Opinião|País nunca mais deveria assistir a um espetáculo deprimente como o que se tentou encenar em 2022


É espantoso que não haja uma condenação clara às barbaridades perpetradas por aqueles que, sem sombra de dúvida, tramaram um golpe de Estado

Por Fabio Giambiagi

Há algo realmente muito errado com o Brasil. O contexto histórico da época (o que os alemães chamam de zeitgeist), marcado por diversos escândalos, explica que em 2018 o País tenha escolhido um presidente como Jair Bolsonaro. É espantoso, porém, para uma nação que pretenda se definir como tal, seguindo as palavras de Ortega y Gasset (“uma nação é um projeto de vida em comum”), que não haja uma condenação clara às barbaridades perpetradas por aqueles que, sem sombra de dúvida, tramaram um golpe de Estado na transição entre 2022 e 2023.

O filósofo José Ingenieros, no seu magnífico El Hombre Mediocre, publicado em 1913, qualifica a mediocridade como uma “incapacidade de ideais”, definindo idealistas como aqueles “dispostos a emancipar-se do seu rebanho, procurando uma perfeição que vá além do atual”, reconhecendo que “a humanidade não chega aonde desejam os idealistas, mas sempre chega além de onde teria ido sem os seus esforços”.

Ele marca a devida distinção entre o que se espera de quem tem o dom de se destacar e aqueles que apenas copiam o que entendem que os outros esperam que seja feito, ao afirmar que “a personalidade individual começa no ponto preciso onde cada um se diferencia dos outros”.

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Na definição do arquétipo que dá nome ao livro, ele escreve que “o homem medíocre está adaptado para viver em rebanho; sua característica é imitar aqueles que o cercam: pensar com cabeça alheia e ser incapaz de formar ideais próprios”.

Bolsonaro está sendo investigado por participação na tentativa de golpe de Estado que visava mantê-lo no cargo Foto: Wilton Junior / Estadão

Ora, o papel de liderança vai muito além de apenas agir da forma que parte da população espera que o político atue, e sim implica definir um rumo, com base em valores que deveriam ser inegociáveis. É isso o que se deveria esperar de lideranças: que sinalizem claramente que nunca mais o País deveria assistir a um espetáculo deprimente como o que, desde os mais altos escalões da República, se tentou encenar em 2022.

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Por uma ironia, a divulgação desses fatos se deu quando eu estava lendo o livro de Henry Kissinger Liderança. O contraste entre a coragem do general Charles de Gaulle – quando, praticamente sozinho, baseado no que Kissinger descreve como o “senso nato de autoridade pessoal” de um “brigadeiro sem um tostão, exilado numa terra cuja língua não conhecia”, lançou as bases da Resistência Francesa – e a atitude dócil dos nossos “caballeros de la triste figura”, curvando-se diante do chefe quando estava se tramando uma atrocidade institucional, é a expressão de um país aviltado. Pobre Brasil.

Há algo realmente muito errado com o Brasil. O contexto histórico da época (o que os alemães chamam de zeitgeist), marcado por diversos escândalos, explica que em 2018 o País tenha escolhido um presidente como Jair Bolsonaro. É espantoso, porém, para uma nação que pretenda se definir como tal, seguindo as palavras de Ortega y Gasset (“uma nação é um projeto de vida em comum”), que não haja uma condenação clara às barbaridades perpetradas por aqueles que, sem sombra de dúvida, tramaram um golpe de Estado na transição entre 2022 e 2023.

O filósofo José Ingenieros, no seu magnífico El Hombre Mediocre, publicado em 1913, qualifica a mediocridade como uma “incapacidade de ideais”, definindo idealistas como aqueles “dispostos a emancipar-se do seu rebanho, procurando uma perfeição que vá além do atual”, reconhecendo que “a humanidade não chega aonde desejam os idealistas, mas sempre chega além de onde teria ido sem os seus esforços”.

Ele marca a devida distinção entre o que se espera de quem tem o dom de se destacar e aqueles que apenas copiam o que entendem que os outros esperam que seja feito, ao afirmar que “a personalidade individual começa no ponto preciso onde cada um se diferencia dos outros”.

Na definição do arquétipo que dá nome ao livro, ele escreve que “o homem medíocre está adaptado para viver em rebanho; sua característica é imitar aqueles que o cercam: pensar com cabeça alheia e ser incapaz de formar ideais próprios”.

Bolsonaro está sendo investigado por participação na tentativa de golpe de Estado que visava mantê-lo no cargo Foto: Wilton Junior / Estadão

Ora, o papel de liderança vai muito além de apenas agir da forma que parte da população espera que o político atue, e sim implica definir um rumo, com base em valores que deveriam ser inegociáveis. É isso o que se deveria esperar de lideranças: que sinalizem claramente que nunca mais o País deveria assistir a um espetáculo deprimente como o que, desde os mais altos escalões da República, se tentou encenar em 2022.

Por uma ironia, a divulgação desses fatos se deu quando eu estava lendo o livro de Henry Kissinger Liderança. O contraste entre a coragem do general Charles de Gaulle – quando, praticamente sozinho, baseado no que Kissinger descreve como o “senso nato de autoridade pessoal” de um “brigadeiro sem um tostão, exilado numa terra cuja língua não conhecia”, lançou as bases da Resistência Francesa – e a atitude dócil dos nossos “caballeros de la triste figura”, curvando-se diante do chefe quando estava se tramando uma atrocidade institucional, é a expressão de um país aviltado. Pobre Brasil.

Há algo realmente muito errado com o Brasil. O contexto histórico da época (o que os alemães chamam de zeitgeist), marcado por diversos escândalos, explica que em 2018 o País tenha escolhido um presidente como Jair Bolsonaro. É espantoso, porém, para uma nação que pretenda se definir como tal, seguindo as palavras de Ortega y Gasset (“uma nação é um projeto de vida em comum”), que não haja uma condenação clara às barbaridades perpetradas por aqueles que, sem sombra de dúvida, tramaram um golpe de Estado na transição entre 2022 e 2023.

O filósofo José Ingenieros, no seu magnífico El Hombre Mediocre, publicado em 1913, qualifica a mediocridade como uma “incapacidade de ideais”, definindo idealistas como aqueles “dispostos a emancipar-se do seu rebanho, procurando uma perfeição que vá além do atual”, reconhecendo que “a humanidade não chega aonde desejam os idealistas, mas sempre chega além de onde teria ido sem os seus esforços”.

Ele marca a devida distinção entre o que se espera de quem tem o dom de se destacar e aqueles que apenas copiam o que entendem que os outros esperam que seja feito, ao afirmar que “a personalidade individual começa no ponto preciso onde cada um se diferencia dos outros”.

Na definição do arquétipo que dá nome ao livro, ele escreve que “o homem medíocre está adaptado para viver em rebanho; sua característica é imitar aqueles que o cercam: pensar com cabeça alheia e ser incapaz de formar ideais próprios”.

Bolsonaro está sendo investigado por participação na tentativa de golpe de Estado que visava mantê-lo no cargo Foto: Wilton Junior / Estadão

Ora, o papel de liderança vai muito além de apenas agir da forma que parte da população espera que o político atue, e sim implica definir um rumo, com base em valores que deveriam ser inegociáveis. É isso o que se deveria esperar de lideranças: que sinalizem claramente que nunca mais o País deveria assistir a um espetáculo deprimente como o que, desde os mais altos escalões da República, se tentou encenar em 2022.

Por uma ironia, a divulgação desses fatos se deu quando eu estava lendo o livro de Henry Kissinger Liderança. O contraste entre a coragem do general Charles de Gaulle – quando, praticamente sozinho, baseado no que Kissinger descreve como o “senso nato de autoridade pessoal” de um “brigadeiro sem um tostão, exilado numa terra cuja língua não conhecia”, lançou as bases da Resistência Francesa – e a atitude dócil dos nossos “caballeros de la triste figura”, curvando-se diante do chefe quando estava se tramando uma atrocidade institucional, é a expressão de um país aviltado. Pobre Brasil.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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