Economia e políticas públicas

Opinião|Tarde demais para reindustrializar?


O prestigiado economista Dani Rodrik, que vê papel importante da indústria no desenvolvimento acelerado, acha que esse caminho pode ter se tornado inviável para vários emergentes, inclusive o Brasil. Mas ele considera que reforço de instituções e melhora da educação podem levar a um processo mais lento, porém também mais estável, de convergência em relação ao nível sócio-econômico do mundo rico.

Por Fernando Dantas

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tocou na terça-feira (18/8) na tecla sensível do processo de desindustrialização do País ao dizer que a reforma do PIS/Cofins "vai ser mais um fator para estimular o renascimento da indústria". Há poucos dias, o "neodesenvolvimentista" Luiz Carlos Bresser-Pereira indicou que o câmbio por volta de R$ 3,5 já dá competitividade industrial à economia brasileira.

A estagnação da produção industrial nos níveis pré-crise global permanece como um tema aparentemente inevitável da agenda pró-crescimento que começa a ser discutida mais intensamente em meio à crise política. Embora a atual equipe econômica esteja fundamentalmente voltada ao ajuste fiscal de curto e médio prazo, a influência do pensamento que vê a indústria como central no processo de desenvolvimento das economias emergentes permanece muito viva no Brasil, e é algo que os formuladores de política econômica não ousam ignorar.

Entretanto, aquele que provavelmente é o acadêmico de maior prestígio internacional que endossa a centralidade da indústria no desenvolvimento não tem boas notícias a dar aos neodesenvolvimentistas brasileiros. O economista Dani Rodrik, de Harvard, vem revelando um crescente ceticismo em relação à possibilidade de que a maior parte dos países de renda média possa fazer o salto em direção ao pleno desenvolvimento com base na industrialização, como fizeram Coreia do Sul, Taiwan e, agora, a China.

continua após a publicidade

Em recente artigo, Rodrik escreve que "diferentemente das economias do Leste Asiático, os mercados emergentes hoje não podem contar com excedentes exportáveis de manufaturas como seu motor de transformação industrial e crescimento". Já num paper de fevereiro, ele buscou mostrar que atualmente a desindustrialização mais dramática ocorre nos países emergentes, com destaque para a América Latina, e não nos países ricos onde uma transição pós-industrial para serviços sofisticado é de se esperar.

O economista atribui a "desindustrialização precoce" dos emergentes (com as exceções de praxe no Leste asiático) ao comércio internacional e à globalização, e escreve que o fenômeno "reduz o potencial de crescimento e as possibilidades de convergência para os níveis de renda das economias avançadas". Em outro artigo, ele escreve que "uma consequência imediata (da desindustrialização precoce) é que países em desenvolvimento estão se transformando em economias de serviços em níveis muito mais baixos de renda (comparados aos países ricos que fizeram esta transição no passado)".

É conhecida a diversidade do setor de serviços, que tanto pode concentrar setores e empresas de alta produtividade, como nos países ricos, ou de produtividade abaixo mesmo daquela das indústrias tradicionais, perfil típico de países em desenvolvimento.

continua após a publicidade

Rodrik também acha que a desindustrialização precoce pode trazer problemas políticos e tendências populistas, já que vê, como peças de uma democracia durável, algumas características associadas à indústria: movimento sindical organizado, partidos políticos disciplinados e competição política no eixo direita-esquerda.

No seu mais recente artigo, entretanto, o economista acena com uma luz no fim do túnel para os países que enfrentam a desindustrialização precoce. Infelizmente para os neodesenvolvimentistas brasileiros, entretanto, não se trata de reindustrialização.

Rodrik agora prega o reforço da educação e dos fundamentos econômicos de longo prazo para esses países, de forma muito semelhante à visão mais ortodoxa. Ele diz que, com esta agenda, não se cresce a taxas anuais de 7% a 8%, como na Ásia, mas pode se crescer de forma estável a um ritmo entre 2% e 3%. Ele acrescenta que há uma vantagem em ser "tartaruga" em vez de "lebre" na rota do crescimento: mais estabilidade e menos crises no processo de convergência para a renda dos ricos. Comparando a China ditatorial com a Índia democrática, ele escreve que "os desafios de transformação política e institucional são imensuravelmente maiores" no primeiro caso.

continua após a publicidade

E o economista tem até uma palavra positiva sobre o Brasil, onde "a crise política demonstra a maturidade democrática do país, e é possivelmente um sinal de força e não de fraqueza". Rodrik acha exemplar o fato de que a investigação do Petrolão tenha chegado nos níveis mais elevados da sociedade e do governo sem interferência política e sem que o processo tenha se transformado numa "caça às bruxas".

Para um País como o Brasil, portanto, o mais prestigiado defensor do papel da indústria no desenvolvimento recomenda uma agenda de gradativo fortalecimento institucional e de fundamentos - e não mais a emulação do crescimento rápido baseado (para ele) na indústria do Leste Asiático. (fernando.dantas@estado.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

continua após a publicidade

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 19/8/15, terça-feira.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tocou na terça-feira (18/8) na tecla sensível do processo de desindustrialização do País ao dizer que a reforma do PIS/Cofins "vai ser mais um fator para estimular o renascimento da indústria". Há poucos dias, o "neodesenvolvimentista" Luiz Carlos Bresser-Pereira indicou que o câmbio por volta de R$ 3,5 já dá competitividade industrial à economia brasileira.

A estagnação da produção industrial nos níveis pré-crise global permanece como um tema aparentemente inevitável da agenda pró-crescimento que começa a ser discutida mais intensamente em meio à crise política. Embora a atual equipe econômica esteja fundamentalmente voltada ao ajuste fiscal de curto e médio prazo, a influência do pensamento que vê a indústria como central no processo de desenvolvimento das economias emergentes permanece muito viva no Brasil, e é algo que os formuladores de política econômica não ousam ignorar.

Entretanto, aquele que provavelmente é o acadêmico de maior prestígio internacional que endossa a centralidade da indústria no desenvolvimento não tem boas notícias a dar aos neodesenvolvimentistas brasileiros. O economista Dani Rodrik, de Harvard, vem revelando um crescente ceticismo em relação à possibilidade de que a maior parte dos países de renda média possa fazer o salto em direção ao pleno desenvolvimento com base na industrialização, como fizeram Coreia do Sul, Taiwan e, agora, a China.

Em recente artigo, Rodrik escreve que "diferentemente das economias do Leste Asiático, os mercados emergentes hoje não podem contar com excedentes exportáveis de manufaturas como seu motor de transformação industrial e crescimento". Já num paper de fevereiro, ele buscou mostrar que atualmente a desindustrialização mais dramática ocorre nos países emergentes, com destaque para a América Latina, e não nos países ricos onde uma transição pós-industrial para serviços sofisticado é de se esperar.

O economista atribui a "desindustrialização precoce" dos emergentes (com as exceções de praxe no Leste asiático) ao comércio internacional e à globalização, e escreve que o fenômeno "reduz o potencial de crescimento e as possibilidades de convergência para os níveis de renda das economias avançadas". Em outro artigo, ele escreve que "uma consequência imediata (da desindustrialização precoce) é que países em desenvolvimento estão se transformando em economias de serviços em níveis muito mais baixos de renda (comparados aos países ricos que fizeram esta transição no passado)".

É conhecida a diversidade do setor de serviços, que tanto pode concentrar setores e empresas de alta produtividade, como nos países ricos, ou de produtividade abaixo mesmo daquela das indústrias tradicionais, perfil típico de países em desenvolvimento.

Rodrik também acha que a desindustrialização precoce pode trazer problemas políticos e tendências populistas, já que vê, como peças de uma democracia durável, algumas características associadas à indústria: movimento sindical organizado, partidos políticos disciplinados e competição política no eixo direita-esquerda.

No seu mais recente artigo, entretanto, o economista acena com uma luz no fim do túnel para os países que enfrentam a desindustrialização precoce. Infelizmente para os neodesenvolvimentistas brasileiros, entretanto, não se trata de reindustrialização.

Rodrik agora prega o reforço da educação e dos fundamentos econômicos de longo prazo para esses países, de forma muito semelhante à visão mais ortodoxa. Ele diz que, com esta agenda, não se cresce a taxas anuais de 7% a 8%, como na Ásia, mas pode se crescer de forma estável a um ritmo entre 2% e 3%. Ele acrescenta que há uma vantagem em ser "tartaruga" em vez de "lebre" na rota do crescimento: mais estabilidade e menos crises no processo de convergência para a renda dos ricos. Comparando a China ditatorial com a Índia democrática, ele escreve que "os desafios de transformação política e institucional são imensuravelmente maiores" no primeiro caso.

E o economista tem até uma palavra positiva sobre o Brasil, onde "a crise política demonstra a maturidade democrática do país, e é possivelmente um sinal de força e não de fraqueza". Rodrik acha exemplar o fato de que a investigação do Petrolão tenha chegado nos níveis mais elevados da sociedade e do governo sem interferência política e sem que o processo tenha se transformado numa "caça às bruxas".

Para um País como o Brasil, portanto, o mais prestigiado defensor do papel da indústria no desenvolvimento recomenda uma agenda de gradativo fortalecimento institucional e de fundamentos - e não mais a emulação do crescimento rápido baseado (para ele) na indústria do Leste Asiático. (fernando.dantas@estado.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 19/8/15, terça-feira.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tocou na terça-feira (18/8) na tecla sensível do processo de desindustrialização do País ao dizer que a reforma do PIS/Cofins "vai ser mais um fator para estimular o renascimento da indústria". Há poucos dias, o "neodesenvolvimentista" Luiz Carlos Bresser-Pereira indicou que o câmbio por volta de R$ 3,5 já dá competitividade industrial à economia brasileira.

A estagnação da produção industrial nos níveis pré-crise global permanece como um tema aparentemente inevitável da agenda pró-crescimento que começa a ser discutida mais intensamente em meio à crise política. Embora a atual equipe econômica esteja fundamentalmente voltada ao ajuste fiscal de curto e médio prazo, a influência do pensamento que vê a indústria como central no processo de desenvolvimento das economias emergentes permanece muito viva no Brasil, e é algo que os formuladores de política econômica não ousam ignorar.

Entretanto, aquele que provavelmente é o acadêmico de maior prestígio internacional que endossa a centralidade da indústria no desenvolvimento não tem boas notícias a dar aos neodesenvolvimentistas brasileiros. O economista Dani Rodrik, de Harvard, vem revelando um crescente ceticismo em relação à possibilidade de que a maior parte dos países de renda média possa fazer o salto em direção ao pleno desenvolvimento com base na industrialização, como fizeram Coreia do Sul, Taiwan e, agora, a China.

Em recente artigo, Rodrik escreve que "diferentemente das economias do Leste Asiático, os mercados emergentes hoje não podem contar com excedentes exportáveis de manufaturas como seu motor de transformação industrial e crescimento". Já num paper de fevereiro, ele buscou mostrar que atualmente a desindustrialização mais dramática ocorre nos países emergentes, com destaque para a América Latina, e não nos países ricos onde uma transição pós-industrial para serviços sofisticado é de se esperar.

O economista atribui a "desindustrialização precoce" dos emergentes (com as exceções de praxe no Leste asiático) ao comércio internacional e à globalização, e escreve que o fenômeno "reduz o potencial de crescimento e as possibilidades de convergência para os níveis de renda das economias avançadas". Em outro artigo, ele escreve que "uma consequência imediata (da desindustrialização precoce) é que países em desenvolvimento estão se transformando em economias de serviços em níveis muito mais baixos de renda (comparados aos países ricos que fizeram esta transição no passado)".

É conhecida a diversidade do setor de serviços, que tanto pode concentrar setores e empresas de alta produtividade, como nos países ricos, ou de produtividade abaixo mesmo daquela das indústrias tradicionais, perfil típico de países em desenvolvimento.

Rodrik também acha que a desindustrialização precoce pode trazer problemas políticos e tendências populistas, já que vê, como peças de uma democracia durável, algumas características associadas à indústria: movimento sindical organizado, partidos políticos disciplinados e competição política no eixo direita-esquerda.

No seu mais recente artigo, entretanto, o economista acena com uma luz no fim do túnel para os países que enfrentam a desindustrialização precoce. Infelizmente para os neodesenvolvimentistas brasileiros, entretanto, não se trata de reindustrialização.

Rodrik agora prega o reforço da educação e dos fundamentos econômicos de longo prazo para esses países, de forma muito semelhante à visão mais ortodoxa. Ele diz que, com esta agenda, não se cresce a taxas anuais de 7% a 8%, como na Ásia, mas pode se crescer de forma estável a um ritmo entre 2% e 3%. Ele acrescenta que há uma vantagem em ser "tartaruga" em vez de "lebre" na rota do crescimento: mais estabilidade e menos crises no processo de convergência para a renda dos ricos. Comparando a China ditatorial com a Índia democrática, ele escreve que "os desafios de transformação política e institucional são imensuravelmente maiores" no primeiro caso.

E o economista tem até uma palavra positiva sobre o Brasil, onde "a crise política demonstra a maturidade democrática do país, e é possivelmente um sinal de força e não de fraqueza". Rodrik acha exemplar o fato de que a investigação do Petrolão tenha chegado nos níveis mais elevados da sociedade e do governo sem interferência política e sem que o processo tenha se transformado numa "caça às bruxas".

Para um País como o Brasil, portanto, o mais prestigiado defensor do papel da indústria no desenvolvimento recomenda uma agenda de gradativo fortalecimento institucional e de fundamentos - e não mais a emulação do crescimento rápido baseado (para ele) na indústria do Leste Asiático. (fernando.dantas@estado.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 19/8/15, terça-feira.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tocou na terça-feira (18/8) na tecla sensível do processo de desindustrialização do País ao dizer que a reforma do PIS/Cofins "vai ser mais um fator para estimular o renascimento da indústria". Há poucos dias, o "neodesenvolvimentista" Luiz Carlos Bresser-Pereira indicou que o câmbio por volta de R$ 3,5 já dá competitividade industrial à economia brasileira.

A estagnação da produção industrial nos níveis pré-crise global permanece como um tema aparentemente inevitável da agenda pró-crescimento que começa a ser discutida mais intensamente em meio à crise política. Embora a atual equipe econômica esteja fundamentalmente voltada ao ajuste fiscal de curto e médio prazo, a influência do pensamento que vê a indústria como central no processo de desenvolvimento das economias emergentes permanece muito viva no Brasil, e é algo que os formuladores de política econômica não ousam ignorar.

Entretanto, aquele que provavelmente é o acadêmico de maior prestígio internacional que endossa a centralidade da indústria no desenvolvimento não tem boas notícias a dar aos neodesenvolvimentistas brasileiros. O economista Dani Rodrik, de Harvard, vem revelando um crescente ceticismo em relação à possibilidade de que a maior parte dos países de renda média possa fazer o salto em direção ao pleno desenvolvimento com base na industrialização, como fizeram Coreia do Sul, Taiwan e, agora, a China.

Em recente artigo, Rodrik escreve que "diferentemente das economias do Leste Asiático, os mercados emergentes hoje não podem contar com excedentes exportáveis de manufaturas como seu motor de transformação industrial e crescimento". Já num paper de fevereiro, ele buscou mostrar que atualmente a desindustrialização mais dramática ocorre nos países emergentes, com destaque para a América Latina, e não nos países ricos onde uma transição pós-industrial para serviços sofisticado é de se esperar.

O economista atribui a "desindustrialização precoce" dos emergentes (com as exceções de praxe no Leste asiático) ao comércio internacional e à globalização, e escreve que o fenômeno "reduz o potencial de crescimento e as possibilidades de convergência para os níveis de renda das economias avançadas". Em outro artigo, ele escreve que "uma consequência imediata (da desindustrialização precoce) é que países em desenvolvimento estão se transformando em economias de serviços em níveis muito mais baixos de renda (comparados aos países ricos que fizeram esta transição no passado)".

É conhecida a diversidade do setor de serviços, que tanto pode concentrar setores e empresas de alta produtividade, como nos países ricos, ou de produtividade abaixo mesmo daquela das indústrias tradicionais, perfil típico de países em desenvolvimento.

Rodrik também acha que a desindustrialização precoce pode trazer problemas políticos e tendências populistas, já que vê, como peças de uma democracia durável, algumas características associadas à indústria: movimento sindical organizado, partidos políticos disciplinados e competição política no eixo direita-esquerda.

No seu mais recente artigo, entretanto, o economista acena com uma luz no fim do túnel para os países que enfrentam a desindustrialização precoce. Infelizmente para os neodesenvolvimentistas brasileiros, entretanto, não se trata de reindustrialização.

Rodrik agora prega o reforço da educação e dos fundamentos econômicos de longo prazo para esses países, de forma muito semelhante à visão mais ortodoxa. Ele diz que, com esta agenda, não se cresce a taxas anuais de 7% a 8%, como na Ásia, mas pode se crescer de forma estável a um ritmo entre 2% e 3%. Ele acrescenta que há uma vantagem em ser "tartaruga" em vez de "lebre" na rota do crescimento: mais estabilidade e menos crises no processo de convergência para a renda dos ricos. Comparando a China ditatorial com a Índia democrática, ele escreve que "os desafios de transformação política e institucional são imensuravelmente maiores" no primeiro caso.

E o economista tem até uma palavra positiva sobre o Brasil, onde "a crise política demonstra a maturidade democrática do país, e é possivelmente um sinal de força e não de fraqueza". Rodrik acha exemplar o fato de que a investigação do Petrolão tenha chegado nos níveis mais elevados da sociedade e do governo sem interferência política e sem que o processo tenha se transformado numa "caça às bruxas".

Para um País como o Brasil, portanto, o mais prestigiado defensor do papel da indústria no desenvolvimento recomenda uma agenda de gradativo fortalecimento institucional e de fundamentos - e não mais a emulação do crescimento rápido baseado (para ele) na indústria do Leste Asiático. (fernando.dantas@estado.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

Esta coluna foi publicada pela AE-News/Broadcast em 19/8/15, terça-feira.

Opinião por Fernando Dantas

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.