‘O que o Lula pede é: façam o crédito chegar aos brasileiros’, diz presidente do BB


Executiva diz que banco tem um modelo de governança forte e que presidente não fez nenhum pedido para reduzir os juros

Por Aline Bronzati
Entrevista comTarciana MedeirosPresidente do Banco do Brasil

NOVA YORK - Apesar da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os bancos públicos podem novamente forçar a queda de juros no Brasil, não há nenhum pedido do governo nessa direção, de acordo com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. A medida já foi adotada durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram usados para baixar os juros de forma artificial no Brasil, o que não foi eficaz e ainda causou prejuízo às instituições oficiais.

Crítico das elevadas taxas no País, o presidente Lula disse, em entrevista ao SBT, nesta semana, dias após se reunir com líderes dos bancos públicos, que “é possível” fazer com que esses agentes baixem as taxas para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo.

“Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do ‘custo de existir’ dos bancos. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros”, disse Medeiros, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York, para participar de eventos do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, uma das maiores iniciativas de sustentabilidade corporativa no mundo.

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De acordo com a executiva, operações que não são rentáveis para o banco não serão feitas. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Há uma preocupação grande com a interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empresas estatais e que é renovada a cada episódio. Tivemos Vale, Petrobras, BNDES. Como esse temor pune o banco? A sra. vê um exagero do governo?

Eu estou no banco há 24 anos. E eu vejo essa dúvida em relação à governança do banco há 24 anos. E eu vejo uma governança em evolução há 24 anos. A governança forte de hoje foi construída ao longo da história, mas a gente não pode perder de vista uma coisa.

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O quê?

Temos um acionista controlador e, por óbvio, as questões que envolvem os seus interesses são postas na mesa assim como as dos minoritários. Mas, com o nosso modelo de governança de decisão colegiada, as decisões são muito maduras. E tudo o que os acionistas querem é um banco forte, rentável, que devolva à sociedade de forma devida o que é esperado e a contrapartida ao capital. A governança do banco está estruturada para que sejam atendidos os interesses dos diversos atores que fazem parte desse processo. Quando eu olho a evolução da nossa governança, vejo que os valores do banco evoluíram muito.

Como?

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Hoje temos um conjunto de valores que traz a diversidade entre eles. Por exemplo, evoluiu o valor de espírito público para compromisso com a sociedade, que envolve o que vem se falando muito da possibilidade de conciliar o banco comercial com o papel social, o valor adicionado à sociedade.

O banco está blindado à ingerência política?

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Temos um case de sucesso de empresa pública, de economia mista, que pode ser exportado e copiado com muito louvor para qualquer empresa. Nós nos reportamos ao Ministério da Fazenda e há os reguladores. O sistema financeiro é extremamente regulado. A nossa governança também teve de se adaptar a esse modelo.

E, em algum momento, os interesses de um esbarra no outro?

Eu tenho uma gama de necessidades dos acionistas para administrar. A governança está lá para isso, para apoiar esse equilíbrio de gestão. E o Banco do Brasil tem isso muito forte, esse processo equilibrado de atender o interesse dos acionistas, público e privado. Tanto no que diz respeito ao retorno de resultado, à justa contrapartida de capital alocado versus o resultado, como também no papel social. Somos executores de vários programas do governo. E eu trato disso muito com o mercado. É muito bom ser um banco de economia mista porque, como agente de vários programas do governo, eu tenho fontes diversas de resultado que outros bancos não têm.

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Então, ter o governo como sócio não atrapalha?

Ter o governo como um grande cliente, para o banco, é um diferencial e tanto. E essa gestão, essa ‘chinese wall’ entre a atuação como acionista e como executor de políticas públicas, temos feito muito bem. E isso graças à nossa governança, que é muito robusta mesmo.

Dias após a reunião com líderes de bancos públicos, o presidente Lula disse que é possível que essas instituições baixem as taxas de juros para forçar os demais atores do mercado a reduzir também. Houve alguma conversa nesse sentido?

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Desde o primeiro dia da minha posse, o Lula fala, continua falando e ele falou isso na reunião: banco nenhum tem de dar prejuízo. Ninguém tem de fazer nenhuma operação de crédito que não vai dar resultado para o banco. No caso do Banco do Brasil, como temos um modelo de estruturação de capital muito robusto, uma capilaridade muito maior e a execução de diversos programas de governo, conseguimos, sim, distribuir crédito com preço diferente. O Pronampe, por exemplo, é um programa que o Banco do Brasil opera com recurso federal e que conseguimos colocar crédito no mercado muito mais barato.

Então, o que o presidente quis dizer ao afirmar que os bancos públicos baixariam os juros para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo?

Quando o presidente fala dessa questão de baratear o crédito, de reduzir, ele não diz necessariamente que o Banco do Brasil vai colocar dinheiro no mercado abaixo do valor. Não, não é isso. O que ele diz é que os bancos públicos são instrumentos de execução de políticas públicas. E eu acho que é muito importante, e até honrado colocar justiça nas palavras dele. A visão do presidente Lula é muito simples. Ele vê os bancos públicos como veículos de distribuição de crédito e geração de renda, como os agentes que têm condição de fazer o dinheiro chegar em todos os brasileiros.

O presidente Lula fez algum pedido para o banco baixar os juros?

Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do custo de existir dos bancos. E ele sabe disso e, assim, ele não tem pedido isso. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros. O governo tem, sim, nos bancos públicos, um importante vetor de distribuição dos programas dele. E não são poucos, tá? Somos o principal distribuidor dos recursos do Plano Safra, que é crédito subsidiado.

As negociações do Plano Safra já começaram? Deve ser maior que o anterior?

Essa é uma discussão permanente. Não temos ainda a previsão de valores, só depois do fechamento da safra atual. Mas, no Banco do Brasil, caminhamos para a distribuição de 100% dos recursos que nós colocamos disponíveis, de R$ 240 bilhões. Já estamos em R$ 160 bilhões. Nesse instante, estamos discutindo as condições, os parâmetros, a distribuição, o modelo, os critérios.

Os produtores rurais têm reclamado da quebra de safra com preços que não acompanharam os custos. Isso já têm batido na inadimplência, no aumento de demanda por renegociação de dívida?

Não, no Banco do Brasil ainda não. E não estamos trabalhando com crise no agro.

NOVA YORK - Apesar da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os bancos públicos podem novamente forçar a queda de juros no Brasil, não há nenhum pedido do governo nessa direção, de acordo com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. A medida já foi adotada durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram usados para baixar os juros de forma artificial no Brasil, o que não foi eficaz e ainda causou prejuízo às instituições oficiais.

Crítico das elevadas taxas no País, o presidente Lula disse, em entrevista ao SBT, nesta semana, dias após se reunir com líderes dos bancos públicos, que “é possível” fazer com que esses agentes baixem as taxas para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo.

“Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do ‘custo de existir’ dos bancos. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros”, disse Medeiros, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York, para participar de eventos do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, uma das maiores iniciativas de sustentabilidade corporativa no mundo.

De acordo com a executiva, operações que não são rentáveis para o banco não serão feitas. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Há uma preocupação grande com a interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empresas estatais e que é renovada a cada episódio. Tivemos Vale, Petrobras, BNDES. Como esse temor pune o banco? A sra. vê um exagero do governo?

Eu estou no banco há 24 anos. E eu vejo essa dúvida em relação à governança do banco há 24 anos. E eu vejo uma governança em evolução há 24 anos. A governança forte de hoje foi construída ao longo da história, mas a gente não pode perder de vista uma coisa.

O quê?

Temos um acionista controlador e, por óbvio, as questões que envolvem os seus interesses são postas na mesa assim como as dos minoritários. Mas, com o nosso modelo de governança de decisão colegiada, as decisões são muito maduras. E tudo o que os acionistas querem é um banco forte, rentável, que devolva à sociedade de forma devida o que é esperado e a contrapartida ao capital. A governança do banco está estruturada para que sejam atendidos os interesses dos diversos atores que fazem parte desse processo. Quando eu olho a evolução da nossa governança, vejo que os valores do banco evoluíram muito.

Como?

Hoje temos um conjunto de valores que traz a diversidade entre eles. Por exemplo, evoluiu o valor de espírito público para compromisso com a sociedade, que envolve o que vem se falando muito da possibilidade de conciliar o banco comercial com o papel social, o valor adicionado à sociedade.

O banco está blindado à ingerência política?

Temos um case de sucesso de empresa pública, de economia mista, que pode ser exportado e copiado com muito louvor para qualquer empresa. Nós nos reportamos ao Ministério da Fazenda e há os reguladores. O sistema financeiro é extremamente regulado. A nossa governança também teve de se adaptar a esse modelo.

E, em algum momento, os interesses de um esbarra no outro?

Eu tenho uma gama de necessidades dos acionistas para administrar. A governança está lá para isso, para apoiar esse equilíbrio de gestão. E o Banco do Brasil tem isso muito forte, esse processo equilibrado de atender o interesse dos acionistas, público e privado. Tanto no que diz respeito ao retorno de resultado, à justa contrapartida de capital alocado versus o resultado, como também no papel social. Somos executores de vários programas do governo. E eu trato disso muito com o mercado. É muito bom ser um banco de economia mista porque, como agente de vários programas do governo, eu tenho fontes diversas de resultado que outros bancos não têm.

Então, ter o governo como sócio não atrapalha?

Ter o governo como um grande cliente, para o banco, é um diferencial e tanto. E essa gestão, essa ‘chinese wall’ entre a atuação como acionista e como executor de políticas públicas, temos feito muito bem. E isso graças à nossa governança, que é muito robusta mesmo.

Dias após a reunião com líderes de bancos públicos, o presidente Lula disse que é possível que essas instituições baixem as taxas de juros para forçar os demais atores do mercado a reduzir também. Houve alguma conversa nesse sentido?

Desde o primeiro dia da minha posse, o Lula fala, continua falando e ele falou isso na reunião: banco nenhum tem de dar prejuízo. Ninguém tem de fazer nenhuma operação de crédito que não vai dar resultado para o banco. No caso do Banco do Brasil, como temos um modelo de estruturação de capital muito robusto, uma capilaridade muito maior e a execução de diversos programas de governo, conseguimos, sim, distribuir crédito com preço diferente. O Pronampe, por exemplo, é um programa que o Banco do Brasil opera com recurso federal e que conseguimos colocar crédito no mercado muito mais barato.

Então, o que o presidente quis dizer ao afirmar que os bancos públicos baixariam os juros para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo?

Quando o presidente fala dessa questão de baratear o crédito, de reduzir, ele não diz necessariamente que o Banco do Brasil vai colocar dinheiro no mercado abaixo do valor. Não, não é isso. O que ele diz é que os bancos públicos são instrumentos de execução de políticas públicas. E eu acho que é muito importante, e até honrado colocar justiça nas palavras dele. A visão do presidente Lula é muito simples. Ele vê os bancos públicos como veículos de distribuição de crédito e geração de renda, como os agentes que têm condição de fazer o dinheiro chegar em todos os brasileiros.

O presidente Lula fez algum pedido para o banco baixar os juros?

Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do custo de existir dos bancos. E ele sabe disso e, assim, ele não tem pedido isso. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros. O governo tem, sim, nos bancos públicos, um importante vetor de distribuição dos programas dele. E não são poucos, tá? Somos o principal distribuidor dos recursos do Plano Safra, que é crédito subsidiado.

As negociações do Plano Safra já começaram? Deve ser maior que o anterior?

Essa é uma discussão permanente. Não temos ainda a previsão de valores, só depois do fechamento da safra atual. Mas, no Banco do Brasil, caminhamos para a distribuição de 100% dos recursos que nós colocamos disponíveis, de R$ 240 bilhões. Já estamos em R$ 160 bilhões. Nesse instante, estamos discutindo as condições, os parâmetros, a distribuição, o modelo, os critérios.

Os produtores rurais têm reclamado da quebra de safra com preços que não acompanharam os custos. Isso já têm batido na inadimplência, no aumento de demanda por renegociação de dívida?

Não, no Banco do Brasil ainda não. E não estamos trabalhando com crise no agro.

NOVA YORK - Apesar da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os bancos públicos podem novamente forçar a queda de juros no Brasil, não há nenhum pedido do governo nessa direção, de acordo com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. A medida já foi adotada durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram usados para baixar os juros de forma artificial no Brasil, o que não foi eficaz e ainda causou prejuízo às instituições oficiais.

Crítico das elevadas taxas no País, o presidente Lula disse, em entrevista ao SBT, nesta semana, dias após se reunir com líderes dos bancos públicos, que “é possível” fazer com que esses agentes baixem as taxas para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo.

“Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do ‘custo de existir’ dos bancos. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros”, disse Medeiros, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York, para participar de eventos do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, uma das maiores iniciativas de sustentabilidade corporativa no mundo.

De acordo com a executiva, operações que não são rentáveis para o banco não serão feitas. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Há uma preocupação grande com a interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empresas estatais e que é renovada a cada episódio. Tivemos Vale, Petrobras, BNDES. Como esse temor pune o banco? A sra. vê um exagero do governo?

Eu estou no banco há 24 anos. E eu vejo essa dúvida em relação à governança do banco há 24 anos. E eu vejo uma governança em evolução há 24 anos. A governança forte de hoje foi construída ao longo da história, mas a gente não pode perder de vista uma coisa.

O quê?

Temos um acionista controlador e, por óbvio, as questões que envolvem os seus interesses são postas na mesa assim como as dos minoritários. Mas, com o nosso modelo de governança de decisão colegiada, as decisões são muito maduras. E tudo o que os acionistas querem é um banco forte, rentável, que devolva à sociedade de forma devida o que é esperado e a contrapartida ao capital. A governança do banco está estruturada para que sejam atendidos os interesses dos diversos atores que fazem parte desse processo. Quando eu olho a evolução da nossa governança, vejo que os valores do banco evoluíram muito.

Como?

Hoje temos um conjunto de valores que traz a diversidade entre eles. Por exemplo, evoluiu o valor de espírito público para compromisso com a sociedade, que envolve o que vem se falando muito da possibilidade de conciliar o banco comercial com o papel social, o valor adicionado à sociedade.

O banco está blindado à ingerência política?

Temos um case de sucesso de empresa pública, de economia mista, que pode ser exportado e copiado com muito louvor para qualquer empresa. Nós nos reportamos ao Ministério da Fazenda e há os reguladores. O sistema financeiro é extremamente regulado. A nossa governança também teve de se adaptar a esse modelo.

E, em algum momento, os interesses de um esbarra no outro?

Eu tenho uma gama de necessidades dos acionistas para administrar. A governança está lá para isso, para apoiar esse equilíbrio de gestão. E o Banco do Brasil tem isso muito forte, esse processo equilibrado de atender o interesse dos acionistas, público e privado. Tanto no que diz respeito ao retorno de resultado, à justa contrapartida de capital alocado versus o resultado, como também no papel social. Somos executores de vários programas do governo. E eu trato disso muito com o mercado. É muito bom ser um banco de economia mista porque, como agente de vários programas do governo, eu tenho fontes diversas de resultado que outros bancos não têm.

Então, ter o governo como sócio não atrapalha?

Ter o governo como um grande cliente, para o banco, é um diferencial e tanto. E essa gestão, essa ‘chinese wall’ entre a atuação como acionista e como executor de políticas públicas, temos feito muito bem. E isso graças à nossa governança, que é muito robusta mesmo.

Dias após a reunião com líderes de bancos públicos, o presidente Lula disse que é possível que essas instituições baixem as taxas de juros para forçar os demais atores do mercado a reduzir também. Houve alguma conversa nesse sentido?

Desde o primeiro dia da minha posse, o Lula fala, continua falando e ele falou isso na reunião: banco nenhum tem de dar prejuízo. Ninguém tem de fazer nenhuma operação de crédito que não vai dar resultado para o banco. No caso do Banco do Brasil, como temos um modelo de estruturação de capital muito robusto, uma capilaridade muito maior e a execução de diversos programas de governo, conseguimos, sim, distribuir crédito com preço diferente. O Pronampe, por exemplo, é um programa que o Banco do Brasil opera com recurso federal e que conseguimos colocar crédito no mercado muito mais barato.

Então, o que o presidente quis dizer ao afirmar que os bancos públicos baixariam os juros para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo?

Quando o presidente fala dessa questão de baratear o crédito, de reduzir, ele não diz necessariamente que o Banco do Brasil vai colocar dinheiro no mercado abaixo do valor. Não, não é isso. O que ele diz é que os bancos públicos são instrumentos de execução de políticas públicas. E eu acho que é muito importante, e até honrado colocar justiça nas palavras dele. A visão do presidente Lula é muito simples. Ele vê os bancos públicos como veículos de distribuição de crédito e geração de renda, como os agentes que têm condição de fazer o dinheiro chegar em todos os brasileiros.

O presidente Lula fez algum pedido para o banco baixar os juros?

Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do custo de existir dos bancos. E ele sabe disso e, assim, ele não tem pedido isso. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros. O governo tem, sim, nos bancos públicos, um importante vetor de distribuição dos programas dele. E não são poucos, tá? Somos o principal distribuidor dos recursos do Plano Safra, que é crédito subsidiado.

As negociações do Plano Safra já começaram? Deve ser maior que o anterior?

Essa é uma discussão permanente. Não temos ainda a previsão de valores, só depois do fechamento da safra atual. Mas, no Banco do Brasil, caminhamos para a distribuição de 100% dos recursos que nós colocamos disponíveis, de R$ 240 bilhões. Já estamos em R$ 160 bilhões. Nesse instante, estamos discutindo as condições, os parâmetros, a distribuição, o modelo, os critérios.

Os produtores rurais têm reclamado da quebra de safra com preços que não acompanharam os custos. Isso já têm batido na inadimplência, no aumento de demanda por renegociação de dívida?

Não, no Banco do Brasil ainda não. E não estamos trabalhando com crise no agro.

NOVA YORK - Apesar da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os bancos públicos podem novamente forçar a queda de juros no Brasil, não há nenhum pedido do governo nessa direção, de acordo com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. A medida já foi adotada durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram usados para baixar os juros de forma artificial no Brasil, o que não foi eficaz e ainda causou prejuízo às instituições oficiais.

Crítico das elevadas taxas no País, o presidente Lula disse, em entrevista ao SBT, nesta semana, dias após se reunir com líderes dos bancos públicos, que “é possível” fazer com que esses agentes baixem as taxas para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo.

“Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do ‘custo de existir’ dos bancos. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros”, disse Medeiros, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York, para participar de eventos do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, uma das maiores iniciativas de sustentabilidade corporativa no mundo.

De acordo com a executiva, operações que não são rentáveis para o banco não serão feitas. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Há uma preocupação grande com a interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empresas estatais e que é renovada a cada episódio. Tivemos Vale, Petrobras, BNDES. Como esse temor pune o banco? A sra. vê um exagero do governo?

Eu estou no banco há 24 anos. E eu vejo essa dúvida em relação à governança do banco há 24 anos. E eu vejo uma governança em evolução há 24 anos. A governança forte de hoje foi construída ao longo da história, mas a gente não pode perder de vista uma coisa.

O quê?

Temos um acionista controlador e, por óbvio, as questões que envolvem os seus interesses são postas na mesa assim como as dos minoritários. Mas, com o nosso modelo de governança de decisão colegiada, as decisões são muito maduras. E tudo o que os acionistas querem é um banco forte, rentável, que devolva à sociedade de forma devida o que é esperado e a contrapartida ao capital. A governança do banco está estruturada para que sejam atendidos os interesses dos diversos atores que fazem parte desse processo. Quando eu olho a evolução da nossa governança, vejo que os valores do banco evoluíram muito.

Como?

Hoje temos um conjunto de valores que traz a diversidade entre eles. Por exemplo, evoluiu o valor de espírito público para compromisso com a sociedade, que envolve o que vem se falando muito da possibilidade de conciliar o banco comercial com o papel social, o valor adicionado à sociedade.

O banco está blindado à ingerência política?

Temos um case de sucesso de empresa pública, de economia mista, que pode ser exportado e copiado com muito louvor para qualquer empresa. Nós nos reportamos ao Ministério da Fazenda e há os reguladores. O sistema financeiro é extremamente regulado. A nossa governança também teve de se adaptar a esse modelo.

E, em algum momento, os interesses de um esbarra no outro?

Eu tenho uma gama de necessidades dos acionistas para administrar. A governança está lá para isso, para apoiar esse equilíbrio de gestão. E o Banco do Brasil tem isso muito forte, esse processo equilibrado de atender o interesse dos acionistas, público e privado. Tanto no que diz respeito ao retorno de resultado, à justa contrapartida de capital alocado versus o resultado, como também no papel social. Somos executores de vários programas do governo. E eu trato disso muito com o mercado. É muito bom ser um banco de economia mista porque, como agente de vários programas do governo, eu tenho fontes diversas de resultado que outros bancos não têm.

Então, ter o governo como sócio não atrapalha?

Ter o governo como um grande cliente, para o banco, é um diferencial e tanto. E essa gestão, essa ‘chinese wall’ entre a atuação como acionista e como executor de políticas públicas, temos feito muito bem. E isso graças à nossa governança, que é muito robusta mesmo.

Dias após a reunião com líderes de bancos públicos, o presidente Lula disse que é possível que essas instituições baixem as taxas de juros para forçar os demais atores do mercado a reduzir também. Houve alguma conversa nesse sentido?

Desde o primeiro dia da minha posse, o Lula fala, continua falando e ele falou isso na reunião: banco nenhum tem de dar prejuízo. Ninguém tem de fazer nenhuma operação de crédito que não vai dar resultado para o banco. No caso do Banco do Brasil, como temos um modelo de estruturação de capital muito robusto, uma capilaridade muito maior e a execução de diversos programas de governo, conseguimos, sim, distribuir crédito com preço diferente. O Pronampe, por exemplo, é um programa que o Banco do Brasil opera com recurso federal e que conseguimos colocar crédito no mercado muito mais barato.

Então, o que o presidente quis dizer ao afirmar que os bancos públicos baixariam os juros para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo?

Quando o presidente fala dessa questão de baratear o crédito, de reduzir, ele não diz necessariamente que o Banco do Brasil vai colocar dinheiro no mercado abaixo do valor. Não, não é isso. O que ele diz é que os bancos públicos são instrumentos de execução de políticas públicas. E eu acho que é muito importante, e até honrado colocar justiça nas palavras dele. A visão do presidente Lula é muito simples. Ele vê os bancos públicos como veículos de distribuição de crédito e geração de renda, como os agentes que têm condição de fazer o dinheiro chegar em todos os brasileiros.

O presidente Lula fez algum pedido para o banco baixar os juros?

Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do custo de existir dos bancos. E ele sabe disso e, assim, ele não tem pedido isso. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros. O governo tem, sim, nos bancos públicos, um importante vetor de distribuição dos programas dele. E não são poucos, tá? Somos o principal distribuidor dos recursos do Plano Safra, que é crédito subsidiado.

As negociações do Plano Safra já começaram? Deve ser maior que o anterior?

Essa é uma discussão permanente. Não temos ainda a previsão de valores, só depois do fechamento da safra atual. Mas, no Banco do Brasil, caminhamos para a distribuição de 100% dos recursos que nós colocamos disponíveis, de R$ 240 bilhões. Já estamos em R$ 160 bilhões. Nesse instante, estamos discutindo as condições, os parâmetros, a distribuição, o modelo, os critérios.

Os produtores rurais têm reclamado da quebra de safra com preços que não acompanharam os custos. Isso já têm batido na inadimplência, no aumento de demanda por renegociação de dívida?

Não, no Banco do Brasil ainda não. E não estamos trabalhando com crise no agro.

NOVA YORK - Apesar da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que os bancos públicos podem novamente forçar a queda de juros no Brasil, não há nenhum pedido do governo nessa direção, de acordo com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros. A medida já foi adotada durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o BB e a Caixa Econômica Federal foram usados para baixar os juros de forma artificial no Brasil, o que não foi eficaz e ainda causou prejuízo às instituições oficiais.

Crítico das elevadas taxas no País, o presidente Lula disse, em entrevista ao SBT, nesta semana, dias após se reunir com líderes dos bancos públicos, que “é possível” fazer com que esses agentes baixem as taxas para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo.

“Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do ‘custo de existir’ dos bancos. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros”, disse Medeiros, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante passagem por Nova York, para participar de eventos do Pacto Global da ONU - Rede Brasil, uma das maiores iniciativas de sustentabilidade corporativa no mundo.

De acordo com a executiva, operações que não são rentáveis para o banco não serão feitas. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Há uma preocupação grande com a interferência do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em empresas estatais e que é renovada a cada episódio. Tivemos Vale, Petrobras, BNDES. Como esse temor pune o banco? A sra. vê um exagero do governo?

Eu estou no banco há 24 anos. E eu vejo essa dúvida em relação à governança do banco há 24 anos. E eu vejo uma governança em evolução há 24 anos. A governança forte de hoje foi construída ao longo da história, mas a gente não pode perder de vista uma coisa.

O quê?

Temos um acionista controlador e, por óbvio, as questões que envolvem os seus interesses são postas na mesa assim como as dos minoritários. Mas, com o nosso modelo de governança de decisão colegiada, as decisões são muito maduras. E tudo o que os acionistas querem é um banco forte, rentável, que devolva à sociedade de forma devida o que é esperado e a contrapartida ao capital. A governança do banco está estruturada para que sejam atendidos os interesses dos diversos atores que fazem parte desse processo. Quando eu olho a evolução da nossa governança, vejo que os valores do banco evoluíram muito.

Como?

Hoje temos um conjunto de valores que traz a diversidade entre eles. Por exemplo, evoluiu o valor de espírito público para compromisso com a sociedade, que envolve o que vem se falando muito da possibilidade de conciliar o banco comercial com o papel social, o valor adicionado à sociedade.

O banco está blindado à ingerência política?

Temos um case de sucesso de empresa pública, de economia mista, que pode ser exportado e copiado com muito louvor para qualquer empresa. Nós nos reportamos ao Ministério da Fazenda e há os reguladores. O sistema financeiro é extremamente regulado. A nossa governança também teve de se adaptar a esse modelo.

E, em algum momento, os interesses de um esbarra no outro?

Eu tenho uma gama de necessidades dos acionistas para administrar. A governança está lá para isso, para apoiar esse equilíbrio de gestão. E o Banco do Brasil tem isso muito forte, esse processo equilibrado de atender o interesse dos acionistas, público e privado. Tanto no que diz respeito ao retorno de resultado, à justa contrapartida de capital alocado versus o resultado, como também no papel social. Somos executores de vários programas do governo. E eu trato disso muito com o mercado. É muito bom ser um banco de economia mista porque, como agente de vários programas do governo, eu tenho fontes diversas de resultado que outros bancos não têm.

Então, ter o governo como sócio não atrapalha?

Ter o governo como um grande cliente, para o banco, é um diferencial e tanto. E essa gestão, essa ‘chinese wall’ entre a atuação como acionista e como executor de políticas públicas, temos feito muito bem. E isso graças à nossa governança, que é muito robusta mesmo.

Dias após a reunião com líderes de bancos públicos, o presidente Lula disse que é possível que essas instituições baixem as taxas de juros para forçar os demais atores do mercado a reduzir também. Houve alguma conversa nesse sentido?

Desde o primeiro dia da minha posse, o Lula fala, continua falando e ele falou isso na reunião: banco nenhum tem de dar prejuízo. Ninguém tem de fazer nenhuma operação de crédito que não vai dar resultado para o banco. No caso do Banco do Brasil, como temos um modelo de estruturação de capital muito robusto, uma capilaridade muito maior e a execução de diversos programas de governo, conseguimos, sim, distribuir crédito com preço diferente. O Pronampe, por exemplo, é um programa que o Banco do Brasil opera com recurso federal e que conseguimos colocar crédito no mercado muito mais barato.

Então, o que o presidente quis dizer ao afirmar que os bancos públicos baixariam os juros para forçar os rivais privados a fazerem o mesmo?

Quando o presidente fala dessa questão de baratear o crédito, de reduzir, ele não diz necessariamente que o Banco do Brasil vai colocar dinheiro no mercado abaixo do valor. Não, não é isso. O que ele diz é que os bancos públicos são instrumentos de execução de políticas públicas. E eu acho que é muito importante, e até honrado colocar justiça nas palavras dele. A visão do presidente Lula é muito simples. Ele vê os bancos públicos como veículos de distribuição de crédito e geração de renda, como os agentes que têm condição de fazer o dinheiro chegar em todos os brasileiros.

O presidente Lula fez algum pedido para o banco baixar os juros?

Não há nenhum pedido do presidente para colocar no mercado crédito abaixo do custo de existir dos bancos. E ele sabe disso e, assim, ele não tem pedido isso. O que ele tem pedido é: façam o crédito chegar aos brasileiros. O governo tem, sim, nos bancos públicos, um importante vetor de distribuição dos programas dele. E não são poucos, tá? Somos o principal distribuidor dos recursos do Plano Safra, que é crédito subsidiado.

As negociações do Plano Safra já começaram? Deve ser maior que o anterior?

Essa é uma discussão permanente. Não temos ainda a previsão de valores, só depois do fechamento da safra atual. Mas, no Banco do Brasil, caminhamos para a distribuição de 100% dos recursos que nós colocamos disponíveis, de R$ 240 bilhões. Já estamos em R$ 160 bilhões. Nesse instante, estamos discutindo as condições, os parâmetros, a distribuição, o modelo, os critérios.

Os produtores rurais têm reclamado da quebra de safra com preços que não acompanharam os custos. Isso já têm batido na inadimplência, no aumento de demanda por renegociação de dívida?

Não, no Banco do Brasil ainda não. E não estamos trabalhando com crise no agro.

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