Os principais bancos centrais de países desenvolvidos podem ter mais um desafio pela frente em 2025: um novo ativismo fiscal no mundo, com estímulos à economia via pacotes de gastos públicos. Com a eleição de Donald Trump, que prometeu cortar impostos, esse cenário ficou mais evidente nos Estados Unidos. Mas uma injeção fiscal também já é realidade na China, Reino Unido e Japão. E, na Alemanha, com o colapso do governo, a pressão para abrir os cofres aumentou.
Uma nova era de aumento sincronizado de gastos públicos pelos países desenvolvidos pode fazer a inflação mundial acelerar outra vez. Esse temor está tomando conta do mercado nos EUA, com alguns analistas já revisando suas apostas para o ciclo de cortes dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed). Nas mais recentes projeções para a trajetória da sua taxa básica, o Fed previa ainda mais um corte de 0,25 ponto porcentual, em dezembro, e outras quatro reduções da mesma magnitude em 2025. Após a eleição de Trump, o banco Nomura, por exemplo, passou a apostar em um único corte de 0,25 ponto dos juros pelo Fed no ano que vem.
O novo presidente americano já disse que iria impor uma alíquota de importação de 20% de forma generalizada, sendo que, para os produtos chineses, essa taxa seria elevada para 60%. Trump prometeu deportação em massa de imigrantes ilegais. Essa combinação teria um efeito inflacionário. Incluindo o eventual corte de impostos, economistas estimam que o plano de Trump aumentaria o déficit orçamentário dos EUA em US$ 7,5 trilhões até o ano de 2035.
As maiores potências do planeta estão reagindo às promessas de Trump, num esforço para aliviar o impacto sobre suas economias. O Reino Unido divulgou proposta para aumentar o gasto público em US$ 90 bilhões por ano pelos próximos cinco anos. Esse dinheiro faria o crescimento do PIB dobrar de 1%, neste ano, para 2% em 2025. No Japão, após perder a maioria no Parlamento nas últimas eleições, o governo quer anunciar um pacote de estímulo fiscal maior do que o adotado em 2023 (US$ 80 bilhões), com ajuda direta à população de baixa renda. A China aprovou a emissão de títulos no valor de 10 trilhões de yuans para os governos locais refinanciarem suas dívidas. A medida ficou aquém do esperado, mas as autoridades já sinalizaram novos estímulos em breve.
O temor de uma nova guerra comercial por Trump pode ser só um pretexto. O sentimento é de que cresce a pressão política nos países ricos por mais gasto público a fim de melhorar o humor dos eleitores. E a Alemanha é a próxima da lista.