerteza da capacidade de aumento de arrecadação para colocar o primário na trajetória de queda.

Há um aumento contratado de dívida pelos próximos anos, um fator que também limita novos upgrades.

E tem a questão do crescimento. O Brasil ainda é um país que demonstra ritmo de crescimento potencial baixo. Para obter avanços nas notas é fundamental que se consiga um ritmo maior, sem desequilíbrios, indicando um ganho de PIB potencial.

É uma notícia positiva, mas que não necessariamente será repetida ao longo deste governo?

É positiva, mas olhando para a frente temos lição de casa muito dura e, por enquanto, sem qualquer tipo de expectativa de um, quanto mais dois upgrades. É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais.

A elevação da nota de crédito do Brasil pela S&P Global, nesta terça-feira, “coroa” um ano no qual a percepção de risco sobre a agenda econômica do governo Lula foi reduzida, o crescimento econômico surpreendeu positivamente e a reforma tributária foi aprovada, mas a lição de casa a ser feita nos próximos anos ainda é dura. A avaliação é do economista e sócio da consultoria Tendências, Silvio Campos Neto.

“Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável”, afirma o economista. “É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais”, diz ele.

Silvio Campos Neto, economista e sócio da consultoria Tendências -  Foto: NILTON FUKUDA / ESTADÃO

A S&P elevou o rating de escala de longo prazo do Brasil de BB- para BB e manteve a perspectiva em estável. Em junho deste ano, a S&P Global já havia revisado a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil, de estável para positiva. A elevação, desta vez, foi motivada pela aprovação da reforma tributária, que marca um progresso na questão fiscal nacional, segundo a classificadora. Agora, o País está dois degraus abaixo do chamado grau de investimento.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Qual a avaliação do sr. sobre o que levou a S&P a elevar a nota de crédito do País?

A decisão em si não surpreende, primeiro porque a própria S&P já tinha dado esse sinal quando deu outlook positivo e abriu essa margem de que a nota do Brasil estava desenquadrada. Ao longo deste ano, a percepção de risco foi reduzida em relação à questão da agenda econômica do governo. O setor exportador de commodities garantiu um resultado positivo e ao mesmo tempo tivemos sinais importantes da agenda econômica. Primeiro, com o arcabouço fiscal e diminuição da percepção de risco mais aguda do início do ano.

E tivemos ao longo do ano a atuação importante de mecanismos de controle: o Congresso evitou revisões de reformas feitas nos últimos anos e as próprias reações do mercado, quando surgiram situações preocupantes no cenário econômico, como quando o presidente defendeu mudança em teto de gastos, em meta de inflação. O mercado reagiu e o governo respondeu. Essa decisão coroa um ano no qual as coisas conseguiram se manter equilibradas apesar de um ruído no início de governo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que articularam aprovação da reforma tributária Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

A agência também mencionou a importância da reforma tributária...

Sim, a aprovação da reforma tributária e o crescimento econômico deste ano, que surpreendeu novamente para cima, foram os fatores que deram tranquilidade para a S&P conceder esse upgrade. O crescimento econômico é o que dá a capacidade para o País honrar seus compromissos.

Olhando para frente, qual a perspectiva de novas elevações na nota de crédito?

Daqui para frente há pontos que tornam difíceis os avanços de nota no curto e médio prazo. A recuperação de grau de investimento até o fim dessa década é improvável. Primeiro, pela questão fiscal. Vira e mexe temos pressões por mais gastos, temos dúvidas sobre a capacidade do arcabouço de conseguir controlar esse ímpeto por novas despesas, incerteza da capacidade de aumento de arrecadação para colocar o primário na trajetória de queda.

Há um aumento contratado de dívida pelos próximos anos, um fator que também limita novos upgrades.

E tem a questão do crescimento. O Brasil ainda é um país que demonstra ritmo de crescimento potencial baixo. Para obter avanços nas notas é fundamental que se consiga um ritmo maior, sem desequilíbrios, indicando um ganho de PIB potencial.

É uma notícia positiva, mas que não necessariamente será repetida ao longo deste governo?

É positiva, mas olhando para a frente temos lição de casa muito dura e, por enquanto, sem qualquer tipo de expectativa de um, quanto mais dois upgrades. É uma tarefa talvez por todo o restante dessa década, de preservar a questão fiscal e de avançar em reformas estruturais.

Entrevista por Beatriz Bulla

Jornalista dedicada a cobrir o poder - economia, política e temas internacionais. Foi correspondente em Washington (EUA), repórter em Brasília e atualmente mora em São Paulo. Formada em jornalismo e direito.

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