Economia e políticas públicas

Opinião|Tabata e o centro moribundo


Desempenho (até agora) fraco da jovem e promissora candidata do PSB na campanha paulistana, segundo as pesquisas eleitorais, indica que populismo mantém domínio da política brasileira, à esquerda e a à direita.

Por Fernando Dantas

O fraco desempenho (até agora) da candidata Tabata Amaral (PSB) na campanha pela prefeitura de São Paulo indica que o centro político - ou centro-direita, para os que preferirem - permanece moribundo no Brasil.

Nas duas últimas eleições presidenciais, os candidatos do centro, Geraldo Alckmin e Simone Tebet, obtiveram menos de 5% dos votos. Essa situação representa uma mudança radical em relação ao ocorrido nos 20 anos entre 1994 e 2014, quando o PSDB representava o centro, e participou como protagonista em todas as eleições presidenciais - ou ganhando no primeiro turno, no início desse ciclo, ou sendo derrotado pelo PT no segundo turno.

Tabata, de certa forma, era uma esperança por aparentar ser uma personagem mais carismática do que os últimos representantes do centro. A jovem deputada federal fez a caminhada entre a periferia e o palco central da política por muito mérito e esforço próprio e é companheira há quatro anos de outra jovem estrela da política nacional, o popular prefeito de Recife, João Campos.

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É indiscutível que, comparada a prévios candidatos centristas a cargos executivos importantes, Tabata traz uma sensação de frescor e novidade. Ela não parece em nada contaminada pela história meio triste e meio sórdida da decadência tucana, com os escândalos de Aécio Neves e a total perda da substância ideológica que caracterizou o partido nos seus anos de protagonismo.

A ideologia e as propostas de Tabata são uma combinação de liberalismo em valores e costumes e um moderado sócio-liberalismo na economia nas quais dificilmente o mais sofisticado socialdemocrata europeu conseguiria encontrar defeitos.

Ao contrário de recentes representantes do centro, que pareceram aderir a esse ideário mais por razões eleitorais, Tabata transpira convicção nas suas posições - mesmo quando tem que arbitrar entre uma postura mais à direita ou mais à esquerda, o que certamente desagrada à parte dos seus simpatizantes, mas é por definição algo que um centrista é obrigado frequentemente a fazer.

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Com todos esses trunfos, Tabata não empolgou (pelo menos não até agora) o eleitorado paulistano que, em relação ao Brasil, é em média mais educado e em teoria mais suscetível a um discurso de campanha de melhor nível intelectual.

Houve, sim, uma forte surpresa na eleição paulistana, mas ela não foi a recuperação do centro. Pelo contrário, Pablo Marçal, uma versão ainda mais perversa, amoral e caricata do populismo de direita, disparou nas pesquisas e está próximo em intenção de votos dos líderes nas pesquisas de opinião: o bolsonarista Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos, uma dupla que traduz bem a polarização política brasileira entre uma esquerda com pelo menos um pé em posições mais radicais, e a direita em consórcio com a extrema-direita.

A prolongada fase de irrelevância do centro no Brasil indica que políticas econômicas e sociais modernas, eficazes e baseadas em dados dependerão de que o governo populista (ou pelo menos sensível ao populismo) de plantão abrigue dentro de si um núcleo de racionalidade. O problema é que a pauta modernizadora que poderia tirar o Brasil da armadilha da renda média, nesse contexto, será sempre tocada por um grupo minoritário do governo, quase clandestino, sujeito a todo o tipo de fogo amigo, e sem a essencial característica - para romper barreiras políticas - de ser a bandeira principal da presidência da República.

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É uma forma muito tortuosa para um país tão injusto e com tantas carências sociais como o Brasil buscar o desenvolvimento.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 20/9/2024, sexta-feira.

O fraco desempenho (até agora) da candidata Tabata Amaral (PSB) na campanha pela prefeitura de São Paulo indica que o centro político - ou centro-direita, para os que preferirem - permanece moribundo no Brasil.

Nas duas últimas eleições presidenciais, os candidatos do centro, Geraldo Alckmin e Simone Tebet, obtiveram menos de 5% dos votos. Essa situação representa uma mudança radical em relação ao ocorrido nos 20 anos entre 1994 e 2014, quando o PSDB representava o centro, e participou como protagonista em todas as eleições presidenciais - ou ganhando no primeiro turno, no início desse ciclo, ou sendo derrotado pelo PT no segundo turno.

Tabata, de certa forma, era uma esperança por aparentar ser uma personagem mais carismática do que os últimos representantes do centro. A jovem deputada federal fez a caminhada entre a periferia e o palco central da política por muito mérito e esforço próprio e é companheira há quatro anos de outra jovem estrela da política nacional, o popular prefeito de Recife, João Campos.

É indiscutível que, comparada a prévios candidatos centristas a cargos executivos importantes, Tabata traz uma sensação de frescor e novidade. Ela não parece em nada contaminada pela história meio triste e meio sórdida da decadência tucana, com os escândalos de Aécio Neves e a total perda da substância ideológica que caracterizou o partido nos seus anos de protagonismo.

A ideologia e as propostas de Tabata são uma combinação de liberalismo em valores e costumes e um moderado sócio-liberalismo na economia nas quais dificilmente o mais sofisticado socialdemocrata europeu conseguiria encontrar defeitos.

Ao contrário de recentes representantes do centro, que pareceram aderir a esse ideário mais por razões eleitorais, Tabata transpira convicção nas suas posições - mesmo quando tem que arbitrar entre uma postura mais à direita ou mais à esquerda, o que certamente desagrada à parte dos seus simpatizantes, mas é por definição algo que um centrista é obrigado frequentemente a fazer.

Com todos esses trunfos, Tabata não empolgou (pelo menos não até agora) o eleitorado paulistano que, em relação ao Brasil, é em média mais educado e em teoria mais suscetível a um discurso de campanha de melhor nível intelectual.

Houve, sim, uma forte surpresa na eleição paulistana, mas ela não foi a recuperação do centro. Pelo contrário, Pablo Marçal, uma versão ainda mais perversa, amoral e caricata do populismo de direita, disparou nas pesquisas e está próximo em intenção de votos dos líderes nas pesquisas de opinião: o bolsonarista Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos, uma dupla que traduz bem a polarização política brasileira entre uma esquerda com pelo menos um pé em posições mais radicais, e a direita em consórcio com a extrema-direita.

A prolongada fase de irrelevância do centro no Brasil indica que políticas econômicas e sociais modernas, eficazes e baseadas em dados dependerão de que o governo populista (ou pelo menos sensível ao populismo) de plantão abrigue dentro de si um núcleo de racionalidade. O problema é que a pauta modernizadora que poderia tirar o Brasil da armadilha da renda média, nesse contexto, será sempre tocada por um grupo minoritário do governo, quase clandestino, sujeito a todo o tipo de fogo amigo, e sem a essencial característica - para romper barreiras políticas - de ser a bandeira principal da presidência da República.

É uma forma muito tortuosa para um país tão injusto e com tantas carências sociais como o Brasil buscar o desenvolvimento.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 20/9/2024, sexta-feira.

O fraco desempenho (até agora) da candidata Tabata Amaral (PSB) na campanha pela prefeitura de São Paulo indica que o centro político - ou centro-direita, para os que preferirem - permanece moribundo no Brasil.

Nas duas últimas eleições presidenciais, os candidatos do centro, Geraldo Alckmin e Simone Tebet, obtiveram menos de 5% dos votos. Essa situação representa uma mudança radical em relação ao ocorrido nos 20 anos entre 1994 e 2014, quando o PSDB representava o centro, e participou como protagonista em todas as eleições presidenciais - ou ganhando no primeiro turno, no início desse ciclo, ou sendo derrotado pelo PT no segundo turno.

Tabata, de certa forma, era uma esperança por aparentar ser uma personagem mais carismática do que os últimos representantes do centro. A jovem deputada federal fez a caminhada entre a periferia e o palco central da política por muito mérito e esforço próprio e é companheira há quatro anos de outra jovem estrela da política nacional, o popular prefeito de Recife, João Campos.

É indiscutível que, comparada a prévios candidatos centristas a cargos executivos importantes, Tabata traz uma sensação de frescor e novidade. Ela não parece em nada contaminada pela história meio triste e meio sórdida da decadência tucana, com os escândalos de Aécio Neves e a total perda da substância ideológica que caracterizou o partido nos seus anos de protagonismo.

A ideologia e as propostas de Tabata são uma combinação de liberalismo em valores e costumes e um moderado sócio-liberalismo na economia nas quais dificilmente o mais sofisticado socialdemocrata europeu conseguiria encontrar defeitos.

Ao contrário de recentes representantes do centro, que pareceram aderir a esse ideário mais por razões eleitorais, Tabata transpira convicção nas suas posições - mesmo quando tem que arbitrar entre uma postura mais à direita ou mais à esquerda, o que certamente desagrada à parte dos seus simpatizantes, mas é por definição algo que um centrista é obrigado frequentemente a fazer.

Com todos esses trunfos, Tabata não empolgou (pelo menos não até agora) o eleitorado paulistano que, em relação ao Brasil, é em média mais educado e em teoria mais suscetível a um discurso de campanha de melhor nível intelectual.

Houve, sim, uma forte surpresa na eleição paulistana, mas ela não foi a recuperação do centro. Pelo contrário, Pablo Marçal, uma versão ainda mais perversa, amoral e caricata do populismo de direita, disparou nas pesquisas e está próximo em intenção de votos dos líderes nas pesquisas de opinião: o bolsonarista Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos, uma dupla que traduz bem a polarização política brasileira entre uma esquerda com pelo menos um pé em posições mais radicais, e a direita em consórcio com a extrema-direita.

A prolongada fase de irrelevância do centro no Brasil indica que políticas econômicas e sociais modernas, eficazes e baseadas em dados dependerão de que o governo populista (ou pelo menos sensível ao populismo) de plantão abrigue dentro de si um núcleo de racionalidade. O problema é que a pauta modernizadora que poderia tirar o Brasil da armadilha da renda média, nesse contexto, será sempre tocada por um grupo minoritário do governo, quase clandestino, sujeito a todo o tipo de fogo amigo, e sem a essencial característica - para romper barreiras políticas - de ser a bandeira principal da presidência da República.

É uma forma muito tortuosa para um país tão injusto e com tantas carências sociais como o Brasil buscar o desenvolvimento.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 20/9/2024, sexta-feira.

O fraco desempenho (até agora) da candidata Tabata Amaral (PSB) na campanha pela prefeitura de São Paulo indica que o centro político - ou centro-direita, para os que preferirem - permanece moribundo no Brasil.

Nas duas últimas eleições presidenciais, os candidatos do centro, Geraldo Alckmin e Simone Tebet, obtiveram menos de 5% dos votos. Essa situação representa uma mudança radical em relação ao ocorrido nos 20 anos entre 1994 e 2014, quando o PSDB representava o centro, e participou como protagonista em todas as eleições presidenciais - ou ganhando no primeiro turno, no início desse ciclo, ou sendo derrotado pelo PT no segundo turno.

Tabata, de certa forma, era uma esperança por aparentar ser uma personagem mais carismática do que os últimos representantes do centro. A jovem deputada federal fez a caminhada entre a periferia e o palco central da política por muito mérito e esforço próprio e é companheira há quatro anos de outra jovem estrela da política nacional, o popular prefeito de Recife, João Campos.

É indiscutível que, comparada a prévios candidatos centristas a cargos executivos importantes, Tabata traz uma sensação de frescor e novidade. Ela não parece em nada contaminada pela história meio triste e meio sórdida da decadência tucana, com os escândalos de Aécio Neves e a total perda da substância ideológica que caracterizou o partido nos seus anos de protagonismo.

A ideologia e as propostas de Tabata são uma combinação de liberalismo em valores e costumes e um moderado sócio-liberalismo na economia nas quais dificilmente o mais sofisticado socialdemocrata europeu conseguiria encontrar defeitos.

Ao contrário de recentes representantes do centro, que pareceram aderir a esse ideário mais por razões eleitorais, Tabata transpira convicção nas suas posições - mesmo quando tem que arbitrar entre uma postura mais à direita ou mais à esquerda, o que certamente desagrada à parte dos seus simpatizantes, mas é por definição algo que um centrista é obrigado frequentemente a fazer.

Com todos esses trunfos, Tabata não empolgou (pelo menos não até agora) o eleitorado paulistano que, em relação ao Brasil, é em média mais educado e em teoria mais suscetível a um discurso de campanha de melhor nível intelectual.

Houve, sim, uma forte surpresa na eleição paulistana, mas ela não foi a recuperação do centro. Pelo contrário, Pablo Marçal, uma versão ainda mais perversa, amoral e caricata do populismo de direita, disparou nas pesquisas e está próximo em intenção de votos dos líderes nas pesquisas de opinião: o bolsonarista Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos, uma dupla que traduz bem a polarização política brasileira entre uma esquerda com pelo menos um pé em posições mais radicais, e a direita em consórcio com a extrema-direita.

A prolongada fase de irrelevância do centro no Brasil indica que políticas econômicas e sociais modernas, eficazes e baseadas em dados dependerão de que o governo populista (ou pelo menos sensível ao populismo) de plantão abrigue dentro de si um núcleo de racionalidade. O problema é que a pauta modernizadora que poderia tirar o Brasil da armadilha da renda média, nesse contexto, será sempre tocada por um grupo minoritário do governo, quase clandestino, sujeito a todo o tipo de fogo amigo, e sem a essencial característica - para romper barreiras políticas - de ser a bandeira principal da presidência da República.

É uma forma muito tortuosa para um país tão injusto e com tantas carências sociais como o Brasil buscar o desenvolvimento.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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