Opinião|Políticas sociais devem ser precisas e submetidas ao crivo de especialistas, o resto é torcida


Como é possível que, com um desemprego muito menor e indicadores positivos, em 2022 o Brasil tenha passado a ter 33 milhões de famintos?

Por Fabio Giambiagi
Atualização:

A taxa de desemprego no Brasil em 2018 era de 12% e a da subutilização de mão de obra, de 24%. E, apesar dos números elevados, não se falava em fome. Em 2022, essas taxas caíram para 9% e 21%, respectivamente. Em 2018, nosso índice de Gini da distribuição do rendimento domiciliar per capita era de 0,55. E ninguém falava em fome. Em 2021, ele tinha caído para 0,54.

O IBGE publica a Síntese de Indicadores Sociais (SIS). “Pobreza extrema” e “pobreza” podem ser medidos olhando para esses indicadores. A proporção de pessoas por classe de rendimento domiciliar per capita com menos de US$ 1,9 diário pela Paridade do Poder de Compra (PPC) aumentou de 4,7% em 2014 para 6,8% em 2018. E ninguém falava em fome.

Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 5,7%. Já a proporção de pessoas com menos de US$ 3,2 diários medidos por PPC aumentou de 10,3% em 2014 para 13,0% em 2018. E a palavra “fome” continuou ausente nos jornais. Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 10,6%. Em 2021, aumentou, mas com certeza em 2022 terá caído novamente, pela expansão do Auxílio Brasil.

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Parece claro que o número de que existem “33 milhões de famintos” no País foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais Foto: Werther Santana/Estadão

Convido o leitor a fazer o seguinte raciocínio: como é possível que, com um desemprego muito menor e indicadores distributivos que, pelas mensurações do IBGE, mostrariam uma melhora, em 2022 no Brasil se tenha passado de repente a falar de 33 milhões de famintos?

Em parte, isso decorre de entender “fome” como sinônimo de “insegurança alimentar”. Em parte, também, a resposta é clara: “viés”. Muitos leitores devem ter visto no YouTube um vídeo de Lula, de 2014, em que ele diz: “Estava debatendo eu (...) e o Jaime Lerner em Paris. Eu estava dizendo ‘porque no Brasil tem 25 milhões de crianças de rua’ e era aplaudido calorosamente pelos franceses. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner falou assim para mim: ‘Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, porque senão a gente não conseguiria andar nas ruas’.”. Analogamente me parece claro que o número de “33 milhões de famintos” foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais.

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É óbvio que os R$ 600 do Auxílio Brasil devem ser mantidos. De qualquer forma, ao contrário do que muitas vezes se tende a pensar, o Brasil gasta uma enormidade de recursos com políticas sociais. Por isso, a precisão é chave em se tratando de políticas públicas. Séries históricas, submetidas ao crivo de especialistas, são fundamentais para desenhar bons programas sociais. O resto é torcida.

A taxa de desemprego no Brasil em 2018 era de 12% e a da subutilização de mão de obra, de 24%. E, apesar dos números elevados, não se falava em fome. Em 2022, essas taxas caíram para 9% e 21%, respectivamente. Em 2018, nosso índice de Gini da distribuição do rendimento domiciliar per capita era de 0,55. E ninguém falava em fome. Em 2021, ele tinha caído para 0,54.

O IBGE publica a Síntese de Indicadores Sociais (SIS). “Pobreza extrema” e “pobreza” podem ser medidos olhando para esses indicadores. A proporção de pessoas por classe de rendimento domiciliar per capita com menos de US$ 1,9 diário pela Paridade do Poder de Compra (PPC) aumentou de 4,7% em 2014 para 6,8% em 2018. E ninguém falava em fome.

Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 5,7%. Já a proporção de pessoas com menos de US$ 3,2 diários medidos por PPC aumentou de 10,3% em 2014 para 13,0% em 2018. E a palavra “fome” continuou ausente nos jornais. Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 10,6%. Em 2021, aumentou, mas com certeza em 2022 terá caído novamente, pela expansão do Auxílio Brasil.

Parece claro que o número de que existem “33 milhões de famintos” no País foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais Foto: Werther Santana/Estadão

Convido o leitor a fazer o seguinte raciocínio: como é possível que, com um desemprego muito menor e indicadores distributivos que, pelas mensurações do IBGE, mostrariam uma melhora, em 2022 no Brasil se tenha passado de repente a falar de 33 milhões de famintos?

Em parte, isso decorre de entender “fome” como sinônimo de “insegurança alimentar”. Em parte, também, a resposta é clara: “viés”. Muitos leitores devem ter visto no YouTube um vídeo de Lula, de 2014, em que ele diz: “Estava debatendo eu (...) e o Jaime Lerner em Paris. Eu estava dizendo ‘porque no Brasil tem 25 milhões de crianças de rua’ e era aplaudido calorosamente pelos franceses. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner falou assim para mim: ‘Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, porque senão a gente não conseguiria andar nas ruas’.”. Analogamente me parece claro que o número de “33 milhões de famintos” foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais.

É óbvio que os R$ 600 do Auxílio Brasil devem ser mantidos. De qualquer forma, ao contrário do que muitas vezes se tende a pensar, o Brasil gasta uma enormidade de recursos com políticas sociais. Por isso, a precisão é chave em se tratando de políticas públicas. Séries históricas, submetidas ao crivo de especialistas, são fundamentais para desenhar bons programas sociais. O resto é torcida.

A taxa de desemprego no Brasil em 2018 era de 12% e a da subutilização de mão de obra, de 24%. E, apesar dos números elevados, não se falava em fome. Em 2022, essas taxas caíram para 9% e 21%, respectivamente. Em 2018, nosso índice de Gini da distribuição do rendimento domiciliar per capita era de 0,55. E ninguém falava em fome. Em 2021, ele tinha caído para 0,54.

O IBGE publica a Síntese de Indicadores Sociais (SIS). “Pobreza extrema” e “pobreza” podem ser medidos olhando para esses indicadores. A proporção de pessoas por classe de rendimento domiciliar per capita com menos de US$ 1,9 diário pela Paridade do Poder de Compra (PPC) aumentou de 4,7% em 2014 para 6,8% em 2018. E ninguém falava em fome.

Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 5,7%. Já a proporção de pessoas com menos de US$ 3,2 diários medidos por PPC aumentou de 10,3% em 2014 para 13,0% em 2018. E a palavra “fome” continuou ausente nos jornais. Depois, entre 2018 e 2020, caiu para 10,6%. Em 2021, aumentou, mas com certeza em 2022 terá caído novamente, pela expansão do Auxílio Brasil.

Parece claro que o número de que existem “33 milhões de famintos” no País foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais Foto: Werther Santana/Estadão

Convido o leitor a fazer o seguinte raciocínio: como é possível que, com um desemprego muito menor e indicadores distributivos que, pelas mensurações do IBGE, mostrariam uma melhora, em 2022 no Brasil se tenha passado de repente a falar de 33 milhões de famintos?

Em parte, isso decorre de entender “fome” como sinônimo de “insegurança alimentar”. Em parte, também, a resposta é clara: “viés”. Muitos leitores devem ter visto no YouTube um vídeo de Lula, de 2014, em que ele diz: “Estava debatendo eu (...) e o Jaime Lerner em Paris. Eu estava dizendo ‘porque no Brasil tem 25 milhões de crianças de rua’ e era aplaudido calorosamente pelos franceses. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner falou assim para mim: ‘Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, porque senão a gente não conseguiria andar nas ruas’.”. Analogamente me parece claro que o número de “33 milhões de famintos” foi exposto intensamente pelo PT em 2022 com objetivos eleitorais.

É óbvio que os R$ 600 do Auxílio Brasil devem ser mantidos. De qualquer forma, ao contrário do que muitas vezes se tende a pensar, o Brasil gasta uma enormidade de recursos com políticas sociais. Por isso, a precisão é chave em se tratando de políticas públicas. Séries históricas, submetidas ao crivo de especialistas, são fundamentais para desenhar bons programas sociais. O resto é torcida.

Opinião por Fabio Giambiagi

Economista, formado pela FEA/UFRJ, com mestrado no Instituto de Economia Industrial da UFRJ

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