Estados pobres podem perder mais de R$ 2 bilhões do Fundeb com pacote fiscal em 2025, aponta estudo


Regiões que mais dependem da União devem perdem parcela do fundo usada para equilibrar investimentos em educação básica, mostra pesquisador do Ipea

Por Daniel Weterman

BRASÍLIA – A mudança no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) feita pelo pacote de corte de gastos do governo Lula deve provocar perdas superiores a R$ 2 bilhões aos Estados que mais dependem dos recursos da União para financiar a educação básica em 2025, conforme estudo do economista Camillo Bassi, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A partir de 2026, as perdas seriam revertidas, mas os governos estaduais e municipais terão de arcar com os gastos em ensino integral que hoje são de responsabilidade do governo federal. O pacote foi proposto pelo governo Lula ao Congresso Nacional para conter o crescimento de despesas e reequilibrar as contas públicas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que mexeu no Fundeb foi aprovada pela Câmara e pelo Senado na quinta-feira, 19.

Com a mudança no Fundeb, a equipe econômica anunciou um ajuste de R$ 42,3 bilhões entre 2025 e 2030. O Ministério da Fazenda e o Ministério da Educação foram procurados para comentar o impacto da proposta aprovada, mas não se manifestaram.

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Presidente Lula com a primeira-dama Janja da Silva e ministros durante cerimônia no Instituto das Cidades, em São Paulo, em junho de 2024.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O Fundeb reúne a arrecadação de impostos para financiar a educação básica no País, principalmente o salário de professores. Além do dinheiro arrecadado pelos Estados e municípios, a União repassa uma parcela adicional e distribui a verba de acordo com critérios de renda, matrícula de alunos e desempenho das escolas. A parcela da União, que era de 10% até 2020, vai subir para 23% em 2026, pressionando as contas públicas federais.

Inicialmente, o governo tentou destinar 20% da complementação da União no Fundeb para a implantação do ensino em tempo integral. Com isso, a equipe econômica esperava economizar os recursos que hoje são gastos com esse programa e que ficam fora do Fundeb. Conforme o Estadão mostrou, a medida poderia não resultar em corte efetivo de gastos, pois a intenção do governo é usar o dinheiro economizado para gastar em outros programas, como o Pé-de-Meia, que hoje está fora do Orçamento.

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Parlamentares e especialistas ligados à educação reagiram, apontado perdas para Estados que dependem dos recursos da União para complementar o Fundeb. O governo recuou e concordou com uma diminuição de 10% no porcentual, restringindo a mudança a 2025.

A partir de 2026, a complementação voltará a ser paga com as regras atuais. Os Estados e municípios serão responsáveis por destinar 4% dos recursos que eles próprios colocam no Fundeb para o ensino em tempo integral. Em vez de o governo mandar esse dinheiro, as prefeituras e governos estaduais terão de arcar com o custo.

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O Fundeb total deve somar R$ 276,1 bilhões em 2025, de acordo com cálculos do especialista, sendo que a parcela da União deve atingir R$ 57,98 bilhões. O repasse da União serve para equilibrar as regiões do País e tirar Estados e municípios de uma espécie de linha de pobreza em termos de valores aplicados na educação básica.

A complementação do governo federal no Fundeb é dividida em três parâmetros: VAAF – que beneficia Estados mais pobres, que não alcançam parâmetros mínimos de arrecadação em comparação às matrículas no ensino fundamental urbano parcial (R$ 27,61 bilhões); VAAT – que contempla municípios específicos, estando ou não em localidades beneficiadas pelo primeiro parâmetro, alcançando cidades pobres dentro de Estados ricos (R$ 24,84 bilhões); e VAAR – que serve como prêmio para redes que alcançam bons índices na educação básica (R$ 5,52 bilhões).

Dinheiro para a educação básica ‘bagunça’ distribuição do Fundeb para Estados e municípios

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Com 10% dos recursos indo para a educação em tempo integral, o dinheiro distribuído com base nos três critérios atuais diminuirá para R$ 52,18 bilhões. O ensino em tempo integral, que ficará com R$ 5,8 bilhões, se transformará em uma quarta parcela da complementação, repassada com parâmetros diferentes e beneficiando apenas Estados e municípios que cumpram requisitos para a criação de vagas no ensino em tempo integral. Ou seja, não há nenhuma garantia que os mesmos Estados e municípios sejam beneficiados.

“Vai ser aberto um novo flanco na complementação e é impossível acobertar os flancos atuais porque a lógica da distribuição é outra. O repasse para o ensino integral terá uma lógica própria. Os parâmetros atuais têm um perfil nacional que vai ser derrocado por um perfil mais elitista”, diz o especialista. “A proposta foi o maior equívoco contábil do pacote de gastos.”

10 Estados perderiam recursos de parcela destinada a regiões mais pobres; Bahia seria a mais atingida

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Atualmente, 10 Estados são beneficiados pelo primeiro critério porque ou são muito pobres ou porque têm muitos estudantes em relação ao que arrecadam. Entre eles estão Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro. Os repasses para essas localidades devem cair de R$ 24,6 bilhões para R$ R$ 22,5 bilhões – uma perda de aproximadamente R$ 2 bilhões.

A Bahia deve ser a mais prejudicada, com perda de R$ 368 milhões. Em seguida, o Rio, com R$ 294 milhões a menos. O levantamento leva em conta os dados da arrecadação dos Estados e dos repasses do Fundeb em 2024. Em 2025, quando a regra entra em vigor, o impacto será ainda maior, com o aumento da parcela da União.

Já no segundo critério, que beneficia 2.225 redes municipais e estaduais em 2024, 98 municípios deixariam de ser beneficiados e o restante teria o valor reduzido. O corte total chegaria a R$ 1,7 bilhão.

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No terceiro segmento, que repassa recursos de acordo com o bom desempenho das escolas, haveria perdas de R$ 377 milhões, sendo R$ 255,9 milhões em municípios e R$ 121,5 milhões em Estados. Em 2024, 1.923 redes estaduais e municipais foram premiadas com essa parcela.

Em termos de economia de gastos, a proposta tem potencial de abrir um espaço fiscal de R$ 5,8 bilhões em 2025 e de R$ 12 bilhões em 2026 para o governo federal. O impacto, no entanto, só ocorreria de fato se o governo cortasse recursos da educação e ainda cumprisse o piso constitucional do setor, o que exige um ônus político do Executivo federal.

“A abertura de espaço fiscal mediante despesa discricionária (não obrigatória) não é contemplada nessa proposta. Não descarto a possibilidade de abrir espaço fiscal, mas os cancelamentos não podem ser à revelia”, diz o especialista.

Para Camillo Bassi, a medida mais efetiva para o governo federal cortar gastos sem descumprir o piso da educação e sem prejudicar Estados e municípios que dependem do Fundeb seria aumentar a parcela do fundo que serve para o cálculo do gasto mínimo em educação. Hoje, só 30% da complementação da União no Fundeb é computada no piso, exigindo mais gastos do governo federal para cumprir a Constituição. Aumentar o porcentual para 50% faria o governo economizar R$ 33 bilhões em três anos, conforme o Estadão mostrou. A equipe econômica levou a proposta a Lula, mas ela foi descartada.

BRASÍLIA – A mudança no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) feita pelo pacote de corte de gastos do governo Lula deve provocar perdas superiores a R$ 2 bilhões aos Estados que mais dependem dos recursos da União para financiar a educação básica em 2025, conforme estudo do economista Camillo Bassi, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A partir de 2026, as perdas seriam revertidas, mas os governos estaduais e municipais terão de arcar com os gastos em ensino integral que hoje são de responsabilidade do governo federal. O pacote foi proposto pelo governo Lula ao Congresso Nacional para conter o crescimento de despesas e reequilibrar as contas públicas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que mexeu no Fundeb foi aprovada pela Câmara e pelo Senado na quinta-feira, 19.

Com a mudança no Fundeb, a equipe econômica anunciou um ajuste de R$ 42,3 bilhões entre 2025 e 2030. O Ministério da Fazenda e o Ministério da Educação foram procurados para comentar o impacto da proposta aprovada, mas não se manifestaram.

Presidente Lula com a primeira-dama Janja da Silva e ministros durante cerimônia no Instituto das Cidades, em São Paulo, em junho de 2024.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O Fundeb reúne a arrecadação de impostos para financiar a educação básica no País, principalmente o salário de professores. Além do dinheiro arrecadado pelos Estados e municípios, a União repassa uma parcela adicional e distribui a verba de acordo com critérios de renda, matrícula de alunos e desempenho das escolas. A parcela da União, que era de 10% até 2020, vai subir para 23% em 2026, pressionando as contas públicas federais.

Inicialmente, o governo tentou destinar 20% da complementação da União no Fundeb para a implantação do ensino em tempo integral. Com isso, a equipe econômica esperava economizar os recursos que hoje são gastos com esse programa e que ficam fora do Fundeb. Conforme o Estadão mostrou, a medida poderia não resultar em corte efetivo de gastos, pois a intenção do governo é usar o dinheiro economizado para gastar em outros programas, como o Pé-de-Meia, que hoje está fora do Orçamento.

Parlamentares e especialistas ligados à educação reagiram, apontado perdas para Estados que dependem dos recursos da União para complementar o Fundeb. O governo recuou e concordou com uma diminuição de 10% no porcentual, restringindo a mudança a 2025.

A partir de 2026, a complementação voltará a ser paga com as regras atuais. Os Estados e municípios serão responsáveis por destinar 4% dos recursos que eles próprios colocam no Fundeb para o ensino em tempo integral. Em vez de o governo mandar esse dinheiro, as prefeituras e governos estaduais terão de arcar com o custo.

O Fundeb total deve somar R$ 276,1 bilhões em 2025, de acordo com cálculos do especialista, sendo que a parcela da União deve atingir R$ 57,98 bilhões. O repasse da União serve para equilibrar as regiões do País e tirar Estados e municípios de uma espécie de linha de pobreza em termos de valores aplicados na educação básica.

A complementação do governo federal no Fundeb é dividida em três parâmetros: VAAF – que beneficia Estados mais pobres, que não alcançam parâmetros mínimos de arrecadação em comparação às matrículas no ensino fundamental urbano parcial (R$ 27,61 bilhões); VAAT – que contempla municípios específicos, estando ou não em localidades beneficiadas pelo primeiro parâmetro, alcançando cidades pobres dentro de Estados ricos (R$ 24,84 bilhões); e VAAR – que serve como prêmio para redes que alcançam bons índices na educação básica (R$ 5,52 bilhões).

Dinheiro para a educação básica ‘bagunça’ distribuição do Fundeb para Estados e municípios

Com 10% dos recursos indo para a educação em tempo integral, o dinheiro distribuído com base nos três critérios atuais diminuirá para R$ 52,18 bilhões. O ensino em tempo integral, que ficará com R$ 5,8 bilhões, se transformará em uma quarta parcela da complementação, repassada com parâmetros diferentes e beneficiando apenas Estados e municípios que cumpram requisitos para a criação de vagas no ensino em tempo integral. Ou seja, não há nenhuma garantia que os mesmos Estados e municípios sejam beneficiados.

“Vai ser aberto um novo flanco na complementação e é impossível acobertar os flancos atuais porque a lógica da distribuição é outra. O repasse para o ensino integral terá uma lógica própria. Os parâmetros atuais têm um perfil nacional que vai ser derrocado por um perfil mais elitista”, diz o especialista. “A proposta foi o maior equívoco contábil do pacote de gastos.”

10 Estados perderiam recursos de parcela destinada a regiões mais pobres; Bahia seria a mais atingida

Atualmente, 10 Estados são beneficiados pelo primeiro critério porque ou são muito pobres ou porque têm muitos estudantes em relação ao que arrecadam. Entre eles estão Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro. Os repasses para essas localidades devem cair de R$ 24,6 bilhões para R$ R$ 22,5 bilhões – uma perda de aproximadamente R$ 2 bilhões.

A Bahia deve ser a mais prejudicada, com perda de R$ 368 milhões. Em seguida, o Rio, com R$ 294 milhões a menos. O levantamento leva em conta os dados da arrecadação dos Estados e dos repasses do Fundeb em 2024. Em 2025, quando a regra entra em vigor, o impacto será ainda maior, com o aumento da parcela da União.

Já no segundo critério, que beneficia 2.225 redes municipais e estaduais em 2024, 98 municípios deixariam de ser beneficiados e o restante teria o valor reduzido. O corte total chegaria a R$ 1,7 bilhão.

No terceiro segmento, que repassa recursos de acordo com o bom desempenho das escolas, haveria perdas de R$ 377 milhões, sendo R$ 255,9 milhões em municípios e R$ 121,5 milhões em Estados. Em 2024, 1.923 redes estaduais e municipais foram premiadas com essa parcela.

Em termos de economia de gastos, a proposta tem potencial de abrir um espaço fiscal de R$ 5,8 bilhões em 2025 e de R$ 12 bilhões em 2026 para o governo federal. O impacto, no entanto, só ocorreria de fato se o governo cortasse recursos da educação e ainda cumprisse o piso constitucional do setor, o que exige um ônus político do Executivo federal.

“A abertura de espaço fiscal mediante despesa discricionária (não obrigatória) não é contemplada nessa proposta. Não descarto a possibilidade de abrir espaço fiscal, mas os cancelamentos não podem ser à revelia”, diz o especialista.

Para Camillo Bassi, a medida mais efetiva para o governo federal cortar gastos sem descumprir o piso da educação e sem prejudicar Estados e municípios que dependem do Fundeb seria aumentar a parcela do fundo que serve para o cálculo do gasto mínimo em educação. Hoje, só 30% da complementação da União no Fundeb é computada no piso, exigindo mais gastos do governo federal para cumprir a Constituição. Aumentar o porcentual para 50% faria o governo economizar R$ 33 bilhões em três anos, conforme o Estadão mostrou. A equipe econômica levou a proposta a Lula, mas ela foi descartada.

BRASÍLIA – A mudança no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) feita pelo pacote de corte de gastos do governo Lula deve provocar perdas superiores a R$ 2 bilhões aos Estados que mais dependem dos recursos da União para financiar a educação básica em 2025, conforme estudo do economista Camillo Bassi, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A partir de 2026, as perdas seriam revertidas, mas os governos estaduais e municipais terão de arcar com os gastos em ensino integral que hoje são de responsabilidade do governo federal. O pacote foi proposto pelo governo Lula ao Congresso Nacional para conter o crescimento de despesas e reequilibrar as contas públicas. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que mexeu no Fundeb foi aprovada pela Câmara e pelo Senado na quinta-feira, 19.

Com a mudança no Fundeb, a equipe econômica anunciou um ajuste de R$ 42,3 bilhões entre 2025 e 2030. O Ministério da Fazenda e o Ministério da Educação foram procurados para comentar o impacto da proposta aprovada, mas não se manifestaram.

Presidente Lula com a primeira-dama Janja da Silva e ministros durante cerimônia no Instituto das Cidades, em São Paulo, em junho de 2024.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O Fundeb reúne a arrecadação de impostos para financiar a educação básica no País, principalmente o salário de professores. Além do dinheiro arrecadado pelos Estados e municípios, a União repassa uma parcela adicional e distribui a verba de acordo com critérios de renda, matrícula de alunos e desempenho das escolas. A parcela da União, que era de 10% até 2020, vai subir para 23% em 2026, pressionando as contas públicas federais.

Inicialmente, o governo tentou destinar 20% da complementação da União no Fundeb para a implantação do ensino em tempo integral. Com isso, a equipe econômica esperava economizar os recursos que hoje são gastos com esse programa e que ficam fora do Fundeb. Conforme o Estadão mostrou, a medida poderia não resultar em corte efetivo de gastos, pois a intenção do governo é usar o dinheiro economizado para gastar em outros programas, como o Pé-de-Meia, que hoje está fora do Orçamento.

Parlamentares e especialistas ligados à educação reagiram, apontado perdas para Estados que dependem dos recursos da União para complementar o Fundeb. O governo recuou e concordou com uma diminuição de 10% no porcentual, restringindo a mudança a 2025.

A partir de 2026, a complementação voltará a ser paga com as regras atuais. Os Estados e municípios serão responsáveis por destinar 4% dos recursos que eles próprios colocam no Fundeb para o ensino em tempo integral. Em vez de o governo mandar esse dinheiro, as prefeituras e governos estaduais terão de arcar com o custo.

O Fundeb total deve somar R$ 276,1 bilhões em 2025, de acordo com cálculos do especialista, sendo que a parcela da União deve atingir R$ 57,98 bilhões. O repasse da União serve para equilibrar as regiões do País e tirar Estados e municípios de uma espécie de linha de pobreza em termos de valores aplicados na educação básica.

A complementação do governo federal no Fundeb é dividida em três parâmetros: VAAF – que beneficia Estados mais pobres, que não alcançam parâmetros mínimos de arrecadação em comparação às matrículas no ensino fundamental urbano parcial (R$ 27,61 bilhões); VAAT – que contempla municípios específicos, estando ou não em localidades beneficiadas pelo primeiro parâmetro, alcançando cidades pobres dentro de Estados ricos (R$ 24,84 bilhões); e VAAR – que serve como prêmio para redes que alcançam bons índices na educação básica (R$ 5,52 bilhões).

Dinheiro para a educação básica ‘bagunça’ distribuição do Fundeb para Estados e municípios

Com 10% dos recursos indo para a educação em tempo integral, o dinheiro distribuído com base nos três critérios atuais diminuirá para R$ 52,18 bilhões. O ensino em tempo integral, que ficará com R$ 5,8 bilhões, se transformará em uma quarta parcela da complementação, repassada com parâmetros diferentes e beneficiando apenas Estados e municípios que cumpram requisitos para a criação de vagas no ensino em tempo integral. Ou seja, não há nenhuma garantia que os mesmos Estados e municípios sejam beneficiados.

“Vai ser aberto um novo flanco na complementação e é impossível acobertar os flancos atuais porque a lógica da distribuição é outra. O repasse para o ensino integral terá uma lógica própria. Os parâmetros atuais têm um perfil nacional que vai ser derrocado por um perfil mais elitista”, diz o especialista. “A proposta foi o maior equívoco contábil do pacote de gastos.”

10 Estados perderiam recursos de parcela destinada a regiões mais pobres; Bahia seria a mais atingida

Atualmente, 10 Estados são beneficiados pelo primeiro critério porque ou são muito pobres ou porque têm muitos estudantes em relação ao que arrecadam. Entre eles estão Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro. Os repasses para essas localidades devem cair de R$ 24,6 bilhões para R$ R$ 22,5 bilhões – uma perda de aproximadamente R$ 2 bilhões.

A Bahia deve ser a mais prejudicada, com perda de R$ 368 milhões. Em seguida, o Rio, com R$ 294 milhões a menos. O levantamento leva em conta os dados da arrecadação dos Estados e dos repasses do Fundeb em 2024. Em 2025, quando a regra entra em vigor, o impacto será ainda maior, com o aumento da parcela da União.

Já no segundo critério, que beneficia 2.225 redes municipais e estaduais em 2024, 98 municípios deixariam de ser beneficiados e o restante teria o valor reduzido. O corte total chegaria a R$ 1,7 bilhão.

No terceiro segmento, que repassa recursos de acordo com o bom desempenho das escolas, haveria perdas de R$ 377 milhões, sendo R$ 255,9 milhões em municípios e R$ 121,5 milhões em Estados. Em 2024, 1.923 redes estaduais e municipais foram premiadas com essa parcela.

Em termos de economia de gastos, a proposta tem potencial de abrir um espaço fiscal de R$ 5,8 bilhões em 2025 e de R$ 12 bilhões em 2026 para o governo federal. O impacto, no entanto, só ocorreria de fato se o governo cortasse recursos da educação e ainda cumprisse o piso constitucional do setor, o que exige um ônus político do Executivo federal.

“A abertura de espaço fiscal mediante despesa discricionária (não obrigatória) não é contemplada nessa proposta. Não descarto a possibilidade de abrir espaço fiscal, mas os cancelamentos não podem ser à revelia”, diz o especialista.

Para Camillo Bassi, a medida mais efetiva para o governo federal cortar gastos sem descumprir o piso da educação e sem prejudicar Estados e municípios que dependem do Fundeb seria aumentar a parcela do fundo que serve para o cálculo do gasto mínimo em educação. Hoje, só 30% da complementação da União no Fundeb é computada no piso, exigindo mais gastos do governo federal para cumprir a Constituição. Aumentar o porcentual para 50% faria o governo economizar R$ 33 bilhões em três anos, conforme o Estadão mostrou. A equipe econômica levou a proposta a Lula, mas ela foi descartada.

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