Economia e políticas públicas

Opinião|Alta no salário da construção é mau sinal para inflação de serviços


Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC, vê correlação entre alta da mão de obra no INCC (que acumula 9,4% em 12 meses) em janeiro e inflação do ano, e prevê inflação de serviços de 8,1% e IPCA de 7,14% em 2025.

Por Fernando Dantas

O componente de mão de obra do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) se elevou em 1,27% em janeiro de 2025, acumulando uma alta de 9,4% em 12 meses. Segundo Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC, esse é um sinal relevante de alta da inflação de serviços. O analista projeta que a inflação de serviços no IPCA de 2025 fique em 8,1%, e que o IPCA cheio feche o ano em 7,14%.

O INCC é um dos componentes do IGP-DI, cuja variação de 0,11% em janeiro foi divulgada hoje pelo IBRE-FGV.

Gomes identificou uma correlação entre o componente de mão de obra do INCC em janeiro e a inflação de serviços do IPCA no mesmo ano. Ele utiliza o indicador de janeiro anualizado: no caso de janeiro de 2025, 16,4%. A correlação é mais forte em momentos de alta inflação da mão de obra do INCC, como o atual. Essa correlação aponta 8% de inflação de serviços do IPCA em 2025, praticamente os 8,1% da projeção oficial do economista.

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A alta da mão de obra na construção civil é de fato muito forte, acumulando 9,4% nos 12 meses até janeiro. Em São Paulo, principal mercado do País, o índice alcançou 10,02%.

O mercado de mão de obra da construção civil é bastante grande, abrangendo cerca de 7,5 milhões de pessoas (3º tri de 2024), entre formais e informais. Ana Maria Castelo, economista coordenadora de construção civil do IBRE, aponta que o principal fator limitativo à melhoria dos negócios apontado pelas empresas, na sondagem de confiança da construção civil da FGV em janeiro, é "falta de mão de obra qualificada", assinalado por 30,6% dos respondentes.

A liderança desse quesito entre os fatores limitativos vêm desde o final de 2023 de forma quase ininterrupta, segundo Castelo. A economista acrescenta que o setor da construção cresceu em 2023 mais pelo lado formal e, ao longo de 2024, o chamado "efeito formiguinha" (reformas, construção informal etc., que usam mais mão de obra informal) foi se fortalecendo.

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Ainda na sondagem da construção de janeiro, 19,6% dos respondentes apontaram o "custo da mão de obra" como um fator limitativo, uma alta em relação aos 13,7% que indicaram esse mesmo fator em janeiro de 2024.

Castelo explica que houve uma mudança na metodologia do INCC em julho de 2023. Foram alterados os pesos de algumas capitais. Belo Horizonte, por exemplo, teve seu peso aumentado, e, agora em janeiro, registrou a maior taxa acumulada de 12 meses de mão de obra no INCC, de 13,77%.

Outra mudança é que, anteriormente, o custo da mão de obra no INCC era basicamente mensurado pelos índices dos acordos coletivos, que, por sua voz, seguiam de perto o INPC. Na prática, explica a economista, hoje a construção civil está muito terceirizada, com fragmentação em diferentes tipos de empresas, etapas e serviços. Se o mercado estiver aquecido, o aumento salarial real pode superar o dos acordos coletivos, e vice-versa. A nova metodologia ainda leva em conta os acordos coletivos, mas tem outras ferramentas para chegar a números mais realistas.

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Thadeu, da BCG, que mapeou a relação entre a inflação da mão de obra no INCC e a inflação de serviços do IPCA, nota que os setores de mão de obra menos qualificada têm muita interseção, como construção civil, serviços de limpeza, restaurantes etc. Assim, a construção civil, pelo grande tamanho do seu mercado de trabalho, é um termômetro para a inflação dos serviços intensivos em mão de obra.

Silvia Matos, coordenadora de macroeconomia do IBRE, menciona que a inflação de serviços tem uma inércia relevante, e demora a subir assim como também cai lentamente. Ela vê a inflação de serviços como tendo demorado para se elevar com o aquecimento da economia brasileira em 2023 e parte de 2024, mas agora ela dá sinais de impulsão que, reversamente, podem levar tempo para serem contidos.

A construção, em particular, tem um ciclo longo de financiamento e contratação de projetos, e o aquecimento do seu mercado de mão de obra pode ter uma sobrevida, diante da piora das condições financeiras, maior do que o de outros setores da economia.

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"É por isso que é tão importante que a economia desacelere agora, para evitar que patamares mais altos de inflação de serviços se consolidem e contaminem outros aspectos da inflação", conclui Matos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/2/2025, sexta-feira.

O componente de mão de obra do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) se elevou em 1,27% em janeiro de 2025, acumulando uma alta de 9,4% em 12 meses. Segundo Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC, esse é um sinal relevante de alta da inflação de serviços. O analista projeta que a inflação de serviços no IPCA de 2025 fique em 8,1%, e que o IPCA cheio feche o ano em 7,14%.

O INCC é um dos componentes do IGP-DI, cuja variação de 0,11% em janeiro foi divulgada hoje pelo IBRE-FGV.

Gomes identificou uma correlação entre o componente de mão de obra do INCC em janeiro e a inflação de serviços do IPCA no mesmo ano. Ele utiliza o indicador de janeiro anualizado: no caso de janeiro de 2025, 16,4%. A correlação é mais forte em momentos de alta inflação da mão de obra do INCC, como o atual. Essa correlação aponta 8% de inflação de serviços do IPCA em 2025, praticamente os 8,1% da projeção oficial do economista.

A alta da mão de obra na construção civil é de fato muito forte, acumulando 9,4% nos 12 meses até janeiro. Em São Paulo, principal mercado do País, o índice alcançou 10,02%.

O mercado de mão de obra da construção civil é bastante grande, abrangendo cerca de 7,5 milhões de pessoas (3º tri de 2024), entre formais e informais. Ana Maria Castelo, economista coordenadora de construção civil do IBRE, aponta que o principal fator limitativo à melhoria dos negócios apontado pelas empresas, na sondagem de confiança da construção civil da FGV em janeiro, é "falta de mão de obra qualificada", assinalado por 30,6% dos respondentes.

A liderança desse quesito entre os fatores limitativos vêm desde o final de 2023 de forma quase ininterrupta, segundo Castelo. A economista acrescenta que o setor da construção cresceu em 2023 mais pelo lado formal e, ao longo de 2024, o chamado "efeito formiguinha" (reformas, construção informal etc., que usam mais mão de obra informal) foi se fortalecendo.

Ainda na sondagem da construção de janeiro, 19,6% dos respondentes apontaram o "custo da mão de obra" como um fator limitativo, uma alta em relação aos 13,7% que indicaram esse mesmo fator em janeiro de 2024.

Castelo explica que houve uma mudança na metodologia do INCC em julho de 2023. Foram alterados os pesos de algumas capitais. Belo Horizonte, por exemplo, teve seu peso aumentado, e, agora em janeiro, registrou a maior taxa acumulada de 12 meses de mão de obra no INCC, de 13,77%.

Outra mudança é que, anteriormente, o custo da mão de obra no INCC era basicamente mensurado pelos índices dos acordos coletivos, que, por sua voz, seguiam de perto o INPC. Na prática, explica a economista, hoje a construção civil está muito terceirizada, com fragmentação em diferentes tipos de empresas, etapas e serviços. Se o mercado estiver aquecido, o aumento salarial real pode superar o dos acordos coletivos, e vice-versa. A nova metodologia ainda leva em conta os acordos coletivos, mas tem outras ferramentas para chegar a números mais realistas.

Thadeu, da BCG, que mapeou a relação entre a inflação da mão de obra no INCC e a inflação de serviços do IPCA, nota que os setores de mão de obra menos qualificada têm muita interseção, como construção civil, serviços de limpeza, restaurantes etc. Assim, a construção civil, pelo grande tamanho do seu mercado de trabalho, é um termômetro para a inflação dos serviços intensivos em mão de obra.

Silvia Matos, coordenadora de macroeconomia do IBRE, menciona que a inflação de serviços tem uma inércia relevante, e demora a subir assim como também cai lentamente. Ela vê a inflação de serviços como tendo demorado para se elevar com o aquecimento da economia brasileira em 2023 e parte de 2024, mas agora ela dá sinais de impulsão que, reversamente, podem levar tempo para serem contidos.

A construção, em particular, tem um ciclo longo de financiamento e contratação de projetos, e o aquecimento do seu mercado de mão de obra pode ter uma sobrevida, diante da piora das condições financeiras, maior do que o de outros setores da economia.

"É por isso que é tão importante que a economia desacelere agora, para evitar que patamares mais altos de inflação de serviços se consolidem e contaminem outros aspectos da inflação", conclui Matos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/2/2025, sexta-feira.

O componente de mão de obra do Índice Nacional de Custo de Construção (INCC) se elevou em 1,27% em janeiro de 2025, acumulando uma alta de 9,4% em 12 meses. Segundo Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da corretora BGC, esse é um sinal relevante de alta da inflação de serviços. O analista projeta que a inflação de serviços no IPCA de 2025 fique em 8,1%, e que o IPCA cheio feche o ano em 7,14%.

O INCC é um dos componentes do IGP-DI, cuja variação de 0,11% em janeiro foi divulgada hoje pelo IBRE-FGV.

Gomes identificou uma correlação entre o componente de mão de obra do INCC em janeiro e a inflação de serviços do IPCA no mesmo ano. Ele utiliza o indicador de janeiro anualizado: no caso de janeiro de 2025, 16,4%. A correlação é mais forte em momentos de alta inflação da mão de obra do INCC, como o atual. Essa correlação aponta 8% de inflação de serviços do IPCA em 2025, praticamente os 8,1% da projeção oficial do economista.

A alta da mão de obra na construção civil é de fato muito forte, acumulando 9,4% nos 12 meses até janeiro. Em São Paulo, principal mercado do País, o índice alcançou 10,02%.

O mercado de mão de obra da construção civil é bastante grande, abrangendo cerca de 7,5 milhões de pessoas (3º tri de 2024), entre formais e informais. Ana Maria Castelo, economista coordenadora de construção civil do IBRE, aponta que o principal fator limitativo à melhoria dos negócios apontado pelas empresas, na sondagem de confiança da construção civil da FGV em janeiro, é "falta de mão de obra qualificada", assinalado por 30,6% dos respondentes.

A liderança desse quesito entre os fatores limitativos vêm desde o final de 2023 de forma quase ininterrupta, segundo Castelo. A economista acrescenta que o setor da construção cresceu em 2023 mais pelo lado formal e, ao longo de 2024, o chamado "efeito formiguinha" (reformas, construção informal etc., que usam mais mão de obra informal) foi se fortalecendo.

Ainda na sondagem da construção de janeiro, 19,6% dos respondentes apontaram o "custo da mão de obra" como um fator limitativo, uma alta em relação aos 13,7% que indicaram esse mesmo fator em janeiro de 2024.

Castelo explica que houve uma mudança na metodologia do INCC em julho de 2023. Foram alterados os pesos de algumas capitais. Belo Horizonte, por exemplo, teve seu peso aumentado, e, agora em janeiro, registrou a maior taxa acumulada de 12 meses de mão de obra no INCC, de 13,77%.

Outra mudança é que, anteriormente, o custo da mão de obra no INCC era basicamente mensurado pelos índices dos acordos coletivos, que, por sua voz, seguiam de perto o INPC. Na prática, explica a economista, hoje a construção civil está muito terceirizada, com fragmentação em diferentes tipos de empresas, etapas e serviços. Se o mercado estiver aquecido, o aumento salarial real pode superar o dos acordos coletivos, e vice-versa. A nova metodologia ainda leva em conta os acordos coletivos, mas tem outras ferramentas para chegar a números mais realistas.

Thadeu, da BCG, que mapeou a relação entre a inflação da mão de obra no INCC e a inflação de serviços do IPCA, nota que os setores de mão de obra menos qualificada têm muita interseção, como construção civil, serviços de limpeza, restaurantes etc. Assim, a construção civil, pelo grande tamanho do seu mercado de trabalho, é um termômetro para a inflação dos serviços intensivos em mão de obra.

Silvia Matos, coordenadora de macroeconomia do IBRE, menciona que a inflação de serviços tem uma inércia relevante, e demora a subir assim como também cai lentamente. Ela vê a inflação de serviços como tendo demorado para se elevar com o aquecimento da economia brasileira em 2023 e parte de 2024, mas agora ela dá sinais de impulsão que, reversamente, podem levar tempo para serem contidos.

A construção, em particular, tem um ciclo longo de financiamento e contratação de projetos, e o aquecimento do seu mercado de mão de obra pode ter uma sobrevida, diante da piora das condições financeiras, maior do que o de outros setores da economia.

"É por isso que é tão importante que a economia desacelere agora, para evitar que patamares mais altos de inflação de serviços se consolidem e contaminem outros aspectos da inflação", conclui Matos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 7/2/2025, sexta-feira.

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