‘Existe erro de leitura do mercado sobre intenção do governo no fiscal’, diz CEO do Banco XP


Comparado à moeda de outros emergentes, o real vem sofrendo mais com o dólar, e isso tem a ver com problemas de comunicação em Brasília, concorda Berenguer, que vê o mercado ‘estressado’

Por Cynthia Decloedt
Foto: DIV
Entrevista comJosé BerenguerCEO do Banco XP

Existe um erro de leitura pelo mercado quanto à intenção do governo e do Congresso em perseguir as diretrizes para atingir a meta fiscal, e isso se reflete nos indicadores do mercado, que estão “errados”, avalia o CEO do Banco XP, José Berenguer. Depois de ter conversado pessoalmente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília, na semana passada, Berenguer afirma existir um comprometimento “total” por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso para que “tudo caminhe dentro do que foi combinado”. “Não há dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível”, diz em entrevista ao Estadão/Broadcast.

No horizonte mais próximo, ainda que as discussões internas tragam cautela e a Selic deva de fato estacionar em 10,5% até o final do ano, o Brasil tende a se beneficiar do cenário de corte no juro no exterior nos próximos meses, avalia o CEO do Banco XP. Leia abaixo a entrevista:

Qual o cenário percebido pela XP para o segundo semestre?

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Estamos assistindo o que eu chamo de “olé” da economia americana em todos os gestores. Primeiro o juro ia cair bastante, depois o mercado se convenceu de que não ia ter corte e até alta e agora voltamos a um mercado achando que pode haver até três cortes. Foi um ‘drible da vaca’, e isso machucou demais os fundos e os gestores.

Qual o cenário previsto para o Brasil nesse contexto?

Brasil, mercados emergentes, a gente está tendo um ano complexo. Mas eu separaria um pouco do que é Brasil e o resto dos outros mercados emergentes. O real sofreu mais, apesar do fortalecimento do dólar em relação aos emergentes. Essa maior desvalorização do real acho que tem a ver, como dito por alguns lá em Brasília, problemas de comunicação. Acho que a comunicação não ficou fluida, não ficou 100% alinhada e gerou uma sensação de que o governo talvez não fosse seguir as diretrizes fiscais que ele se comprometeu.

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O sr. concorda com isso, que o governo pode não seguir as diretrizes para atingir a meta fiscal?

Acho essa leitura um erro. Acho que o mercado está equivocado em relação a isso. E acho que existe uma série de desafios, não é uma conta simples. São discussões de restrição de orçamento, de investimentos, etc. É sempre difícil. Mas o que eu sinto por parte dos atores, das pessoas envolvidas nessa discussão é que existe um comprometimento total em entregar o que foi combinado. É fácil? Não é nada fácil. Agora, o que eu sinto é que existe um comprometimento total por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso em fazer com que isso caminhe dentro do que foi combinado em termos de metas. Não tenho dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível.

O que achou do texto da reforma tributária aprovado na Câmara?

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A reforma traz enormes benefícios para o País e vai diminuir a sonegação. Nossa carga tributária já é elevada em relação aos padrões mundiais. Vai ter uma simplificação enorme do dia a dia do contribuinte e melhor gestão financeira dos recursos. O que passou é um tremendo de um avanço. Podia ter uma ou duas coisas melhores, mas é um avanço importante.

E sobre os fundamentos do País? Qual sua avaliação?

O Brasil foi o primeiro a começar a baixar juros, baixou. Agora, estamos nessa pausa, e até em função dessa volatilidade, o dólar subiu, somado à incerteza fiscal, mas a gente já teve uma redução importante de juro. A inflação está super bem comportada, está dentro do que o mercado esperava. Tenho dificuldade de ignorar o fundamento e acreditar que a gente não vai ter uma evolução razoavelmente positiva nos próximos meses. De novo, há um problema de comunicação que está sendo trabalhado.

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Sua referência à má comunicação está relacionada com algumas das falas do presidente Lula?

Eu acho que teve muito desalinhamento na comunicação, o próprio governo reconhece isso e o Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) falou sobre isso. Em alguns momentos, se falou sobre o valor dos cortes (nos gastos). É fácil opinar daqui, não estando lá sentando na cadeira. Mas o ideal seria definir o valor e comunicar. Ficar ensaiando quais são os valores, eu não sei. Isso pode ter gerado algum ruído. O discurso político é diferente da dinâmica do dia a dia, por definição, e não é só no governo Lula, em qualquer governo, os políticos falam para suas bases. Isso sempre foi assim. Mas, talvez, naquele momento, gerou um excesso de preocupação. Mas não diria que foi porque o presidente da República falou A, B ou C. A gente tem de focar nos fatos, no que está acontecendo na prática, na ‘prova do pudim’, que é a entrega do que foi combinado, do que foi comprometido.

O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

José Berenguer, CEO do Banco XP

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O lado político pode atrapalhar a determinação do governo e da Fazenda de fazer essa entrega?

Acho que não. A dinâmica da política exige conversa, exige diálogo, exige negociação. E esse processo, às vezes, é ruidoso, por definição. Mas eu não vejo um desalinhamento entre Congresso e Executivo. Zero, zero mesmo. Apesar de o processo de negociação ser um processo duro, que tem antagonismos, por definição, é um processo de buscar fazer. Acho melhor ter a discussão do que fingir que nada aconteceu. Eu tenho muita dificuldade em entender o nervosismo com isso.

O sr. se mostrou bem otimista com a perspectiva de o governo entregar a meta fiscal.

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Eu sou otimista, bem otimista eu nunca sou, porque a gente vive em mercados emergentes, mas eu estou otimista e principalmente com comprometimento do Planejamento, da Fazenda e do Congresso.

O sr. percebe esse mesmo sentimento de otimismo no mercado, na Faria Lima?

Os preços de tela ainda estão muito estressados. Então, se eu tiver certo, tem espaço para melhorar. A resposta talvez, para a sua pergunta é não. O mercado ainda está em níveis estressados, os preços ainda estão em níveis estressados, e se realmente o caminho for esse, que eu acredito que seja, haveria espaço para melhorar, nesse cenário que eu tracei de juros lá fora caindo, aqui o governo entregando, o Executivo e o Legislativo entregando as pautas fiscais etc. Na minha visão, os preços estão errados.

Vocês acham que o juro vai permanecer em 10,50% até o final do ano ou em 2025?

O cenário base de hoje é esse. A não ser que haja uma melhora muito grande no cenário de inflação e no cenário como um todo. Se houver uma melhora, de novo, houver entregas fiscais, o juro lá fora cair, o câmbio voltar um pouco, pode ser que mais pra frente a gente volte a discutir queda de juros. Não é o cenário hoje.

Qual sua leitura para o comportamento dos mercados nesse segundo semestre em diante? Espera retomada das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês)?

Acho que vai ser melhor do que a gente está vendo hoje. A gente veio de um estresse por esses fatores que comentamos, mas haverá uma evolução positiva até o fim do ano. Acho hoje pouco provável que a gente tenha uma retomada do mercado de ofertas de renda variável, de ações, no curto prazo. Mas, se esse cenário se consolida, de queda de juros lá fora, de uma certa acomodação aqui interna, pode ser que a gente volte a falar em ofertas de ações mais para frente. O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

Existe um erro de leitura pelo mercado quanto à intenção do governo e do Congresso em perseguir as diretrizes para atingir a meta fiscal, e isso se reflete nos indicadores do mercado, que estão “errados”, avalia o CEO do Banco XP, José Berenguer. Depois de ter conversado pessoalmente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília, na semana passada, Berenguer afirma existir um comprometimento “total” por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso para que “tudo caminhe dentro do que foi combinado”. “Não há dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível”, diz em entrevista ao Estadão/Broadcast.

No horizonte mais próximo, ainda que as discussões internas tragam cautela e a Selic deva de fato estacionar em 10,5% até o final do ano, o Brasil tende a se beneficiar do cenário de corte no juro no exterior nos próximos meses, avalia o CEO do Banco XP. Leia abaixo a entrevista:

Qual o cenário percebido pela XP para o segundo semestre?

Estamos assistindo o que eu chamo de “olé” da economia americana em todos os gestores. Primeiro o juro ia cair bastante, depois o mercado se convenceu de que não ia ter corte e até alta e agora voltamos a um mercado achando que pode haver até três cortes. Foi um ‘drible da vaca’, e isso machucou demais os fundos e os gestores.

Qual o cenário previsto para o Brasil nesse contexto?

Brasil, mercados emergentes, a gente está tendo um ano complexo. Mas eu separaria um pouco do que é Brasil e o resto dos outros mercados emergentes. O real sofreu mais, apesar do fortalecimento do dólar em relação aos emergentes. Essa maior desvalorização do real acho que tem a ver, como dito por alguns lá em Brasília, problemas de comunicação. Acho que a comunicação não ficou fluida, não ficou 100% alinhada e gerou uma sensação de que o governo talvez não fosse seguir as diretrizes fiscais que ele se comprometeu.

O sr. concorda com isso, que o governo pode não seguir as diretrizes para atingir a meta fiscal?

Acho essa leitura um erro. Acho que o mercado está equivocado em relação a isso. E acho que existe uma série de desafios, não é uma conta simples. São discussões de restrição de orçamento, de investimentos, etc. É sempre difícil. Mas o que eu sinto por parte dos atores, das pessoas envolvidas nessa discussão é que existe um comprometimento total em entregar o que foi combinado. É fácil? Não é nada fácil. Agora, o que eu sinto é que existe um comprometimento total por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso em fazer com que isso caminhe dentro do que foi combinado em termos de metas. Não tenho dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível.

O que achou do texto da reforma tributária aprovado na Câmara?

A reforma traz enormes benefícios para o País e vai diminuir a sonegação. Nossa carga tributária já é elevada em relação aos padrões mundiais. Vai ter uma simplificação enorme do dia a dia do contribuinte e melhor gestão financeira dos recursos. O que passou é um tremendo de um avanço. Podia ter uma ou duas coisas melhores, mas é um avanço importante.

E sobre os fundamentos do País? Qual sua avaliação?

O Brasil foi o primeiro a começar a baixar juros, baixou. Agora, estamos nessa pausa, e até em função dessa volatilidade, o dólar subiu, somado à incerteza fiscal, mas a gente já teve uma redução importante de juro. A inflação está super bem comportada, está dentro do que o mercado esperava. Tenho dificuldade de ignorar o fundamento e acreditar que a gente não vai ter uma evolução razoavelmente positiva nos próximos meses. De novo, há um problema de comunicação que está sendo trabalhado.

Sua referência à má comunicação está relacionada com algumas das falas do presidente Lula?

Eu acho que teve muito desalinhamento na comunicação, o próprio governo reconhece isso e o Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) falou sobre isso. Em alguns momentos, se falou sobre o valor dos cortes (nos gastos). É fácil opinar daqui, não estando lá sentando na cadeira. Mas o ideal seria definir o valor e comunicar. Ficar ensaiando quais são os valores, eu não sei. Isso pode ter gerado algum ruído. O discurso político é diferente da dinâmica do dia a dia, por definição, e não é só no governo Lula, em qualquer governo, os políticos falam para suas bases. Isso sempre foi assim. Mas, talvez, naquele momento, gerou um excesso de preocupação. Mas não diria que foi porque o presidente da República falou A, B ou C. A gente tem de focar nos fatos, no que está acontecendo na prática, na ‘prova do pudim’, que é a entrega do que foi combinado, do que foi comprometido.

O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

José Berenguer, CEO do Banco XP

O lado político pode atrapalhar a determinação do governo e da Fazenda de fazer essa entrega?

Acho que não. A dinâmica da política exige conversa, exige diálogo, exige negociação. E esse processo, às vezes, é ruidoso, por definição. Mas eu não vejo um desalinhamento entre Congresso e Executivo. Zero, zero mesmo. Apesar de o processo de negociação ser um processo duro, que tem antagonismos, por definição, é um processo de buscar fazer. Acho melhor ter a discussão do que fingir que nada aconteceu. Eu tenho muita dificuldade em entender o nervosismo com isso.

O sr. se mostrou bem otimista com a perspectiva de o governo entregar a meta fiscal.

Eu sou otimista, bem otimista eu nunca sou, porque a gente vive em mercados emergentes, mas eu estou otimista e principalmente com comprometimento do Planejamento, da Fazenda e do Congresso.

O sr. percebe esse mesmo sentimento de otimismo no mercado, na Faria Lima?

Os preços de tela ainda estão muito estressados. Então, se eu tiver certo, tem espaço para melhorar. A resposta talvez, para a sua pergunta é não. O mercado ainda está em níveis estressados, os preços ainda estão em níveis estressados, e se realmente o caminho for esse, que eu acredito que seja, haveria espaço para melhorar, nesse cenário que eu tracei de juros lá fora caindo, aqui o governo entregando, o Executivo e o Legislativo entregando as pautas fiscais etc. Na minha visão, os preços estão errados.

Vocês acham que o juro vai permanecer em 10,50% até o final do ano ou em 2025?

O cenário base de hoje é esse. A não ser que haja uma melhora muito grande no cenário de inflação e no cenário como um todo. Se houver uma melhora, de novo, houver entregas fiscais, o juro lá fora cair, o câmbio voltar um pouco, pode ser que mais pra frente a gente volte a discutir queda de juros. Não é o cenário hoje.

Qual sua leitura para o comportamento dos mercados nesse segundo semestre em diante? Espera retomada das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês)?

Acho que vai ser melhor do que a gente está vendo hoje. A gente veio de um estresse por esses fatores que comentamos, mas haverá uma evolução positiva até o fim do ano. Acho hoje pouco provável que a gente tenha uma retomada do mercado de ofertas de renda variável, de ações, no curto prazo. Mas, se esse cenário se consolida, de queda de juros lá fora, de uma certa acomodação aqui interna, pode ser que a gente volte a falar em ofertas de ações mais para frente. O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

Existe um erro de leitura pelo mercado quanto à intenção do governo e do Congresso em perseguir as diretrizes para atingir a meta fiscal, e isso se reflete nos indicadores do mercado, que estão “errados”, avalia o CEO do Banco XP, José Berenguer. Depois de ter conversado pessoalmente com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília, na semana passada, Berenguer afirma existir um comprometimento “total” por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso para que “tudo caminhe dentro do que foi combinado”. “Não há dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível”, diz em entrevista ao Estadão/Broadcast.

No horizonte mais próximo, ainda que as discussões internas tragam cautela e a Selic deva de fato estacionar em 10,5% até o final do ano, o Brasil tende a se beneficiar do cenário de corte no juro no exterior nos próximos meses, avalia o CEO do Banco XP. Leia abaixo a entrevista:

Qual o cenário percebido pela XP para o segundo semestre?

Estamos assistindo o que eu chamo de “olé” da economia americana em todos os gestores. Primeiro o juro ia cair bastante, depois o mercado se convenceu de que não ia ter corte e até alta e agora voltamos a um mercado achando que pode haver até três cortes. Foi um ‘drible da vaca’, e isso machucou demais os fundos e os gestores.

Qual o cenário previsto para o Brasil nesse contexto?

Brasil, mercados emergentes, a gente está tendo um ano complexo. Mas eu separaria um pouco do que é Brasil e o resto dos outros mercados emergentes. O real sofreu mais, apesar do fortalecimento do dólar em relação aos emergentes. Essa maior desvalorização do real acho que tem a ver, como dito por alguns lá em Brasília, problemas de comunicação. Acho que a comunicação não ficou fluida, não ficou 100% alinhada e gerou uma sensação de que o governo talvez não fosse seguir as diretrizes fiscais que ele se comprometeu.

O sr. concorda com isso, que o governo pode não seguir as diretrizes para atingir a meta fiscal?

Acho essa leitura um erro. Acho que o mercado está equivocado em relação a isso. E acho que existe uma série de desafios, não é uma conta simples. São discussões de restrição de orçamento, de investimentos, etc. É sempre difícil. Mas o que eu sinto por parte dos atores, das pessoas envolvidas nessa discussão é que existe um comprometimento total em entregar o que foi combinado. É fácil? Não é nada fácil. Agora, o que eu sinto é que existe um comprometimento total por parte da Fazenda, do Planejamento e mesmo do Congresso em fazer com que isso caminhe dentro do que foi combinado em termos de metas. Não tenho dúvida que eles vão perseguir ao máximo e vão entregar o máximo possível.

O que achou do texto da reforma tributária aprovado na Câmara?

A reforma traz enormes benefícios para o País e vai diminuir a sonegação. Nossa carga tributária já é elevada em relação aos padrões mundiais. Vai ter uma simplificação enorme do dia a dia do contribuinte e melhor gestão financeira dos recursos. O que passou é um tremendo de um avanço. Podia ter uma ou duas coisas melhores, mas é um avanço importante.

E sobre os fundamentos do País? Qual sua avaliação?

O Brasil foi o primeiro a começar a baixar juros, baixou. Agora, estamos nessa pausa, e até em função dessa volatilidade, o dólar subiu, somado à incerteza fiscal, mas a gente já teve uma redução importante de juro. A inflação está super bem comportada, está dentro do que o mercado esperava. Tenho dificuldade de ignorar o fundamento e acreditar que a gente não vai ter uma evolução razoavelmente positiva nos próximos meses. De novo, há um problema de comunicação que está sendo trabalhado.

Sua referência à má comunicação está relacionada com algumas das falas do presidente Lula?

Eu acho que teve muito desalinhamento na comunicação, o próprio governo reconhece isso e o Haddad (Fernando Haddad, ministro da Fazenda) falou sobre isso. Em alguns momentos, se falou sobre o valor dos cortes (nos gastos). É fácil opinar daqui, não estando lá sentando na cadeira. Mas o ideal seria definir o valor e comunicar. Ficar ensaiando quais são os valores, eu não sei. Isso pode ter gerado algum ruído. O discurso político é diferente da dinâmica do dia a dia, por definição, e não é só no governo Lula, em qualquer governo, os políticos falam para suas bases. Isso sempre foi assim. Mas, talvez, naquele momento, gerou um excesso de preocupação. Mas não diria que foi porque o presidente da República falou A, B ou C. A gente tem de focar nos fatos, no que está acontecendo na prática, na ‘prova do pudim’, que é a entrega do que foi combinado, do que foi comprometido.

O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

José Berenguer, CEO do Banco XP

O lado político pode atrapalhar a determinação do governo e da Fazenda de fazer essa entrega?

Acho que não. A dinâmica da política exige conversa, exige diálogo, exige negociação. E esse processo, às vezes, é ruidoso, por definição. Mas eu não vejo um desalinhamento entre Congresso e Executivo. Zero, zero mesmo. Apesar de o processo de negociação ser um processo duro, que tem antagonismos, por definição, é um processo de buscar fazer. Acho melhor ter a discussão do que fingir que nada aconteceu. Eu tenho muita dificuldade em entender o nervosismo com isso.

O sr. se mostrou bem otimista com a perspectiva de o governo entregar a meta fiscal.

Eu sou otimista, bem otimista eu nunca sou, porque a gente vive em mercados emergentes, mas eu estou otimista e principalmente com comprometimento do Planejamento, da Fazenda e do Congresso.

O sr. percebe esse mesmo sentimento de otimismo no mercado, na Faria Lima?

Os preços de tela ainda estão muito estressados. Então, se eu tiver certo, tem espaço para melhorar. A resposta talvez, para a sua pergunta é não. O mercado ainda está em níveis estressados, os preços ainda estão em níveis estressados, e se realmente o caminho for esse, que eu acredito que seja, haveria espaço para melhorar, nesse cenário que eu tracei de juros lá fora caindo, aqui o governo entregando, o Executivo e o Legislativo entregando as pautas fiscais etc. Na minha visão, os preços estão errados.

Vocês acham que o juro vai permanecer em 10,50% até o final do ano ou em 2025?

O cenário base de hoje é esse. A não ser que haja uma melhora muito grande no cenário de inflação e no cenário como um todo. Se houver uma melhora, de novo, houver entregas fiscais, o juro lá fora cair, o câmbio voltar um pouco, pode ser que mais pra frente a gente volte a discutir queda de juros. Não é o cenário hoje.

Qual sua leitura para o comportamento dos mercados nesse segundo semestre em diante? Espera retomada das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês)?

Acho que vai ser melhor do que a gente está vendo hoje. A gente veio de um estresse por esses fatores que comentamos, mas haverá uma evolução positiva até o fim do ano. Acho hoje pouco provável que a gente tenha uma retomada do mercado de ofertas de renda variável, de ações, no curto prazo. Mas, se esse cenário se consolida, de queda de juros lá fora, de uma certa acomodação aqui interna, pode ser que a gente volte a falar em ofertas de ações mais para frente. O momento é de a gente ter frieza, trabalhar, tem muita coisa acontecendo positiva e sair um pouco dessa neurose de que está tudo errado, porque não está tudo errado.

Entrevista por Cynthia Decloedt

Cynthia Decloedt é repórter especial, com foco na cobertura de mercado financeiro e de capitais

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