NOVA YORK - A inflação nos Estados Unidos desacelerou além do previsto em junho e deve encorajar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) a encerrar o mais veloz ciclo de aperto monetário do país após o aumento de juros previsto para julho.
Depois da pausa no mês passado, Wall Street espera uma nova alta de 0,25 pontos percentuais na reunião que acontece em duas semanas, mas vê este como o último ato da autoridade na batalha contra o custo de vida na maior economia do mundo — após os estragos deixados pela covid-19.
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O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA apresentou incremento de 0,2% em junho na comparação com maio, conforme dados com ajustes sazonais publicados nesta quarta-feira pelo Departamento do Trabalho americano. O aumento veio abaixo da mediana de analistas consultados pelo Estadão/Broadcast, que apontava para alta de 0,3%.
No ano, o CPI americano subiu 3% em junho, com acentuada desaceleração frente a maio, quando ficou em 4%. Com tal desempenho, a inflação nos EUA desceu ao patamar mais baixo desde março de 2021.
Foco de preocupação do mercado, o núcleo do CPI, que exclui da conta itens voláteis como os preços de alimentos e de energia, também foi fonte de boas notícias nos EUA. O indicador avançou 0,2% em junho contra maio e assim como o índice cheio ficou abaixo do consenso do mercado, de ganho de 0,3%. Na comparação anual, o núcleo do CPI também perdeu força para 4,8% contra 5,3%.
A surpresa positiva do CPI americano em junho teve como pano de fundo a desaceleração em itens essenciais para o Fed como serviços básicos e moradia, além de uma forte contribuição de passagens aéreas. Apesar da melhora, a inflação nos EUA segue acima da meta do Fed, de 2% ao ano, o que mantém as expectativas de Wall Street quanto a um novo aumento de 0,25 pontos percentuais na reunião que acontece em duas semanas. No mês passado, o BC americano manteve inalterado os juros entre 5,00% e 5,25% ao ano.
Em paralelo, o Fed e seus dirigentes já tinham sinalizado — e reiterado — a possibilidade de realizar mais dois aumentos ainda neste ano. No entanto, a moderação do CPI e um mercado de trabalho que começa a dar sinais de esfriamento nos EUA confirmam os efeitos do aperto monetário no país e reforçaram as expectativas de operadores e economistas de que esse processo pode ser encerrado antes.
As chances de o Fed manter as taxas em setembro após o aumento em julho foram a 78,8% após os novos dados da inflação, mostrou o levantamento do CME Group. Na terça-feira, estavam em 72,4%. Ampliando o holofote para o fim do ano, a manutenção dos juros nos EUA também ganhou força, para 55,5% contra 51,5%, na mesma base de comparação.
“A fraqueza no núcleo da inflação e a moderação no setor de serviços, excluindo habitação, reduziram nossas chances subjetivas de um aumento adicional de juros após julho. Portanto, esse ciclo de aperto do Fed provavelmente está chegando ao fim”, diz o economista-chefe da Oxford Economics para os EUA, Ryan Sweet. A consultoria britânica espera que o Fed suba os juros em julho, para 5,25% a 5,5% ao ano, e vê essa como a faixa terminal das taxas nos EUA.
Até os mais céticos já colocam em dúvida um segundo aumento em setembro, como indicou o Fed antes dos dados recentes. É o caso do Citi, que projeta dois aumentos nas taxas, em julho e setembro, mas já considera a possibilidade de a segunda elevação vir apenas em novembro.
“Embora apenas um mês de desaceleração do CPI indique que uma alta em julho ainda é muito provável, um CPI mais suave eleva a barreira para uma alta em setembro, que poderia ser adiada para novembro”, diz o Citi, em comentário a clientes.
Na visão da Pimco, maior gestora de renda fixa do mundo, com US$ 1,8 trilhão em ativos sob gestão, ainda que os falcões do Fed tenham reforçado o coro da autoridade monetária de que o aperto monetário nos EUA pode ir além de julho, o CPI hoje aumentou a confiança que a decisão deste mês será o último ato do ciclo de alta das taxas no país. “A impressão de inflação de hoje reafirmou nossa visão de que a economia dos EUA caminha para uma segunda metade do ano muito diferente”, avalia a economista da casa, Tiffany Wilding.
Nas últimas semanas, dados da economia dos EUA têm calibrado as expectativas de que a maior economia do mundo enfrente uma recessão neste ano. O Livro Bege, divulgado nesta quarta-feira, deve ratificar a saúde do país. Entre os mais pessimistas, um pouso forçado ainda está no radar, mas perdeu a força e pode dar as caras somente no fim do ano ou no início do próximo. O JPMorgan vê o país mantendo o patamar de crescimento de 2% no segundo trimestre como no primeiro, que surpreendeu Wall Street.
Depois de celebrar os dados do mercado de trabalho na semana passada, o presidente dos EUA, Joe Biden, voltou ao palanque para comemorar os feitos do seu governo após o CPI de junho. Segundo ele, os dados trazem “evidências encorajadoras” de que a inflação está caindo e que a economia americana permanece forte. “Fizemos esse progresso enquanto o desemprego segue próximo de mínimas recordes”, afirmou Biden, que prometeu continuar lutando para reduzir os custos para as famílias americanas.