Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|A ‘última milha’: reta final do processo de desinflação poderá levar mais tempo do que o imaginado


Ritmo de queda do índice de preços ao consumidor nos EUA e na Zona do Euro será mais lento daqui para frente

Por Fábio Alves

A “última milha” da inflação tem sido a metáfora mais repetida pelos diretores dos maiores bancos centrais do mundo, desde o fim do ano passado, para descrever como, após os índices de preços ao consumidor terem despencado do maior patamar em quatro décadas nos Estados Unidos e na Europa, a reta final do processo de desinflação em direção à meta será a mais difícil e poderá levar mais tempo do que o imaginado. Algo que também pode ser o caso do Brasil.

Nos EUA e na Zona do Euro, por exemplo, a meta de inflação do Federal Reserve e do Banco Central Europeu é de 2%. Mas o sentimento de muitos no mercado e de dirigentes desses bancos centrais é de que romper abaixo do patamar atual, ao redor de 3%, parece até um obstáculo intransponível. No seu pico, a inflação americana atingiu a taxa anual de 9,1%, em junho de 2022, enquanto que na Zona do Euro bateu 10,6% em outubro do mesmo ano.

A queda para níveis mais toleráveis, embora acima das metas, foi relativamente rápida. Em dezembro, a inflação anual na Zona do Euro acelerou para 2,9% depois de ter caído para 2,4% em novembro. Nos EUA, o índice de preços ao consumidor ficou em 3,1% em 12 meses até novembro. Só que agora o recuo deverá ser mais lento. E não se descarta até uma nova aceleração, como se viu na Zona do Euro em dezembro.

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Entre as razões para explicar a forte desaceleração da inflação em relação ao pico, está o efeito-base. Isso porque, estatisticamente, à medida que índices mais elevados deixam o cálculo a inflação cede bastante na comparação em 12 meses. Outra explicação é a dissipação do impacto inicial dos choques nos preços de energia (em razão, por exemplo, da guerra na Ucrânia) e de bens industrializados, após a normalização das cadeias mundiais de produção passada a pandemia da covid.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, na Alemanha Foto: Daniel Roland / AFP

Não à toa, a preocupação agora é com os preços subjacentes, como o núcleo da inflação de serviços, pois essas medidas apontam a dinâmica dos preços no médio prazo. É justamente esse ponto que pode tornar a “última milha” da inflação indigesta para os bancos centrais, postergando, inclusive, o início dos ciclos de corte de juros ou, no caso do Brasil, impedindo a aceleração na redução da taxa básica.

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Nos EUA, por exemplo, a alta anual do núcleo da inflação de serviços foi de 5,5% em novembro, ainda incompatível com a meta de 2%. No Brasil, conforme o IPCA-15 de dezembro, essa taxa foi de 4,73%. Aqui, um mercado de trabalho ainda apertado e gastos públicos elevados podem tornar a “última milha” da inflação mais longa do que o desejado.

A “última milha” da inflação tem sido a metáfora mais repetida pelos diretores dos maiores bancos centrais do mundo, desde o fim do ano passado, para descrever como, após os índices de preços ao consumidor terem despencado do maior patamar em quatro décadas nos Estados Unidos e na Europa, a reta final do processo de desinflação em direção à meta será a mais difícil e poderá levar mais tempo do que o imaginado. Algo que também pode ser o caso do Brasil.

Nos EUA e na Zona do Euro, por exemplo, a meta de inflação do Federal Reserve e do Banco Central Europeu é de 2%. Mas o sentimento de muitos no mercado e de dirigentes desses bancos centrais é de que romper abaixo do patamar atual, ao redor de 3%, parece até um obstáculo intransponível. No seu pico, a inflação americana atingiu a taxa anual de 9,1%, em junho de 2022, enquanto que na Zona do Euro bateu 10,6% em outubro do mesmo ano.

A queda para níveis mais toleráveis, embora acima das metas, foi relativamente rápida. Em dezembro, a inflação anual na Zona do Euro acelerou para 2,9% depois de ter caído para 2,4% em novembro. Nos EUA, o índice de preços ao consumidor ficou em 3,1% em 12 meses até novembro. Só que agora o recuo deverá ser mais lento. E não se descarta até uma nova aceleração, como se viu na Zona do Euro em dezembro.

Entre as razões para explicar a forte desaceleração da inflação em relação ao pico, está o efeito-base. Isso porque, estatisticamente, à medida que índices mais elevados deixam o cálculo a inflação cede bastante na comparação em 12 meses. Outra explicação é a dissipação do impacto inicial dos choques nos preços de energia (em razão, por exemplo, da guerra na Ucrânia) e de bens industrializados, após a normalização das cadeias mundiais de produção passada a pandemia da covid.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, na Alemanha Foto: Daniel Roland / AFP

Não à toa, a preocupação agora é com os preços subjacentes, como o núcleo da inflação de serviços, pois essas medidas apontam a dinâmica dos preços no médio prazo. É justamente esse ponto que pode tornar a “última milha” da inflação indigesta para os bancos centrais, postergando, inclusive, o início dos ciclos de corte de juros ou, no caso do Brasil, impedindo a aceleração na redução da taxa básica.

Nos EUA, por exemplo, a alta anual do núcleo da inflação de serviços foi de 5,5% em novembro, ainda incompatível com a meta de 2%. No Brasil, conforme o IPCA-15 de dezembro, essa taxa foi de 4,73%. Aqui, um mercado de trabalho ainda apertado e gastos públicos elevados podem tornar a “última milha” da inflação mais longa do que o desejado.

A “última milha” da inflação tem sido a metáfora mais repetida pelos diretores dos maiores bancos centrais do mundo, desde o fim do ano passado, para descrever como, após os índices de preços ao consumidor terem despencado do maior patamar em quatro décadas nos Estados Unidos e na Europa, a reta final do processo de desinflação em direção à meta será a mais difícil e poderá levar mais tempo do que o imaginado. Algo que também pode ser o caso do Brasil.

Nos EUA e na Zona do Euro, por exemplo, a meta de inflação do Federal Reserve e do Banco Central Europeu é de 2%. Mas o sentimento de muitos no mercado e de dirigentes desses bancos centrais é de que romper abaixo do patamar atual, ao redor de 3%, parece até um obstáculo intransponível. No seu pico, a inflação americana atingiu a taxa anual de 9,1%, em junho de 2022, enquanto que na Zona do Euro bateu 10,6% em outubro do mesmo ano.

A queda para níveis mais toleráveis, embora acima das metas, foi relativamente rápida. Em dezembro, a inflação anual na Zona do Euro acelerou para 2,9% depois de ter caído para 2,4% em novembro. Nos EUA, o índice de preços ao consumidor ficou em 3,1% em 12 meses até novembro. Só que agora o recuo deverá ser mais lento. E não se descarta até uma nova aceleração, como se viu na Zona do Euro em dezembro.

Entre as razões para explicar a forte desaceleração da inflação em relação ao pico, está o efeito-base. Isso porque, estatisticamente, à medida que índices mais elevados deixam o cálculo a inflação cede bastante na comparação em 12 meses. Outra explicação é a dissipação do impacto inicial dos choques nos preços de energia (em razão, por exemplo, da guerra na Ucrânia) e de bens industrializados, após a normalização das cadeias mundiais de produção passada a pandemia da covid.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, na Alemanha Foto: Daniel Roland / AFP

Não à toa, a preocupação agora é com os preços subjacentes, como o núcleo da inflação de serviços, pois essas medidas apontam a dinâmica dos preços no médio prazo. É justamente esse ponto que pode tornar a “última milha” da inflação indigesta para os bancos centrais, postergando, inclusive, o início dos ciclos de corte de juros ou, no caso do Brasil, impedindo a aceleração na redução da taxa básica.

Nos EUA, por exemplo, a alta anual do núcleo da inflação de serviços foi de 5,5% em novembro, ainda incompatível com a meta de 2%. No Brasil, conforme o IPCA-15 de dezembro, essa taxa foi de 4,73%. Aqui, um mercado de trabalho ainda apertado e gastos públicos elevados podem tornar a “última milha” da inflação mais longa do que o desejado.

Opinião por Fábio Alves

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