Congresso dos EUA investiga fábrica de bancos de couro para carros por supostos crimes na Amazônia


Comissão do Senado americano pede à maior fornecedora de assentos em couro do mundo que explique relação com empresas suspeitas de envolvimento com desmatamento e trabalho forçado no Brasil

Por Evan Halper

THE WASHINGTON POST - Uma fabricante de assentos de couro para algumas das maiores montadoras do mundo é o mais recente alvo das investigações do Congresso dos Estados Unidos sobre crimes ambientais e violações de direitos humanos nas cadeias de suprimentos que abastecem a produção de carros e SUVs.

O presidente da Comissão de Finanças do Senado dos EUA, o democrata Ron Wyden, enviou uma carta na segunda-feira para a Lear Corporation, a maior fornecedora de assentos de couro para automóveis no mundo, exigindo que ela explique suas relações com empresas suspeitas de envolvimento com o desmatamento na Amazônia e trabalho forçado.

Na carta, Wyden demonstrou ceticismo em relação às alegações da Lear de que monitora meticulosamente as práticas de trabalho das empresas brasileiras criadoras de gado, que são suas fornecedoras, com uma lista de perguntas incisivas a respeito de como a Lear policia essas atividades.

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Os legisladores estão mirando nas políticas do setor que se gaba pela transparência e sustentabilidade, mas permite que os fornecedores recorram ao que os críticos dizem ser táticas de contabilidade para mascarar crimes.

As grandes montadoras e as empresas que elas contratam com frequência não exigem que suas políticas de ética nos negócios, promovidas para aqueles acima na cadeia de suprimentos, sejam cumpridas antes das peças e materiais chegarem até suas instalações. Segundo os críticos, isso cria uma brecha, por meio da qual fornecedores inescrupulosos — e, por extensão, as grandes empresas automobilísticas — conseguem tirar partido do trabalho forçado e ignorar a legislação ambiental.

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Wyden escreveu em sua carta para o CEO da Lear, Ray Scott, que a comissão está investigando os produtores de couro dos quais a empresa é cliente que são “conhecidos por procurar fornecedores de gado em áreas da Amazônia usadas ilegalmente para a criação de gado e que recebem fiscalização fraca do governo brasileiro”.

Wyden mencionou um relatório de 2022 da Environmental Investigation Agency, organização sem fins lucrativos, que seguiu a pista de licenças de transporte para comprovar que milhares de gados tinham sido criados de forma ilegal em uma das áreas mais protegidas da Amazônia.

A fraca fiscalização no Brasil, escreveu Wyden, teve como consequência a proliferação de trabalho escravo em áreas desmatadas, levando a Secretaria de Assuntos Trabalhistas Internacionais do Departamento do Trabalho dos EUA a colocar o gado brasileiro em uma lista de produtos produzidos com trabalho forçado ou infantil.

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JBS é uma das fornecedoras da Lear que está sob suspeita; empresa nega irregularidades Foto: JF Diorio/Estadão

A Lear, com sede em Michigan — que no ano passado foi reconhecida pela General Motors como um dos principais fornecedores globais — disse em um comunicado que seu “sistema abrangente de gestão da cadeia de suprimentos” exige a conformidade com as políticas de sustentabilidade, direitos humanos e de combate ao desmatamento da empresa. “Se um fornecedor viola nossas políticas ou exigências, investigamos e respondemos à altura, inclusive com a rescisão do contrato”, dizia o comunicado.

Na carta, Wyden acusou um importante fornecedor da Lear, a JBS, com sede no Brasil, mais conhecida por suas atividades no processamento de carnes, de “fechar os olhos quando partes de suas cadeias de suprimentos queimam a Amazônia, empurram o mundo para uma catástrofe climática e prejudicam os pecuaristas americanos que cumprem as regras do comércio internacional”. Wyden não foi convencido pelo depoimento de um funcionário da JBS perante seu comitê no mês passado de que a empresa não é tolerante ao desmatamento e está implementando programas agressivos de monitoramento e acompanhamento para erradicá-lo.

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O senador mencionou o que diz ser prova de “lavagem de gado” sistemática, por meio da qual pesquisadores independentes descobriram que as empresas fingem solucionar o problema aparentemente embora permaneçam ligadas a redes de fazendas ilegais.

“A empresa não está de forma alguma fechando os olhos para o desmatamento ilegal na Amazônia”, disse a JBS em comunicado, chamando a atenção para suas políticas para impedir o desmatamento e o trabalho forçado.

“Este trabalho é uma prioridade para a empresa, que resultou no bloqueio de aproximadamente 12 mil possíveis fazendas fornecedoras suspeitas de desmatamento ilegal e violações de nossa política de aquisição, e estamos investindo de forma significativa em recursos inovadores, tecnologia e parcerias para ajudar a garantir a produção sustentável de gado.”

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A GM escreveu em um comunicado que impõe um código de conduta rigoroso em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos com seus fornecedores diretos e “espera que seus fornecedores façam o mesmo, com expectativas semelhantes, com suas próprias cadeias de suprimentos”.

“Estamos monitorando a situação mencionada e tomaremos quaisquer medidas necessárias no momento apropriado”, dizia o comunicado.

A carta de Wyden é apenas a mais recente de um integrante do alto escalão do Congresso americano exigindo uma contabilidade detalhada do que as grandes empresas automobilísticas e seus fornecedores multinacionais estão — e não estão — fazendo para impedir a exploração e crimes em suas cadeias de suprimentos problemáticas.

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Essas exigências de prestação de contas vão além das políticas partidárias e chegam como um ponto de inflexão para as montadoras. A transição para os veículos elétricos está bagunçando suas cadeias de suprimentos, conforme as empresas se esforçam para conseguir quantidades enormes de novos materiais e peças, muitos deles agora sendo extraídos e produzidos por empresas que não aderem às políticas de sustentabilidade com princípios que as montadoras promovem. Ao mesmo tempo, o crescente mercado de compradores de veículos elétricos está focado no impacto do produto no planeta, trazendo uma atenção sem precedentes para as relações comerciais das montadoras.

Os líderes do Partido Republicano da Comissão de Meios e Recursos da Câmara e do Comitê Seleto sobre a competição estratégica com a China intensificaram na semana passada sua investigação a respeito da parceria da Ford com a gigante chinesa de fabricação de baterias CATL. As duas empresas anunciaram recentemente um projeto de US$ 3,5 bilhões por meio do qual a Ford produziria células de bateria desenvolvidas pela empresa chinesa em uma fábrica no Michigan.

A carta à Ford, divulgada em primeira mão pelo New York Times, diz que “informações recém-descobertas suscitam dúvidas sérias” sobre as declarações da Ford de que a colaboração levará a milhares de novos empregos para os americanos e reforçará o compromisso da Ford com a sustentabilidade e os direitos humanos. O presidente da comissão indicou uma “conexão preocupante entre a CATL, o Partido Comunista Chinês e o trabalho forçado em Xinjiang” e escreveu que “há razões para questionar se a estrutura do acordo da Ford contribuirá de fato para os avanços prometidos na tecnologia doméstica para baterias”.

A CATL informou no início deste ano ter vendido as empresas de lítio que estavam se expandindo para Xinjiang. Mas a carta diz que as relações constantes das empresas sugerem o contrário. “Tomamos conhecimento do tema e a cooperação com a Ford está progredindo normalmente”, escreveu em um e-mail Fred Zhang, porta-voz da CATL.

A carta chega no momento em que a Ford e outras montadoras estão sendo alvo de investigadores do Congresso por suas relações comerciais com empresas ligadas ao que o governo dos EUA chama de genocídio na província de Xinjiang, na China. De acordo com a recentemente aprovada Lei de Prevenção ao Trabalho Forçado Uigur, os produtos feitos com quaisquer materiais ou componentes provenientes da província são proibidos de serem importados pelos Estados Unidos.

A Comissão de Finanças do Senado havia enviado anteriormente para as montadoras duas listas de perguntas detalhadas sobre os materiais que elas estão usando e que os pesquisadores advertiram ter como origem empresas que operam em Xinjiang.

A porta-voz da Ford, Melissa Miller, escreveu em um e-mail que a empresa está analisando a carta dos presidentes do comitê da Câmara e não vai se pronunciar no momento. Ela escreveu que “tem surgido muita desinformação a respeito da nova fábrica de baterias da Ford em Marshall, no Michigan” e que a Ford “será a proprietária e administrará esta fábrica nos EUA, em vez de construir uma fábrica de baterias em outro lugar ou importar exclusivamente baterias LiFePO4 (fosfato de ferro e lítio) da China, como fazem nossos concorrentes”.

THE WASHINGTON POST - Uma fabricante de assentos de couro para algumas das maiores montadoras do mundo é o mais recente alvo das investigações do Congresso dos Estados Unidos sobre crimes ambientais e violações de direitos humanos nas cadeias de suprimentos que abastecem a produção de carros e SUVs.

O presidente da Comissão de Finanças do Senado dos EUA, o democrata Ron Wyden, enviou uma carta na segunda-feira para a Lear Corporation, a maior fornecedora de assentos de couro para automóveis no mundo, exigindo que ela explique suas relações com empresas suspeitas de envolvimento com o desmatamento na Amazônia e trabalho forçado.

Na carta, Wyden demonstrou ceticismo em relação às alegações da Lear de que monitora meticulosamente as práticas de trabalho das empresas brasileiras criadoras de gado, que são suas fornecedoras, com uma lista de perguntas incisivas a respeito de como a Lear policia essas atividades.

Os legisladores estão mirando nas políticas do setor que se gaba pela transparência e sustentabilidade, mas permite que os fornecedores recorram ao que os críticos dizem ser táticas de contabilidade para mascarar crimes.

As grandes montadoras e as empresas que elas contratam com frequência não exigem que suas políticas de ética nos negócios, promovidas para aqueles acima na cadeia de suprimentos, sejam cumpridas antes das peças e materiais chegarem até suas instalações. Segundo os críticos, isso cria uma brecha, por meio da qual fornecedores inescrupulosos — e, por extensão, as grandes empresas automobilísticas — conseguem tirar partido do trabalho forçado e ignorar a legislação ambiental.

Wyden escreveu em sua carta para o CEO da Lear, Ray Scott, que a comissão está investigando os produtores de couro dos quais a empresa é cliente que são “conhecidos por procurar fornecedores de gado em áreas da Amazônia usadas ilegalmente para a criação de gado e que recebem fiscalização fraca do governo brasileiro”.

Wyden mencionou um relatório de 2022 da Environmental Investigation Agency, organização sem fins lucrativos, que seguiu a pista de licenças de transporte para comprovar que milhares de gados tinham sido criados de forma ilegal em uma das áreas mais protegidas da Amazônia.

A fraca fiscalização no Brasil, escreveu Wyden, teve como consequência a proliferação de trabalho escravo em áreas desmatadas, levando a Secretaria de Assuntos Trabalhistas Internacionais do Departamento do Trabalho dos EUA a colocar o gado brasileiro em uma lista de produtos produzidos com trabalho forçado ou infantil.

JBS é uma das fornecedoras da Lear que está sob suspeita; empresa nega irregularidades Foto: JF Diorio/Estadão

A Lear, com sede em Michigan — que no ano passado foi reconhecida pela General Motors como um dos principais fornecedores globais — disse em um comunicado que seu “sistema abrangente de gestão da cadeia de suprimentos” exige a conformidade com as políticas de sustentabilidade, direitos humanos e de combate ao desmatamento da empresa. “Se um fornecedor viola nossas políticas ou exigências, investigamos e respondemos à altura, inclusive com a rescisão do contrato”, dizia o comunicado.

Na carta, Wyden acusou um importante fornecedor da Lear, a JBS, com sede no Brasil, mais conhecida por suas atividades no processamento de carnes, de “fechar os olhos quando partes de suas cadeias de suprimentos queimam a Amazônia, empurram o mundo para uma catástrofe climática e prejudicam os pecuaristas americanos que cumprem as regras do comércio internacional”. Wyden não foi convencido pelo depoimento de um funcionário da JBS perante seu comitê no mês passado de que a empresa não é tolerante ao desmatamento e está implementando programas agressivos de monitoramento e acompanhamento para erradicá-lo.

O senador mencionou o que diz ser prova de “lavagem de gado” sistemática, por meio da qual pesquisadores independentes descobriram que as empresas fingem solucionar o problema aparentemente embora permaneçam ligadas a redes de fazendas ilegais.

“A empresa não está de forma alguma fechando os olhos para o desmatamento ilegal na Amazônia”, disse a JBS em comunicado, chamando a atenção para suas políticas para impedir o desmatamento e o trabalho forçado.

“Este trabalho é uma prioridade para a empresa, que resultou no bloqueio de aproximadamente 12 mil possíveis fazendas fornecedoras suspeitas de desmatamento ilegal e violações de nossa política de aquisição, e estamos investindo de forma significativa em recursos inovadores, tecnologia e parcerias para ajudar a garantir a produção sustentável de gado.”

A GM escreveu em um comunicado que impõe um código de conduta rigoroso em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos com seus fornecedores diretos e “espera que seus fornecedores façam o mesmo, com expectativas semelhantes, com suas próprias cadeias de suprimentos”.

“Estamos monitorando a situação mencionada e tomaremos quaisquer medidas necessárias no momento apropriado”, dizia o comunicado.

A carta de Wyden é apenas a mais recente de um integrante do alto escalão do Congresso americano exigindo uma contabilidade detalhada do que as grandes empresas automobilísticas e seus fornecedores multinacionais estão — e não estão — fazendo para impedir a exploração e crimes em suas cadeias de suprimentos problemáticas.

Essas exigências de prestação de contas vão além das políticas partidárias e chegam como um ponto de inflexão para as montadoras. A transição para os veículos elétricos está bagunçando suas cadeias de suprimentos, conforme as empresas se esforçam para conseguir quantidades enormes de novos materiais e peças, muitos deles agora sendo extraídos e produzidos por empresas que não aderem às políticas de sustentabilidade com princípios que as montadoras promovem. Ao mesmo tempo, o crescente mercado de compradores de veículos elétricos está focado no impacto do produto no planeta, trazendo uma atenção sem precedentes para as relações comerciais das montadoras.

Os líderes do Partido Republicano da Comissão de Meios e Recursos da Câmara e do Comitê Seleto sobre a competição estratégica com a China intensificaram na semana passada sua investigação a respeito da parceria da Ford com a gigante chinesa de fabricação de baterias CATL. As duas empresas anunciaram recentemente um projeto de US$ 3,5 bilhões por meio do qual a Ford produziria células de bateria desenvolvidas pela empresa chinesa em uma fábrica no Michigan.

A carta à Ford, divulgada em primeira mão pelo New York Times, diz que “informações recém-descobertas suscitam dúvidas sérias” sobre as declarações da Ford de que a colaboração levará a milhares de novos empregos para os americanos e reforçará o compromisso da Ford com a sustentabilidade e os direitos humanos. O presidente da comissão indicou uma “conexão preocupante entre a CATL, o Partido Comunista Chinês e o trabalho forçado em Xinjiang” e escreveu que “há razões para questionar se a estrutura do acordo da Ford contribuirá de fato para os avanços prometidos na tecnologia doméstica para baterias”.

A CATL informou no início deste ano ter vendido as empresas de lítio que estavam se expandindo para Xinjiang. Mas a carta diz que as relações constantes das empresas sugerem o contrário. “Tomamos conhecimento do tema e a cooperação com a Ford está progredindo normalmente”, escreveu em um e-mail Fred Zhang, porta-voz da CATL.

A carta chega no momento em que a Ford e outras montadoras estão sendo alvo de investigadores do Congresso por suas relações comerciais com empresas ligadas ao que o governo dos EUA chama de genocídio na província de Xinjiang, na China. De acordo com a recentemente aprovada Lei de Prevenção ao Trabalho Forçado Uigur, os produtos feitos com quaisquer materiais ou componentes provenientes da província são proibidos de serem importados pelos Estados Unidos.

A Comissão de Finanças do Senado havia enviado anteriormente para as montadoras duas listas de perguntas detalhadas sobre os materiais que elas estão usando e que os pesquisadores advertiram ter como origem empresas que operam em Xinjiang.

A porta-voz da Ford, Melissa Miller, escreveu em um e-mail que a empresa está analisando a carta dos presidentes do comitê da Câmara e não vai se pronunciar no momento. Ela escreveu que “tem surgido muita desinformação a respeito da nova fábrica de baterias da Ford em Marshall, no Michigan” e que a Ford “será a proprietária e administrará esta fábrica nos EUA, em vez de construir uma fábrica de baterias em outro lugar ou importar exclusivamente baterias LiFePO4 (fosfato de ferro e lítio) da China, como fazem nossos concorrentes”.

THE WASHINGTON POST - Uma fabricante de assentos de couro para algumas das maiores montadoras do mundo é o mais recente alvo das investigações do Congresso dos Estados Unidos sobre crimes ambientais e violações de direitos humanos nas cadeias de suprimentos que abastecem a produção de carros e SUVs.

O presidente da Comissão de Finanças do Senado dos EUA, o democrata Ron Wyden, enviou uma carta na segunda-feira para a Lear Corporation, a maior fornecedora de assentos de couro para automóveis no mundo, exigindo que ela explique suas relações com empresas suspeitas de envolvimento com o desmatamento na Amazônia e trabalho forçado.

Na carta, Wyden demonstrou ceticismo em relação às alegações da Lear de que monitora meticulosamente as práticas de trabalho das empresas brasileiras criadoras de gado, que são suas fornecedoras, com uma lista de perguntas incisivas a respeito de como a Lear policia essas atividades.

Os legisladores estão mirando nas políticas do setor que se gaba pela transparência e sustentabilidade, mas permite que os fornecedores recorram ao que os críticos dizem ser táticas de contabilidade para mascarar crimes.

As grandes montadoras e as empresas que elas contratam com frequência não exigem que suas políticas de ética nos negócios, promovidas para aqueles acima na cadeia de suprimentos, sejam cumpridas antes das peças e materiais chegarem até suas instalações. Segundo os críticos, isso cria uma brecha, por meio da qual fornecedores inescrupulosos — e, por extensão, as grandes empresas automobilísticas — conseguem tirar partido do trabalho forçado e ignorar a legislação ambiental.

Wyden escreveu em sua carta para o CEO da Lear, Ray Scott, que a comissão está investigando os produtores de couro dos quais a empresa é cliente que são “conhecidos por procurar fornecedores de gado em áreas da Amazônia usadas ilegalmente para a criação de gado e que recebem fiscalização fraca do governo brasileiro”.

Wyden mencionou um relatório de 2022 da Environmental Investigation Agency, organização sem fins lucrativos, que seguiu a pista de licenças de transporte para comprovar que milhares de gados tinham sido criados de forma ilegal em uma das áreas mais protegidas da Amazônia.

A fraca fiscalização no Brasil, escreveu Wyden, teve como consequência a proliferação de trabalho escravo em áreas desmatadas, levando a Secretaria de Assuntos Trabalhistas Internacionais do Departamento do Trabalho dos EUA a colocar o gado brasileiro em uma lista de produtos produzidos com trabalho forçado ou infantil.

JBS é uma das fornecedoras da Lear que está sob suspeita; empresa nega irregularidades Foto: JF Diorio/Estadão

A Lear, com sede em Michigan — que no ano passado foi reconhecida pela General Motors como um dos principais fornecedores globais — disse em um comunicado que seu “sistema abrangente de gestão da cadeia de suprimentos” exige a conformidade com as políticas de sustentabilidade, direitos humanos e de combate ao desmatamento da empresa. “Se um fornecedor viola nossas políticas ou exigências, investigamos e respondemos à altura, inclusive com a rescisão do contrato”, dizia o comunicado.

Na carta, Wyden acusou um importante fornecedor da Lear, a JBS, com sede no Brasil, mais conhecida por suas atividades no processamento de carnes, de “fechar os olhos quando partes de suas cadeias de suprimentos queimam a Amazônia, empurram o mundo para uma catástrofe climática e prejudicam os pecuaristas americanos que cumprem as regras do comércio internacional”. Wyden não foi convencido pelo depoimento de um funcionário da JBS perante seu comitê no mês passado de que a empresa não é tolerante ao desmatamento e está implementando programas agressivos de monitoramento e acompanhamento para erradicá-lo.

O senador mencionou o que diz ser prova de “lavagem de gado” sistemática, por meio da qual pesquisadores independentes descobriram que as empresas fingem solucionar o problema aparentemente embora permaneçam ligadas a redes de fazendas ilegais.

“A empresa não está de forma alguma fechando os olhos para o desmatamento ilegal na Amazônia”, disse a JBS em comunicado, chamando a atenção para suas políticas para impedir o desmatamento e o trabalho forçado.

“Este trabalho é uma prioridade para a empresa, que resultou no bloqueio de aproximadamente 12 mil possíveis fazendas fornecedoras suspeitas de desmatamento ilegal e violações de nossa política de aquisição, e estamos investindo de forma significativa em recursos inovadores, tecnologia e parcerias para ajudar a garantir a produção sustentável de gado.”

A GM escreveu em um comunicado que impõe um código de conduta rigoroso em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos com seus fornecedores diretos e “espera que seus fornecedores façam o mesmo, com expectativas semelhantes, com suas próprias cadeias de suprimentos”.

“Estamos monitorando a situação mencionada e tomaremos quaisquer medidas necessárias no momento apropriado”, dizia o comunicado.

A carta de Wyden é apenas a mais recente de um integrante do alto escalão do Congresso americano exigindo uma contabilidade detalhada do que as grandes empresas automobilísticas e seus fornecedores multinacionais estão — e não estão — fazendo para impedir a exploração e crimes em suas cadeias de suprimentos problemáticas.

Essas exigências de prestação de contas vão além das políticas partidárias e chegam como um ponto de inflexão para as montadoras. A transição para os veículos elétricos está bagunçando suas cadeias de suprimentos, conforme as empresas se esforçam para conseguir quantidades enormes de novos materiais e peças, muitos deles agora sendo extraídos e produzidos por empresas que não aderem às políticas de sustentabilidade com princípios que as montadoras promovem. Ao mesmo tempo, o crescente mercado de compradores de veículos elétricos está focado no impacto do produto no planeta, trazendo uma atenção sem precedentes para as relações comerciais das montadoras.

Os líderes do Partido Republicano da Comissão de Meios e Recursos da Câmara e do Comitê Seleto sobre a competição estratégica com a China intensificaram na semana passada sua investigação a respeito da parceria da Ford com a gigante chinesa de fabricação de baterias CATL. As duas empresas anunciaram recentemente um projeto de US$ 3,5 bilhões por meio do qual a Ford produziria células de bateria desenvolvidas pela empresa chinesa em uma fábrica no Michigan.

A carta à Ford, divulgada em primeira mão pelo New York Times, diz que “informações recém-descobertas suscitam dúvidas sérias” sobre as declarações da Ford de que a colaboração levará a milhares de novos empregos para os americanos e reforçará o compromisso da Ford com a sustentabilidade e os direitos humanos. O presidente da comissão indicou uma “conexão preocupante entre a CATL, o Partido Comunista Chinês e o trabalho forçado em Xinjiang” e escreveu que “há razões para questionar se a estrutura do acordo da Ford contribuirá de fato para os avanços prometidos na tecnologia doméstica para baterias”.

A CATL informou no início deste ano ter vendido as empresas de lítio que estavam se expandindo para Xinjiang. Mas a carta diz que as relações constantes das empresas sugerem o contrário. “Tomamos conhecimento do tema e a cooperação com a Ford está progredindo normalmente”, escreveu em um e-mail Fred Zhang, porta-voz da CATL.

A carta chega no momento em que a Ford e outras montadoras estão sendo alvo de investigadores do Congresso por suas relações comerciais com empresas ligadas ao que o governo dos EUA chama de genocídio na província de Xinjiang, na China. De acordo com a recentemente aprovada Lei de Prevenção ao Trabalho Forçado Uigur, os produtos feitos com quaisquer materiais ou componentes provenientes da província são proibidos de serem importados pelos Estados Unidos.

A Comissão de Finanças do Senado havia enviado anteriormente para as montadoras duas listas de perguntas detalhadas sobre os materiais que elas estão usando e que os pesquisadores advertiram ter como origem empresas que operam em Xinjiang.

A porta-voz da Ford, Melissa Miller, escreveu em um e-mail que a empresa está analisando a carta dos presidentes do comitê da Câmara e não vai se pronunciar no momento. Ela escreveu que “tem surgido muita desinformação a respeito da nova fábrica de baterias da Ford em Marshall, no Michigan” e que a Ford “será a proprietária e administrará esta fábrica nos EUA, em vez de construir uma fábrica de baterias em outro lugar ou importar exclusivamente baterias LiFePO4 (fosfato de ferro e lítio) da China, como fazem nossos concorrentes”.

THE WASHINGTON POST - Uma fabricante de assentos de couro para algumas das maiores montadoras do mundo é o mais recente alvo das investigações do Congresso dos Estados Unidos sobre crimes ambientais e violações de direitos humanos nas cadeias de suprimentos que abastecem a produção de carros e SUVs.

O presidente da Comissão de Finanças do Senado dos EUA, o democrata Ron Wyden, enviou uma carta na segunda-feira para a Lear Corporation, a maior fornecedora de assentos de couro para automóveis no mundo, exigindo que ela explique suas relações com empresas suspeitas de envolvimento com o desmatamento na Amazônia e trabalho forçado.

Na carta, Wyden demonstrou ceticismo em relação às alegações da Lear de que monitora meticulosamente as práticas de trabalho das empresas brasileiras criadoras de gado, que são suas fornecedoras, com uma lista de perguntas incisivas a respeito de como a Lear policia essas atividades.

Os legisladores estão mirando nas políticas do setor que se gaba pela transparência e sustentabilidade, mas permite que os fornecedores recorram ao que os críticos dizem ser táticas de contabilidade para mascarar crimes.

As grandes montadoras e as empresas que elas contratam com frequência não exigem que suas políticas de ética nos negócios, promovidas para aqueles acima na cadeia de suprimentos, sejam cumpridas antes das peças e materiais chegarem até suas instalações. Segundo os críticos, isso cria uma brecha, por meio da qual fornecedores inescrupulosos — e, por extensão, as grandes empresas automobilísticas — conseguem tirar partido do trabalho forçado e ignorar a legislação ambiental.

Wyden escreveu em sua carta para o CEO da Lear, Ray Scott, que a comissão está investigando os produtores de couro dos quais a empresa é cliente que são “conhecidos por procurar fornecedores de gado em áreas da Amazônia usadas ilegalmente para a criação de gado e que recebem fiscalização fraca do governo brasileiro”.

Wyden mencionou um relatório de 2022 da Environmental Investigation Agency, organização sem fins lucrativos, que seguiu a pista de licenças de transporte para comprovar que milhares de gados tinham sido criados de forma ilegal em uma das áreas mais protegidas da Amazônia.

A fraca fiscalização no Brasil, escreveu Wyden, teve como consequência a proliferação de trabalho escravo em áreas desmatadas, levando a Secretaria de Assuntos Trabalhistas Internacionais do Departamento do Trabalho dos EUA a colocar o gado brasileiro em uma lista de produtos produzidos com trabalho forçado ou infantil.

JBS é uma das fornecedoras da Lear que está sob suspeita; empresa nega irregularidades Foto: JF Diorio/Estadão

A Lear, com sede em Michigan — que no ano passado foi reconhecida pela General Motors como um dos principais fornecedores globais — disse em um comunicado que seu “sistema abrangente de gestão da cadeia de suprimentos” exige a conformidade com as políticas de sustentabilidade, direitos humanos e de combate ao desmatamento da empresa. “Se um fornecedor viola nossas políticas ou exigências, investigamos e respondemos à altura, inclusive com a rescisão do contrato”, dizia o comunicado.

Na carta, Wyden acusou um importante fornecedor da Lear, a JBS, com sede no Brasil, mais conhecida por suas atividades no processamento de carnes, de “fechar os olhos quando partes de suas cadeias de suprimentos queimam a Amazônia, empurram o mundo para uma catástrofe climática e prejudicam os pecuaristas americanos que cumprem as regras do comércio internacional”. Wyden não foi convencido pelo depoimento de um funcionário da JBS perante seu comitê no mês passado de que a empresa não é tolerante ao desmatamento e está implementando programas agressivos de monitoramento e acompanhamento para erradicá-lo.

O senador mencionou o que diz ser prova de “lavagem de gado” sistemática, por meio da qual pesquisadores independentes descobriram que as empresas fingem solucionar o problema aparentemente embora permaneçam ligadas a redes de fazendas ilegais.

“A empresa não está de forma alguma fechando os olhos para o desmatamento ilegal na Amazônia”, disse a JBS em comunicado, chamando a atenção para suas políticas para impedir o desmatamento e o trabalho forçado.

“Este trabalho é uma prioridade para a empresa, que resultou no bloqueio de aproximadamente 12 mil possíveis fazendas fornecedoras suspeitas de desmatamento ilegal e violações de nossa política de aquisição, e estamos investindo de forma significativa em recursos inovadores, tecnologia e parcerias para ajudar a garantir a produção sustentável de gado.”

A GM escreveu em um comunicado que impõe um código de conduta rigoroso em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos com seus fornecedores diretos e “espera que seus fornecedores façam o mesmo, com expectativas semelhantes, com suas próprias cadeias de suprimentos”.

“Estamos monitorando a situação mencionada e tomaremos quaisquer medidas necessárias no momento apropriado”, dizia o comunicado.

A carta de Wyden é apenas a mais recente de um integrante do alto escalão do Congresso americano exigindo uma contabilidade detalhada do que as grandes empresas automobilísticas e seus fornecedores multinacionais estão — e não estão — fazendo para impedir a exploração e crimes em suas cadeias de suprimentos problemáticas.

Essas exigências de prestação de contas vão além das políticas partidárias e chegam como um ponto de inflexão para as montadoras. A transição para os veículos elétricos está bagunçando suas cadeias de suprimentos, conforme as empresas se esforçam para conseguir quantidades enormes de novos materiais e peças, muitos deles agora sendo extraídos e produzidos por empresas que não aderem às políticas de sustentabilidade com princípios que as montadoras promovem. Ao mesmo tempo, o crescente mercado de compradores de veículos elétricos está focado no impacto do produto no planeta, trazendo uma atenção sem precedentes para as relações comerciais das montadoras.

Os líderes do Partido Republicano da Comissão de Meios e Recursos da Câmara e do Comitê Seleto sobre a competição estratégica com a China intensificaram na semana passada sua investigação a respeito da parceria da Ford com a gigante chinesa de fabricação de baterias CATL. As duas empresas anunciaram recentemente um projeto de US$ 3,5 bilhões por meio do qual a Ford produziria células de bateria desenvolvidas pela empresa chinesa em uma fábrica no Michigan.

A carta à Ford, divulgada em primeira mão pelo New York Times, diz que “informações recém-descobertas suscitam dúvidas sérias” sobre as declarações da Ford de que a colaboração levará a milhares de novos empregos para os americanos e reforçará o compromisso da Ford com a sustentabilidade e os direitos humanos. O presidente da comissão indicou uma “conexão preocupante entre a CATL, o Partido Comunista Chinês e o trabalho forçado em Xinjiang” e escreveu que “há razões para questionar se a estrutura do acordo da Ford contribuirá de fato para os avanços prometidos na tecnologia doméstica para baterias”.

A CATL informou no início deste ano ter vendido as empresas de lítio que estavam se expandindo para Xinjiang. Mas a carta diz que as relações constantes das empresas sugerem o contrário. “Tomamos conhecimento do tema e a cooperação com a Ford está progredindo normalmente”, escreveu em um e-mail Fred Zhang, porta-voz da CATL.

A carta chega no momento em que a Ford e outras montadoras estão sendo alvo de investigadores do Congresso por suas relações comerciais com empresas ligadas ao que o governo dos EUA chama de genocídio na província de Xinjiang, na China. De acordo com a recentemente aprovada Lei de Prevenção ao Trabalho Forçado Uigur, os produtos feitos com quaisquer materiais ou componentes provenientes da província são proibidos de serem importados pelos Estados Unidos.

A Comissão de Finanças do Senado havia enviado anteriormente para as montadoras duas listas de perguntas detalhadas sobre os materiais que elas estão usando e que os pesquisadores advertiram ter como origem empresas que operam em Xinjiang.

A porta-voz da Ford, Melissa Miller, escreveu em um e-mail que a empresa está analisando a carta dos presidentes do comitê da Câmara e não vai se pronunciar no momento. Ela escreveu que “tem surgido muita desinformação a respeito da nova fábrica de baterias da Ford em Marshall, no Michigan” e que a Ford “será a proprietária e administrará esta fábrica nos EUA, em vez de construir uma fábrica de baterias em outro lugar ou importar exclusivamente baterias LiFePO4 (fosfato de ferro e lítio) da China, como fazem nossos concorrentes”.

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