Economia e políticas públicas

Opinião|Mais um voo de galinha?


No mercado, muito analistas consideram que economia brasileira está superaquecendo e que freada, via política monetária e fiscal, é inevitável. Será que equipe econômica de Haddad vai rir por último?

Por Fernando Dantas

A economia brasileira no segundo trimestre rodou bem mais acelerada do que se julgava. A notícia é boa em princípio, mas entre os analistas e o mercado a sensação é de que há um risco não desprezível de o Brasil estar no ponto mais alto de mais um voo de galinha.

"A hipótese geral é que todo mundo subestimou o efeito da expansão fiscal no primeiro semestre; se de fato foi isso que gerou o crescimento mais forte, deveria ter uma desaceleração no segundo semestre e em 2025", comenta Luciano Sobral, economista chefe da Neo Investimentos (a expressão "voo de galinha" é da coluna, não de Sobral).

Segundo outro analista, a conjuntura pode ser sumarizada da seguinte forma. Nos últimos 12 meses (até julho, inclusive), o déficit primário do setor público consolidado subiu de 0,76% para 2,29% do PIB, num salto de 1,5pp do PIB. Já a Selic, aproximadamente no mesmo período, caiu de 13,75% para 10,5%. Portanto, a economia brasileira alçou voo com um baita impulso fiscal e uma forte redução do freio monetário.

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Agora, com a demanda e o mercado de trabalho muito aquecidos, e com intermináveis surpresas positivas nos números da atividade e do desemprego, o mercado em peso prevê que a Selic vai subir.

E, como escreve o economista Alexandre Manoel e seus colegas na gestora AZ Quest em artigo publicado hoje no Blog do IBRE, há "uma contração fiscal contratada que deve reduzir o déficit primário consolidado do setor público de 2,5% [do PIB] para algo em torno de 0% nos próximos oito meses". Ele se refere à trajetória necessária para cumprir as metas fiscais.

Os autores do artigo argumentam que o mercado não crê que a "contração fiscal formalizada pelas exigências do novo arcabouço fiscal" será cumprida, razão pela qual projeta um ciclo de elevação da Selic num momento em que a inflação corrente desacelera e, nos Estados Unidos, se consolida a percepção de um afrouxamento monetário à frente bem mais substancial do que aquele suposto há pouco tempo.

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De qualquer forma, como apontam outros economistas ouvidos pela coluna, o cenário à frente no Brasil é de freio monetário e fiscal (mesmo que neste segundo caso não se atinja a meta) nos próximos trimestres.Dessa forma, assim como o governo Lula 3 apostou em começar o mandato pisando fundo no acelerador do gasto público, agora será obrigado a uma freada brusca, tanto fiscal quanto monetária.

Um gestor aponta que o governo de certa forma se baseou na fórmula heterodoxa de gastar para fazer a economia crescer, levando a um aumento de arrecadação (junto com as medidas tributárias) que acaba financiando aquele gasto inicial.

O problema, ele continua, é que essa fórmula tem o inconveniente de esquecer do fator juros da dívida pública.

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De fato, o gasto público acelera a demanda. De fato, a economia mais veloz aumenta a arrecadação. Mas isso leva em algum tempo ao esgotamento da capacidade ociosa, incluindo o fator trabalho. A partir daí a economia sobreaquece, a inflação tende a subir e o juro real precisa se elevar ainda mais para contê-la.

A conta de juros aumenta e a dívida pública segue crescendo. Já cresceu de 72% para 78,5% do PIB desde que Lula iniciou o seu terceiro mandato. Isso aguça a preocupação com solvência e, para um mesmo nível de apetite de risco no mercado internacional, também tende a elevar o juro real.

Segundo um analista ouvido pela coluna, as reformas do período Temer-Bolsonaro (com destaque para a trabalhista) podem ter talvez elevado o produto potencial da economia brasileira de 1,5% para 2%, mas ainda o mantendo em patamar bem abaixo do nível atual (as projeções de crescimento em 2024 caminham para perto de 3%). Assim, ele continua, em algum momento, "por bem ou por mal", a economia terá que desacelerar.

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A visão descrita nesta coluna é a predominante no mercado e entre os economistas de tendência mais liberal e ortodoxa. Provavelmente a equipe econômica de Lula não embarca nos diagnósticos mais alarmistas e planeja um "pouso suave" da economia brasileira. Digamos, uma desaceleração leve e rápida que leve a inflação para a meta, seguida de nova e triunfante arrancada rumo a 2026. Neste caso, muito "neoliberal" vai quebrar a cara. Aguardemos os próximos capítulos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada em 3/9/2024, terça-feira.

A economia brasileira no segundo trimestre rodou bem mais acelerada do que se julgava. A notícia é boa em princípio, mas entre os analistas e o mercado a sensação é de que há um risco não desprezível de o Brasil estar no ponto mais alto de mais um voo de galinha.

"A hipótese geral é que todo mundo subestimou o efeito da expansão fiscal no primeiro semestre; se de fato foi isso que gerou o crescimento mais forte, deveria ter uma desaceleração no segundo semestre e em 2025", comenta Luciano Sobral, economista chefe da Neo Investimentos (a expressão "voo de galinha" é da coluna, não de Sobral).

Segundo outro analista, a conjuntura pode ser sumarizada da seguinte forma. Nos últimos 12 meses (até julho, inclusive), o déficit primário do setor público consolidado subiu de 0,76% para 2,29% do PIB, num salto de 1,5pp do PIB. Já a Selic, aproximadamente no mesmo período, caiu de 13,75% para 10,5%. Portanto, a economia brasileira alçou voo com um baita impulso fiscal e uma forte redução do freio monetário.

Agora, com a demanda e o mercado de trabalho muito aquecidos, e com intermináveis surpresas positivas nos números da atividade e do desemprego, o mercado em peso prevê que a Selic vai subir.

E, como escreve o economista Alexandre Manoel e seus colegas na gestora AZ Quest em artigo publicado hoje no Blog do IBRE, há "uma contração fiscal contratada que deve reduzir o déficit primário consolidado do setor público de 2,5% [do PIB] para algo em torno de 0% nos próximos oito meses". Ele se refere à trajetória necessária para cumprir as metas fiscais.

Os autores do artigo argumentam que o mercado não crê que a "contração fiscal formalizada pelas exigências do novo arcabouço fiscal" será cumprida, razão pela qual projeta um ciclo de elevação da Selic num momento em que a inflação corrente desacelera e, nos Estados Unidos, se consolida a percepção de um afrouxamento monetário à frente bem mais substancial do que aquele suposto há pouco tempo.

De qualquer forma, como apontam outros economistas ouvidos pela coluna, o cenário à frente no Brasil é de freio monetário e fiscal (mesmo que neste segundo caso não se atinja a meta) nos próximos trimestres.Dessa forma, assim como o governo Lula 3 apostou em começar o mandato pisando fundo no acelerador do gasto público, agora será obrigado a uma freada brusca, tanto fiscal quanto monetária.

Um gestor aponta que o governo de certa forma se baseou na fórmula heterodoxa de gastar para fazer a economia crescer, levando a um aumento de arrecadação (junto com as medidas tributárias) que acaba financiando aquele gasto inicial.

O problema, ele continua, é que essa fórmula tem o inconveniente de esquecer do fator juros da dívida pública.

De fato, o gasto público acelera a demanda. De fato, a economia mais veloz aumenta a arrecadação. Mas isso leva em algum tempo ao esgotamento da capacidade ociosa, incluindo o fator trabalho. A partir daí a economia sobreaquece, a inflação tende a subir e o juro real precisa se elevar ainda mais para contê-la.

A conta de juros aumenta e a dívida pública segue crescendo. Já cresceu de 72% para 78,5% do PIB desde que Lula iniciou o seu terceiro mandato. Isso aguça a preocupação com solvência e, para um mesmo nível de apetite de risco no mercado internacional, também tende a elevar o juro real.

Segundo um analista ouvido pela coluna, as reformas do período Temer-Bolsonaro (com destaque para a trabalhista) podem ter talvez elevado o produto potencial da economia brasileira de 1,5% para 2%, mas ainda o mantendo em patamar bem abaixo do nível atual (as projeções de crescimento em 2024 caminham para perto de 3%). Assim, ele continua, em algum momento, "por bem ou por mal", a economia terá que desacelerar.

A visão descrita nesta coluna é a predominante no mercado e entre os economistas de tendência mais liberal e ortodoxa. Provavelmente a equipe econômica de Lula não embarca nos diagnósticos mais alarmistas e planeja um "pouso suave" da economia brasileira. Digamos, uma desaceleração leve e rápida que leve a inflação para a meta, seguida de nova e triunfante arrancada rumo a 2026. Neste caso, muito "neoliberal" vai quebrar a cara. Aguardemos os próximos capítulos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada em 3/9/2024, terça-feira.

A economia brasileira no segundo trimestre rodou bem mais acelerada do que se julgava. A notícia é boa em princípio, mas entre os analistas e o mercado a sensação é de que há um risco não desprezível de o Brasil estar no ponto mais alto de mais um voo de galinha.

"A hipótese geral é que todo mundo subestimou o efeito da expansão fiscal no primeiro semestre; se de fato foi isso que gerou o crescimento mais forte, deveria ter uma desaceleração no segundo semestre e em 2025", comenta Luciano Sobral, economista chefe da Neo Investimentos (a expressão "voo de galinha" é da coluna, não de Sobral).

Segundo outro analista, a conjuntura pode ser sumarizada da seguinte forma. Nos últimos 12 meses (até julho, inclusive), o déficit primário do setor público consolidado subiu de 0,76% para 2,29% do PIB, num salto de 1,5pp do PIB. Já a Selic, aproximadamente no mesmo período, caiu de 13,75% para 10,5%. Portanto, a economia brasileira alçou voo com um baita impulso fiscal e uma forte redução do freio monetário.

Agora, com a demanda e o mercado de trabalho muito aquecidos, e com intermináveis surpresas positivas nos números da atividade e do desemprego, o mercado em peso prevê que a Selic vai subir.

E, como escreve o economista Alexandre Manoel e seus colegas na gestora AZ Quest em artigo publicado hoje no Blog do IBRE, há "uma contração fiscal contratada que deve reduzir o déficit primário consolidado do setor público de 2,5% [do PIB] para algo em torno de 0% nos próximos oito meses". Ele se refere à trajetória necessária para cumprir as metas fiscais.

Os autores do artigo argumentam que o mercado não crê que a "contração fiscal formalizada pelas exigências do novo arcabouço fiscal" será cumprida, razão pela qual projeta um ciclo de elevação da Selic num momento em que a inflação corrente desacelera e, nos Estados Unidos, se consolida a percepção de um afrouxamento monetário à frente bem mais substancial do que aquele suposto há pouco tempo.

De qualquer forma, como apontam outros economistas ouvidos pela coluna, o cenário à frente no Brasil é de freio monetário e fiscal (mesmo que neste segundo caso não se atinja a meta) nos próximos trimestres.Dessa forma, assim como o governo Lula 3 apostou em começar o mandato pisando fundo no acelerador do gasto público, agora será obrigado a uma freada brusca, tanto fiscal quanto monetária.

Um gestor aponta que o governo de certa forma se baseou na fórmula heterodoxa de gastar para fazer a economia crescer, levando a um aumento de arrecadação (junto com as medidas tributárias) que acaba financiando aquele gasto inicial.

O problema, ele continua, é que essa fórmula tem o inconveniente de esquecer do fator juros da dívida pública.

De fato, o gasto público acelera a demanda. De fato, a economia mais veloz aumenta a arrecadação. Mas isso leva em algum tempo ao esgotamento da capacidade ociosa, incluindo o fator trabalho. A partir daí a economia sobreaquece, a inflação tende a subir e o juro real precisa se elevar ainda mais para contê-la.

A conta de juros aumenta e a dívida pública segue crescendo. Já cresceu de 72% para 78,5% do PIB desde que Lula iniciou o seu terceiro mandato. Isso aguça a preocupação com solvência e, para um mesmo nível de apetite de risco no mercado internacional, também tende a elevar o juro real.

Segundo um analista ouvido pela coluna, as reformas do período Temer-Bolsonaro (com destaque para a trabalhista) podem ter talvez elevado o produto potencial da economia brasileira de 1,5% para 2%, mas ainda o mantendo em patamar bem abaixo do nível atual (as projeções de crescimento em 2024 caminham para perto de 3%). Assim, ele continua, em algum momento, "por bem ou por mal", a economia terá que desacelerar.

A visão descrita nesta coluna é a predominante no mercado e entre os economistas de tendência mais liberal e ortodoxa. Provavelmente a equipe econômica de Lula não embarca nos diagnósticos mais alarmistas e planeja um "pouso suave" da economia brasileira. Digamos, uma desaceleração leve e rápida que leve a inflação para a meta, seguida de nova e triunfante arrancada rumo a 2026. Neste caso, muito "neoliberal" vai quebrar a cara. Aguardemos os próximos capítulos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada em 3/9/2024, terça-feira.

A economia brasileira no segundo trimestre rodou bem mais acelerada do que se julgava. A notícia é boa em princípio, mas entre os analistas e o mercado a sensação é de que há um risco não desprezível de o Brasil estar no ponto mais alto de mais um voo de galinha.

"A hipótese geral é que todo mundo subestimou o efeito da expansão fiscal no primeiro semestre; se de fato foi isso que gerou o crescimento mais forte, deveria ter uma desaceleração no segundo semestre e em 2025", comenta Luciano Sobral, economista chefe da Neo Investimentos (a expressão "voo de galinha" é da coluna, não de Sobral).

Segundo outro analista, a conjuntura pode ser sumarizada da seguinte forma. Nos últimos 12 meses (até julho, inclusive), o déficit primário do setor público consolidado subiu de 0,76% para 2,29% do PIB, num salto de 1,5pp do PIB. Já a Selic, aproximadamente no mesmo período, caiu de 13,75% para 10,5%. Portanto, a economia brasileira alçou voo com um baita impulso fiscal e uma forte redução do freio monetário.

Agora, com a demanda e o mercado de trabalho muito aquecidos, e com intermináveis surpresas positivas nos números da atividade e do desemprego, o mercado em peso prevê que a Selic vai subir.

E, como escreve o economista Alexandre Manoel e seus colegas na gestora AZ Quest em artigo publicado hoje no Blog do IBRE, há "uma contração fiscal contratada que deve reduzir o déficit primário consolidado do setor público de 2,5% [do PIB] para algo em torno de 0% nos próximos oito meses". Ele se refere à trajetória necessária para cumprir as metas fiscais.

Os autores do artigo argumentam que o mercado não crê que a "contração fiscal formalizada pelas exigências do novo arcabouço fiscal" será cumprida, razão pela qual projeta um ciclo de elevação da Selic num momento em que a inflação corrente desacelera e, nos Estados Unidos, se consolida a percepção de um afrouxamento monetário à frente bem mais substancial do que aquele suposto há pouco tempo.

De qualquer forma, como apontam outros economistas ouvidos pela coluna, o cenário à frente no Brasil é de freio monetário e fiscal (mesmo que neste segundo caso não se atinja a meta) nos próximos trimestres.Dessa forma, assim como o governo Lula 3 apostou em começar o mandato pisando fundo no acelerador do gasto público, agora será obrigado a uma freada brusca, tanto fiscal quanto monetária.

Um gestor aponta que o governo de certa forma se baseou na fórmula heterodoxa de gastar para fazer a economia crescer, levando a um aumento de arrecadação (junto com as medidas tributárias) que acaba financiando aquele gasto inicial.

O problema, ele continua, é que essa fórmula tem o inconveniente de esquecer do fator juros da dívida pública.

De fato, o gasto público acelera a demanda. De fato, a economia mais veloz aumenta a arrecadação. Mas isso leva em algum tempo ao esgotamento da capacidade ociosa, incluindo o fator trabalho. A partir daí a economia sobreaquece, a inflação tende a subir e o juro real precisa se elevar ainda mais para contê-la.

A conta de juros aumenta e a dívida pública segue crescendo. Já cresceu de 72% para 78,5% do PIB desde que Lula iniciou o seu terceiro mandato. Isso aguça a preocupação com solvência e, para um mesmo nível de apetite de risco no mercado internacional, também tende a elevar o juro real.

Segundo um analista ouvido pela coluna, as reformas do período Temer-Bolsonaro (com destaque para a trabalhista) podem ter talvez elevado o produto potencial da economia brasileira de 1,5% para 2%, mas ainda o mantendo em patamar bem abaixo do nível atual (as projeções de crescimento em 2024 caminham para perto de 3%). Assim, ele continua, em algum momento, "por bem ou por mal", a economia terá que desacelerar.

A visão descrita nesta coluna é a predominante no mercado e entre os economistas de tendência mais liberal e ortodoxa. Provavelmente a equipe econômica de Lula não embarca nos diagnósticos mais alarmistas e planeja um "pouso suave" da economia brasileira. Digamos, uma desaceleração leve e rápida que leve a inflação para a meta, seguida de nova e triunfante arrancada rumo a 2026. Neste caso, muito "neoliberal" vai quebrar a cara. Aguardemos os próximos capítulos.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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