Economia e políticas públicas

Opinião|Inflação mais comportada em 2024?


Alguns analistas veem sinais benignos para IPCA deste ano, ligados a alimentos e ao preço internacional das commodities.

Por Fernando Dantas

Segundo a última mediana das projeções do Focus, o sistema de coleta de expectativas do mercado do Banco Central, o IPCA, o índice oficial de inflação do sistema de metas no Brasil, vai registrar 3,81% este ano e 3,5% em 2025. As expectativas de inflação em 2024 e 2025 caíram ao longo do último ano (eram de, respectivamente, 4,02% e 3,8% em 23/2 do ano passado) mas de forma bem gradual, e ainda estão significativamente acima da meta de 3%.

Com as projeções do IPCA nesse nível, o Copom deve prosseguir em seu ciclo de cortes da Selic, mas de forma cuidadosa, pois ainda há "trabalho a fazer" no front de ancorar as expectativas inflacionárias, importante fator na determinação da inflação em si.

Mas em relação à inflação de 2024, pelo menos, têm surgido visões mais otimistas recentemente. O Bradesco, por exemplo, acaba de reduzir sua projeção de IPCA em 2024 de 3,6% para 3,4% (a de 2025 foi mantida em 3,2%). O banco, na verdade, revisou sua estimativa de inflação de alimentos em 2024 de 4,5% para 3,5%. A razão é que, mesmo que os efeitos negativos do El Niño estejam ocorrendo no Brasil (afetando milho e soja no Centro-Oeste, a intensidade tem se mostrado menor do que se temia. Adicionalmente, a safra global está crescendo, puxando preços para baixo.

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Essa abordagem conversa com o exercício que acaba de ser realizado (na verdade, refeito) e divulgado no Blog do IBRE pelo economista Bráulio Borges, do IBRE e da LCA. Basicamente, o pesquisador utiliza um modelo econométrico para construir projeções do Índice de Preços ao Produtor Amplo -Disponibilidade Interna (IPA-DI) a partir de projeções de consenso no mercado internacional de preços de commodities, com hipóteses adicionais sobre a trajetória do câmbio, preços locais de combustíveis e preços de algumas commodities agropecuárias menos tradables, como arroz, feijão e boi gordo.

No artigo, Borges mostra evidências de que o seu modelo de previsão tem boa aderência aos resultados efetivos do IPA-DI.

Ele chega a projeções para o IPA-DI de -3,2% em 2024 e -1,6% em 2025, que se comparam à projeção de consenso implícita no Focus para o mesmo indicador de, respectivamente, 2,8% e 3,9%. Essas projeções exageradamente (segundo o exercício do economista) elevadas para preços ao produtor fazem com que, na sua visão, "a inflação varejista de bens industrializados e de alimentação no domicílio (com peso aproximado de 38% no IPCA, levando em conta apenas os efeitos diretos) poderá ser bem menor do que o apontado pelo consenso atual".

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Desde abril de 2022, é a terceira vez que Borges faz alertas sobre a discrepância entre as projeções internacionais do preço das commodities e as projeções dos analistas brasileiros sobre a inflação ao produtor no País.

Um eventual início de aproximação mais efetiva das expectativas de inflação de 2024 em relação à meta (é verdade que tem que se levar em consideração também 2025 e prazos mais longos) seria mais uma boa notícia para o governo Lula neste início de ano, junto com o crescimento real acima de 6% da arrecadação federal em janeiro.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 23/2/2024, sexta-feira.

 

Segundo a última mediana das projeções do Focus, o sistema de coleta de expectativas do mercado do Banco Central, o IPCA, o índice oficial de inflação do sistema de metas no Brasil, vai registrar 3,81% este ano e 3,5% em 2025. As expectativas de inflação em 2024 e 2025 caíram ao longo do último ano (eram de, respectivamente, 4,02% e 3,8% em 23/2 do ano passado) mas de forma bem gradual, e ainda estão significativamente acima da meta de 3%.

Com as projeções do IPCA nesse nível, o Copom deve prosseguir em seu ciclo de cortes da Selic, mas de forma cuidadosa, pois ainda há "trabalho a fazer" no front de ancorar as expectativas inflacionárias, importante fator na determinação da inflação em si.

Mas em relação à inflação de 2024, pelo menos, têm surgido visões mais otimistas recentemente. O Bradesco, por exemplo, acaba de reduzir sua projeção de IPCA em 2024 de 3,6% para 3,4% (a de 2025 foi mantida em 3,2%). O banco, na verdade, revisou sua estimativa de inflação de alimentos em 2024 de 4,5% para 3,5%. A razão é que, mesmo que os efeitos negativos do El Niño estejam ocorrendo no Brasil (afetando milho e soja no Centro-Oeste, a intensidade tem se mostrado menor do que se temia. Adicionalmente, a safra global está crescendo, puxando preços para baixo.

Essa abordagem conversa com o exercício que acaba de ser realizado (na verdade, refeito) e divulgado no Blog do IBRE pelo economista Bráulio Borges, do IBRE e da LCA. Basicamente, o pesquisador utiliza um modelo econométrico para construir projeções do Índice de Preços ao Produtor Amplo -Disponibilidade Interna (IPA-DI) a partir de projeções de consenso no mercado internacional de preços de commodities, com hipóteses adicionais sobre a trajetória do câmbio, preços locais de combustíveis e preços de algumas commodities agropecuárias menos tradables, como arroz, feijão e boi gordo.

No artigo, Borges mostra evidências de que o seu modelo de previsão tem boa aderência aos resultados efetivos do IPA-DI.

Ele chega a projeções para o IPA-DI de -3,2% em 2024 e -1,6% em 2025, que se comparam à projeção de consenso implícita no Focus para o mesmo indicador de, respectivamente, 2,8% e 3,9%. Essas projeções exageradamente (segundo o exercício do economista) elevadas para preços ao produtor fazem com que, na sua visão, "a inflação varejista de bens industrializados e de alimentação no domicílio (com peso aproximado de 38% no IPCA, levando em conta apenas os efeitos diretos) poderá ser bem menor do que o apontado pelo consenso atual".

Desde abril de 2022, é a terceira vez que Borges faz alertas sobre a discrepância entre as projeções internacionais do preço das commodities e as projeções dos analistas brasileiros sobre a inflação ao produtor no País.

Um eventual início de aproximação mais efetiva das expectativas de inflação de 2024 em relação à meta (é verdade que tem que se levar em consideração também 2025 e prazos mais longos) seria mais uma boa notícia para o governo Lula neste início de ano, junto com o crescimento real acima de 6% da arrecadação federal em janeiro.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 23/2/2024, sexta-feira.

 

Segundo a última mediana das projeções do Focus, o sistema de coleta de expectativas do mercado do Banco Central, o IPCA, o índice oficial de inflação do sistema de metas no Brasil, vai registrar 3,81% este ano e 3,5% em 2025. As expectativas de inflação em 2024 e 2025 caíram ao longo do último ano (eram de, respectivamente, 4,02% e 3,8% em 23/2 do ano passado) mas de forma bem gradual, e ainda estão significativamente acima da meta de 3%.

Com as projeções do IPCA nesse nível, o Copom deve prosseguir em seu ciclo de cortes da Selic, mas de forma cuidadosa, pois ainda há "trabalho a fazer" no front de ancorar as expectativas inflacionárias, importante fator na determinação da inflação em si.

Mas em relação à inflação de 2024, pelo menos, têm surgido visões mais otimistas recentemente. O Bradesco, por exemplo, acaba de reduzir sua projeção de IPCA em 2024 de 3,6% para 3,4% (a de 2025 foi mantida em 3,2%). O banco, na verdade, revisou sua estimativa de inflação de alimentos em 2024 de 4,5% para 3,5%. A razão é que, mesmo que os efeitos negativos do El Niño estejam ocorrendo no Brasil (afetando milho e soja no Centro-Oeste, a intensidade tem se mostrado menor do que se temia. Adicionalmente, a safra global está crescendo, puxando preços para baixo.

Essa abordagem conversa com o exercício que acaba de ser realizado (na verdade, refeito) e divulgado no Blog do IBRE pelo economista Bráulio Borges, do IBRE e da LCA. Basicamente, o pesquisador utiliza um modelo econométrico para construir projeções do Índice de Preços ao Produtor Amplo -Disponibilidade Interna (IPA-DI) a partir de projeções de consenso no mercado internacional de preços de commodities, com hipóteses adicionais sobre a trajetória do câmbio, preços locais de combustíveis e preços de algumas commodities agropecuárias menos tradables, como arroz, feijão e boi gordo.

No artigo, Borges mostra evidências de que o seu modelo de previsão tem boa aderência aos resultados efetivos do IPA-DI.

Ele chega a projeções para o IPA-DI de -3,2% em 2024 e -1,6% em 2025, que se comparam à projeção de consenso implícita no Focus para o mesmo indicador de, respectivamente, 2,8% e 3,9%. Essas projeções exageradamente (segundo o exercício do economista) elevadas para preços ao produtor fazem com que, na sua visão, "a inflação varejista de bens industrializados e de alimentação no domicílio (com peso aproximado de 38% no IPCA, levando em conta apenas os efeitos diretos) poderá ser bem menor do que o apontado pelo consenso atual".

Desde abril de 2022, é a terceira vez que Borges faz alertas sobre a discrepância entre as projeções internacionais do preço das commodities e as projeções dos analistas brasileiros sobre a inflação ao produtor no País.

Um eventual início de aproximação mais efetiva das expectativas de inflação de 2024 em relação à meta (é verdade que tem que se levar em consideração também 2025 e prazos mais longos) seria mais uma boa notícia para o governo Lula neste início de ano, junto com o crescimento real acima de 6% da arrecadação federal em janeiro.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 23/2/2024, sexta-feira.

 

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