Vou compartilhar aqui o raciocínio que me leva a supor que está se aproximando o momento em que o Banco Central terá que reduzir o ritmo de redução dos juros em alguma das próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Vejamos os condicionantes que guiam a postura de quem está na instituição, tendo passado por essa função nos últimos anos:
a) A inflação ficou muito acima do teto da “banda de tolerância” em 2021 e 2022, e deve ficar dentro da banda, mas próxima do teto, em 2023. Para o prestígio da autoridade monetária, é importante dar sinais claros de que o País está se encaminhando rumo ao cumprimento da meta de 3%;
b) A perspectiva de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na faixa entre 1,5% e 2,0% em 2024, depois de três anos de um bom crescimento e mantida a redução do desemprego e a inflação baixa, pode não ser um cenário de sonhos, mas está longe de indicar um ano desastroso;
c) O nível das taxas internacionais é um limitador dos movimentos do Copom, de modo que ele não pode ser insensível ao fato de a taxa de juros nominal de 10 anos nos Estados Unidos, que no começo de 2023 estava em 3,6%, estar em torno de 4,5% hoje.
Em tais circunstâncias, se a Selic, ao chegar a 10,75% em março e, em vez de cair 50 pontos, passar a diminuir 25 pontos em cada um dos encontros do Copom de maio até dezembro, cederia a 10,5% em maio e, mantido o novo ritmo, cairia até 9,25% em dezembro. Se, nesse contexto, em 2024, a inflação ficar contida no intervalo entre 3,5% e 4,0%, depois de ter sido de 10,1% em 2021, de 5,8% em 2022 e de perto de 4,5% em 2023, o Banco Central do Brasil (Bacen) poderia exibir uma inflação que, mesmo não estando na meta, implicaria a firme perspectiva de alcançar a meta em 2025.
Não há razões para testar o limite inferior dos juros no processo de desinflação em 2024, quando, primeiro, a desinflação ainda não terá acabado; e, segundo, em janeiro de 2025, haverá “troca de guarda” no Banco Central e o novo presidente da instituição terá que mostrar a que veio. Há muita gente que suspeita que o órgão sob Lula da Silva teria uma restrição a elevar juros em época eleitoral. Portanto, é melhor conservar uma “gordura” na taxa em dezembro de 2024 em vez de “queimá-la” ano que vem e gerar um estresse desnecessário, com uma Selic muito baixa em dezembro que se revele não condizente com as perspectivas para 2025. Uma estratégia de quedas pequenas nas reuniões do Copom de maio em diante é a melhor estratégia. Depois se verá o que o “BC do Lula” faz. A cada a dia, a sua agonia.