Opinião|Um governo colibri: muita agitação, mas nada saía do lugar


Quando se trata de discutir corte de gastos, ação do Ministério da Fazenda estava limitada

Por Fabio Giambiagi

Todos os leitores já viram um colibri. Vou explicar depois porque lembrei desse pássaro para o título deste texto. Uma simples googlada no noticiário expõe as idas e vindas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com sua ação limitada pelos Tonton Macoutes (e tontona macoutas) do seu próprio partido. Em maio, o ministro recomendou ler um artigo de Bráulio Borges, no que foi interpretado como uma defesa da desvinculação do piso previdenciário em relação ao salário mínimo. Era uma boa sugestão, não fosse o fato de que, após um evidente “freio de mão” do presidente, se deu o dito pelo não dito e se esclareceu que a proposta “não estava nas prioridades” – que o mesmo governo tinha sugerido.

Um mês depois, Haddad tentou ser mais específico e disse que “a agenda de revisão de gastos vem ganhando ao longo do tempo tração cada vez maior”.

Em agosto, defrontado com as evidências de que em 12 meses o auxílio-doença estava crescendo mais de 50% e os benefícios do Benefício de Prestação Continuada (BPC) mais de 10%, o que se defendeu foi a realização de um “pente-fino” nessas despesas. Finalmente, em setembro, já convertido em personagem de um drama shakespeariano, insistiu que “é necessário discutir o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias”.

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Lembremos: a receita da União em 2023 foi de 21,7% do PIB, nos últimos 12 meses escalou para 22,4% do PIB e o governo cogita elevar a variável mais ainda – algo correto, não fosse o fato de que o propósito é apenas, mais uma vez, financiar o aumento da despesa. Em outras palavras, quando se trata de aumentar a receita, o governo mostrou a agilidade de um leopardo. Já quando se trata de discutir o corte de gastos, em matéria de propostas, até agora era um governo colibri: havia muita agitação no ar, mas nada saía do lugar.

Haddad fala de corte de gastos há meses, mas apenas nas últimas semanas a agenda avançou Foto: Wilton Junior / Estadão

Agora, o governo diz que vai se mexer para conter a despesa. A ver. Há algo de profundamente errado com a condução da política fiscal num país em que o governo comanda um condomínio de partidos que juntos têm dois terços do Congresso e não consegue evitar que o gasto público aumente como proporção do PIB com a economia crescendo 3% ao ano no último biênio.

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Aqui ao lado, sem entrar no mérito acerca do que foi feito, Javier Milei, com apenas 38 deputados em 257, fez um ajuste de 4% do PIB com a economia caindo mais de 3%. À luz dessas evidências, é inevitável concluir que, no Brasil, a resistência ao corte do gasto não está apenas no Congresso: está, principalmente, no presidente da República.

Todos os leitores já viram um colibri. Vou explicar depois porque lembrei desse pássaro para o título deste texto. Uma simples googlada no noticiário expõe as idas e vindas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com sua ação limitada pelos Tonton Macoutes (e tontona macoutas) do seu próprio partido. Em maio, o ministro recomendou ler um artigo de Bráulio Borges, no que foi interpretado como uma defesa da desvinculação do piso previdenciário em relação ao salário mínimo. Era uma boa sugestão, não fosse o fato de que, após um evidente “freio de mão” do presidente, se deu o dito pelo não dito e se esclareceu que a proposta “não estava nas prioridades” – que o mesmo governo tinha sugerido.

Um mês depois, Haddad tentou ser mais específico e disse que “a agenda de revisão de gastos vem ganhando ao longo do tempo tração cada vez maior”.

Em agosto, defrontado com as evidências de que em 12 meses o auxílio-doença estava crescendo mais de 50% e os benefícios do Benefício de Prestação Continuada (BPC) mais de 10%, o que se defendeu foi a realização de um “pente-fino” nessas despesas. Finalmente, em setembro, já convertido em personagem de um drama shakespeariano, insistiu que “é necessário discutir o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias”.

Lembremos: a receita da União em 2023 foi de 21,7% do PIB, nos últimos 12 meses escalou para 22,4% do PIB e o governo cogita elevar a variável mais ainda – algo correto, não fosse o fato de que o propósito é apenas, mais uma vez, financiar o aumento da despesa. Em outras palavras, quando se trata de aumentar a receita, o governo mostrou a agilidade de um leopardo. Já quando se trata de discutir o corte de gastos, em matéria de propostas, até agora era um governo colibri: havia muita agitação no ar, mas nada saía do lugar.

Haddad fala de corte de gastos há meses, mas apenas nas últimas semanas a agenda avançou Foto: Wilton Junior / Estadão

Agora, o governo diz que vai se mexer para conter a despesa. A ver. Há algo de profundamente errado com a condução da política fiscal num país em que o governo comanda um condomínio de partidos que juntos têm dois terços do Congresso e não consegue evitar que o gasto público aumente como proporção do PIB com a economia crescendo 3% ao ano no último biênio.

Aqui ao lado, sem entrar no mérito acerca do que foi feito, Javier Milei, com apenas 38 deputados em 257, fez um ajuste de 4% do PIB com a economia caindo mais de 3%. À luz dessas evidências, é inevitável concluir que, no Brasil, a resistência ao corte do gasto não está apenas no Congresso: está, principalmente, no presidente da República.

Todos os leitores já viram um colibri. Vou explicar depois porque lembrei desse pássaro para o título deste texto. Uma simples googlada no noticiário expõe as idas e vindas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com sua ação limitada pelos Tonton Macoutes (e tontona macoutas) do seu próprio partido. Em maio, o ministro recomendou ler um artigo de Bráulio Borges, no que foi interpretado como uma defesa da desvinculação do piso previdenciário em relação ao salário mínimo. Era uma boa sugestão, não fosse o fato de que, após um evidente “freio de mão” do presidente, se deu o dito pelo não dito e se esclareceu que a proposta “não estava nas prioridades” – que o mesmo governo tinha sugerido.

Um mês depois, Haddad tentou ser mais específico e disse que “a agenda de revisão de gastos vem ganhando ao longo do tempo tração cada vez maior”.

Em agosto, defrontado com as evidências de que em 12 meses o auxílio-doença estava crescendo mais de 50% e os benefícios do Benefício de Prestação Continuada (BPC) mais de 10%, o que se defendeu foi a realização de um “pente-fino” nessas despesas. Finalmente, em setembro, já convertido em personagem de um drama shakespeariano, insistiu que “é necessário discutir o ritmo de crescimento das despesas obrigatórias”.

Lembremos: a receita da União em 2023 foi de 21,7% do PIB, nos últimos 12 meses escalou para 22,4% do PIB e o governo cogita elevar a variável mais ainda – algo correto, não fosse o fato de que o propósito é apenas, mais uma vez, financiar o aumento da despesa. Em outras palavras, quando se trata de aumentar a receita, o governo mostrou a agilidade de um leopardo. Já quando se trata de discutir o corte de gastos, em matéria de propostas, até agora era um governo colibri: havia muita agitação no ar, mas nada saía do lugar.

Haddad fala de corte de gastos há meses, mas apenas nas últimas semanas a agenda avançou Foto: Wilton Junior / Estadão

Agora, o governo diz que vai se mexer para conter a despesa. A ver. Há algo de profundamente errado com a condução da política fiscal num país em que o governo comanda um condomínio de partidos que juntos têm dois terços do Congresso e não consegue evitar que o gasto público aumente como proporção do PIB com a economia crescendo 3% ao ano no último biênio.

Aqui ao lado, sem entrar no mérito acerca do que foi feito, Javier Milei, com apenas 38 deputados em 257, fez um ajuste de 4% do PIB com a economia caindo mais de 3%. À luz dessas evidências, é inevitável concluir que, no Brasil, a resistência ao corte do gasto não está apenas no Congresso: está, principalmente, no presidente da República.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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