Economia e políticas públicas

Opinião|É daqui a cinco dias - estão preparados?


Início do governo Trump pode ser bem mais explosivo em suas decisões e consequências do que projeta a corrente mais otimista que prevê efeitos mais restritos à relação entre EUA e China. A avaliação é do economista Livio Ribeiro, da BRCG e do IBRE-FGV.

Por Fernando Dantas

Daqui a cinco dias, na segunda-feira, dia 20/1, Donald Trump toma posse para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, após quatro anos fora do poder.

Qualquer posse de um presidente americano, ainda mais quando o cargo troca de mãos, já é por si só um evento de grande importância mundial. Mas certamente o início do Trump 2 mexerá bem mais com os alicerces globais do que a média das posses dos presidentes americanos.

O republicano eleito para seu segundo e último mandato (pela legislação atual dos Estados Unidos) foi mais radical e virulento nesta recente campanha do que quando se candidatou pela primeira vez, já com uma plataforma de populismo de direita que aterrorizou o establishment mundial à época.

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Agora, em temas sensíveis e de imensas repercussões globais, como política comercial e imigração, Trump perdeu todas as amarras e fez promessas de aumentos de tarifas gigantescos para uma ampla gama de produtos e países, e deportações maciças. As bravatas pouquíssimo críveis dos últimos dias, sobre anexação do Canadá, Groenlândia e Panamá, trouxeram de volta a ideia de que não é para levar muito a sério o que promete o presidente eleito norte-americano.

Mas o economista Livio Ribeiro (consultoria BRCG e IBRE-FGV) considera mais sensato que o mundo se prepare devidamente para um forte choque a partir do dia 20/1. Observador atento da cena internacional, o analista menciona vários relatos de que já há, organizadas, centenas de ordens executivas a serem disparadas pelo novo governo americano assim que Trump seja empossado.

"Acho que devemos esperar medidas muito agressivas em termos de tarifas e imigração", ele alerta.

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Obviamente, acrescenta Ribeiro, o cenário permanece com altíssima incerteza. Mas ele decididamente critica o que vê como uma corrente de analistas que ainda acredita que o impacto da posse de Trump será um fenômeno relativamente circunscrito a uma nova rodada de guerra comercial entre Estados Unidos e China.

"Considero essa abordagem muito ingênua, pois não leva em conta o perigo das reações em cadeia", avalia o economista.

Ele aponta que, mesmo que Trump se restringisse inicialmente a elevar tarifas de produtos chineses, a guerra comercial não fugiria ao padrão histórico de gerar uma série de ações e reações.

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"É o tipo de evento que todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina", acrescenta.

Segundo Ribeiro, com o maior fechamento do mercado norte-americano, o fabricante chinês vai tentar deslocar sua produção para outros mercados, como o europeu ou o brasileiro, o que naturalmente vai gerar uma reação protecionista: "A indústria alemã ou a brasileira certamente vão pedir proteção contra essa desova gigantesca de produtos que anteriormente seriam direcionados aos Estados Unidos", raciocina o pesquisador.

Dessa forma, as medidas protecionistas podem ir se irradiando para o conjunto dos países relevantes no comércio global.

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Num país com a tradição protecionista do Brasil, o economista teme que o empuxo inicial deflagrado por Trump se transforme num impulso generalizado aos lobbies em busca de proteção, que "provavelmente vão pedir barreiras para se defender até de ameaças que nem existem ainda".

Para Ribeiro, pode ser que a indústria nacional "sorria de orelha a orelha" com essa oportunidade, mas um efetivo maior fechamento da economia nacional iria não só complicar ainda mais o combate inflacionário no curto prazo, como piorar a já sofrível trajetória da produtividade brasileira.

O sócio-fundador da BRCG observa adicionalmente que a China (país em que é especialista) já flexiona os músculos para o impacto da posse de Trump em diversas frentes.

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Na área econômica, ele cita recentes imposições de barreiras não tarifárias a componentes eletrônicos específicos e o aumento do número de empresas americanas na "lista negra" de investigação pelos órgãos reguladores chineses de práticas ilegais de concorrência. Além disso, as autoridades econômicas da China vêm aumentando a liquidez interna e sinalizando, via monetária e fiscal, amplo apoio ao consumo e à produção.

"O governo chinês parece estar se preparando para o impacto da posse de Trump", diz Ribeiro.

Mas a verdadeira reação à ofensiva de guerra comercial dos Estados Unidos deve ocorrer, na sua visão, de forma orgânica, com medidas de retaliação específicas à medida que os Estados Unidos aumentem tarifas de produtos chineses e imponham outras formas de proteção e fechamento de mercados.

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Mesmo na área militar, Ribeiro pensa que não deve ser coincidência que recentemente a China tenha testado dois ou três novos modelos de aviões-caça de sexta geração (que seriam mais modernos que as aeronaves equivalentes mais avançadas dos EUA) e lançado ao mar um novo porta-aviões.

Faltam cinco dias. Quem viver verá.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/1/2025, quarta-feira.

Daqui a cinco dias, na segunda-feira, dia 20/1, Donald Trump toma posse para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, após quatro anos fora do poder.

Qualquer posse de um presidente americano, ainda mais quando o cargo troca de mãos, já é por si só um evento de grande importância mundial. Mas certamente o início do Trump 2 mexerá bem mais com os alicerces globais do que a média das posses dos presidentes americanos.

O republicano eleito para seu segundo e último mandato (pela legislação atual dos Estados Unidos) foi mais radical e virulento nesta recente campanha do que quando se candidatou pela primeira vez, já com uma plataforma de populismo de direita que aterrorizou o establishment mundial à época.

Agora, em temas sensíveis e de imensas repercussões globais, como política comercial e imigração, Trump perdeu todas as amarras e fez promessas de aumentos de tarifas gigantescos para uma ampla gama de produtos e países, e deportações maciças. As bravatas pouquíssimo críveis dos últimos dias, sobre anexação do Canadá, Groenlândia e Panamá, trouxeram de volta a ideia de que não é para levar muito a sério o que promete o presidente eleito norte-americano.

Mas o economista Livio Ribeiro (consultoria BRCG e IBRE-FGV) considera mais sensato que o mundo se prepare devidamente para um forte choque a partir do dia 20/1. Observador atento da cena internacional, o analista menciona vários relatos de que já há, organizadas, centenas de ordens executivas a serem disparadas pelo novo governo americano assim que Trump seja empossado.

"Acho que devemos esperar medidas muito agressivas em termos de tarifas e imigração", ele alerta.

Obviamente, acrescenta Ribeiro, o cenário permanece com altíssima incerteza. Mas ele decididamente critica o que vê como uma corrente de analistas que ainda acredita que o impacto da posse de Trump será um fenômeno relativamente circunscrito a uma nova rodada de guerra comercial entre Estados Unidos e China.

"Considero essa abordagem muito ingênua, pois não leva em conta o perigo das reações em cadeia", avalia o economista.

Ele aponta que, mesmo que Trump se restringisse inicialmente a elevar tarifas de produtos chineses, a guerra comercial não fugiria ao padrão histórico de gerar uma série de ações e reações.

"É o tipo de evento que todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina", acrescenta.

Segundo Ribeiro, com o maior fechamento do mercado norte-americano, o fabricante chinês vai tentar deslocar sua produção para outros mercados, como o europeu ou o brasileiro, o que naturalmente vai gerar uma reação protecionista: "A indústria alemã ou a brasileira certamente vão pedir proteção contra essa desova gigantesca de produtos que anteriormente seriam direcionados aos Estados Unidos", raciocina o pesquisador.

Dessa forma, as medidas protecionistas podem ir se irradiando para o conjunto dos países relevantes no comércio global.

Num país com a tradição protecionista do Brasil, o economista teme que o empuxo inicial deflagrado por Trump se transforme num impulso generalizado aos lobbies em busca de proteção, que "provavelmente vão pedir barreiras para se defender até de ameaças que nem existem ainda".

Para Ribeiro, pode ser que a indústria nacional "sorria de orelha a orelha" com essa oportunidade, mas um efetivo maior fechamento da economia nacional iria não só complicar ainda mais o combate inflacionário no curto prazo, como piorar a já sofrível trajetória da produtividade brasileira.

O sócio-fundador da BRCG observa adicionalmente que a China (país em que é especialista) já flexiona os músculos para o impacto da posse de Trump em diversas frentes.

Na área econômica, ele cita recentes imposições de barreiras não tarifárias a componentes eletrônicos específicos e o aumento do número de empresas americanas na "lista negra" de investigação pelos órgãos reguladores chineses de práticas ilegais de concorrência. Além disso, as autoridades econômicas da China vêm aumentando a liquidez interna e sinalizando, via monetária e fiscal, amplo apoio ao consumo e à produção.

"O governo chinês parece estar se preparando para o impacto da posse de Trump", diz Ribeiro.

Mas a verdadeira reação à ofensiva de guerra comercial dos Estados Unidos deve ocorrer, na sua visão, de forma orgânica, com medidas de retaliação específicas à medida que os Estados Unidos aumentem tarifas de produtos chineses e imponham outras formas de proteção e fechamento de mercados.

Mesmo na área militar, Ribeiro pensa que não deve ser coincidência que recentemente a China tenha testado dois ou três novos modelos de aviões-caça de sexta geração (que seriam mais modernos que as aeronaves equivalentes mais avançadas dos EUA) e lançado ao mar um novo porta-aviões.

Faltam cinco dias. Quem viver verá.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/1/2025, quarta-feira.

Daqui a cinco dias, na segunda-feira, dia 20/1, Donald Trump toma posse para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, após quatro anos fora do poder.

Qualquer posse de um presidente americano, ainda mais quando o cargo troca de mãos, já é por si só um evento de grande importância mundial. Mas certamente o início do Trump 2 mexerá bem mais com os alicerces globais do que a média das posses dos presidentes americanos.

O republicano eleito para seu segundo e último mandato (pela legislação atual dos Estados Unidos) foi mais radical e virulento nesta recente campanha do que quando se candidatou pela primeira vez, já com uma plataforma de populismo de direita que aterrorizou o establishment mundial à época.

Agora, em temas sensíveis e de imensas repercussões globais, como política comercial e imigração, Trump perdeu todas as amarras e fez promessas de aumentos de tarifas gigantescos para uma ampla gama de produtos e países, e deportações maciças. As bravatas pouquíssimo críveis dos últimos dias, sobre anexação do Canadá, Groenlândia e Panamá, trouxeram de volta a ideia de que não é para levar muito a sério o que promete o presidente eleito norte-americano.

Mas o economista Livio Ribeiro (consultoria BRCG e IBRE-FGV) considera mais sensato que o mundo se prepare devidamente para um forte choque a partir do dia 20/1. Observador atento da cena internacional, o analista menciona vários relatos de que já há, organizadas, centenas de ordens executivas a serem disparadas pelo novo governo americano assim que Trump seja empossado.

"Acho que devemos esperar medidas muito agressivas em termos de tarifas e imigração", ele alerta.

Obviamente, acrescenta Ribeiro, o cenário permanece com altíssima incerteza. Mas ele decididamente critica o que vê como uma corrente de analistas que ainda acredita que o impacto da posse de Trump será um fenômeno relativamente circunscrito a uma nova rodada de guerra comercial entre Estados Unidos e China.

"Considero essa abordagem muito ingênua, pois não leva em conta o perigo das reações em cadeia", avalia o economista.

Ele aponta que, mesmo que Trump se restringisse inicialmente a elevar tarifas de produtos chineses, a guerra comercial não fugiria ao padrão histórico de gerar uma série de ações e reações.

"É o tipo de evento que todo mundo sabe como começa, mas ninguém sabe como termina", acrescenta.

Segundo Ribeiro, com o maior fechamento do mercado norte-americano, o fabricante chinês vai tentar deslocar sua produção para outros mercados, como o europeu ou o brasileiro, o que naturalmente vai gerar uma reação protecionista: "A indústria alemã ou a brasileira certamente vão pedir proteção contra essa desova gigantesca de produtos que anteriormente seriam direcionados aos Estados Unidos", raciocina o pesquisador.

Dessa forma, as medidas protecionistas podem ir se irradiando para o conjunto dos países relevantes no comércio global.

Num país com a tradição protecionista do Brasil, o economista teme que o empuxo inicial deflagrado por Trump se transforme num impulso generalizado aos lobbies em busca de proteção, que "provavelmente vão pedir barreiras para se defender até de ameaças que nem existem ainda".

Para Ribeiro, pode ser que a indústria nacional "sorria de orelha a orelha" com essa oportunidade, mas um efetivo maior fechamento da economia nacional iria não só complicar ainda mais o combate inflacionário no curto prazo, como piorar a já sofrível trajetória da produtividade brasileira.

O sócio-fundador da BRCG observa adicionalmente que a China (país em que é especialista) já flexiona os músculos para o impacto da posse de Trump em diversas frentes.

Na área econômica, ele cita recentes imposições de barreiras não tarifárias a componentes eletrônicos específicos e o aumento do número de empresas americanas na "lista negra" de investigação pelos órgãos reguladores chineses de práticas ilegais de concorrência. Além disso, as autoridades econômicas da China vêm aumentando a liquidez interna e sinalizando, via monetária e fiscal, amplo apoio ao consumo e à produção.

"O governo chinês parece estar se preparando para o impacto da posse de Trump", diz Ribeiro.

Mas a verdadeira reação à ofensiva de guerra comercial dos Estados Unidos deve ocorrer, na sua visão, de forma orgânica, com medidas de retaliação específicas à medida que os Estados Unidos aumentem tarifas de produtos chineses e imponham outras formas de proteção e fechamento de mercados.

Mesmo na área militar, Ribeiro pensa que não deve ser coincidência que recentemente a China tenha testado dois ou três novos modelos de aviões-caça de sexta geração (que seriam mais modernos que as aeronaves equivalentes mais avançadas dos EUA) e lançado ao mar um novo porta-aviões.

Faltam cinco dias. Quem viver verá.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/1/2025, quarta-feira.

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