‘A esquerda não tem o monopólio de querer o bem da sociedade’, diz Fábio Barbosa


CEO da Natura & Co. e ex-presidente dos bancos Real e Santander, executivo diz que é preciso separar a extrema-direita de uma outra direita, que defende o desenvolvimento da economia de mercado no Brasil

Por Fernando Scheller e Wesley Gonsalves
Atualização:

Depois de assinar a carta de apoio à democracia, na semana passada, o CEO da Natura & Co., Fábio Barbosa, afirmou ao Estadão que, entre os candidatos que lideram a corrida presidencial, ele prefere uma terceira via: a da senadora Simone Tebet (PMDB). Apesar de a candidata ainda ter poucas chances de eleição, segundo as pesquisas, ele acredita que existe uma pequena chance de “virar o jogo”. “Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança”, disse o executivo.

E ele diz que é preciso separar a extrema direita, conservadora na pauta de costumes e dada à polarização, e uma outra direita – aquela que defende o desenvolvimento da economia de mercado no País. “Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade”, disse Barbosa. “Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade (social), o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.”

Para além da polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo também defende que existe um desafio fundamental nas próximas eleições: a renovação do Congresso Nacional, que ele considera de baixa qualidade. O Legislativo, segundo ele, precisa de “cabeças mais jovens e conectadas com o momento” da sociedade. “Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que tinha anos atrás”, disse.

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Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Sobre a carta pela democracia, o sr. acha que foi um posicionamento importante da sociedade, especialmente do empresariado?

Nos últimos anos nós vimos muitos questionamentos em relação à questão do sistema eleitoral e à aceitação do voto eletrônico. Isso é bastante preocupante porque, na medida em que esse pilar da democracia é questionado, abre-se um espaço para que o resultado seja contestado. A democracia tem como base o voto, e isso precisa ser respeitado. O questionamento do sistema eleitoral abre uma brecha muito perigosa para que se crie bagunça e tumultos. Por isso foi importante fazer um contraponto (por meio da carta). Existem aqueles que acham que o sistema é duvidoso e se manifestam. Mas não havia um manifesto tão grande por parte daqueles que acreditam que o sistema é confiável, sempre foi e de que não há evidências de que não seja. Por isso, foi muito importante ver essa movimentação na sociedade.

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Por muito tempo o empresariado ficou muito quieto em relação às eleições. O senhor acha que isso ficou para atrás com as assinaturas nesse manifesto?

Quando o tom das críticas ao sistema eleitoral começou a subir, especialmente nos últimos meses, com a aproximação das eleições, o fato de que não houve nenhum relaxamento nessas críticas acendeu o alerta e ficou claro de que nós tínhamos um problema. Havia iniciativas por parte do empresariado e de economistas para fazer um documento a favor do sistema eleitoral, do voto eletrônico e da democracia. Mas chegou-se à conclusão de que, ao invés de fazer um novo, nós assinaríamos aquele do (movimento) 11 de Agosto, que já estava bem estruturado, com pessoas de todas as tendências políticas. Foi importante descaracterizar como um movimento de empresários e mostrar que era na verdade um movimento da sociedade.

Fábio Barbosa, hoje na Natura & Co., já passou por Santander e ABN Real Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Como o senhor tem avaliado a reação do presidente Jair Bolsonaro a essa movimentação do empresariado?

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista. Esse é um movimento de apoio “às regras do jogo”, seja qual for o resultado das eleições.

Alguns empresários tinham medo de assinar o manifesto e parecer que estavam apoiando um determinado candidato, no caso o ex-presidente Lula. O senhor acha que conseguiu se dissipar essa ideia?

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Os candidatos Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet se manifestam fortemente a favor do respeito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral. Eu não esperava que (essa impressão) se dissipasse totalmente, mas nós conseguimos minimizar essa ideia de que se tratava de um apoio a um dos três ou quatro candidatos que fazem frente ao atual presidente.

Em relação à pauta ambiental, como o sr. tem avaliado os retrocessos em relação ao desmatamento ambiental?

O Brasil está perdendo uma oportunidade enorme de ser uma potência ambiental, mesmo tendo uma matriz energética das mais limpas do mundo. Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos. A nossa imagem fica feia, e não porque nós temos uma matriz energética ruim, mas porque não conseguimos controlar o desmatamento. Acho que o Brasil pode vir a perder esse mercado, assim como tem perdido investimentos.

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Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos.”

Fábio Barbosa, presidente da Natura & Co.

A polarização nas eleições está tirando espaço da discussão sobre o crescimento econômico do País?

Eu não estou vendo propostas (efetivas) de nenhum dos dois lados que estão à frente nas pesquisas. Faço parte de um grupo de pessoas que apoiam a candidatura da Simone Tebet, não como uma ideia de terceira via, mas como um nome que tem uma visão sobre o desenvolvimento econômico. Existem outros candidatos que estão buscando colocar as propostas. Deve dizer que o Ciro Gomes também faz suas propostas, eu concordando ou não, mas ele tem.

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A terceira via parece não ter decolado. Até quando é possível ter esperança de que decole?

Nossa expectativa continua a ser que a candidatura de Simone Tebet ganhe atração até 15 de agosto, quando efetivamente começa a campanha, para que ela possa apresentar as propostas. Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança.

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista.”

Fábio Barbosa

O sr. teve alguma conversa com o candidato Ciro Gomes?

Nós estamos atrás de alguém que nos traga esperança. Do grupo de empresários que eu participo, nós não tivemos conversa de nenhuma sorte com Ciro Gomes, porque ele trabalha em outra linha. A nossa linha é pela orientação econômica liberal. Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade. Eu, Simone Tebet e outras pessoas também queremos o bem da sociedade. Apenas entendemos que o caminho para se chegar a isso é um caminho em que você tem o investimento em educação e ciência. Com regras do jogo estáveis, com a busca de um ambiente favorável para que se crie empregos e a sociedade seja protagonista desse crescimento. Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade, o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.

O Brasil está à deriva? Não temos um plano de país?

Eu acho que nós não temos um plano de país com relação aos investimentos em educação e em ciência, que são portas para se resolver outros dos nossos problemas, como o de saúde. Acho também que o País não tem um plano para resolver a questão ambiental, em que poderia ser uma potência mundial. Além disso, as empresas estão buscando estabilidade. O que leva as empresas a investir é a confiança de que o amanhã será melhor. Essa instabilidade política, em relação ao que teremos nos próximos anos, é um dos grandes problemas do País. Se não tiver segurança jurídica, não existe investimento. Precisamos de qualquer candidato que garanta que as regras serão mantidas, sejam regras para as empresas ou contas nacionais.

A eleição é uma chance de termos mais estabilidade no País?

Sim. Tivemos muita instabilidade nos últimos anos também. Com muitas orientação em relação à política econômica, que seria mais no sentido liberal e depois teve momentos intervencionistas. Mas uma coisa que eu não tenho visto é uma movimentação em torno de novas candidaturas para Câmara e Senado. Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que anos atrás. Uma preocupação é com a pouca renovação que possamos vir a ter no Congresso nestas eleições, como consequência das regras que estabeleceram Fundos Eleitorais para os partidos. A outra é a falta de representatividade da sociedade no Poder Legislativo. Nós precisamos trazer cabeças mais jovens e mais conectadas com o momento que nós estamos vivendo.

Algumas discussões mais conservadoras pareciam estar superadas. Como o sr. vê o retorno delas à pauta?

No País, o presidente dá o tom. Por exemplo, o tom dado pelo executivo com relação à questão ambiental trouxe à tona discussões que, de certa maneira, já eram assunto resolvido. E isso inclusive vale para o voto eletrônico. Então, eu acho que, a depender de quem for eleito e o tom que dará ao mandato, alguns desses temas ficarão de fora e outros aparecerão. O Congresso até discute alguns desses temas, mas quem pauta é o Executivo.

Como está sendo a sua chegada à Natura?

Aceitar esse convite da Natura para assumir essa posição agora tem a ver com a minha convicção de que o modelo de negócios é vencedor. A Natura é uma referência de boas práticas para outras empresas. Nós somos um ícone nacional em sustentabilidade. Nós estamos neste momento em período de silêncio, então eu vou repetir o que eu disse na época do anúncio: minha ideia é preservar esse modelo com uma visão ampla em relação à questão da sustentabilidade. Dar autonomia, com responsabilidade, às várias unidades do negócio.

Depois de assinar a carta de apoio à democracia, na semana passada, o CEO da Natura & Co., Fábio Barbosa, afirmou ao Estadão que, entre os candidatos que lideram a corrida presidencial, ele prefere uma terceira via: a da senadora Simone Tebet (PMDB). Apesar de a candidata ainda ter poucas chances de eleição, segundo as pesquisas, ele acredita que existe uma pequena chance de “virar o jogo”. “Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança”, disse o executivo.

E ele diz que é preciso separar a extrema direita, conservadora na pauta de costumes e dada à polarização, e uma outra direita – aquela que defende o desenvolvimento da economia de mercado no País. “Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade”, disse Barbosa. “Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade (social), o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.”

Para além da polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo também defende que existe um desafio fundamental nas próximas eleições: a renovação do Congresso Nacional, que ele considera de baixa qualidade. O Legislativo, segundo ele, precisa de “cabeças mais jovens e conectadas com o momento” da sociedade. “Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que tinha anos atrás”, disse.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Sobre a carta pela democracia, o sr. acha que foi um posicionamento importante da sociedade, especialmente do empresariado?

Nos últimos anos nós vimos muitos questionamentos em relação à questão do sistema eleitoral e à aceitação do voto eletrônico. Isso é bastante preocupante porque, na medida em que esse pilar da democracia é questionado, abre-se um espaço para que o resultado seja contestado. A democracia tem como base o voto, e isso precisa ser respeitado. O questionamento do sistema eleitoral abre uma brecha muito perigosa para que se crie bagunça e tumultos. Por isso foi importante fazer um contraponto (por meio da carta). Existem aqueles que acham que o sistema é duvidoso e se manifestam. Mas não havia um manifesto tão grande por parte daqueles que acreditam que o sistema é confiável, sempre foi e de que não há evidências de que não seja. Por isso, foi muito importante ver essa movimentação na sociedade.

Por muito tempo o empresariado ficou muito quieto em relação às eleições. O senhor acha que isso ficou para atrás com as assinaturas nesse manifesto?

Quando o tom das críticas ao sistema eleitoral começou a subir, especialmente nos últimos meses, com a aproximação das eleições, o fato de que não houve nenhum relaxamento nessas críticas acendeu o alerta e ficou claro de que nós tínhamos um problema. Havia iniciativas por parte do empresariado e de economistas para fazer um documento a favor do sistema eleitoral, do voto eletrônico e da democracia. Mas chegou-se à conclusão de que, ao invés de fazer um novo, nós assinaríamos aquele do (movimento) 11 de Agosto, que já estava bem estruturado, com pessoas de todas as tendências políticas. Foi importante descaracterizar como um movimento de empresários e mostrar que era na verdade um movimento da sociedade.

Fábio Barbosa, hoje na Natura & Co., já passou por Santander e ABN Real Foto: Taba Benedicto/Estadão

Como o senhor tem avaliado a reação do presidente Jair Bolsonaro a essa movimentação do empresariado?

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista. Esse é um movimento de apoio “às regras do jogo”, seja qual for o resultado das eleições.

Alguns empresários tinham medo de assinar o manifesto e parecer que estavam apoiando um determinado candidato, no caso o ex-presidente Lula. O senhor acha que conseguiu se dissipar essa ideia?

Os candidatos Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet se manifestam fortemente a favor do respeito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral. Eu não esperava que (essa impressão) se dissipasse totalmente, mas nós conseguimos minimizar essa ideia de que se tratava de um apoio a um dos três ou quatro candidatos que fazem frente ao atual presidente.

Em relação à pauta ambiental, como o sr. tem avaliado os retrocessos em relação ao desmatamento ambiental?

O Brasil está perdendo uma oportunidade enorme de ser uma potência ambiental, mesmo tendo uma matriz energética das mais limpas do mundo. Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos. A nossa imagem fica feia, e não porque nós temos uma matriz energética ruim, mas porque não conseguimos controlar o desmatamento. Acho que o Brasil pode vir a perder esse mercado, assim como tem perdido investimentos.

Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos.”

Fábio Barbosa, presidente da Natura & Co.

A polarização nas eleições está tirando espaço da discussão sobre o crescimento econômico do País?

Eu não estou vendo propostas (efetivas) de nenhum dos dois lados que estão à frente nas pesquisas. Faço parte de um grupo de pessoas que apoiam a candidatura da Simone Tebet, não como uma ideia de terceira via, mas como um nome que tem uma visão sobre o desenvolvimento econômico. Existem outros candidatos que estão buscando colocar as propostas. Deve dizer que o Ciro Gomes também faz suas propostas, eu concordando ou não, mas ele tem.

A terceira via parece não ter decolado. Até quando é possível ter esperança de que decole?

Nossa expectativa continua a ser que a candidatura de Simone Tebet ganhe atração até 15 de agosto, quando efetivamente começa a campanha, para que ela possa apresentar as propostas. Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança.

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista.”

Fábio Barbosa

O sr. teve alguma conversa com o candidato Ciro Gomes?

Nós estamos atrás de alguém que nos traga esperança. Do grupo de empresários que eu participo, nós não tivemos conversa de nenhuma sorte com Ciro Gomes, porque ele trabalha em outra linha. A nossa linha é pela orientação econômica liberal. Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade. Eu, Simone Tebet e outras pessoas também queremos o bem da sociedade. Apenas entendemos que o caminho para se chegar a isso é um caminho em que você tem o investimento em educação e ciência. Com regras do jogo estáveis, com a busca de um ambiente favorável para que se crie empregos e a sociedade seja protagonista desse crescimento. Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade, o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.

O Brasil está à deriva? Não temos um plano de país?

Eu acho que nós não temos um plano de país com relação aos investimentos em educação e em ciência, que são portas para se resolver outros dos nossos problemas, como o de saúde. Acho também que o País não tem um plano para resolver a questão ambiental, em que poderia ser uma potência mundial. Além disso, as empresas estão buscando estabilidade. O que leva as empresas a investir é a confiança de que o amanhã será melhor. Essa instabilidade política, em relação ao que teremos nos próximos anos, é um dos grandes problemas do País. Se não tiver segurança jurídica, não existe investimento. Precisamos de qualquer candidato que garanta que as regras serão mantidas, sejam regras para as empresas ou contas nacionais.

A eleição é uma chance de termos mais estabilidade no País?

Sim. Tivemos muita instabilidade nos últimos anos também. Com muitas orientação em relação à política econômica, que seria mais no sentido liberal e depois teve momentos intervencionistas. Mas uma coisa que eu não tenho visto é uma movimentação em torno de novas candidaturas para Câmara e Senado. Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que anos atrás. Uma preocupação é com a pouca renovação que possamos vir a ter no Congresso nestas eleições, como consequência das regras que estabeleceram Fundos Eleitorais para os partidos. A outra é a falta de representatividade da sociedade no Poder Legislativo. Nós precisamos trazer cabeças mais jovens e mais conectadas com o momento que nós estamos vivendo.

Algumas discussões mais conservadoras pareciam estar superadas. Como o sr. vê o retorno delas à pauta?

No País, o presidente dá o tom. Por exemplo, o tom dado pelo executivo com relação à questão ambiental trouxe à tona discussões que, de certa maneira, já eram assunto resolvido. E isso inclusive vale para o voto eletrônico. Então, eu acho que, a depender de quem for eleito e o tom que dará ao mandato, alguns desses temas ficarão de fora e outros aparecerão. O Congresso até discute alguns desses temas, mas quem pauta é o Executivo.

Como está sendo a sua chegada à Natura?

Aceitar esse convite da Natura para assumir essa posição agora tem a ver com a minha convicção de que o modelo de negócios é vencedor. A Natura é uma referência de boas práticas para outras empresas. Nós somos um ícone nacional em sustentabilidade. Nós estamos neste momento em período de silêncio, então eu vou repetir o que eu disse na época do anúncio: minha ideia é preservar esse modelo com uma visão ampla em relação à questão da sustentabilidade. Dar autonomia, com responsabilidade, às várias unidades do negócio.

Depois de assinar a carta de apoio à democracia, na semana passada, o CEO da Natura & Co., Fábio Barbosa, afirmou ao Estadão que, entre os candidatos que lideram a corrida presidencial, ele prefere uma terceira via: a da senadora Simone Tebet (PMDB). Apesar de a candidata ainda ter poucas chances de eleição, segundo as pesquisas, ele acredita que existe uma pequena chance de “virar o jogo”. “Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança”, disse o executivo.

E ele diz que é preciso separar a extrema direita, conservadora na pauta de costumes e dada à polarização, e uma outra direita – aquela que defende o desenvolvimento da economia de mercado no País. “Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade”, disse Barbosa. “Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade (social), o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.”

Para além da polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo também defende que existe um desafio fundamental nas próximas eleições: a renovação do Congresso Nacional, que ele considera de baixa qualidade. O Legislativo, segundo ele, precisa de “cabeças mais jovens e conectadas com o momento” da sociedade. “Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que tinha anos atrás”, disse.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Sobre a carta pela democracia, o sr. acha que foi um posicionamento importante da sociedade, especialmente do empresariado?

Nos últimos anos nós vimos muitos questionamentos em relação à questão do sistema eleitoral e à aceitação do voto eletrônico. Isso é bastante preocupante porque, na medida em que esse pilar da democracia é questionado, abre-se um espaço para que o resultado seja contestado. A democracia tem como base o voto, e isso precisa ser respeitado. O questionamento do sistema eleitoral abre uma brecha muito perigosa para que se crie bagunça e tumultos. Por isso foi importante fazer um contraponto (por meio da carta). Existem aqueles que acham que o sistema é duvidoso e se manifestam. Mas não havia um manifesto tão grande por parte daqueles que acreditam que o sistema é confiável, sempre foi e de que não há evidências de que não seja. Por isso, foi muito importante ver essa movimentação na sociedade.

Por muito tempo o empresariado ficou muito quieto em relação às eleições. O senhor acha que isso ficou para atrás com as assinaturas nesse manifesto?

Quando o tom das críticas ao sistema eleitoral começou a subir, especialmente nos últimos meses, com a aproximação das eleições, o fato de que não houve nenhum relaxamento nessas críticas acendeu o alerta e ficou claro de que nós tínhamos um problema. Havia iniciativas por parte do empresariado e de economistas para fazer um documento a favor do sistema eleitoral, do voto eletrônico e da democracia. Mas chegou-se à conclusão de que, ao invés de fazer um novo, nós assinaríamos aquele do (movimento) 11 de Agosto, que já estava bem estruturado, com pessoas de todas as tendências políticas. Foi importante descaracterizar como um movimento de empresários e mostrar que era na verdade um movimento da sociedade.

Fábio Barbosa, hoje na Natura & Co., já passou por Santander e ABN Real Foto: Taba Benedicto/Estadão

Como o senhor tem avaliado a reação do presidente Jair Bolsonaro a essa movimentação do empresariado?

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista. Esse é um movimento de apoio “às regras do jogo”, seja qual for o resultado das eleições.

Alguns empresários tinham medo de assinar o manifesto e parecer que estavam apoiando um determinado candidato, no caso o ex-presidente Lula. O senhor acha que conseguiu se dissipar essa ideia?

Os candidatos Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet se manifestam fortemente a favor do respeito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral. Eu não esperava que (essa impressão) se dissipasse totalmente, mas nós conseguimos minimizar essa ideia de que se tratava de um apoio a um dos três ou quatro candidatos que fazem frente ao atual presidente.

Em relação à pauta ambiental, como o sr. tem avaliado os retrocessos em relação ao desmatamento ambiental?

O Brasil está perdendo uma oportunidade enorme de ser uma potência ambiental, mesmo tendo uma matriz energética das mais limpas do mundo. Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos. A nossa imagem fica feia, e não porque nós temos uma matriz energética ruim, mas porque não conseguimos controlar o desmatamento. Acho que o Brasil pode vir a perder esse mercado, assim como tem perdido investimentos.

Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos.”

Fábio Barbosa, presidente da Natura & Co.

A polarização nas eleições está tirando espaço da discussão sobre o crescimento econômico do País?

Eu não estou vendo propostas (efetivas) de nenhum dos dois lados que estão à frente nas pesquisas. Faço parte de um grupo de pessoas que apoiam a candidatura da Simone Tebet, não como uma ideia de terceira via, mas como um nome que tem uma visão sobre o desenvolvimento econômico. Existem outros candidatos que estão buscando colocar as propostas. Deve dizer que o Ciro Gomes também faz suas propostas, eu concordando ou não, mas ele tem.

A terceira via parece não ter decolado. Até quando é possível ter esperança de que decole?

Nossa expectativa continua a ser que a candidatura de Simone Tebet ganhe atração até 15 de agosto, quando efetivamente começa a campanha, para que ela possa apresentar as propostas. Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança.

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista.”

Fábio Barbosa

O sr. teve alguma conversa com o candidato Ciro Gomes?

Nós estamos atrás de alguém que nos traga esperança. Do grupo de empresários que eu participo, nós não tivemos conversa de nenhuma sorte com Ciro Gomes, porque ele trabalha em outra linha. A nossa linha é pela orientação econômica liberal. Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade. Eu, Simone Tebet e outras pessoas também queremos o bem da sociedade. Apenas entendemos que o caminho para se chegar a isso é um caminho em que você tem o investimento em educação e ciência. Com regras do jogo estáveis, com a busca de um ambiente favorável para que se crie empregos e a sociedade seja protagonista desse crescimento. Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade, o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.

O Brasil está à deriva? Não temos um plano de país?

Eu acho que nós não temos um plano de país com relação aos investimentos em educação e em ciência, que são portas para se resolver outros dos nossos problemas, como o de saúde. Acho também que o País não tem um plano para resolver a questão ambiental, em que poderia ser uma potência mundial. Além disso, as empresas estão buscando estabilidade. O que leva as empresas a investir é a confiança de que o amanhã será melhor. Essa instabilidade política, em relação ao que teremos nos próximos anos, é um dos grandes problemas do País. Se não tiver segurança jurídica, não existe investimento. Precisamos de qualquer candidato que garanta que as regras serão mantidas, sejam regras para as empresas ou contas nacionais.

A eleição é uma chance de termos mais estabilidade no País?

Sim. Tivemos muita instabilidade nos últimos anos também. Com muitas orientação em relação à política econômica, que seria mais no sentido liberal e depois teve momentos intervencionistas. Mas uma coisa que eu não tenho visto é uma movimentação em torno de novas candidaturas para Câmara e Senado. Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que anos atrás. Uma preocupação é com a pouca renovação que possamos vir a ter no Congresso nestas eleições, como consequência das regras que estabeleceram Fundos Eleitorais para os partidos. A outra é a falta de representatividade da sociedade no Poder Legislativo. Nós precisamos trazer cabeças mais jovens e mais conectadas com o momento que nós estamos vivendo.

Algumas discussões mais conservadoras pareciam estar superadas. Como o sr. vê o retorno delas à pauta?

No País, o presidente dá o tom. Por exemplo, o tom dado pelo executivo com relação à questão ambiental trouxe à tona discussões que, de certa maneira, já eram assunto resolvido. E isso inclusive vale para o voto eletrônico. Então, eu acho que, a depender de quem for eleito e o tom que dará ao mandato, alguns desses temas ficarão de fora e outros aparecerão. O Congresso até discute alguns desses temas, mas quem pauta é o Executivo.

Como está sendo a sua chegada à Natura?

Aceitar esse convite da Natura para assumir essa posição agora tem a ver com a minha convicção de que o modelo de negócios é vencedor. A Natura é uma referência de boas práticas para outras empresas. Nós somos um ícone nacional em sustentabilidade. Nós estamos neste momento em período de silêncio, então eu vou repetir o que eu disse na época do anúncio: minha ideia é preservar esse modelo com uma visão ampla em relação à questão da sustentabilidade. Dar autonomia, com responsabilidade, às várias unidades do negócio.

Depois de assinar a carta de apoio à democracia, na semana passada, o CEO da Natura & Co., Fábio Barbosa, afirmou ao Estadão que, entre os candidatos que lideram a corrida presidencial, ele prefere uma terceira via: a da senadora Simone Tebet (PMDB). Apesar de a candidata ainda ter poucas chances de eleição, segundo as pesquisas, ele acredita que existe uma pequena chance de “virar o jogo”. “Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança”, disse o executivo.

E ele diz que é preciso separar a extrema direita, conservadora na pauta de costumes e dada à polarização, e uma outra direita – aquela que defende o desenvolvimento da economia de mercado no País. “Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade”, disse Barbosa. “Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade (social), o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.”

Para além da polarização entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, o executivo também defende que existe um desafio fundamental nas próximas eleições: a renovação do Congresso Nacional, que ele considera de baixa qualidade. O Legislativo, segundo ele, precisa de “cabeças mais jovens e conectadas com o momento” da sociedade. “Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que tinha anos atrás”, disse.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Sobre a carta pela democracia, o sr. acha que foi um posicionamento importante da sociedade, especialmente do empresariado?

Nos últimos anos nós vimos muitos questionamentos em relação à questão do sistema eleitoral e à aceitação do voto eletrônico. Isso é bastante preocupante porque, na medida em que esse pilar da democracia é questionado, abre-se um espaço para que o resultado seja contestado. A democracia tem como base o voto, e isso precisa ser respeitado. O questionamento do sistema eleitoral abre uma brecha muito perigosa para que se crie bagunça e tumultos. Por isso foi importante fazer um contraponto (por meio da carta). Existem aqueles que acham que o sistema é duvidoso e se manifestam. Mas não havia um manifesto tão grande por parte daqueles que acreditam que o sistema é confiável, sempre foi e de que não há evidências de que não seja. Por isso, foi muito importante ver essa movimentação na sociedade.

Por muito tempo o empresariado ficou muito quieto em relação às eleições. O senhor acha que isso ficou para atrás com as assinaturas nesse manifesto?

Quando o tom das críticas ao sistema eleitoral começou a subir, especialmente nos últimos meses, com a aproximação das eleições, o fato de que não houve nenhum relaxamento nessas críticas acendeu o alerta e ficou claro de que nós tínhamos um problema. Havia iniciativas por parte do empresariado e de economistas para fazer um documento a favor do sistema eleitoral, do voto eletrônico e da democracia. Mas chegou-se à conclusão de que, ao invés de fazer um novo, nós assinaríamos aquele do (movimento) 11 de Agosto, que já estava bem estruturado, com pessoas de todas as tendências políticas. Foi importante descaracterizar como um movimento de empresários e mostrar que era na verdade um movimento da sociedade.

Fábio Barbosa, hoje na Natura & Co., já passou por Santander e ABN Real Foto: Taba Benedicto/Estadão

Como o senhor tem avaliado a reação do presidente Jair Bolsonaro a essa movimentação do empresariado?

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista. Esse é um movimento de apoio “às regras do jogo”, seja qual for o resultado das eleições.

Alguns empresários tinham medo de assinar o manifesto e parecer que estavam apoiando um determinado candidato, no caso o ex-presidente Lula. O senhor acha que conseguiu se dissipar essa ideia?

Os candidatos Lula, Ciro Gomes e Simone Tebet se manifestam fortemente a favor do respeito às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral. Eu não esperava que (essa impressão) se dissipasse totalmente, mas nós conseguimos minimizar essa ideia de que se tratava de um apoio a um dos três ou quatro candidatos que fazem frente ao atual presidente.

Em relação à pauta ambiental, como o sr. tem avaliado os retrocessos em relação ao desmatamento ambiental?

O Brasil está perdendo uma oportunidade enorme de ser uma potência ambiental, mesmo tendo uma matriz energética das mais limpas do mundo. Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos. A nossa imagem fica feia, e não porque nós temos uma matriz energética ruim, mas porque não conseguimos controlar o desmatamento. Acho que o Brasil pode vir a perder esse mercado, assim como tem perdido investimentos.

Temos um potencial de geração de créditos de carbono que são demandados no mercado internacional. Acho que o Brasil está perdendo duas vezes. Primeiro, pela negação dos problemas ambientais, haja vista o que acontece mundo afora e até mesmo aqui. Segundo, porque a imagem do País fica muito prejudicada, atrapalha as exportações e os investimentos.”

Fábio Barbosa, presidente da Natura & Co.

A polarização nas eleições está tirando espaço da discussão sobre o crescimento econômico do País?

Eu não estou vendo propostas (efetivas) de nenhum dos dois lados que estão à frente nas pesquisas. Faço parte de um grupo de pessoas que apoiam a candidatura da Simone Tebet, não como uma ideia de terceira via, mas como um nome que tem uma visão sobre o desenvolvimento econômico. Existem outros candidatos que estão buscando colocar as propostas. Deve dizer que o Ciro Gomes também faz suas propostas, eu concordando ou não, mas ele tem.

A terceira via parece não ter decolado. Até quando é possível ter esperança de que decole?

Nossa expectativa continua a ser que a candidatura de Simone Tebet ganhe atração até 15 de agosto, quando efetivamente começa a campanha, para que ela possa apresentar as propostas. Eu faço parte desse grupo de pessoas que busca uma alternativa que nos traga esperança.

O importante para nós, que assinamos o manifesto, é que ele não passasse desapercebido. Eu acho que ele é relevante, e com isso, é natural ter reações (negativas) por parte daqueles que defendem outro ponto de vista.”

Fábio Barbosa

O sr. teve alguma conversa com o candidato Ciro Gomes?

Nós estamos atrás de alguém que nos traga esperança. Do grupo de empresários que eu participo, nós não tivemos conversa de nenhuma sorte com Ciro Gomes, porque ele trabalha em outra linha. A nossa linha é pela orientação econômica liberal. Eu faço muita crítica ao pessoal da esquerda, dizendo que eles não têm o monopólio de querer o bem da sociedade. Eu, Simone Tebet e outras pessoas também queremos o bem da sociedade. Apenas entendemos que o caminho para se chegar a isso é um caminho em que você tem o investimento em educação e ciência. Com regras do jogo estáveis, com a busca de um ambiente favorável para que se crie empregos e a sociedade seja protagonista desse crescimento. Eu me incomodo muito com a crítica de que pessoas de direita, no sentido da orientação econômica, não têm sensibilidade, o que não é verdade. Eu entendo que o melhor caminho para o País é o de uma sociedade aberta, com empresas criando emprego, e o governo trazendo ciência e educação.

O Brasil está à deriva? Não temos um plano de país?

Eu acho que nós não temos um plano de país com relação aos investimentos em educação e em ciência, que são portas para se resolver outros dos nossos problemas, como o de saúde. Acho também que o País não tem um plano para resolver a questão ambiental, em que poderia ser uma potência mundial. Além disso, as empresas estão buscando estabilidade. O que leva as empresas a investir é a confiança de que o amanhã será melhor. Essa instabilidade política, em relação ao que teremos nos próximos anos, é um dos grandes problemas do País. Se não tiver segurança jurídica, não existe investimento. Precisamos de qualquer candidato que garanta que as regras serão mantidas, sejam regras para as empresas ou contas nacionais.

A eleição é uma chance de termos mais estabilidade no País?

Sim. Tivemos muita instabilidade nos últimos anos também. Com muitas orientação em relação à política econômica, que seria mais no sentido liberal e depois teve momentos intervencionistas. Mas uma coisa que eu não tenho visto é uma movimentação em torno de novas candidaturas para Câmara e Senado. Tem uma juventude muito boa, com novos nomes se propondo a trabalhar na política. Nós precisamos qualificar o Congresso, porque hoje ele tem muito mais poder do que anos atrás. Uma preocupação é com a pouca renovação que possamos vir a ter no Congresso nestas eleições, como consequência das regras que estabeleceram Fundos Eleitorais para os partidos. A outra é a falta de representatividade da sociedade no Poder Legislativo. Nós precisamos trazer cabeças mais jovens e mais conectadas com o momento que nós estamos vivendo.

Algumas discussões mais conservadoras pareciam estar superadas. Como o sr. vê o retorno delas à pauta?

No País, o presidente dá o tom. Por exemplo, o tom dado pelo executivo com relação à questão ambiental trouxe à tona discussões que, de certa maneira, já eram assunto resolvido. E isso inclusive vale para o voto eletrônico. Então, eu acho que, a depender de quem for eleito e o tom que dará ao mandato, alguns desses temas ficarão de fora e outros aparecerão. O Congresso até discute alguns desses temas, mas quem pauta é o Executivo.

Como está sendo a sua chegada à Natura?

Aceitar esse convite da Natura para assumir essa posição agora tem a ver com a minha convicção de que o modelo de negócios é vencedor. A Natura é uma referência de boas práticas para outras empresas. Nós somos um ícone nacional em sustentabilidade. Nós estamos neste momento em período de silêncio, então eu vou repetir o que eu disse na época do anúncio: minha ideia é preservar esse modelo com uma visão ampla em relação à questão da sustentabilidade. Dar autonomia, com responsabilidade, às várias unidades do negócio.

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