Calvin Lo se apresentou por anos como um bilionário financista e filantropo viajante do mundo. Ele dizia ter “uma coleção de champanhe de classe mundial, casas em três continentes, uma frota de supercarros exóticos e investimentos em um hotel cinco estrelas e uma equipe de Fórmula 1″. Ele dizia, mas era mentira.
A revista Forbes fez uma investigação sobre o Lo, que tentava “desesperadamente” entrar para a lista de bilionários da revista desde 2020. Após entrevistas com pelo menos 40 pessoas em seis países e análises de centenas de páginas de documentos, a apuração de quase um ano mostra que a maioria das informações da riqueza de Lo não pode ser comprovada. O resultado foi publicado em reportagem da Forbes no último dia 26.
Lo, que nasceu no Canadá, mas viveu seus primeiros anos em Hong Kong, é CEO da R.E. Lee International, uma empresa de corretagem de seguros de vida da sua família. A Forbes relata que desde 2020 pelo menos sete pessoas entraram em contato com 11 diferentes repórteres da revista em mais de 20 ocasiões. As pessoas apresentavam Lo como o “filantropo bilionário mais discreto” e como “o investidor bilionário mais privado e esquivo do mundo”, acrescentando mais de uma dúzia de documentos que supostamente atestavam sua reputação e riqueza.
À primeira vista, Lo não parecia rico o suficiente. Em setembro do ano passado, Calvin Lo recebeu um editor da Forbes em seu escritório em Hong Kong, após ter convidado o editor para discutir a lista da Forbes. Lo disse que estava “em um dilema” sobre se deveria fornecer à Forbes documentação adicional de sua riqueza para poder ser incluído na lista. Essa reunião, e a persistência de Lo, deram origem à investigação.
Além disso, à medida que o tempo passava, várias agências de mídia, incluindo BBC, CNBC, Daily Express, Daily Mirror, Financial Times, Independent, Nikkei Asia, Reuters e South China Morning Post, publicaram reportagens chamando Lo de bilionário. Um dos publicitários de Lo chegou até a enviar e-mails afirmando que ele estava na lista de bilionários da Forbes.
Quem ele dizia ser
Lo era apresentado como CEO e proprietário da R.E. Lee International, “a maior corretora de seguros de vida do mundo” com cerca de US$ 1 bilhão em prêmios, e fundador da R.E. Lee Capital, uma empresa de gestão de ativos com entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões em ativos. Ele foi descrito como um investidor formado em Harvard que pagou US$ 1,2 bilhão em 2018 para comprar o hotel cinco estrelas Mandarin Oriental em Taipei, Taiwan
Ele ainda se dizia um filantropo que criou uma fundação de caridade de US$ 250 milhões, proprietário de meia dúzia de casas ao redor do mundo, e “o maior investidor e colecionador de champanhes da Ásia e um dos primeiros proprietários de um jato particular Gulfstream G650 na Ásia”. Ele também se apresentava como um investidor da lendária equipe de corrida Williams de Fórmula 1.
Mentiras
Segundo a Forbes, a maioria dessas alegações não pôde ser confirmada. Outras são mentiras descaradas: ele não tem participação na equipe de corrida F1, não é dono do Mandarin Oriental, e suas casas, com base nos endereços fornecidos, pertencem a seus pais ou a outras pessoas. Além disso, a Escola de Negócios de Harvard não tem registro de ninguém chamado Calvin Lo.
Nem a fundação de caridade nem a R.E. Lee Octagon parecem existir, e a R.E. Lee Capital esclareceu que, embora Lo seja de fato filho de um investidor acionista não executivo da empresa, o envolvimento de sua mãe, Regina Lee, nos negócios (como presidente da empresa) “não deve ser interpretado como uma associação entre o Sr. Lo e nossa empresa.” A R.E. Lee Capital também confirmou à Forbes que não possui os supostos US$ 8 bilhões em ativos sob gestão.
Um ex-funcionário de alto escalão da R.E. Lee International estima que a empresa não poderia ter intermediado mais de US$ 800 milhões (valor nominal) em apólices no ano passado. A Forbes estimou que a empresa vale cerca de US$ 60 milhões.
A reportagem coloca que não há dúvida de que a família de Lo é rica, mas estão longe de serem tão ricos quanto ele sugere. Em conjunto, a Forbes estima que Lo e seus pais valem menos de US$ 200 milhões juntos.
A Forbes enviou uma lista de perguntas a Lo e sua mãe, pedindo comentários. Em resposta, um escritório de advocacia enviou uma carta dizendo que “todas as insinuações de que nosso cliente foi desonesto, mentiroso ou de outra forma antiético são categoricamente negadas por ele”.
A reportagem afirma que, ainda que Lo não seja o primeiro a mentir para a Forbes, sua história se destaca “pela audácia de suas alegações e pelos extremos aos quais estava disposto a ir”, escrevem na matéria. Isso inclui contratar empresas de relações públicas e uma série de advogados para perpetuar suas falsidades, além de provavelmente falsificar documentos financeiros e manipular uma fotografia. “Embora muitas pessoas poderosas nos tenham dito que valem mais do que realmente valem, elas normalmente sabem que não devem fingir ser donas de ativos de outras pessoas”, afirma a reportagem.