Com crescimento econômico de 1,4%, o Brasil conseguiu no segundo trimestre o dobro da expansão média do Grupo dos 20 (G20), formado pelas maiores potências capitalistas e também pela China e pela Rússia. Só as economias do Canadá e da Índia cresceram tanto quanto a brasileira. No confronto com o mesmo trimestre do ano passado, o avanço brasileiro, de 2,8%, foi superado pelos da Índia (6,8%), da Indonésia (5%), da China (4,7%) e dos Estados Unidos (3,1%). Apesar da perda de ritmo em julho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aumentou sua aposta no dinamismo econômico e já indicou expansão pelo menos igual a 3% em 2024.
A produção industrial encolheu 1,4% em julho e acumulou expansão de 2,2% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda em julho, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter diminuído 0,41%, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Pouco menos sombrio, o Monitor do PIB-FGV apontou retração econômica de apenas 0,1% no mês, com recuo do consumo familiar e da atividade industrial. No mercado financeiro, onde persistem sinais de otimismo, o crescimento projetado para o ano chegou a 2,96% na segunda semana de setembro, de acordo com o boletim Focus publicado no dia 16 de setembro.
Não se observa o mesmo otimismo, no entanto, quando se trata da evolução dos preços. Em quatro semanas, passou de 4,22% para 4,35% a inflação estimada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Também se elevou a variação projetada para os dois anos seguintes. Pelos novos cálculos, o índice aumentará 3,95% em 2025 e 3,61% em 2026, permanecendo abaixo do teto (4,5%) mas bem acima do centro da meta (3%). Como consequência, os juros básicos subiram na quarta-feira, para 10,75%, e seguirão elevados: 11,25% em dezembro deste ano, 10,50% no final de 2025, 9,50% no encerramento de 2026 e 9% um ano depois, ainda de acordo com o boletim Focus.
Dinheiro caro ainda será, portanto, um entrave ao crédito e ao investimento produtivo, dificultando a expansão e a modernização da economia. O efeito do baixo investimento em máquinas, equipamentos e obras está implícito nas taxas modestas de expansão do PIB estimadas para os próximos anos.
Segundo o Monitor do PIB-FGV, o valor investido correspondeu em julho deste ano a 17,4% do PIB, superando a média mensal a partir de 2015 (16,4%), mas continuando abaixo do padrão registrado a partir do ano 2000 (17,9%). Mesmo esse padrão ficou abaixo do observado em fases de maior dinamismo econômico. No Brasil, esse dinamismo esteve associado, nas três décadas finais do século passado, a taxas de investimento frequentemente superiores a 18% do PIB. Essas taxas têm sido registradas em várias outras economias emergentes, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Investimento em capacidade produtiva é realizado tanto pelo governo quanto pelo setor privado. O setor governamental participa de várias formas desse processo, investindo isoladamente, em associação com grupos privados e afetando de várias formas as condições do investimento empresarial.
A decisão de investir depende, no setor privado, da taxa de juro, das condições gerais de financiamento, do ritmo de atividade, das perspectivas da economia e, obviamente, da confiança dos empresários. O governo pode favorecer essa confiança mostrando eficiência, indicando objetivos claros e críveis, controlando seus gastos, diminuindo as complicações burocráticas e garantindo uma razoável previsibilidade. Um presidente contido, discreto e capaz de resistir, por exemplo, à tentação de interferir na gestão das estatais, dará uma contribuição relevante. Sem essas condições, a redução de juros pelo Banco Central será muito menos eficaz.