No debate do mercado se o Banco Central deve encerrar o ciclo de alta de juros na reunião do Copom hoje, em 13,75%, ou fazer um derradeiro aumento de 0,25 ponto porcentual da taxa Selic, para 14%, duas questões essenciais ainda não têm consenso: faria diferença, em termos de impacto na economia, essa pequena elevação adicional dos juros? E o que o BC ganharia com isso?
Para uma parcela significativa dos analistas, uma alta adicional de apenas 0,25 ponto da Selic não conseguiria, por exemplo, compensar, por si só, a surpresa recente para cima da atividade econômica, como ficou evidente com os dados do setor de serviços. Ou ainda neutralizar o risco fiscal para 2023, com a possibilidade de aumento nos valores de benefícios, como o Auxílio Brasil, ou a manutenção de corte de impostos para combustíveis.
Além do mais, segundo o argumento dessa parcela de analistas, o ciclo de alta de juros no Brasil já está bastante avançado e começa a ser sentido na economia, inibindo o crédito. Sem falar que o atual aperto monetário do BC é um dos mais agressivos do mundo.
E mais importante do que fazer um ajuste residual de 0,25 ponto na Selic seria o BC sinalizar com firmeza que não pretende voltar a cortar juros tão cedo como o mercado chegou a precificar, no fim do primeiro trimestre de 2023. Essa precificação prematura de redução de juros levaria ao afrouxamento das condições financeiras, algo que o BC quer evitar.
Por outro lado, na visão de outro grupo de analistas, uma alta residual da Selic teria como principal efeito o de dar um grande ganho de credibilidade ao BC. Reafirmaria, peremptoriamente, as credenciais de um banco central independente a decisão de elevar os juros a menos de duas semanas do primeiro turno da eleição presidencial, algo impensável antes da aprovação pelo Congresso da autonomia do BC.
Esse ganho de credibilidade com o ajuste residual, mostrando o inequívoco compromisso do BC em trazer a inflação de volta à meta, ajudaria no controle das expectativas inflacionárias no horizonte relevante da política monetária, que já mira o primeiro trimestre de 2024. Na mais recente pesquisa Focus, o consenso das estimativas de analistas aponta para uma inflação de 3,50% em 2024, acima da meta de 3%.
É bom lembrar que a batalha contra a inflação alta ainda não está vencida. Apesar da deflação em julho e agosto, a dinâmica inflacionária segue preocupante quando se excluem os preços mais voláteis, como combustíveis e alimentos. Seria uma última alta dos juros artilharia ainda necessária?