Economia e políticas públicas

Opinião|Duas visões sobre a inflação de serviços


Evolução da inflação de serviços é vista como determinante para convergência do IPCA para a meta. Economistas Carlos Thadeu Freitas Gomes (Asset 1) e João Fernandes (Quantitas) têm visões bem distintas sobre o tema.

Por Fernando Dantas

Um dos pontos que mais chamou a atenção no IPCA de fevereiro (que registrou alta de 0,83%) foi a desaceleração da inflação dos "serviços subjacentes" (núcleo inflacionário de serviços particularmente relevante para o Banco Central) para 0,44%, após atingir 0,76% em janeiro.

A inflação de serviços é vista como variável fundamental no atual processo desinflacionário no Brasil. Boas notícias nesse quesito podem ajudar a trazer a inflação deste ano para mais perto da meta de 3%; e vice-versa.

Os serviços subjacentes aceleraram a partir de novembro, e chegaram a 0,73% no IPCA de janeiro. Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da gestora Asset 1, calculou a média em cada mês da inflação dos serviços subjacentes nos "anos bons" desde 2002. "Ano bom" é aquele em que a inflação de serviços (subjacente) foi de até no máximo 1,5 ponto porcentual (pp) acima da meta da inflação cheia. É "bom" porque nesse anos o IPCA cheio ficou na meta ou perto dela.

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Em janeiro, a média dos serviços subjacentes dos anos bons é de 0,51%. Portanto, o resultado para este indicador de 0,73% foi bem ruim.

Mas Thadeu, na verdade, tem uma visão relativamente benigna sobre o papel da inflação de serviços este ano. O temor nessa questão está muito ligado ao aquecimento do mercado de trabalho. Salários altos afetam a inflação de serviços intensivos em trabalho, que pesam no setor como um todo. Mas o salto da inflação subjacente em janeiro teve uma boa contribuição da alta de tarifas bancárias, um tipo de serviço que não é particularmente ligado a salários.

Adicionalmente, a pandemia mexeu muito com o consumo de serviços (com grande redução, e depois forte recuperação, ambas atingindo em graus diferenciados os diversos segmentos do setor), possivelmente afetando padrões sazonais. E isso demanda cautela extra ao tirar conclusões de dados mensais, como o de janeiro.

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De qualquer forma, a boa notícia foi o recuo dos serviços subjacentes para 0,44% na divulgação de hoje do IPCA de fevereiro. Segundo a conta de Thadeu, esse número está até um pouco abaixo da média de fevereiro nos "anos bons", de 0,46%.

Uma notícia boa adicional, segundo o economista, é que os resultados quadrissemanais que já incluem março dos IPCs da Fipe e da FGV apontam serviços subjacentes abaixo de 3% em março, comparado a uma média do mesmo item em março dos "anos bons" de 0,37%.

Assim, a visão mais benigna das últimas informações no front da inflação de serviços contribui para a projeção de IPCA este ano de 3,3% pelo economista da Asset 1.

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Seu colega João Fernandes, economista da gestora Quantitas, tem uma posição bem diferente nesse debate. Fernandes observa que, mesmo tirando as tarifas bancárias, a inflação de serviços acelerou nos últimos meses, e esse movimento foi sintomaticamente casado com a alta do IDAT-Mercado de Trabalho, indicador salarial divulgado pelo Itaú. Documentos do Itaú explicam que o IDAT Salário é baseado no processamento de folhas salariais de empresas clientes do banco, e, portanto, é referente ao mercado formal.

Fernandes nota ainda que os serviços subjacentes de fevereiro teriam atingido 0,55%, 0,11pp acima do resultado efetivo, se não fossem os descontos dados em ingressos de cinema, que levaram a um recuo deste item em torno 5% no mês passado. Essa foi uma interferência nova na inflação de fevereiro - embora no mesmo mês de 2023 também tenha havido esse tipo de promoção, ela não provocou o mesmo o efeito desinflacionário registrado no IPCA de fevereiro deste ano. O principal, porém, para o economista, é que se trata de um movimento que deve ser totalmente revertido. Com o fim dos descontos, os preços voltam ao normal e a desinflação dos ingressos de cinema do mês passado não vai deixar "herança" para o ano de 2024.

Fernandes acrescenta que a inflação de serviços subjacentes em fevereiro tirando cinema do cálculo, de 0,55%, veio até um pouco acima das projeções de mercado de 0,53%. Dessa forma, o economista não vê uma surpresa positiva na inflação dos serviços subjacentes de fevereiro.

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O seu cenário para o ano contempla uma inflação de serviços subjacentes de 4,6%, que, na sua estimativa, é compatível com um IPCA fechado no ano de 4%. Mas Fernandes alerta que mesmo esse cenário contempla alguma desaceleração dos serviços subjacentes por ele prevista, mas que ainda não apareceu nos dados. Apenas pelo andar da carruagem até agora, ele vê os serviços subjacentes apontando para algo como 5% ou ligeiramente mais no ano, o que seria compatível com um IPCA entre 4,1% e 4,3%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/3/2024, terça-feira.

Um dos pontos que mais chamou a atenção no IPCA de fevereiro (que registrou alta de 0,83%) foi a desaceleração da inflação dos "serviços subjacentes" (núcleo inflacionário de serviços particularmente relevante para o Banco Central) para 0,44%, após atingir 0,76% em janeiro.

A inflação de serviços é vista como variável fundamental no atual processo desinflacionário no Brasil. Boas notícias nesse quesito podem ajudar a trazer a inflação deste ano para mais perto da meta de 3%; e vice-versa.

Os serviços subjacentes aceleraram a partir de novembro, e chegaram a 0,73% no IPCA de janeiro. Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da gestora Asset 1, calculou a média em cada mês da inflação dos serviços subjacentes nos "anos bons" desde 2002. "Ano bom" é aquele em que a inflação de serviços (subjacente) foi de até no máximo 1,5 ponto porcentual (pp) acima da meta da inflação cheia. É "bom" porque nesse anos o IPCA cheio ficou na meta ou perto dela.

Em janeiro, a média dos serviços subjacentes dos anos bons é de 0,51%. Portanto, o resultado para este indicador de 0,73% foi bem ruim.

Mas Thadeu, na verdade, tem uma visão relativamente benigna sobre o papel da inflação de serviços este ano. O temor nessa questão está muito ligado ao aquecimento do mercado de trabalho. Salários altos afetam a inflação de serviços intensivos em trabalho, que pesam no setor como um todo. Mas o salto da inflação subjacente em janeiro teve uma boa contribuição da alta de tarifas bancárias, um tipo de serviço que não é particularmente ligado a salários.

Adicionalmente, a pandemia mexeu muito com o consumo de serviços (com grande redução, e depois forte recuperação, ambas atingindo em graus diferenciados os diversos segmentos do setor), possivelmente afetando padrões sazonais. E isso demanda cautela extra ao tirar conclusões de dados mensais, como o de janeiro.

De qualquer forma, a boa notícia foi o recuo dos serviços subjacentes para 0,44% na divulgação de hoje do IPCA de fevereiro. Segundo a conta de Thadeu, esse número está até um pouco abaixo da média de fevereiro nos "anos bons", de 0,46%.

Uma notícia boa adicional, segundo o economista, é que os resultados quadrissemanais que já incluem março dos IPCs da Fipe e da FGV apontam serviços subjacentes abaixo de 3% em março, comparado a uma média do mesmo item em março dos "anos bons" de 0,37%.

Assim, a visão mais benigna das últimas informações no front da inflação de serviços contribui para a projeção de IPCA este ano de 3,3% pelo economista da Asset 1.

Seu colega João Fernandes, economista da gestora Quantitas, tem uma posição bem diferente nesse debate. Fernandes observa que, mesmo tirando as tarifas bancárias, a inflação de serviços acelerou nos últimos meses, e esse movimento foi sintomaticamente casado com a alta do IDAT-Mercado de Trabalho, indicador salarial divulgado pelo Itaú. Documentos do Itaú explicam que o IDAT Salário é baseado no processamento de folhas salariais de empresas clientes do banco, e, portanto, é referente ao mercado formal.

Fernandes nota ainda que os serviços subjacentes de fevereiro teriam atingido 0,55%, 0,11pp acima do resultado efetivo, se não fossem os descontos dados em ingressos de cinema, que levaram a um recuo deste item em torno 5% no mês passado. Essa foi uma interferência nova na inflação de fevereiro - embora no mesmo mês de 2023 também tenha havido esse tipo de promoção, ela não provocou o mesmo o efeito desinflacionário registrado no IPCA de fevereiro deste ano. O principal, porém, para o economista, é que se trata de um movimento que deve ser totalmente revertido. Com o fim dos descontos, os preços voltam ao normal e a desinflação dos ingressos de cinema do mês passado não vai deixar "herança" para o ano de 2024.

Fernandes acrescenta que a inflação de serviços subjacentes em fevereiro tirando cinema do cálculo, de 0,55%, veio até um pouco acima das projeções de mercado de 0,53%. Dessa forma, o economista não vê uma surpresa positiva na inflação dos serviços subjacentes de fevereiro.

O seu cenário para o ano contempla uma inflação de serviços subjacentes de 4,6%, que, na sua estimativa, é compatível com um IPCA fechado no ano de 4%. Mas Fernandes alerta que mesmo esse cenário contempla alguma desaceleração dos serviços subjacentes por ele prevista, mas que ainda não apareceu nos dados. Apenas pelo andar da carruagem até agora, ele vê os serviços subjacentes apontando para algo como 5% ou ligeiramente mais no ano, o que seria compatível com um IPCA entre 4,1% e 4,3%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/3/2024, terça-feira.

Um dos pontos que mais chamou a atenção no IPCA de fevereiro (que registrou alta de 0,83%) foi a desaceleração da inflação dos "serviços subjacentes" (núcleo inflacionário de serviços particularmente relevante para o Banco Central) para 0,44%, após atingir 0,76% em janeiro.

A inflação de serviços é vista como variável fundamental no atual processo desinflacionário no Brasil. Boas notícias nesse quesito podem ajudar a trazer a inflação deste ano para mais perto da meta de 3%; e vice-versa.

Os serviços subjacentes aceleraram a partir de novembro, e chegaram a 0,73% no IPCA de janeiro. Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da gestora Asset 1, calculou a média em cada mês da inflação dos serviços subjacentes nos "anos bons" desde 2002. "Ano bom" é aquele em que a inflação de serviços (subjacente) foi de até no máximo 1,5 ponto porcentual (pp) acima da meta da inflação cheia. É "bom" porque nesse anos o IPCA cheio ficou na meta ou perto dela.

Em janeiro, a média dos serviços subjacentes dos anos bons é de 0,51%. Portanto, o resultado para este indicador de 0,73% foi bem ruim.

Mas Thadeu, na verdade, tem uma visão relativamente benigna sobre o papel da inflação de serviços este ano. O temor nessa questão está muito ligado ao aquecimento do mercado de trabalho. Salários altos afetam a inflação de serviços intensivos em trabalho, que pesam no setor como um todo. Mas o salto da inflação subjacente em janeiro teve uma boa contribuição da alta de tarifas bancárias, um tipo de serviço que não é particularmente ligado a salários.

Adicionalmente, a pandemia mexeu muito com o consumo de serviços (com grande redução, e depois forte recuperação, ambas atingindo em graus diferenciados os diversos segmentos do setor), possivelmente afetando padrões sazonais. E isso demanda cautela extra ao tirar conclusões de dados mensais, como o de janeiro.

De qualquer forma, a boa notícia foi o recuo dos serviços subjacentes para 0,44% na divulgação de hoje do IPCA de fevereiro. Segundo a conta de Thadeu, esse número está até um pouco abaixo da média de fevereiro nos "anos bons", de 0,46%.

Uma notícia boa adicional, segundo o economista, é que os resultados quadrissemanais que já incluem março dos IPCs da Fipe e da FGV apontam serviços subjacentes abaixo de 3% em março, comparado a uma média do mesmo item em março dos "anos bons" de 0,37%.

Assim, a visão mais benigna das últimas informações no front da inflação de serviços contribui para a projeção de IPCA este ano de 3,3% pelo economista da Asset 1.

Seu colega João Fernandes, economista da gestora Quantitas, tem uma posição bem diferente nesse debate. Fernandes observa que, mesmo tirando as tarifas bancárias, a inflação de serviços acelerou nos últimos meses, e esse movimento foi sintomaticamente casado com a alta do IDAT-Mercado de Trabalho, indicador salarial divulgado pelo Itaú. Documentos do Itaú explicam que o IDAT Salário é baseado no processamento de folhas salariais de empresas clientes do banco, e, portanto, é referente ao mercado formal.

Fernandes nota ainda que os serviços subjacentes de fevereiro teriam atingido 0,55%, 0,11pp acima do resultado efetivo, se não fossem os descontos dados em ingressos de cinema, que levaram a um recuo deste item em torno 5% no mês passado. Essa foi uma interferência nova na inflação de fevereiro - embora no mesmo mês de 2023 também tenha havido esse tipo de promoção, ela não provocou o mesmo o efeito desinflacionário registrado no IPCA de fevereiro deste ano. O principal, porém, para o economista, é que se trata de um movimento que deve ser totalmente revertido. Com o fim dos descontos, os preços voltam ao normal e a desinflação dos ingressos de cinema do mês passado não vai deixar "herança" para o ano de 2024.

Fernandes acrescenta que a inflação de serviços subjacentes em fevereiro tirando cinema do cálculo, de 0,55%, veio até um pouco acima das projeções de mercado de 0,53%. Dessa forma, o economista não vê uma surpresa positiva na inflação dos serviços subjacentes de fevereiro.

O seu cenário para o ano contempla uma inflação de serviços subjacentes de 4,6%, que, na sua estimativa, é compatível com um IPCA fechado no ano de 4%. Mas Fernandes alerta que mesmo esse cenário contempla alguma desaceleração dos serviços subjacentes por ele prevista, mas que ainda não apareceu nos dados. Apenas pelo andar da carruagem até agora, ele vê os serviços subjacentes apontando para algo como 5% ou ligeiramente mais no ano, o que seria compatível com um IPCA entre 4,1% e 4,3%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/3/2024, terça-feira.

Um dos pontos que mais chamou a atenção no IPCA de fevereiro (que registrou alta de 0,83%) foi a desaceleração da inflação dos "serviços subjacentes" (núcleo inflacionário de serviços particularmente relevante para o Banco Central) para 0,44%, após atingir 0,76% em janeiro.

A inflação de serviços é vista como variável fundamental no atual processo desinflacionário no Brasil. Boas notícias nesse quesito podem ajudar a trazer a inflação deste ano para mais perto da meta de 3%; e vice-versa.

Os serviços subjacentes aceleraram a partir de novembro, e chegaram a 0,73% no IPCA de janeiro. Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da gestora Asset 1, calculou a média em cada mês da inflação dos serviços subjacentes nos "anos bons" desde 2002. "Ano bom" é aquele em que a inflação de serviços (subjacente) foi de até no máximo 1,5 ponto porcentual (pp) acima da meta da inflação cheia. É "bom" porque nesse anos o IPCA cheio ficou na meta ou perto dela.

Em janeiro, a média dos serviços subjacentes dos anos bons é de 0,51%. Portanto, o resultado para este indicador de 0,73% foi bem ruim.

Mas Thadeu, na verdade, tem uma visão relativamente benigna sobre o papel da inflação de serviços este ano. O temor nessa questão está muito ligado ao aquecimento do mercado de trabalho. Salários altos afetam a inflação de serviços intensivos em trabalho, que pesam no setor como um todo. Mas o salto da inflação subjacente em janeiro teve uma boa contribuição da alta de tarifas bancárias, um tipo de serviço que não é particularmente ligado a salários.

Adicionalmente, a pandemia mexeu muito com o consumo de serviços (com grande redução, e depois forte recuperação, ambas atingindo em graus diferenciados os diversos segmentos do setor), possivelmente afetando padrões sazonais. E isso demanda cautela extra ao tirar conclusões de dados mensais, como o de janeiro.

De qualquer forma, a boa notícia foi o recuo dos serviços subjacentes para 0,44% na divulgação de hoje do IPCA de fevereiro. Segundo a conta de Thadeu, esse número está até um pouco abaixo da média de fevereiro nos "anos bons", de 0,46%.

Uma notícia boa adicional, segundo o economista, é que os resultados quadrissemanais que já incluem março dos IPCs da Fipe e da FGV apontam serviços subjacentes abaixo de 3% em março, comparado a uma média do mesmo item em março dos "anos bons" de 0,37%.

Assim, a visão mais benigna das últimas informações no front da inflação de serviços contribui para a projeção de IPCA este ano de 3,3% pelo economista da Asset 1.

Seu colega João Fernandes, economista da gestora Quantitas, tem uma posição bem diferente nesse debate. Fernandes observa que, mesmo tirando as tarifas bancárias, a inflação de serviços acelerou nos últimos meses, e esse movimento foi sintomaticamente casado com a alta do IDAT-Mercado de Trabalho, indicador salarial divulgado pelo Itaú. Documentos do Itaú explicam que o IDAT Salário é baseado no processamento de folhas salariais de empresas clientes do banco, e, portanto, é referente ao mercado formal.

Fernandes nota ainda que os serviços subjacentes de fevereiro teriam atingido 0,55%, 0,11pp acima do resultado efetivo, se não fossem os descontos dados em ingressos de cinema, que levaram a um recuo deste item em torno 5% no mês passado. Essa foi uma interferência nova na inflação de fevereiro - embora no mesmo mês de 2023 também tenha havido esse tipo de promoção, ela não provocou o mesmo o efeito desinflacionário registrado no IPCA de fevereiro deste ano. O principal, porém, para o economista, é que se trata de um movimento que deve ser totalmente revertido. Com o fim dos descontos, os preços voltam ao normal e a desinflação dos ingressos de cinema do mês passado não vai deixar "herança" para o ano de 2024.

Fernandes acrescenta que a inflação de serviços subjacentes em fevereiro tirando cinema do cálculo, de 0,55%, veio até um pouco acima das projeções de mercado de 0,53%. Dessa forma, o economista não vê uma surpresa positiva na inflação dos serviços subjacentes de fevereiro.

O seu cenário para o ano contempla uma inflação de serviços subjacentes de 4,6%, que, na sua estimativa, é compatível com um IPCA fechado no ano de 4%. Mas Fernandes alerta que mesmo esse cenário contempla alguma desaceleração dos serviços subjacentes por ele prevista, mas que ainda não apareceu nos dados. Apenas pelo andar da carruagem até agora, ele vê os serviços subjacentes apontando para algo como 5% ou ligeiramente mais no ano, o que seria compatível com um IPCA entre 4,1% e 4,3%.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 12/3/2024, terça-feira.

Um dos pontos que mais chamou a atenção no IPCA de fevereiro (que registrou alta de 0,83%) foi a desaceleração da inflação dos "serviços subjacentes" (núcleo inflacionário de serviços particularmente relevante para o Banco Central) para 0,44%, após atingir 0,76% em janeiro.

A inflação de serviços é vista como variável fundamental no atual processo desinflacionário no Brasil. Boas notícias nesse quesito podem ajudar a trazer a inflação deste ano para mais perto da meta de 3%; e vice-versa.

Os serviços subjacentes aceleraram a partir de novembro, e chegaram a 0,73% no IPCA de janeiro. Carlos Thadeu Freitas Gomes, economista sênior da gestora Asset 1, calculou a média em cada mês da inflação dos serviços subjacentes nos "anos bons" desde 2002. "Ano bom" é aquele em que a inflação de serviços (subjacente) foi de até no máximo 1,5 ponto porcentual (pp) acima da meta da inflação cheia. É "bom" porque nesse anos o IPCA cheio ficou na meta ou perto dela.

Em janeiro, a média dos serviços subjacentes dos anos bons é de 0,51%. Portanto, o resultado para este indicador de 0,73% foi bem ruim.

Mas Thadeu, na verdade, tem uma visão relativamente benigna sobre o papel da inflação de serviços este ano. O temor nessa questão está muito ligado ao aquecimento do mercado de trabalho. Salários altos afetam a inflação de serviços intensivos em trabalho, que pesam no setor como um todo. Mas o salto da inflação subjacente em janeiro teve uma boa contribuição da alta de tarifas bancárias, um tipo de serviço que não é particularmente ligado a salários.

Adicionalmente, a pandemia mexeu muito com o consumo de serviços (com grande redução, e depois forte recuperação, ambas atingindo em graus diferenciados os diversos segmentos do setor), possivelmente afetando padrões sazonais. E isso demanda cautela extra ao tirar conclusões de dados mensais, como o de janeiro.

De qualquer forma, a boa notícia foi o recuo dos serviços subjacentes para 0,44% na divulgação de hoje do IPCA de fevereiro. Segundo a conta de Thadeu, esse número está até um pouco abaixo da média de fevereiro nos "anos bons", de 0,46%.

Uma notícia boa adicional, segundo o economista, é que os resultados quadrissemanais que já incluem março dos IPCs da Fipe e da FGV apontam serviços subjacentes abaixo de 3% em março, comparado a uma média do mesmo item em março dos "anos bons" de 0,37%.

Assim, a visão mais benigna das últimas informações no front da inflação de serviços contribui para a projeção de IPCA este ano de 3,3% pelo economista da Asset 1.

Seu colega João Fernandes, economista da gestora Quantitas, tem uma posição bem diferente nesse debate. Fernandes observa que, mesmo tirando as tarifas bancárias, a inflação de serviços acelerou nos últimos meses, e esse movimento foi sintomaticamente casado com a alta do IDAT-Mercado de Trabalho, indicador salarial divulgado pelo Itaú. Documentos do Itaú explicam que o IDAT Salário é baseado no processamento de folhas salariais de empresas clientes do banco, e, portanto, é referente ao mercado formal.

Fernandes nota ainda que os serviços subjacentes de fevereiro teriam atingido 0,55%, 0,11pp acima do resultado efetivo, se não fossem os descontos dados em ingressos de cinema, que levaram a um recuo deste item em torno 5% no mês passado. Essa foi uma interferência nova na inflação de fevereiro - embora no mesmo mês de 2023 também tenha havido esse tipo de promoção, ela não provocou o mesmo o efeito desinflacionário registrado no IPCA de fevereiro deste ano. O principal, porém, para o economista, é que se trata de um movimento que deve ser totalmente revertido. Com o fim dos descontos, os preços voltam ao normal e a desinflação dos ingressos de cinema do mês passado não vai deixar "herança" para o ano de 2024.

Fernandes acrescenta que a inflação de serviços subjacentes em fevereiro tirando cinema do cálculo, de 0,55%, veio até um pouco acima das projeções de mercado de 0,53%. Dessa forma, o economista não vê uma surpresa positiva na inflação dos serviços subjacentes de fevereiro.

O seu cenário para o ano contempla uma inflação de serviços subjacentes de 4,6%, que, na sua estimativa, é compatível com um IPCA fechado no ano de 4%. Mas Fernandes alerta que mesmo esse cenário contempla alguma desaceleração dos serviços subjacentes por ele prevista, mas que ainda não apareceu nos dados. Apenas pelo andar da carruagem até agora, ele vê os serviços subjacentes apontando para algo como 5% ou ligeiramente mais no ano, o que seria compatível com um IPCA entre 4,1% e 4,3%.

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