Espécies invasoras destroem safras, disseminam doenças e custam ao mundo mais de US$ 400 bi por ano


Propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra; relatório constatou mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas

Por Dino Grandoni

As pragas invasoras exóticas estão causando estragos em todo o planeta, destruindo safras, disseminando patógenos, reduzindo os peixes dos quais as pessoas dependem para se alimentar e levando plantas e animais nativos à extinção, de acordo com um importante relatório apoiado pelas Nações Unidas.

A avaliação pioneira constatou que mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas custam à sociedade mais de US$ 423 bilhões por ano, um valor que deve apenas crescer, já que a era moderna do comércio e das viagens globais continua a impulsionar a disseminação de plantas e animais pelos continentes como nunca.

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Ao pegar carona em navios de carga e aviões de passageiros, as espécies invasoras exóticas estão construindo uma ponte sobre oceanos, cordilheiras e outras separações geográficas que seriam intransponíveis sem a ajuda humana. O resultado é um grande embaralhamento da flora e fauna do planeta, com implicações terríveis para os seres humanos e os ecossistemas dos quais eles dependem.

“Uma das coisas que enfatizamos de verdade é a tremenda ameaça que isso representa — e sei que isso vai parecer dramático — para a civilização humana”, disse Peter Stoett, professor da Universidade Ontario Tech, que ajudou a liderar um grupo de cerca de 70 especialistas na elaboração do relatório.

Humanidade enfrenta sérios riscos com pragas que ameaçam carcomer lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos Foto: Loic Venance/AFP
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A propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra, um evento de extinção equivalente ao asteroide que matou os dinossauros. As espécies invasoras estão contribuindo com 60% das extinções, segundo o relatório.

À medida que mais espécies invasoras nocivas ganham terreno e se multiplicam, a humanidade também enfrenta sérios riscos, pois as pragas ameaçam carcomer as lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos, além de outras enfermidades.

“É normal que as espécies se desloquem”, disse Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que, ao lado de Stoett, coliderou o grupo por trás do relatório. Mas o que é sem precedentes, acrescentou, é o período atual de plantas e animais saltando as “grandes barreiras” entre continentes.

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“Não é normal que uma espécie cruze o Atlântico”, disse. “Não é normal que ela vá da Austrália para o Chile.”

O relatório foi elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma organização composta por mais de 140 países que oferece aos formuladores de políticas avaliações científicas para ajudar a proteger a biodiversidade da Terra e evitar extinções. Um resumo das conclusões foi aprovado e divulgado recentemente, com os capítulos completos previstos para serem publicados ainda este ano.

A organização concluiu que a ameaça das espécies invasoras exóticas é “menosprezada, subestimada e muitas vezes não reconhecida”, com apenas cerca de um sexto dos países do mundo tendo leis ou regulamentações em vigor abordando as plantas e os animais invasores. Com a introdução de novas espécies a uma taxa “sem precedentes” de 200 por ano, a expectativa é que o problema piore antes de melhorar.

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O animal invasor que mais se alastrou, segundo o relatório, é o rato-preto, disseminado ao viajar escondido em navios, ele não se espalhou apenas pelas cidades densamente povoadas, mas também por ilhas remotas, onde dizimou aves marinhas que fazem ninhos e passam boa parte do tempo no solo, além de outros animais. O impacto dos ratos nas ilhas é tão profundo que até mesmo os peixes de recifes próximos podem senti-lo depois que os roedores alteram o fluxo de nutrientes para o oceano.

As ilhas remotas são particularmente suscetíveis a invasões, pois muitas vezes abrigam plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Na ilha de Guam, por exemplo, a voraz cobra-arbórea-marrom já levou várias aves nativas à extinção. Em Maui, o poder destrutivo da vegetação invasora ficou evidente no mês passado, depois que plantas invasoras bastante inflamáveis alimentaram os incêndios florestais que mataram mais de cem pessoas.

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Muitas espécies invasoras também se instalaram nos ecossistemas aquáticos. No Caribe, o venenoso peixe-leão está diminuindo a quantidade de peixes nativos. Na região conhecida como Grandes Lagos, na América do Norte, os mexilhões-zebra estão entupindo as tubulações dos sistemas de água potável e das usinas de energia.

Mas um dos invasores aquáticos mais devastadores é uma flor de aparência delicada.

Nativa da América do Sul, o jacinto-de-água é uma planta flutuante livre de crescimento tão veloz que pode cobrir lagoas e lagos inteiros, formando na água uma bagunça emaranhada que impede o tráfego de barcos e a pesca. Em alguns casos, as plantas sugam tanta água que secam os lagos e deixam as comunidades sem água potável. O relatório considerou o jacinto-de-água, que está surgindo por todos os lados, da África à Austrália, a planta invasora mais disseminada pelo planeta.

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Nem mesmo a Antártida está livre das pragas invasoras exóticas. A chegada de gramíneas invasoras, em conjunto com o aumento das temperaturas, coloca partes do continente meridional em risco de se transformar em pastagens.

Além das espécies invasoras, os outros quatro principais fatores de extinção são as mudanças climáticas, a destruição do habitat, a poluição e a exploração direta das espécies, com um milhão de plantas e animais em risco de desaparecerem para sempre.

As mudanças climáticas estão prestes a agravar o problema das pragas invasoras exóticas, permitindo que animais como as formigas-de-fogo tropicais cheguem no hemisfério norte e em latitudes mais elevadas.

“Com o aquecimento global, haverá algumas espécies que antes não tinham condições de se instalar e prosperar em certas regiões do mundo, mas daqui para frente serão capazes de se estabelecer e prosperar”, disse Helen Roy, ecologista britânica e terceira colíder do relatório.

As espécies invasoras, por sua vez, podem exacerbar as mudanças climáticas. Insetos que matam árvores, como o besouro-verde se espalhando pela América do Norte, tornam mais difícil para as florestas capturar carbono da atmosfera.

Países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal Foto: Arnaud Finistre/AFP

“A interseccionalidade deste relatório com as metas de combate às mudanças climáticas da ONU é profunda”, disse Leigh Greenwood, que trabalha com pragas e patógenos florestais para a The Nature Conservancy, uma organização sem fins lucrativos global de defesa do meio ambiente.

Em dezembro, os países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal. Segundo o relatório, a melhor forma de lidar com elas é, em primeiro lugar, impedi-las de entrar por meio do monitoramento de fronteiras e do controle das importações.

“Continuamos a falar de: prevenção, prevenção e prevenção”, disse Stoett.

Mesmo quando uma espécie invasora se instala, a erradicação é possível, principalmente nas ilhas. Os ambientalistas exterminaram os roedores que assolam a ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, enquanto outros que trabalham nas ilhas de Galápagos livraram-se de algumas das cabras destruidoras do arquipélago.

E as tecnologias emergentes também dão esperança, embora causem controvérsias. No Havaí, as autoridades estão se preparando para liberar uma cepa especial de bactérias para conter os mosquitos que transmitem malária aviária que estão matando os pássaros canoros dali. Outros estão tentando mexer nos genes dos mosquitos e de outras pragas para controlar suas quantidades.

“Cada desafio que a natureza enfrenta agrava todos os outros”, disse Monica Medina, ex-funcionária do Departamento de Estado para a Biodiversidade dos Estados Unidos, que agora comanda a organização não governamental Wildlife Conservation Society. “As espécies invasoras exóticas estão aumentando a pressão sobre os ecossistemas frágeis que já enfrentam uma infinidade de outras ameaças.”

As pragas invasoras exóticas estão causando estragos em todo o planeta, destruindo safras, disseminando patógenos, reduzindo os peixes dos quais as pessoas dependem para se alimentar e levando plantas e animais nativos à extinção, de acordo com um importante relatório apoiado pelas Nações Unidas.

A avaliação pioneira constatou que mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas custam à sociedade mais de US$ 423 bilhões por ano, um valor que deve apenas crescer, já que a era moderna do comércio e das viagens globais continua a impulsionar a disseminação de plantas e animais pelos continentes como nunca.

Ao pegar carona em navios de carga e aviões de passageiros, as espécies invasoras exóticas estão construindo uma ponte sobre oceanos, cordilheiras e outras separações geográficas que seriam intransponíveis sem a ajuda humana. O resultado é um grande embaralhamento da flora e fauna do planeta, com implicações terríveis para os seres humanos e os ecossistemas dos quais eles dependem.

“Uma das coisas que enfatizamos de verdade é a tremenda ameaça que isso representa — e sei que isso vai parecer dramático — para a civilização humana”, disse Peter Stoett, professor da Universidade Ontario Tech, que ajudou a liderar um grupo de cerca de 70 especialistas na elaboração do relatório.

Humanidade enfrenta sérios riscos com pragas que ameaçam carcomer lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos Foto: Loic Venance/AFP

A propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra, um evento de extinção equivalente ao asteroide que matou os dinossauros. As espécies invasoras estão contribuindo com 60% das extinções, segundo o relatório.

À medida que mais espécies invasoras nocivas ganham terreno e se multiplicam, a humanidade também enfrenta sérios riscos, pois as pragas ameaçam carcomer as lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos, além de outras enfermidades.

“É normal que as espécies se desloquem”, disse Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que, ao lado de Stoett, coliderou o grupo por trás do relatório. Mas o que é sem precedentes, acrescentou, é o período atual de plantas e animais saltando as “grandes barreiras” entre continentes.

“Não é normal que uma espécie cruze o Atlântico”, disse. “Não é normal que ela vá da Austrália para o Chile.”

O relatório foi elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma organização composta por mais de 140 países que oferece aos formuladores de políticas avaliações científicas para ajudar a proteger a biodiversidade da Terra e evitar extinções. Um resumo das conclusões foi aprovado e divulgado recentemente, com os capítulos completos previstos para serem publicados ainda este ano.

A organização concluiu que a ameaça das espécies invasoras exóticas é “menosprezada, subestimada e muitas vezes não reconhecida”, com apenas cerca de um sexto dos países do mundo tendo leis ou regulamentações em vigor abordando as plantas e os animais invasores. Com a introdução de novas espécies a uma taxa “sem precedentes” de 200 por ano, a expectativa é que o problema piore antes de melhorar.

O animal invasor que mais se alastrou, segundo o relatório, é o rato-preto, disseminado ao viajar escondido em navios, ele não se espalhou apenas pelas cidades densamente povoadas, mas também por ilhas remotas, onde dizimou aves marinhas que fazem ninhos e passam boa parte do tempo no solo, além de outros animais. O impacto dos ratos nas ilhas é tão profundo que até mesmo os peixes de recifes próximos podem senti-lo depois que os roedores alteram o fluxo de nutrientes para o oceano.

As ilhas remotas são particularmente suscetíveis a invasões, pois muitas vezes abrigam plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Na ilha de Guam, por exemplo, a voraz cobra-arbórea-marrom já levou várias aves nativas à extinção. Em Maui, o poder destrutivo da vegetação invasora ficou evidente no mês passado, depois que plantas invasoras bastante inflamáveis alimentaram os incêndios florestais que mataram mais de cem pessoas.

Muitas espécies invasoras também se instalaram nos ecossistemas aquáticos. No Caribe, o venenoso peixe-leão está diminuindo a quantidade de peixes nativos. Na região conhecida como Grandes Lagos, na América do Norte, os mexilhões-zebra estão entupindo as tubulações dos sistemas de água potável e das usinas de energia.

Mas um dos invasores aquáticos mais devastadores é uma flor de aparência delicada.

Nativa da América do Sul, o jacinto-de-água é uma planta flutuante livre de crescimento tão veloz que pode cobrir lagoas e lagos inteiros, formando na água uma bagunça emaranhada que impede o tráfego de barcos e a pesca. Em alguns casos, as plantas sugam tanta água que secam os lagos e deixam as comunidades sem água potável. O relatório considerou o jacinto-de-água, que está surgindo por todos os lados, da África à Austrália, a planta invasora mais disseminada pelo planeta.

Nem mesmo a Antártida está livre das pragas invasoras exóticas. A chegada de gramíneas invasoras, em conjunto com o aumento das temperaturas, coloca partes do continente meridional em risco de se transformar em pastagens.

Além das espécies invasoras, os outros quatro principais fatores de extinção são as mudanças climáticas, a destruição do habitat, a poluição e a exploração direta das espécies, com um milhão de plantas e animais em risco de desaparecerem para sempre.

As mudanças climáticas estão prestes a agravar o problema das pragas invasoras exóticas, permitindo que animais como as formigas-de-fogo tropicais cheguem no hemisfério norte e em latitudes mais elevadas.

“Com o aquecimento global, haverá algumas espécies que antes não tinham condições de se instalar e prosperar em certas regiões do mundo, mas daqui para frente serão capazes de se estabelecer e prosperar”, disse Helen Roy, ecologista britânica e terceira colíder do relatório.

As espécies invasoras, por sua vez, podem exacerbar as mudanças climáticas. Insetos que matam árvores, como o besouro-verde se espalhando pela América do Norte, tornam mais difícil para as florestas capturar carbono da atmosfera.

Países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal Foto: Arnaud Finistre/AFP

“A interseccionalidade deste relatório com as metas de combate às mudanças climáticas da ONU é profunda”, disse Leigh Greenwood, que trabalha com pragas e patógenos florestais para a The Nature Conservancy, uma organização sem fins lucrativos global de defesa do meio ambiente.

Em dezembro, os países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal. Segundo o relatório, a melhor forma de lidar com elas é, em primeiro lugar, impedi-las de entrar por meio do monitoramento de fronteiras e do controle das importações.

“Continuamos a falar de: prevenção, prevenção e prevenção”, disse Stoett.

Mesmo quando uma espécie invasora se instala, a erradicação é possível, principalmente nas ilhas. Os ambientalistas exterminaram os roedores que assolam a ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, enquanto outros que trabalham nas ilhas de Galápagos livraram-se de algumas das cabras destruidoras do arquipélago.

E as tecnologias emergentes também dão esperança, embora causem controvérsias. No Havaí, as autoridades estão se preparando para liberar uma cepa especial de bactérias para conter os mosquitos que transmitem malária aviária que estão matando os pássaros canoros dali. Outros estão tentando mexer nos genes dos mosquitos e de outras pragas para controlar suas quantidades.

“Cada desafio que a natureza enfrenta agrava todos os outros”, disse Monica Medina, ex-funcionária do Departamento de Estado para a Biodiversidade dos Estados Unidos, que agora comanda a organização não governamental Wildlife Conservation Society. “As espécies invasoras exóticas estão aumentando a pressão sobre os ecossistemas frágeis que já enfrentam uma infinidade de outras ameaças.”

As pragas invasoras exóticas estão causando estragos em todo o planeta, destruindo safras, disseminando patógenos, reduzindo os peixes dos quais as pessoas dependem para se alimentar e levando plantas e animais nativos à extinção, de acordo com um importante relatório apoiado pelas Nações Unidas.

A avaliação pioneira constatou que mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas custam à sociedade mais de US$ 423 bilhões por ano, um valor que deve apenas crescer, já que a era moderna do comércio e das viagens globais continua a impulsionar a disseminação de plantas e animais pelos continentes como nunca.

Ao pegar carona em navios de carga e aviões de passageiros, as espécies invasoras exóticas estão construindo uma ponte sobre oceanos, cordilheiras e outras separações geográficas que seriam intransponíveis sem a ajuda humana. O resultado é um grande embaralhamento da flora e fauna do planeta, com implicações terríveis para os seres humanos e os ecossistemas dos quais eles dependem.

“Uma das coisas que enfatizamos de verdade é a tremenda ameaça que isso representa — e sei que isso vai parecer dramático — para a civilização humana”, disse Peter Stoett, professor da Universidade Ontario Tech, que ajudou a liderar um grupo de cerca de 70 especialistas na elaboração do relatório.

Humanidade enfrenta sérios riscos com pragas que ameaçam carcomer lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos Foto: Loic Venance/AFP

A propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra, um evento de extinção equivalente ao asteroide que matou os dinossauros. As espécies invasoras estão contribuindo com 60% das extinções, segundo o relatório.

À medida que mais espécies invasoras nocivas ganham terreno e se multiplicam, a humanidade também enfrenta sérios riscos, pois as pragas ameaçam carcomer as lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos, além de outras enfermidades.

“É normal que as espécies se desloquem”, disse Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que, ao lado de Stoett, coliderou o grupo por trás do relatório. Mas o que é sem precedentes, acrescentou, é o período atual de plantas e animais saltando as “grandes barreiras” entre continentes.

“Não é normal que uma espécie cruze o Atlântico”, disse. “Não é normal que ela vá da Austrália para o Chile.”

O relatório foi elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma organização composta por mais de 140 países que oferece aos formuladores de políticas avaliações científicas para ajudar a proteger a biodiversidade da Terra e evitar extinções. Um resumo das conclusões foi aprovado e divulgado recentemente, com os capítulos completos previstos para serem publicados ainda este ano.

A organização concluiu que a ameaça das espécies invasoras exóticas é “menosprezada, subestimada e muitas vezes não reconhecida”, com apenas cerca de um sexto dos países do mundo tendo leis ou regulamentações em vigor abordando as plantas e os animais invasores. Com a introdução de novas espécies a uma taxa “sem precedentes” de 200 por ano, a expectativa é que o problema piore antes de melhorar.

O animal invasor que mais se alastrou, segundo o relatório, é o rato-preto, disseminado ao viajar escondido em navios, ele não se espalhou apenas pelas cidades densamente povoadas, mas também por ilhas remotas, onde dizimou aves marinhas que fazem ninhos e passam boa parte do tempo no solo, além de outros animais. O impacto dos ratos nas ilhas é tão profundo que até mesmo os peixes de recifes próximos podem senti-lo depois que os roedores alteram o fluxo de nutrientes para o oceano.

As ilhas remotas são particularmente suscetíveis a invasões, pois muitas vezes abrigam plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Na ilha de Guam, por exemplo, a voraz cobra-arbórea-marrom já levou várias aves nativas à extinção. Em Maui, o poder destrutivo da vegetação invasora ficou evidente no mês passado, depois que plantas invasoras bastante inflamáveis alimentaram os incêndios florestais que mataram mais de cem pessoas.

Muitas espécies invasoras também se instalaram nos ecossistemas aquáticos. No Caribe, o venenoso peixe-leão está diminuindo a quantidade de peixes nativos. Na região conhecida como Grandes Lagos, na América do Norte, os mexilhões-zebra estão entupindo as tubulações dos sistemas de água potável e das usinas de energia.

Mas um dos invasores aquáticos mais devastadores é uma flor de aparência delicada.

Nativa da América do Sul, o jacinto-de-água é uma planta flutuante livre de crescimento tão veloz que pode cobrir lagoas e lagos inteiros, formando na água uma bagunça emaranhada que impede o tráfego de barcos e a pesca. Em alguns casos, as plantas sugam tanta água que secam os lagos e deixam as comunidades sem água potável. O relatório considerou o jacinto-de-água, que está surgindo por todos os lados, da África à Austrália, a planta invasora mais disseminada pelo planeta.

Nem mesmo a Antártida está livre das pragas invasoras exóticas. A chegada de gramíneas invasoras, em conjunto com o aumento das temperaturas, coloca partes do continente meridional em risco de se transformar em pastagens.

Além das espécies invasoras, os outros quatro principais fatores de extinção são as mudanças climáticas, a destruição do habitat, a poluição e a exploração direta das espécies, com um milhão de plantas e animais em risco de desaparecerem para sempre.

As mudanças climáticas estão prestes a agravar o problema das pragas invasoras exóticas, permitindo que animais como as formigas-de-fogo tropicais cheguem no hemisfério norte e em latitudes mais elevadas.

“Com o aquecimento global, haverá algumas espécies que antes não tinham condições de se instalar e prosperar em certas regiões do mundo, mas daqui para frente serão capazes de se estabelecer e prosperar”, disse Helen Roy, ecologista britânica e terceira colíder do relatório.

As espécies invasoras, por sua vez, podem exacerbar as mudanças climáticas. Insetos que matam árvores, como o besouro-verde se espalhando pela América do Norte, tornam mais difícil para as florestas capturar carbono da atmosfera.

Países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal Foto: Arnaud Finistre/AFP

“A interseccionalidade deste relatório com as metas de combate às mudanças climáticas da ONU é profunda”, disse Leigh Greenwood, que trabalha com pragas e patógenos florestais para a The Nature Conservancy, uma organização sem fins lucrativos global de defesa do meio ambiente.

Em dezembro, os países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal. Segundo o relatório, a melhor forma de lidar com elas é, em primeiro lugar, impedi-las de entrar por meio do monitoramento de fronteiras e do controle das importações.

“Continuamos a falar de: prevenção, prevenção e prevenção”, disse Stoett.

Mesmo quando uma espécie invasora se instala, a erradicação é possível, principalmente nas ilhas. Os ambientalistas exterminaram os roedores que assolam a ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, enquanto outros que trabalham nas ilhas de Galápagos livraram-se de algumas das cabras destruidoras do arquipélago.

E as tecnologias emergentes também dão esperança, embora causem controvérsias. No Havaí, as autoridades estão se preparando para liberar uma cepa especial de bactérias para conter os mosquitos que transmitem malária aviária que estão matando os pássaros canoros dali. Outros estão tentando mexer nos genes dos mosquitos e de outras pragas para controlar suas quantidades.

“Cada desafio que a natureza enfrenta agrava todos os outros”, disse Monica Medina, ex-funcionária do Departamento de Estado para a Biodiversidade dos Estados Unidos, que agora comanda a organização não governamental Wildlife Conservation Society. “As espécies invasoras exóticas estão aumentando a pressão sobre os ecossistemas frágeis que já enfrentam uma infinidade de outras ameaças.”

As pragas invasoras exóticas estão causando estragos em todo o planeta, destruindo safras, disseminando patógenos, reduzindo os peixes dos quais as pessoas dependem para se alimentar e levando plantas e animais nativos à extinção, de acordo com um importante relatório apoiado pelas Nações Unidas.

A avaliação pioneira constatou que mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas custam à sociedade mais de US$ 423 bilhões por ano, um valor que deve apenas crescer, já que a era moderna do comércio e das viagens globais continua a impulsionar a disseminação de plantas e animais pelos continentes como nunca.

Ao pegar carona em navios de carga e aviões de passageiros, as espécies invasoras exóticas estão construindo uma ponte sobre oceanos, cordilheiras e outras separações geográficas que seriam intransponíveis sem a ajuda humana. O resultado é um grande embaralhamento da flora e fauna do planeta, com implicações terríveis para os seres humanos e os ecossistemas dos quais eles dependem.

“Uma das coisas que enfatizamos de verdade é a tremenda ameaça que isso representa — e sei que isso vai parecer dramático — para a civilização humana”, disse Peter Stoett, professor da Universidade Ontario Tech, que ajudou a liderar um grupo de cerca de 70 especialistas na elaboração do relatório.

Humanidade enfrenta sérios riscos com pragas que ameaçam carcomer lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos Foto: Loic Venance/AFP

A propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra, um evento de extinção equivalente ao asteroide que matou os dinossauros. As espécies invasoras estão contribuindo com 60% das extinções, segundo o relatório.

À medida que mais espécies invasoras nocivas ganham terreno e se multiplicam, a humanidade também enfrenta sérios riscos, pois as pragas ameaçam carcomer as lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos, além de outras enfermidades.

“É normal que as espécies se desloquem”, disse Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que, ao lado de Stoett, coliderou o grupo por trás do relatório. Mas o que é sem precedentes, acrescentou, é o período atual de plantas e animais saltando as “grandes barreiras” entre continentes.

“Não é normal que uma espécie cruze o Atlântico”, disse. “Não é normal que ela vá da Austrália para o Chile.”

O relatório foi elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma organização composta por mais de 140 países que oferece aos formuladores de políticas avaliações científicas para ajudar a proteger a biodiversidade da Terra e evitar extinções. Um resumo das conclusões foi aprovado e divulgado recentemente, com os capítulos completos previstos para serem publicados ainda este ano.

A organização concluiu que a ameaça das espécies invasoras exóticas é “menosprezada, subestimada e muitas vezes não reconhecida”, com apenas cerca de um sexto dos países do mundo tendo leis ou regulamentações em vigor abordando as plantas e os animais invasores. Com a introdução de novas espécies a uma taxa “sem precedentes” de 200 por ano, a expectativa é que o problema piore antes de melhorar.

O animal invasor que mais se alastrou, segundo o relatório, é o rato-preto, disseminado ao viajar escondido em navios, ele não se espalhou apenas pelas cidades densamente povoadas, mas também por ilhas remotas, onde dizimou aves marinhas que fazem ninhos e passam boa parte do tempo no solo, além de outros animais. O impacto dos ratos nas ilhas é tão profundo que até mesmo os peixes de recifes próximos podem senti-lo depois que os roedores alteram o fluxo de nutrientes para o oceano.

As ilhas remotas são particularmente suscetíveis a invasões, pois muitas vezes abrigam plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Na ilha de Guam, por exemplo, a voraz cobra-arbórea-marrom já levou várias aves nativas à extinção. Em Maui, o poder destrutivo da vegetação invasora ficou evidente no mês passado, depois que plantas invasoras bastante inflamáveis alimentaram os incêndios florestais que mataram mais de cem pessoas.

Muitas espécies invasoras também se instalaram nos ecossistemas aquáticos. No Caribe, o venenoso peixe-leão está diminuindo a quantidade de peixes nativos. Na região conhecida como Grandes Lagos, na América do Norte, os mexilhões-zebra estão entupindo as tubulações dos sistemas de água potável e das usinas de energia.

Mas um dos invasores aquáticos mais devastadores é uma flor de aparência delicada.

Nativa da América do Sul, o jacinto-de-água é uma planta flutuante livre de crescimento tão veloz que pode cobrir lagoas e lagos inteiros, formando na água uma bagunça emaranhada que impede o tráfego de barcos e a pesca. Em alguns casos, as plantas sugam tanta água que secam os lagos e deixam as comunidades sem água potável. O relatório considerou o jacinto-de-água, que está surgindo por todos os lados, da África à Austrália, a planta invasora mais disseminada pelo planeta.

Nem mesmo a Antártida está livre das pragas invasoras exóticas. A chegada de gramíneas invasoras, em conjunto com o aumento das temperaturas, coloca partes do continente meridional em risco de se transformar em pastagens.

Além das espécies invasoras, os outros quatro principais fatores de extinção são as mudanças climáticas, a destruição do habitat, a poluição e a exploração direta das espécies, com um milhão de plantas e animais em risco de desaparecerem para sempre.

As mudanças climáticas estão prestes a agravar o problema das pragas invasoras exóticas, permitindo que animais como as formigas-de-fogo tropicais cheguem no hemisfério norte e em latitudes mais elevadas.

“Com o aquecimento global, haverá algumas espécies que antes não tinham condições de se instalar e prosperar em certas regiões do mundo, mas daqui para frente serão capazes de se estabelecer e prosperar”, disse Helen Roy, ecologista britânica e terceira colíder do relatório.

As espécies invasoras, por sua vez, podem exacerbar as mudanças climáticas. Insetos que matam árvores, como o besouro-verde se espalhando pela América do Norte, tornam mais difícil para as florestas capturar carbono da atmosfera.

Países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal Foto: Arnaud Finistre/AFP

“A interseccionalidade deste relatório com as metas de combate às mudanças climáticas da ONU é profunda”, disse Leigh Greenwood, que trabalha com pragas e patógenos florestais para a The Nature Conservancy, uma organização sem fins lucrativos global de defesa do meio ambiente.

Em dezembro, os países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal. Segundo o relatório, a melhor forma de lidar com elas é, em primeiro lugar, impedi-las de entrar por meio do monitoramento de fronteiras e do controle das importações.

“Continuamos a falar de: prevenção, prevenção e prevenção”, disse Stoett.

Mesmo quando uma espécie invasora se instala, a erradicação é possível, principalmente nas ilhas. Os ambientalistas exterminaram os roedores que assolam a ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, enquanto outros que trabalham nas ilhas de Galápagos livraram-se de algumas das cabras destruidoras do arquipélago.

E as tecnologias emergentes também dão esperança, embora causem controvérsias. No Havaí, as autoridades estão se preparando para liberar uma cepa especial de bactérias para conter os mosquitos que transmitem malária aviária que estão matando os pássaros canoros dali. Outros estão tentando mexer nos genes dos mosquitos e de outras pragas para controlar suas quantidades.

“Cada desafio que a natureza enfrenta agrava todos os outros”, disse Monica Medina, ex-funcionária do Departamento de Estado para a Biodiversidade dos Estados Unidos, que agora comanda a organização não governamental Wildlife Conservation Society. “As espécies invasoras exóticas estão aumentando a pressão sobre os ecossistemas frágeis que já enfrentam uma infinidade de outras ameaças.”

As pragas invasoras exóticas estão causando estragos em todo o planeta, destruindo safras, disseminando patógenos, reduzindo os peixes dos quais as pessoas dependem para se alimentar e levando plantas e animais nativos à extinção, de acordo com um importante relatório apoiado pelas Nações Unidas.

A avaliação pioneira constatou que mais de 3,5 mil espécies invasoras nocivas custam à sociedade mais de US$ 423 bilhões por ano, um valor que deve apenas crescer, já que a era moderna do comércio e das viagens globais continua a impulsionar a disseminação de plantas e animais pelos continentes como nunca.

Ao pegar carona em navios de carga e aviões de passageiros, as espécies invasoras exóticas estão construindo uma ponte sobre oceanos, cordilheiras e outras separações geográficas que seriam intransponíveis sem a ajuda humana. O resultado é um grande embaralhamento da flora e fauna do planeta, com implicações terríveis para os seres humanos e os ecossistemas dos quais eles dependem.

“Uma das coisas que enfatizamos de verdade é a tremenda ameaça que isso representa — e sei que isso vai parecer dramático — para a civilização humana”, disse Peter Stoett, professor da Universidade Ontario Tech, que ajudou a liderar um grupo de cerca de 70 especialistas na elaboração do relatório.

Humanidade enfrenta sérios riscos com pragas que ameaçam carcomer lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos Foto: Loic Venance/AFP

A propagação de plantas e animais entre continentes é uma das principais causas da crise de biodiversidade em curso na Terra, um evento de extinção equivalente ao asteroide que matou os dinossauros. As espécies invasoras estão contribuindo com 60% das extinções, segundo o relatório.

À medida que mais espécies invasoras nocivas ganham terreno e se multiplicam, a humanidade também enfrenta sérios riscos, pois as pragas ameaçam carcomer as lavouras e espalhar doenças transmitidas por mosquitos, além de outras enfermidades.

“É normal que as espécies se desloquem”, disse Aníbal Pauchard, professor da Universidade de Concepción, no Chile, que, ao lado de Stoett, coliderou o grupo por trás do relatório. Mas o que é sem precedentes, acrescentou, é o período atual de plantas e animais saltando as “grandes barreiras” entre continentes.

“Não é normal que uma espécie cruze o Atlântico”, disse. “Não é normal que ela vá da Austrália para o Chile.”

O relatório foi elaborado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), uma organização composta por mais de 140 países que oferece aos formuladores de políticas avaliações científicas para ajudar a proteger a biodiversidade da Terra e evitar extinções. Um resumo das conclusões foi aprovado e divulgado recentemente, com os capítulos completos previstos para serem publicados ainda este ano.

A organização concluiu que a ameaça das espécies invasoras exóticas é “menosprezada, subestimada e muitas vezes não reconhecida”, com apenas cerca de um sexto dos países do mundo tendo leis ou regulamentações em vigor abordando as plantas e os animais invasores. Com a introdução de novas espécies a uma taxa “sem precedentes” de 200 por ano, a expectativa é que o problema piore antes de melhorar.

O animal invasor que mais se alastrou, segundo o relatório, é o rato-preto, disseminado ao viajar escondido em navios, ele não se espalhou apenas pelas cidades densamente povoadas, mas também por ilhas remotas, onde dizimou aves marinhas que fazem ninhos e passam boa parte do tempo no solo, além de outros animais. O impacto dos ratos nas ilhas é tão profundo que até mesmo os peixes de recifes próximos podem senti-lo depois que os roedores alteram o fluxo de nutrientes para o oceano.

As ilhas remotas são particularmente suscetíveis a invasões, pois muitas vezes abrigam plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Na ilha de Guam, por exemplo, a voraz cobra-arbórea-marrom já levou várias aves nativas à extinção. Em Maui, o poder destrutivo da vegetação invasora ficou evidente no mês passado, depois que plantas invasoras bastante inflamáveis alimentaram os incêndios florestais que mataram mais de cem pessoas.

Muitas espécies invasoras também se instalaram nos ecossistemas aquáticos. No Caribe, o venenoso peixe-leão está diminuindo a quantidade de peixes nativos. Na região conhecida como Grandes Lagos, na América do Norte, os mexilhões-zebra estão entupindo as tubulações dos sistemas de água potável e das usinas de energia.

Mas um dos invasores aquáticos mais devastadores é uma flor de aparência delicada.

Nativa da América do Sul, o jacinto-de-água é uma planta flutuante livre de crescimento tão veloz que pode cobrir lagoas e lagos inteiros, formando na água uma bagunça emaranhada que impede o tráfego de barcos e a pesca. Em alguns casos, as plantas sugam tanta água que secam os lagos e deixam as comunidades sem água potável. O relatório considerou o jacinto-de-água, que está surgindo por todos os lados, da África à Austrália, a planta invasora mais disseminada pelo planeta.

Nem mesmo a Antártida está livre das pragas invasoras exóticas. A chegada de gramíneas invasoras, em conjunto com o aumento das temperaturas, coloca partes do continente meridional em risco de se transformar em pastagens.

Além das espécies invasoras, os outros quatro principais fatores de extinção são as mudanças climáticas, a destruição do habitat, a poluição e a exploração direta das espécies, com um milhão de plantas e animais em risco de desaparecerem para sempre.

As mudanças climáticas estão prestes a agravar o problema das pragas invasoras exóticas, permitindo que animais como as formigas-de-fogo tropicais cheguem no hemisfério norte e em latitudes mais elevadas.

“Com o aquecimento global, haverá algumas espécies que antes não tinham condições de se instalar e prosperar em certas regiões do mundo, mas daqui para frente serão capazes de se estabelecer e prosperar”, disse Helen Roy, ecologista britânica e terceira colíder do relatório.

As espécies invasoras, por sua vez, podem exacerbar as mudanças climáticas. Insetos que matam árvores, como o besouro-verde se espalhando pela América do Norte, tornam mais difícil para as florestas capturar carbono da atmosfera.

Países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal Foto: Arnaud Finistre/AFP

“A interseccionalidade deste relatório com as metas de combate às mudanças climáticas da ONU é profunda”, disse Leigh Greenwood, que trabalha com pragas e patógenos florestais para a The Nature Conservancy, uma organização sem fins lucrativos global de defesa do meio ambiente.

Em dezembro, os países concordaram em tentar reduzir a disseminação de espécies invasoras nocivas em pelo menos 50% até 2030, como parte de um acordo internacional estabelecido em Montreal. Segundo o relatório, a melhor forma de lidar com elas é, em primeiro lugar, impedi-las de entrar por meio do monitoramento de fronteiras e do controle das importações.

“Continuamos a falar de: prevenção, prevenção e prevenção”, disse Stoett.

Mesmo quando uma espécie invasora se instala, a erradicação é possível, principalmente nas ilhas. Os ambientalistas exterminaram os roedores que assolam a ilha Geórgia do Sul, no Atlântico Sul, enquanto outros que trabalham nas ilhas de Galápagos livraram-se de algumas das cabras destruidoras do arquipélago.

E as tecnologias emergentes também dão esperança, embora causem controvérsias. No Havaí, as autoridades estão se preparando para liberar uma cepa especial de bactérias para conter os mosquitos que transmitem malária aviária que estão matando os pássaros canoros dali. Outros estão tentando mexer nos genes dos mosquitos e de outras pragas para controlar suas quantidades.

“Cada desafio que a natureza enfrenta agrava todos os outros”, disse Monica Medina, ex-funcionária do Departamento de Estado para a Biodiversidade dos Estados Unidos, que agora comanda a organização não governamental Wildlife Conservation Society. “As espécies invasoras exóticas estão aumentando a pressão sobre os ecossistemas frágeis que já enfrentam uma infinidade de outras ameaças.”

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