Economia e políticas públicas

Opinião|Real está 'bombando' mesmo?


Economista Livio Ribeiro (BRCG e IBRE-FGV) vê valorização do real inferior a de países comparáveis ao Brasil e observa que retomada chinesa é mais benéfica para Leste Asiático do que produtores de commodities.

Por Fernando Dantas

O câmbio do real se valorizou, em quase um mês de governo Lula, de uma cotação de R$ 5,29, no apagar das luzes de 2022, para o nível de RS$ 5,11 pelo qual era negociado hoje quando esta coluna foi escrita. Trata-se de um ganho de 3,3% para a moeda brasileira, e é sem dúvida um fato que ajuda a estabilidade político-econômica neste início de mandato de um novo presidente.

Como sempre ocorre em movimentos cambiais, múltiplos fatores externos e internos confluem para determinar as oscilações entre a moeda norte-americana e a brasileira.

O índice DXI, que mede o dólar contra uma cesta de moedas ponderadas pela relevância para os Estados Unidos, recuou 1,5% desde o início do ano, mostrando que parte da história é bem especificamente americana.

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Outra parte tem a ver com mudanças no cenário internacional para países com algumas características econômicas - relevantes em termos de formação da taxa de câmbio - parecidas com as do Brasil, como as de serem economias emergentes e/ou grandes exportadoras de commodities.

Nesse caso, como nota o economista Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do IBRE-FGV, o Brasil nadou junto com a corrente, e até ficou um pouquinho para trás - provavelmente por fatores domésticos, que costumam estar ligados a incertezas e temores relativos à política econômica e ao quadro político.

Quando se analisa o modelo de câmbio "sintético" do economista, que simplificadamente modula o comportamento da moeda brasileira de acordo com o desempenho cambial de uma síntese de países que tenta replicar as características do Brasil, nota-se que o real tinha algum espaço a mais para apreciar. O mesmo se dá quando Ribeiro utiliza seu modelo baseado nos fundamentos econômicos que determinam o câmbio.

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Na última janela temporal examinada pelo pesquisador, de 16 de dezembro a 20 de janeiro, o dólar recuou 1,89% em relação ao real (de R$ 5,31 para R$ 5,21), 4,59% ante o peso mexicano, 3,13% ante o rand sul-africano, 3,98% ante o dólar australiano e 8,09% ante o peso chileno.

É verdade que o real se apreciou mais de 20/1 para cá, e a perda do dólar ante a moeda brasileira subiu para 3,8% [até sexta-feira, 27/1]. Ainda assim, continua inferior à perda do dólar no mesmo período ante o peso mexicano (-5,2%), ante o dólar australiano (-6%) e ante o peso chileno (-9,2%). Apenas no caso do rand sul-africano (-2,9%) a perda do dólar foi menor que do que ante o real.

Ribeiro é cético em relação à narrativa de que o real está numa consistente maré favorável puxada pela volta da economia chinesa pós política de Covid zero e pela consequente alta das commodities.

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O analista, como já tratado neste espaço, não está convencido de uma retomada contínua e pujante da China este ano. Quanto às commodities, ele nota que os preços em média estão quase parados desde setembro de 2022, embora haja exceções notáveis, como o minério de ferro.

Finalmente, Ribeiro aponta que há uma migração, em termos de países "que entraram na moda" por causa da esperada retomada chinesa, das nações produtoras de commodities para o Leste asiático, este último integrado nas cadeias de produção manufatureiras dos bens consumidos pelos chineses.

Enquanto o benefício da retomada chinesa para países como Brasil depende de demanda específica por alimentos (favorável à soja) ou construção (minério de ferro), países como Malásia, Tailândia, Filipinas e Coreia de Sul se beneficiam da demanda chinesa por um conjunto muito mais amplo de produtos industriais.

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Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/1/2023, sexta-feira.

O câmbio do real se valorizou, em quase um mês de governo Lula, de uma cotação de R$ 5,29, no apagar das luzes de 2022, para o nível de RS$ 5,11 pelo qual era negociado hoje quando esta coluna foi escrita. Trata-se de um ganho de 3,3% para a moeda brasileira, e é sem dúvida um fato que ajuda a estabilidade político-econômica neste início de mandato de um novo presidente.

Como sempre ocorre em movimentos cambiais, múltiplos fatores externos e internos confluem para determinar as oscilações entre a moeda norte-americana e a brasileira.

O índice DXI, que mede o dólar contra uma cesta de moedas ponderadas pela relevância para os Estados Unidos, recuou 1,5% desde o início do ano, mostrando que parte da história é bem especificamente americana.

Outra parte tem a ver com mudanças no cenário internacional para países com algumas características econômicas - relevantes em termos de formação da taxa de câmbio - parecidas com as do Brasil, como as de serem economias emergentes e/ou grandes exportadoras de commodities.

Nesse caso, como nota o economista Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do IBRE-FGV, o Brasil nadou junto com a corrente, e até ficou um pouquinho para trás - provavelmente por fatores domésticos, que costumam estar ligados a incertezas e temores relativos à política econômica e ao quadro político.

Quando se analisa o modelo de câmbio "sintético" do economista, que simplificadamente modula o comportamento da moeda brasileira de acordo com o desempenho cambial de uma síntese de países que tenta replicar as características do Brasil, nota-se que o real tinha algum espaço a mais para apreciar. O mesmo se dá quando Ribeiro utiliza seu modelo baseado nos fundamentos econômicos que determinam o câmbio.

Na última janela temporal examinada pelo pesquisador, de 16 de dezembro a 20 de janeiro, o dólar recuou 1,89% em relação ao real (de R$ 5,31 para R$ 5,21), 4,59% ante o peso mexicano, 3,13% ante o rand sul-africano, 3,98% ante o dólar australiano e 8,09% ante o peso chileno.

É verdade que o real se apreciou mais de 20/1 para cá, e a perda do dólar ante a moeda brasileira subiu para 3,8% [até sexta-feira, 27/1]. Ainda assim, continua inferior à perda do dólar no mesmo período ante o peso mexicano (-5,2%), ante o dólar australiano (-6%) e ante o peso chileno (-9,2%). Apenas no caso do rand sul-africano (-2,9%) a perda do dólar foi menor que do que ante o real.

Ribeiro é cético em relação à narrativa de que o real está numa consistente maré favorável puxada pela volta da economia chinesa pós política de Covid zero e pela consequente alta das commodities.

O analista, como já tratado neste espaço, não está convencido de uma retomada contínua e pujante da China este ano. Quanto às commodities, ele nota que os preços em média estão quase parados desde setembro de 2022, embora haja exceções notáveis, como o minério de ferro.

Finalmente, Ribeiro aponta que há uma migração, em termos de países "que entraram na moda" por causa da esperada retomada chinesa, das nações produtoras de commodities para o Leste asiático, este último integrado nas cadeias de produção manufatureiras dos bens consumidos pelos chineses.

Enquanto o benefício da retomada chinesa para países como Brasil depende de demanda específica por alimentos (favorável à soja) ou construção (minério de ferro), países como Malásia, Tailândia, Filipinas e Coreia de Sul se beneficiam da demanda chinesa por um conjunto muito mais amplo de produtos industriais.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/1/2023, sexta-feira.

O câmbio do real se valorizou, em quase um mês de governo Lula, de uma cotação de R$ 5,29, no apagar das luzes de 2022, para o nível de RS$ 5,11 pelo qual era negociado hoje quando esta coluna foi escrita. Trata-se de um ganho de 3,3% para a moeda brasileira, e é sem dúvida um fato que ajuda a estabilidade político-econômica neste início de mandato de um novo presidente.

Como sempre ocorre em movimentos cambiais, múltiplos fatores externos e internos confluem para determinar as oscilações entre a moeda norte-americana e a brasileira.

O índice DXI, que mede o dólar contra uma cesta de moedas ponderadas pela relevância para os Estados Unidos, recuou 1,5% desde o início do ano, mostrando que parte da história é bem especificamente americana.

Outra parte tem a ver com mudanças no cenário internacional para países com algumas características econômicas - relevantes em termos de formação da taxa de câmbio - parecidas com as do Brasil, como as de serem economias emergentes e/ou grandes exportadoras de commodities.

Nesse caso, como nota o economista Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do IBRE-FGV, o Brasil nadou junto com a corrente, e até ficou um pouquinho para trás - provavelmente por fatores domésticos, que costumam estar ligados a incertezas e temores relativos à política econômica e ao quadro político.

Quando se analisa o modelo de câmbio "sintético" do economista, que simplificadamente modula o comportamento da moeda brasileira de acordo com o desempenho cambial de uma síntese de países que tenta replicar as características do Brasil, nota-se que o real tinha algum espaço a mais para apreciar. O mesmo se dá quando Ribeiro utiliza seu modelo baseado nos fundamentos econômicos que determinam o câmbio.

Na última janela temporal examinada pelo pesquisador, de 16 de dezembro a 20 de janeiro, o dólar recuou 1,89% em relação ao real (de R$ 5,31 para R$ 5,21), 4,59% ante o peso mexicano, 3,13% ante o rand sul-africano, 3,98% ante o dólar australiano e 8,09% ante o peso chileno.

É verdade que o real se apreciou mais de 20/1 para cá, e a perda do dólar ante a moeda brasileira subiu para 3,8% [até sexta-feira, 27/1]. Ainda assim, continua inferior à perda do dólar no mesmo período ante o peso mexicano (-5,2%), ante o dólar australiano (-6%) e ante o peso chileno (-9,2%). Apenas no caso do rand sul-africano (-2,9%) a perda do dólar foi menor que do que ante o real.

Ribeiro é cético em relação à narrativa de que o real está numa consistente maré favorável puxada pela volta da economia chinesa pós política de Covid zero e pela consequente alta das commodities.

O analista, como já tratado neste espaço, não está convencido de uma retomada contínua e pujante da China este ano. Quanto às commodities, ele nota que os preços em média estão quase parados desde setembro de 2022, embora haja exceções notáveis, como o minério de ferro.

Finalmente, Ribeiro aponta que há uma migração, em termos de países "que entraram na moda" por causa da esperada retomada chinesa, das nações produtoras de commodities para o Leste asiático, este último integrado nas cadeias de produção manufatureiras dos bens consumidos pelos chineses.

Enquanto o benefício da retomada chinesa para países como Brasil depende de demanda específica por alimentos (favorável à soja) ou construção (minério de ferro), países como Malásia, Tailândia, Filipinas e Coreia de Sul se beneficiam da demanda chinesa por um conjunto muito mais amplo de produtos industriais.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/1/2023, sexta-feira.

O câmbio do real se valorizou, em quase um mês de governo Lula, de uma cotação de R$ 5,29, no apagar das luzes de 2022, para o nível de RS$ 5,11 pelo qual era negociado hoje quando esta coluna foi escrita. Trata-se de um ganho de 3,3% para a moeda brasileira, e é sem dúvida um fato que ajuda a estabilidade político-econômica neste início de mandato de um novo presidente.

Como sempre ocorre em movimentos cambiais, múltiplos fatores externos e internos confluem para determinar as oscilações entre a moeda norte-americana e a brasileira.

O índice DXI, que mede o dólar contra uma cesta de moedas ponderadas pela relevância para os Estados Unidos, recuou 1,5% desde o início do ano, mostrando que parte da história é bem especificamente americana.

Outra parte tem a ver com mudanças no cenário internacional para países com algumas características econômicas - relevantes em termos de formação da taxa de câmbio - parecidas com as do Brasil, como as de serem economias emergentes e/ou grandes exportadoras de commodities.

Nesse caso, como nota o economista Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do IBRE-FGV, o Brasil nadou junto com a corrente, e até ficou um pouquinho para trás - provavelmente por fatores domésticos, que costumam estar ligados a incertezas e temores relativos à política econômica e ao quadro político.

Quando se analisa o modelo de câmbio "sintético" do economista, que simplificadamente modula o comportamento da moeda brasileira de acordo com o desempenho cambial de uma síntese de países que tenta replicar as características do Brasil, nota-se que o real tinha algum espaço a mais para apreciar. O mesmo se dá quando Ribeiro utiliza seu modelo baseado nos fundamentos econômicos que determinam o câmbio.

Na última janela temporal examinada pelo pesquisador, de 16 de dezembro a 20 de janeiro, o dólar recuou 1,89% em relação ao real (de R$ 5,31 para R$ 5,21), 4,59% ante o peso mexicano, 3,13% ante o rand sul-africano, 3,98% ante o dólar australiano e 8,09% ante o peso chileno.

É verdade que o real se apreciou mais de 20/1 para cá, e a perda do dólar ante a moeda brasileira subiu para 3,8% [até sexta-feira, 27/1]. Ainda assim, continua inferior à perda do dólar no mesmo período ante o peso mexicano (-5,2%), ante o dólar australiano (-6%) e ante o peso chileno (-9,2%). Apenas no caso do rand sul-africano (-2,9%) a perda do dólar foi menor que do que ante o real.

Ribeiro é cético em relação à narrativa de que o real está numa consistente maré favorável puxada pela volta da economia chinesa pós política de Covid zero e pela consequente alta das commodities.

O analista, como já tratado neste espaço, não está convencido de uma retomada contínua e pujante da China este ano. Quanto às commodities, ele nota que os preços em média estão quase parados desde setembro de 2022, embora haja exceções notáveis, como o minério de ferro.

Finalmente, Ribeiro aponta que há uma migração, em termos de países "que entraram na moda" por causa da esperada retomada chinesa, das nações produtoras de commodities para o Leste asiático, este último integrado nas cadeias de produção manufatureiras dos bens consumidos pelos chineses.

Enquanto o benefício da retomada chinesa para países como Brasil depende de demanda específica por alimentos (favorável à soja) ou construção (minério de ferro), países como Malásia, Tailândia, Filipinas e Coreia de Sul se beneficiam da demanda chinesa por um conjunto muito mais amplo de produtos industriais.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 27/1/2023, sexta-feira.

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