Economia e políticas públicas

Opinião|Combustíveis sobem como foguete, mas caem de paraquedas


Segue minha coluna de ontem na AE-News, da Broadcast:

Por Fernando Dantas

Na televisão, nas rádios e no jornal, o roteiro é sempre semelhante. Quando ocorrem aumentos dos preços dos combustíveis no atacado, isto é, nas refinarias e nos distribuidores, rapidamente os consumidores, nos postos de abastecimento, são confrontados com custos mais altos para encher os tanques de seus veículos. Na situação inversa, porém, quando os preços caem no atacado, a esperada queda no varejo tarda a chegar, levando a reclamações e indignação contra as redes de postos

Para o senso comum, portanto, está bem estabelecido que, do ponto de vista do bolso dos consumidores, o preço dos combustíveis sobe como um foguete e desce de para-quedas, num movimento lento e caprichoso. O economista Mauricio Canêdo, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), está investigando o tema, e já tem um trabalho quase pronto, sobre o comportamento do diesel.

Ele observa inicialmente que a evidência internacional é de que a percepção do consumidor brasileiro é verdadeira: uma série de estudos indica que, de fato, no caso de produtos como combustíveis - em particular, gasolina - e de commodities agrícolas, como milho e soja, existem velocidades diferentes de repasse ao consumidor de choques de oferta. Assim, as altas são rapidamente incorporadas ao preço final, enquanto o repasse das baixas é retardado.

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Canêdo resolveu testar o efeito no Brasil, estimando um modelo sobre como as variações no atacado são repassados ao varejo, com a suposição de que um choque positivo (de alta) é diferente de um negativo. E o resultado confirmou de forma muito robusta a percepção popular, com repasses quase instantâneos da alta no atacado, comparados a reduções lentas e muito dilatadas no tempo das quedas de preço.

Por questões técnicas, o economista optou, para a sua investigação principal, pelo óleo diesel. Canêdo também trabalhou com os dados sobre o álcool, mas o alto grau de possibilidade de substituição deste pela gasolina, por causa da frota de carros flex, complica muito a estimação. Um veículo a diesel, por sua vez, pode ser adaptado para rodar com GNV, mas o custo e a complicação de instalar o kit fazem com que o efeito substituição seja muito pequeno. Assim, o que move o preço do diesel no varejo são basicamente as mudanças no atacado.

Canêdo fez os seus cálculos utilizando os preços do diesel nas séries do Índice de Preços ao Atacado (IPA) e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV, de janeiro de 1999 a março de 2010. O período vai desde o início da série até uma mudança metodológica, a partir de abril de 2010, que prejudica a comparabilidade.

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Naquele espaço de tempo, para cada variação de 1% no preço no atacado do óleo diesel, houve mudanças nos preços de varejo de 0,94 ponto porcentual, o que significa um repasse quase integral. A dinâmica temporal dos repasses, porém, foi radicalmente distinta no caso de altas e quedas do preço de atacado.

No primeiro caso, para cada 1% de elevação do preço do diesel no atacado, 0,92 ponto porcentual foi repassado no primeiro mês depois da mudança. Já no caso das baixas de preço no atacado, apenas 0,36 ponto porcentual de cada 1% foi repassado às bombas no primeiro mês. Três meses depois, o porcentual sobe para 0,53; em seis meses, para 0,65; e, um ano depois, ainda está em 0,8 ponto porcentual. Em dois anos, 0,9 ponto porcentual é repassado, chegando a 0,93 em três anos.

Canêdo agora quer estudar as causas do fenômeno. Para um brasileiro comum, essa intenção pode soar quase ingênua: "É a ganância dos donos dos postos de combustível", diria a maior parte das pessoas. Como economista bem treinado, porém, ele sabe que qualquer empresário sempre tentará cobrar o preço mais alto possível, mas a competição entre eles deveria, em princípio, forçar as quedas no atacado a transitarem mais velozmente para o varejo.  

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Assim, uma primeira e importante hipótese de trabalho é a da cartelização da distribuição final de combustíveis no Brasil, que é bastante regionalizada. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aliás, já autuou redes de postos em algumas capitais, o que reforça essa possibilidade. Canêdo ressalva, porém, que isso não resolve a questão em definitivo, e só uma pesquisa mais aprofundada pode certificar que o poder de mercado seja o principal fator explicativo da transmissão retardada das quedas de preços dos combustíveis no atacado para o varejo.

Na sua agenda de pesquisa, além de buscar as causas, Canêdo pretende replicar a investigação do óleo diesel para o álcool e a gasolina. No álcool, ele quer refinar o trabalho já feito, que não tratou adequadamente do fator substituição pela gasolina. Já esta última, além do problema da substituição pelo álcool, padece ainda de dificuldades relacionadas à base de dados.

O economista nota que compreender e medir a transmissão dos movimentos de preços do atacado para o varejo também é muito relevante para a política monetária. Ele tem a ideia, inclusive, de fazer o mesmo exercício para todo o IPA, medindo as eventuais diferenças na disseminação para o IPC de altas e baixas do conjunto dos preços do atacado.

Na televisão, nas rádios e no jornal, o roteiro é sempre semelhante. Quando ocorrem aumentos dos preços dos combustíveis no atacado, isto é, nas refinarias e nos distribuidores, rapidamente os consumidores, nos postos de abastecimento, são confrontados com custos mais altos para encher os tanques de seus veículos. Na situação inversa, porém, quando os preços caem no atacado, a esperada queda no varejo tarda a chegar, levando a reclamações e indignação contra as redes de postos

Para o senso comum, portanto, está bem estabelecido que, do ponto de vista do bolso dos consumidores, o preço dos combustíveis sobe como um foguete e desce de para-quedas, num movimento lento e caprichoso. O economista Mauricio Canêdo, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), está investigando o tema, e já tem um trabalho quase pronto, sobre o comportamento do diesel.

Ele observa inicialmente que a evidência internacional é de que a percepção do consumidor brasileiro é verdadeira: uma série de estudos indica que, de fato, no caso de produtos como combustíveis - em particular, gasolina - e de commodities agrícolas, como milho e soja, existem velocidades diferentes de repasse ao consumidor de choques de oferta. Assim, as altas são rapidamente incorporadas ao preço final, enquanto o repasse das baixas é retardado.

Canêdo resolveu testar o efeito no Brasil, estimando um modelo sobre como as variações no atacado são repassados ao varejo, com a suposição de que um choque positivo (de alta) é diferente de um negativo. E o resultado confirmou de forma muito robusta a percepção popular, com repasses quase instantâneos da alta no atacado, comparados a reduções lentas e muito dilatadas no tempo das quedas de preço.

Por questões técnicas, o economista optou, para a sua investigação principal, pelo óleo diesel. Canêdo também trabalhou com os dados sobre o álcool, mas o alto grau de possibilidade de substituição deste pela gasolina, por causa da frota de carros flex, complica muito a estimação. Um veículo a diesel, por sua vez, pode ser adaptado para rodar com GNV, mas o custo e a complicação de instalar o kit fazem com que o efeito substituição seja muito pequeno. Assim, o que move o preço do diesel no varejo são basicamente as mudanças no atacado.

Canêdo fez os seus cálculos utilizando os preços do diesel nas séries do Índice de Preços ao Atacado (IPA) e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV, de janeiro de 1999 a março de 2010. O período vai desde o início da série até uma mudança metodológica, a partir de abril de 2010, que prejudica a comparabilidade.

Naquele espaço de tempo, para cada variação de 1% no preço no atacado do óleo diesel, houve mudanças nos preços de varejo de 0,94 ponto porcentual, o que significa um repasse quase integral. A dinâmica temporal dos repasses, porém, foi radicalmente distinta no caso de altas e quedas do preço de atacado.

No primeiro caso, para cada 1% de elevação do preço do diesel no atacado, 0,92 ponto porcentual foi repassado no primeiro mês depois da mudança. Já no caso das baixas de preço no atacado, apenas 0,36 ponto porcentual de cada 1% foi repassado às bombas no primeiro mês. Três meses depois, o porcentual sobe para 0,53; em seis meses, para 0,65; e, um ano depois, ainda está em 0,8 ponto porcentual. Em dois anos, 0,9 ponto porcentual é repassado, chegando a 0,93 em três anos.

Canêdo agora quer estudar as causas do fenômeno. Para um brasileiro comum, essa intenção pode soar quase ingênua: "É a ganância dos donos dos postos de combustível", diria a maior parte das pessoas. Como economista bem treinado, porém, ele sabe que qualquer empresário sempre tentará cobrar o preço mais alto possível, mas a competição entre eles deveria, em princípio, forçar as quedas no atacado a transitarem mais velozmente para o varejo.  

Assim, uma primeira e importante hipótese de trabalho é a da cartelização da distribuição final de combustíveis no Brasil, que é bastante regionalizada. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aliás, já autuou redes de postos em algumas capitais, o que reforça essa possibilidade. Canêdo ressalva, porém, que isso não resolve a questão em definitivo, e só uma pesquisa mais aprofundada pode certificar que o poder de mercado seja o principal fator explicativo da transmissão retardada das quedas de preços dos combustíveis no atacado para o varejo.

Na sua agenda de pesquisa, além de buscar as causas, Canêdo pretende replicar a investigação do óleo diesel para o álcool e a gasolina. No álcool, ele quer refinar o trabalho já feito, que não tratou adequadamente do fator substituição pela gasolina. Já esta última, além do problema da substituição pelo álcool, padece ainda de dificuldades relacionadas à base de dados.

O economista nota que compreender e medir a transmissão dos movimentos de preços do atacado para o varejo também é muito relevante para a política monetária. Ele tem a ideia, inclusive, de fazer o mesmo exercício para todo o IPA, medindo as eventuais diferenças na disseminação para o IPC de altas e baixas do conjunto dos preços do atacado.

Na televisão, nas rádios e no jornal, o roteiro é sempre semelhante. Quando ocorrem aumentos dos preços dos combustíveis no atacado, isto é, nas refinarias e nos distribuidores, rapidamente os consumidores, nos postos de abastecimento, são confrontados com custos mais altos para encher os tanques de seus veículos. Na situação inversa, porém, quando os preços caem no atacado, a esperada queda no varejo tarda a chegar, levando a reclamações e indignação contra as redes de postos

Para o senso comum, portanto, está bem estabelecido que, do ponto de vista do bolso dos consumidores, o preço dos combustíveis sobe como um foguete e desce de para-quedas, num movimento lento e caprichoso. O economista Mauricio Canêdo, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), está investigando o tema, e já tem um trabalho quase pronto, sobre o comportamento do diesel.

Ele observa inicialmente que a evidência internacional é de que a percepção do consumidor brasileiro é verdadeira: uma série de estudos indica que, de fato, no caso de produtos como combustíveis - em particular, gasolina - e de commodities agrícolas, como milho e soja, existem velocidades diferentes de repasse ao consumidor de choques de oferta. Assim, as altas são rapidamente incorporadas ao preço final, enquanto o repasse das baixas é retardado.

Canêdo resolveu testar o efeito no Brasil, estimando um modelo sobre como as variações no atacado são repassados ao varejo, com a suposição de que um choque positivo (de alta) é diferente de um negativo. E o resultado confirmou de forma muito robusta a percepção popular, com repasses quase instantâneos da alta no atacado, comparados a reduções lentas e muito dilatadas no tempo das quedas de preço.

Por questões técnicas, o economista optou, para a sua investigação principal, pelo óleo diesel. Canêdo também trabalhou com os dados sobre o álcool, mas o alto grau de possibilidade de substituição deste pela gasolina, por causa da frota de carros flex, complica muito a estimação. Um veículo a diesel, por sua vez, pode ser adaptado para rodar com GNV, mas o custo e a complicação de instalar o kit fazem com que o efeito substituição seja muito pequeno. Assim, o que move o preço do diesel no varejo são basicamente as mudanças no atacado.

Canêdo fez os seus cálculos utilizando os preços do diesel nas séries do Índice de Preços ao Atacado (IPA) e do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV, de janeiro de 1999 a março de 2010. O período vai desde o início da série até uma mudança metodológica, a partir de abril de 2010, que prejudica a comparabilidade.

Naquele espaço de tempo, para cada variação de 1% no preço no atacado do óleo diesel, houve mudanças nos preços de varejo de 0,94 ponto porcentual, o que significa um repasse quase integral. A dinâmica temporal dos repasses, porém, foi radicalmente distinta no caso de altas e quedas do preço de atacado.

No primeiro caso, para cada 1% de elevação do preço do diesel no atacado, 0,92 ponto porcentual foi repassado no primeiro mês depois da mudança. Já no caso das baixas de preço no atacado, apenas 0,36 ponto porcentual de cada 1% foi repassado às bombas no primeiro mês. Três meses depois, o porcentual sobe para 0,53; em seis meses, para 0,65; e, um ano depois, ainda está em 0,8 ponto porcentual. Em dois anos, 0,9 ponto porcentual é repassado, chegando a 0,93 em três anos.

Canêdo agora quer estudar as causas do fenômeno. Para um brasileiro comum, essa intenção pode soar quase ingênua: "É a ganância dos donos dos postos de combustível", diria a maior parte das pessoas. Como economista bem treinado, porém, ele sabe que qualquer empresário sempre tentará cobrar o preço mais alto possível, mas a competição entre eles deveria, em princípio, forçar as quedas no atacado a transitarem mais velozmente para o varejo.  

Assim, uma primeira e importante hipótese de trabalho é a da cartelização da distribuição final de combustíveis no Brasil, que é bastante regionalizada. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aliás, já autuou redes de postos em algumas capitais, o que reforça essa possibilidade. Canêdo ressalva, porém, que isso não resolve a questão em definitivo, e só uma pesquisa mais aprofundada pode certificar que o poder de mercado seja o principal fator explicativo da transmissão retardada das quedas de preços dos combustíveis no atacado para o varejo.

Na sua agenda de pesquisa, além de buscar as causas, Canêdo pretende replicar a investigação do óleo diesel para o álcool e a gasolina. No álcool, ele quer refinar o trabalho já feito, que não tratou adequadamente do fator substituição pela gasolina. Já esta última, além do problema da substituição pelo álcool, padece ainda de dificuldades relacionadas à base de dados.

O economista nota que compreender e medir a transmissão dos movimentos de preços do atacado para o varejo também é muito relevante para a política monetária. Ele tem a ideia, inclusive, de fazer o mesmo exercício para todo o IPA, medindo as eventuais diferenças na disseminação para o IPC de altas e baixas do conjunto dos preços do atacado.

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