Economia e políticas públicas

Opinião|Mais boas notícias na economia


Há um círculo virtuoso entre melhora econômica, popularidade presidencial e governabilidade. Mas por enquanto ele é modesto, e Lula tem que ter paciência.

Por Fernando Dantas

As boas notícias econômicas continuam a chegar à medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha para o final do primeiro ano do seu terceiro mandato.

Hoje, o IPCA de setembro, de 0,23%, abaixo da mediana (0,32%) do Projeções Broadcast, também veio bastante bem em termos qualitativos, segundo diversos analistas ouvidos pelos jornalistas do Broadcast.

Os serviços subjacentes (núcleo ao qual o BC dá particular importância) de 0,33%, inferior à mediana das projeções de 0,35%, indica que a almejada desinflação de serviços está ocorrendo, e a média de núcleos desacelerou de 0,28% para 0,22% entre agosto e setembro.

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Já no setor externo, de acordo com a projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o superávit comercial deve bater recorde histórico este ano, atingindo US$ 73,7 bilhões. A expectativa de crescimento do PIB em 2023 saiu de 0,8% no início do ano para 2,9% agora. Para 2024, ela começou 2023 em 1,5%, caiu ao longo do ano e recentemente voltou para 1,5%.

Por outro lado, o aspecto mais sombreado do cenário vem totalmente da economia internacional, com o processo de alta das taxas de juros longas nos Estados Unidos e em outros países ricos.

Na sua coluna de ontem no Broadcast, o economista Sergio Werlang apresenta estimativas que seu colega Serge de Valk, da Sarpen (gestora da qual Werlang também faz parte), produziu com o modelo prospectivo de inflação da empresa.

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A partir de uma série de hipóteses, Valk encontra que, em termos da política monetária no Brasil, o fator desfavorável representado pela alta do juro americano se sobrepõe ao fator favorável da provável elevação recente do produto potencial brasileiro (de que há vários sinais, listados por Werlang no artigo). Assim, "o pêndulo das probabilidades" entre aqueles dois fatores pende para cortes mais conservadores da Selic. É um contratempo, mas nada que pareça comprometer o plano de voo do BC e o processo em curso de desinflação.

Esse cenário econômico positivo e a popularidade razoavelmente sustentada de Lula (que se destaca positivamente em comparações internacionais) criam um círculo virtuoso que, ao azeitar a governabilidade, torna possível uma taxa aceitável de sucesso na aprovação de medidas. O que, por sua vez, se bem manejado, realimenta o bom momento econômico e, em consequência, a popularidade.

Tudo isso, entretanto, ocorre num grau muito diferente daquele que prevaleceu nos anos de ouro dos dois primeiros mandatos de Lula, quando a popularidade presidencial e a sensação de melhora de bem-estar da maioria da população, com destaque para os mais pobres, tiveram altas espetaculares.

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Na conjuntura atual, é possível dizer que Lula está à frente dos seus adversários no placar do jogo do terceiro mandato, mas é um resultado muito mais apertado. A economia e a popularidade estão indo bem, mas ainda distantes de níveis consagradores. O círculo virtuoso entre esses dois fatores e a governabilidade está funcionando, mas em nível ainda modesto - e possivelmente frágil, se o ambiente econômico internacional (afetado pelo cenário geopolítico de crescente dificuldade) piorar de forma acentuada.

Seria exagero dizer que Lula está caminhando na corda bamba, mas é razoável apontar que ele se locomove em cima de uma mureta estreita, e que qualquer descuido maior pode levar a tombos sérios.

Na seara da economia, Lula parece ter recentemente moderado sua retórica inflamada do início do governo, quando os ataques ao Banco Central (agora substituídos por uma conversa civilizada com Roberto Campos Neto) e a pregação da gastança pública como principal remédio econômico davam a tônica.

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É possível que o presidente esteja lendo com acuidade a atual quadra político-econômica do seu governo: um relativo sucesso, mas nada próximo às bravatas grandiloquentes de que iria voltar ao poder para fazer uma gestão ainda melhor que aquilo que julga terem sido seus dois mandatos anteriores (que já chegou a classificar como os melhores da história brasileira).

Ironicamente, se Lula estiver efetivamente fazendo a leitura correta deste início de seu terceiro mandato, isso torna possível que de fato governe melhor que nos dois primeiros (que nem de longe foram a maravilha que ele afirma terem sido, pois o boom produzido semeou as causas da debacle iniciada com Dilma).

O atual círculo virtuoso de melhora econômica, popularidade e governabilidade pode ganhar força se o governo persistir numa política econômica prudente e racional. Isso significa basicamente garantir o máximo do ajuste fiscal pela receita programado por Fernando Haddad, aprovar a reforma tributária sem muita diluição, colocar em pauta novas reformas econômicas e algum ajuste adicional pela despesa e não mexer com a herança de avanços macro e microeconômicos iniciados em 2015.

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Para isso, Lula terá que mostrar comedimento e capacidade de adiar a gratificação conferida por níveis de sucesso e popularidade mais exuberantes. Não é um gênero de atitude típica do presidente ao longo da sua extensa carreira política. Porém, às vésperas de completar 78 anos, é possível que Lula tenha incorporado a paciência ao seu vasto arsenal de recursos políticos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

MEsta coluna foi publicada pelo Broadcast em 11/10/2023, quarta-feira.

As boas notícias econômicas continuam a chegar à medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha para o final do primeiro ano do seu terceiro mandato.

Hoje, o IPCA de setembro, de 0,23%, abaixo da mediana (0,32%) do Projeções Broadcast, também veio bastante bem em termos qualitativos, segundo diversos analistas ouvidos pelos jornalistas do Broadcast.

Os serviços subjacentes (núcleo ao qual o BC dá particular importância) de 0,33%, inferior à mediana das projeções de 0,35%, indica que a almejada desinflação de serviços está ocorrendo, e a média de núcleos desacelerou de 0,28% para 0,22% entre agosto e setembro.

Já no setor externo, de acordo com a projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o superávit comercial deve bater recorde histórico este ano, atingindo US$ 73,7 bilhões. A expectativa de crescimento do PIB em 2023 saiu de 0,8% no início do ano para 2,9% agora. Para 2024, ela começou 2023 em 1,5%, caiu ao longo do ano e recentemente voltou para 1,5%.

Por outro lado, o aspecto mais sombreado do cenário vem totalmente da economia internacional, com o processo de alta das taxas de juros longas nos Estados Unidos e em outros países ricos.

Na sua coluna de ontem no Broadcast, o economista Sergio Werlang apresenta estimativas que seu colega Serge de Valk, da Sarpen (gestora da qual Werlang também faz parte), produziu com o modelo prospectivo de inflação da empresa.

A partir de uma série de hipóteses, Valk encontra que, em termos da política monetária no Brasil, o fator desfavorável representado pela alta do juro americano se sobrepõe ao fator favorável da provável elevação recente do produto potencial brasileiro (de que há vários sinais, listados por Werlang no artigo). Assim, "o pêndulo das probabilidades" entre aqueles dois fatores pende para cortes mais conservadores da Selic. É um contratempo, mas nada que pareça comprometer o plano de voo do BC e o processo em curso de desinflação.

Esse cenário econômico positivo e a popularidade razoavelmente sustentada de Lula (que se destaca positivamente em comparações internacionais) criam um círculo virtuoso que, ao azeitar a governabilidade, torna possível uma taxa aceitável de sucesso na aprovação de medidas. O que, por sua vez, se bem manejado, realimenta o bom momento econômico e, em consequência, a popularidade.

Tudo isso, entretanto, ocorre num grau muito diferente daquele que prevaleceu nos anos de ouro dos dois primeiros mandatos de Lula, quando a popularidade presidencial e a sensação de melhora de bem-estar da maioria da população, com destaque para os mais pobres, tiveram altas espetaculares.

Na conjuntura atual, é possível dizer que Lula está à frente dos seus adversários no placar do jogo do terceiro mandato, mas é um resultado muito mais apertado. A economia e a popularidade estão indo bem, mas ainda distantes de níveis consagradores. O círculo virtuoso entre esses dois fatores e a governabilidade está funcionando, mas em nível ainda modesto - e possivelmente frágil, se o ambiente econômico internacional (afetado pelo cenário geopolítico de crescente dificuldade) piorar de forma acentuada.

Seria exagero dizer que Lula está caminhando na corda bamba, mas é razoável apontar que ele se locomove em cima de uma mureta estreita, e que qualquer descuido maior pode levar a tombos sérios.

Na seara da economia, Lula parece ter recentemente moderado sua retórica inflamada do início do governo, quando os ataques ao Banco Central (agora substituídos por uma conversa civilizada com Roberto Campos Neto) e a pregação da gastança pública como principal remédio econômico davam a tônica.

É possível que o presidente esteja lendo com acuidade a atual quadra político-econômica do seu governo: um relativo sucesso, mas nada próximo às bravatas grandiloquentes de que iria voltar ao poder para fazer uma gestão ainda melhor que aquilo que julga terem sido seus dois mandatos anteriores (que já chegou a classificar como os melhores da história brasileira).

Ironicamente, se Lula estiver efetivamente fazendo a leitura correta deste início de seu terceiro mandato, isso torna possível que de fato governe melhor que nos dois primeiros (que nem de longe foram a maravilha que ele afirma terem sido, pois o boom produzido semeou as causas da debacle iniciada com Dilma).

O atual círculo virtuoso de melhora econômica, popularidade e governabilidade pode ganhar força se o governo persistir numa política econômica prudente e racional. Isso significa basicamente garantir o máximo do ajuste fiscal pela receita programado por Fernando Haddad, aprovar a reforma tributária sem muita diluição, colocar em pauta novas reformas econômicas e algum ajuste adicional pela despesa e não mexer com a herança de avanços macro e microeconômicos iniciados em 2015.

Para isso, Lula terá que mostrar comedimento e capacidade de adiar a gratificação conferida por níveis de sucesso e popularidade mais exuberantes. Não é um gênero de atitude típica do presidente ao longo da sua extensa carreira política. Porém, às vésperas de completar 78 anos, é possível que Lula tenha incorporado a paciência ao seu vasto arsenal de recursos políticos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

MEsta coluna foi publicada pelo Broadcast em 11/10/2023, quarta-feira.

As boas notícias econômicas continuam a chegar à medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha para o final do primeiro ano do seu terceiro mandato.

Hoje, o IPCA de setembro, de 0,23%, abaixo da mediana (0,32%) do Projeções Broadcast, também veio bastante bem em termos qualitativos, segundo diversos analistas ouvidos pelos jornalistas do Broadcast.

Os serviços subjacentes (núcleo ao qual o BC dá particular importância) de 0,33%, inferior à mediana das projeções de 0,35%, indica que a almejada desinflação de serviços está ocorrendo, e a média de núcleos desacelerou de 0,28% para 0,22% entre agosto e setembro.

Já no setor externo, de acordo com a projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o superávit comercial deve bater recorde histórico este ano, atingindo US$ 73,7 bilhões. A expectativa de crescimento do PIB em 2023 saiu de 0,8% no início do ano para 2,9% agora. Para 2024, ela começou 2023 em 1,5%, caiu ao longo do ano e recentemente voltou para 1,5%.

Por outro lado, o aspecto mais sombreado do cenário vem totalmente da economia internacional, com o processo de alta das taxas de juros longas nos Estados Unidos e em outros países ricos.

Na sua coluna de ontem no Broadcast, o economista Sergio Werlang apresenta estimativas que seu colega Serge de Valk, da Sarpen (gestora da qual Werlang também faz parte), produziu com o modelo prospectivo de inflação da empresa.

A partir de uma série de hipóteses, Valk encontra que, em termos da política monetária no Brasil, o fator desfavorável representado pela alta do juro americano se sobrepõe ao fator favorável da provável elevação recente do produto potencial brasileiro (de que há vários sinais, listados por Werlang no artigo). Assim, "o pêndulo das probabilidades" entre aqueles dois fatores pende para cortes mais conservadores da Selic. É um contratempo, mas nada que pareça comprometer o plano de voo do BC e o processo em curso de desinflação.

Esse cenário econômico positivo e a popularidade razoavelmente sustentada de Lula (que se destaca positivamente em comparações internacionais) criam um círculo virtuoso que, ao azeitar a governabilidade, torna possível uma taxa aceitável de sucesso na aprovação de medidas. O que, por sua vez, se bem manejado, realimenta o bom momento econômico e, em consequência, a popularidade.

Tudo isso, entretanto, ocorre num grau muito diferente daquele que prevaleceu nos anos de ouro dos dois primeiros mandatos de Lula, quando a popularidade presidencial e a sensação de melhora de bem-estar da maioria da população, com destaque para os mais pobres, tiveram altas espetaculares.

Na conjuntura atual, é possível dizer que Lula está à frente dos seus adversários no placar do jogo do terceiro mandato, mas é um resultado muito mais apertado. A economia e a popularidade estão indo bem, mas ainda distantes de níveis consagradores. O círculo virtuoso entre esses dois fatores e a governabilidade está funcionando, mas em nível ainda modesto - e possivelmente frágil, se o ambiente econômico internacional (afetado pelo cenário geopolítico de crescente dificuldade) piorar de forma acentuada.

Seria exagero dizer que Lula está caminhando na corda bamba, mas é razoável apontar que ele se locomove em cima de uma mureta estreita, e que qualquer descuido maior pode levar a tombos sérios.

Na seara da economia, Lula parece ter recentemente moderado sua retórica inflamada do início do governo, quando os ataques ao Banco Central (agora substituídos por uma conversa civilizada com Roberto Campos Neto) e a pregação da gastança pública como principal remédio econômico davam a tônica.

É possível que o presidente esteja lendo com acuidade a atual quadra político-econômica do seu governo: um relativo sucesso, mas nada próximo às bravatas grandiloquentes de que iria voltar ao poder para fazer uma gestão ainda melhor que aquilo que julga terem sido seus dois mandatos anteriores (que já chegou a classificar como os melhores da história brasileira).

Ironicamente, se Lula estiver efetivamente fazendo a leitura correta deste início de seu terceiro mandato, isso torna possível que de fato governe melhor que nos dois primeiros (que nem de longe foram a maravilha que ele afirma terem sido, pois o boom produzido semeou as causas da debacle iniciada com Dilma).

O atual círculo virtuoso de melhora econômica, popularidade e governabilidade pode ganhar força se o governo persistir numa política econômica prudente e racional. Isso significa basicamente garantir o máximo do ajuste fiscal pela receita programado por Fernando Haddad, aprovar a reforma tributária sem muita diluição, colocar em pauta novas reformas econômicas e algum ajuste adicional pela despesa e não mexer com a herança de avanços macro e microeconômicos iniciados em 2015.

Para isso, Lula terá que mostrar comedimento e capacidade de adiar a gratificação conferida por níveis de sucesso e popularidade mais exuberantes. Não é um gênero de atitude típica do presidente ao longo da sua extensa carreira política. Porém, às vésperas de completar 78 anos, é possível que Lula tenha incorporado a paciência ao seu vasto arsenal de recursos políticos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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