O dólar e os juros de mercado continuaram a subir nesta quarta-feira, na esteira da elevação dos juros dos países ricos. Segundo o economista Livio Ribeiro (consultoria BRCG e IBRE-FGV), que modelou os componentes internacionais e domésticos que movem o câmbio no Brasil, agora é o mundo quem está comandando o espetáculo.
"Temos o dólar subindo no mundo, commodities começando a ceder, diferencial de juros caindo", resume o analista.
Para um gestor no Rio de Janeiro, o real vinha sendo muito resiliente à deterioração do cenário externo, mas agora juntou-se ao vagão de diversos outros emergentes cujos ativos estão sofrendo com a alta de juros nos Estados Unidos (principalmente) e na Europa.
Um dos problemas, diz o analista, "é que não há nenhuma história particularmente positiva sobre o Brasil" diante da maior aversão a risco e da atração de capitais pelos juros elevados nos Estados Unidos.
Na verdade, há uma história positiva, que é a robusta balança comercial brasileira na esteira da alta do petróleo e da supersafra.
Mas na área fiscal é diferente. É verdade que o expansionismo fiscal e a opção pelo ajuste das contas públicas por meio de um duvidoso aumento da receita, decididos por Lula no início do seu terceiro mandato, vinham sendo tolerados - ou quase ignorados - pelos investidores, especialmente estrangeiros. Mas isso ocorreu, claro, quando o cenário externo estava mais risonho. Com a recente alta do juro internacional, a fragilidade fiscal estrutural do Brasil volta ao foco.
Para Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco, o mundo de fato ficou um pouco mais complicado para os países emergentes.
"Não dá para ignorar um mundo com treasuries [títulos do Tesouro americano] nos níveis atuais, isso traz mais aversão a risco", diz Barbosa.
Mas ele ressalva que não é um bom momento para tirar conclusões mais duradouras, pois "estamos no olho do furacão".
O economista-chefe do Bradesco segue acreditando fortemente que a política monetária vai funcionar no mundo e trazer a inflação para baixo, ainda mais levando em conta a desaceleração da China.
Como apontou na terça-feira, em evento no Brasil, o economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia em 2008, os principais bancos centrais do mundo estão temerosos em cortar os juros porque as economias ricas dominantes, especialmente a americana, desaceleraram pouco. O temor é que uma retomada superaquecida da atividade impeça a inflação de convergir para as metas (em torno de 2% tanto nos EUA quanto na zona do euro).
A situação tem aspectos paradoxais. Os juros subiram e a inflação caiu (embora ainda não tenha retornado à meta), exatamente a reação que um BC almeja quando eleva sua taxa básica. Mas a queda da inflação até agora tem sido tão indolor em termos de atividade e mercado de trabalho, com destaque para os Estados Unidos, que os BCs estão com um pé atrás, temerosos de um repique inflacionário ou de que a inflação se estabilize num nível significativamente acima da meta.
Nesse sentido, a observação de Barbosa, do Bradesco, de que a "política monetária vai funcionar", significa considerar mais provável que o pouso suave da economia global prossiga. As inflações permanecerão em suas trajetórias de volta para as metas, e, em algum momento, os BCs terão mais segurança para aliviarem a política monetária, o que, por sua vez, tiraria pressão dos emergentes.
Para Barbosa, "o final da história não será ruim, mas o meio dela ficou mais complicado mesmo".
Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)