Economia e políticas públicas

Opinião|Vitória de Trump traz problemas mas também oportunidades para Lula


Protecionismo pode aumentar inflação e juros nos EUA, o que é negativo para a economia brasileira, e atuação ideológica de presidente eleito dos EUA é prejudicial à tentativa de projeção internacional do Brasil. Mas Lula pode aproveitar essas "ameaças" para reforçar ajuste fiscal e rumar para o centro.

Por Fernando Dantas

A vitória de Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro e a extrema-direita no Brasil, mas pode ser até uma oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corrigir seu rumo econômico e político. A análise é de Octavio Amorim Neto, cientista político da EBAPE-FGV.

Como efeito imediato, Bolsonaro já deixou claro que ele e seu grupo vão tentar instrumentalizar a vitória de Trump para conseguir uma anistia da inelegibilidade do ex-presidente brasileiro. Bolsonaro espera que ela venha pelo Congresso, com o PL, seu partido, como o maior da Câmara, pressionando por um Projeto de Lei para perdoar as pessoas envolvidas no 8 de janeiro e para torná-lo elegível novamente.

A ideia é que o Executivo e o Legislativo (a ser dominado pelos republicanos) dos Estados Unidos pressionem o Brasil nesse sentido. Amorim Neto considera essa hipótese improvável, já que, independentemente do teor ideológico do presidente, o Departamento de Estado norte-americano costuma agir com profissionalismo. O risco de se indispor com o maior país da América Latina por uma tentativa de intromissão em assuntos externos pode ser forte demais, principalmente em vista da crescente importância da China na região.

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Já no Congresso americano, parlamentares individualmente podem tentar iniciativas nesse sentido, mas isso não parece ser uma bandeira majoritária nem uma prioridade.

Internamente no Brasil, Amorim Neto nota que haverá resistência à anistia a Bolsonaro tanto por parte dos seus concorrentes, pela direita, a liderar esse campo e ser candidato protagonista em 2026; como pela esquerda e pelo centro.

Outros efeitos negativos - já extensamente comentados nos meios de comunicação - da vitória de Trump para Lula e o Brasil ocorrem na economia: um surto protecionista americano prejudicando não só o comércio brasileiro diretamente, mas também atiçando a inflação norte-americana, o que leva à alta do juro internacional e maior prêmio de risco para países emergentes.

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Já na área diplomática, o pesquisador aponta que Lula deve perder interlocução com a Casa Branca, mas nem tanto com o Departamento de Estado, pelas razões já mencionadas acima (a qual se acrescenta que o Itamaraty também costuma ser conduzido com profissionalismo e competência).

A vitória de Trump também pode esvaziar dois grandes encontros a serem sediados no Brasil, com os quais o País pretende projetar sua influência e imagem internacional: o G-20, no Rio em novembro; e a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) em Belém, em novembro do próximo ano.

Adicionalmente, a afinidade ideológica de Javier Milei com Trump deve reforçar o protagonismo do presidente argentino na América do Sul, em detrimento da liderança sempre buscada pelo Brasil no subcontinente. E, por fim, o Brasil assume a presidência dos BRICS em 2025 e a pauta de substituir o dólar nas transações internacionais poderia provocar rusgas com Trump.

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Por outro lado, Amorim Neto vê a chance de que "o tipo de diplomacia transacional de Trump acabe encontrando pontos de afinidade com o pragmatismo de Lula".

Pelo lado das oportunidades, o cientista político considera que o ambiente externo mais hostil com a vitória de Trump pode reforçar a mão de Fernando Haddad para obter de Lula e do PT um pacote de corte de gastos mais significativo.

Da mesma forma, a força da extrema-direita revelada pela eleição americana, e que se estende ao Brasil, reforça a necessidade de Lula trilhar o caminho da frente ampla também (e talvez com maior comprometimento) em 2026. Isso, por sua vez, traz a necessidade de que o governo se aproxime mais do centro.

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Amorim Neto nota que o recente veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICS (que já levou a muitas agressões a Lula e seu governo por parte dos bolivarianos) já é um passo em direção do centro. Boa parte do centro liberal que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro se horroriza com a aproximação pretérita do presidente e ainda presente do PT com a ditadura venezuelana. Isso poderia até ser razão para as mesmas forças saírem da nau de Lula em 2026. Uma guinada ao centro nesse e em outros tópicos pode ajudar Lula ou o seu candidato em 2026 a se prepararem melhor para enfrentar a extrema-direita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 8/11/2024, sexta-feira.

A vitória de Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro e a extrema-direita no Brasil, mas pode ser até uma oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corrigir seu rumo econômico e político. A análise é de Octavio Amorim Neto, cientista político da EBAPE-FGV.

Como efeito imediato, Bolsonaro já deixou claro que ele e seu grupo vão tentar instrumentalizar a vitória de Trump para conseguir uma anistia da inelegibilidade do ex-presidente brasileiro. Bolsonaro espera que ela venha pelo Congresso, com o PL, seu partido, como o maior da Câmara, pressionando por um Projeto de Lei para perdoar as pessoas envolvidas no 8 de janeiro e para torná-lo elegível novamente.

A ideia é que o Executivo e o Legislativo (a ser dominado pelos republicanos) dos Estados Unidos pressionem o Brasil nesse sentido. Amorim Neto considera essa hipótese improvável, já que, independentemente do teor ideológico do presidente, o Departamento de Estado norte-americano costuma agir com profissionalismo. O risco de se indispor com o maior país da América Latina por uma tentativa de intromissão em assuntos externos pode ser forte demais, principalmente em vista da crescente importância da China na região.

Já no Congresso americano, parlamentares individualmente podem tentar iniciativas nesse sentido, mas isso não parece ser uma bandeira majoritária nem uma prioridade.

Internamente no Brasil, Amorim Neto nota que haverá resistência à anistia a Bolsonaro tanto por parte dos seus concorrentes, pela direita, a liderar esse campo e ser candidato protagonista em 2026; como pela esquerda e pelo centro.

Outros efeitos negativos - já extensamente comentados nos meios de comunicação - da vitória de Trump para Lula e o Brasil ocorrem na economia: um surto protecionista americano prejudicando não só o comércio brasileiro diretamente, mas também atiçando a inflação norte-americana, o que leva à alta do juro internacional e maior prêmio de risco para países emergentes.

Já na área diplomática, o pesquisador aponta que Lula deve perder interlocução com a Casa Branca, mas nem tanto com o Departamento de Estado, pelas razões já mencionadas acima (a qual se acrescenta que o Itamaraty também costuma ser conduzido com profissionalismo e competência).

A vitória de Trump também pode esvaziar dois grandes encontros a serem sediados no Brasil, com os quais o País pretende projetar sua influência e imagem internacional: o G-20, no Rio em novembro; e a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) em Belém, em novembro do próximo ano.

Adicionalmente, a afinidade ideológica de Javier Milei com Trump deve reforçar o protagonismo do presidente argentino na América do Sul, em detrimento da liderança sempre buscada pelo Brasil no subcontinente. E, por fim, o Brasil assume a presidência dos BRICS em 2025 e a pauta de substituir o dólar nas transações internacionais poderia provocar rusgas com Trump.

Por outro lado, Amorim Neto vê a chance de que "o tipo de diplomacia transacional de Trump acabe encontrando pontos de afinidade com o pragmatismo de Lula".

Pelo lado das oportunidades, o cientista político considera que o ambiente externo mais hostil com a vitória de Trump pode reforçar a mão de Fernando Haddad para obter de Lula e do PT um pacote de corte de gastos mais significativo.

Da mesma forma, a força da extrema-direita revelada pela eleição americana, e que se estende ao Brasil, reforça a necessidade de Lula trilhar o caminho da frente ampla também (e talvez com maior comprometimento) em 2026. Isso, por sua vez, traz a necessidade de que o governo se aproxime mais do centro.

Amorim Neto nota que o recente veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICS (que já levou a muitas agressões a Lula e seu governo por parte dos bolivarianos) já é um passo em direção do centro. Boa parte do centro liberal que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro se horroriza com a aproximação pretérita do presidente e ainda presente do PT com a ditadura venezuelana. Isso poderia até ser razão para as mesmas forças saírem da nau de Lula em 2026. Uma guinada ao centro nesse e em outros tópicos pode ajudar Lula ou o seu candidato em 2026 a se prepararem melhor para enfrentar a extrema-direita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 8/11/2024, sexta-feira.

A vitória de Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro e a extrema-direita no Brasil, mas pode ser até uma oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corrigir seu rumo econômico e político. A análise é de Octavio Amorim Neto, cientista político da EBAPE-FGV.

Como efeito imediato, Bolsonaro já deixou claro que ele e seu grupo vão tentar instrumentalizar a vitória de Trump para conseguir uma anistia da inelegibilidade do ex-presidente brasileiro. Bolsonaro espera que ela venha pelo Congresso, com o PL, seu partido, como o maior da Câmara, pressionando por um Projeto de Lei para perdoar as pessoas envolvidas no 8 de janeiro e para torná-lo elegível novamente.

A ideia é que o Executivo e o Legislativo (a ser dominado pelos republicanos) dos Estados Unidos pressionem o Brasil nesse sentido. Amorim Neto considera essa hipótese improvável, já que, independentemente do teor ideológico do presidente, o Departamento de Estado norte-americano costuma agir com profissionalismo. O risco de se indispor com o maior país da América Latina por uma tentativa de intromissão em assuntos externos pode ser forte demais, principalmente em vista da crescente importância da China na região.

Já no Congresso americano, parlamentares individualmente podem tentar iniciativas nesse sentido, mas isso não parece ser uma bandeira majoritária nem uma prioridade.

Internamente no Brasil, Amorim Neto nota que haverá resistência à anistia a Bolsonaro tanto por parte dos seus concorrentes, pela direita, a liderar esse campo e ser candidato protagonista em 2026; como pela esquerda e pelo centro.

Outros efeitos negativos - já extensamente comentados nos meios de comunicação - da vitória de Trump para Lula e o Brasil ocorrem na economia: um surto protecionista americano prejudicando não só o comércio brasileiro diretamente, mas também atiçando a inflação norte-americana, o que leva à alta do juro internacional e maior prêmio de risco para países emergentes.

Já na área diplomática, o pesquisador aponta que Lula deve perder interlocução com a Casa Branca, mas nem tanto com o Departamento de Estado, pelas razões já mencionadas acima (a qual se acrescenta que o Itamaraty também costuma ser conduzido com profissionalismo e competência).

A vitória de Trump também pode esvaziar dois grandes encontros a serem sediados no Brasil, com os quais o País pretende projetar sua influência e imagem internacional: o G-20, no Rio em novembro; e a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) em Belém, em novembro do próximo ano.

Adicionalmente, a afinidade ideológica de Javier Milei com Trump deve reforçar o protagonismo do presidente argentino na América do Sul, em detrimento da liderança sempre buscada pelo Brasil no subcontinente. E, por fim, o Brasil assume a presidência dos BRICS em 2025 e a pauta de substituir o dólar nas transações internacionais poderia provocar rusgas com Trump.

Por outro lado, Amorim Neto vê a chance de que "o tipo de diplomacia transacional de Trump acabe encontrando pontos de afinidade com o pragmatismo de Lula".

Pelo lado das oportunidades, o cientista político considera que o ambiente externo mais hostil com a vitória de Trump pode reforçar a mão de Fernando Haddad para obter de Lula e do PT um pacote de corte de gastos mais significativo.

Da mesma forma, a força da extrema-direita revelada pela eleição americana, e que se estende ao Brasil, reforça a necessidade de Lula trilhar o caminho da frente ampla também (e talvez com maior comprometimento) em 2026. Isso, por sua vez, traz a necessidade de que o governo se aproxime mais do centro.

Amorim Neto nota que o recente veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICS (que já levou a muitas agressões a Lula e seu governo por parte dos bolivarianos) já é um passo em direção do centro. Boa parte do centro liberal que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro se horroriza com a aproximação pretérita do presidente e ainda presente do PT com a ditadura venezuelana. Isso poderia até ser razão para as mesmas forças saírem da nau de Lula em 2026. Uma guinada ao centro nesse e em outros tópicos pode ajudar Lula ou o seu candidato em 2026 a se prepararem melhor para enfrentar a extrema-direita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 8/11/2024, sexta-feira.

A vitória de Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro e a extrema-direita no Brasil, mas pode ser até uma oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corrigir seu rumo econômico e político. A análise é de Octavio Amorim Neto, cientista político da EBAPE-FGV.

Como efeito imediato, Bolsonaro já deixou claro que ele e seu grupo vão tentar instrumentalizar a vitória de Trump para conseguir uma anistia da inelegibilidade do ex-presidente brasileiro. Bolsonaro espera que ela venha pelo Congresso, com o PL, seu partido, como o maior da Câmara, pressionando por um Projeto de Lei para perdoar as pessoas envolvidas no 8 de janeiro e para torná-lo elegível novamente.

A ideia é que o Executivo e o Legislativo (a ser dominado pelos republicanos) dos Estados Unidos pressionem o Brasil nesse sentido. Amorim Neto considera essa hipótese improvável, já que, independentemente do teor ideológico do presidente, o Departamento de Estado norte-americano costuma agir com profissionalismo. O risco de se indispor com o maior país da América Latina por uma tentativa de intromissão em assuntos externos pode ser forte demais, principalmente em vista da crescente importância da China na região.

Já no Congresso americano, parlamentares individualmente podem tentar iniciativas nesse sentido, mas isso não parece ser uma bandeira majoritária nem uma prioridade.

Internamente no Brasil, Amorim Neto nota que haverá resistência à anistia a Bolsonaro tanto por parte dos seus concorrentes, pela direita, a liderar esse campo e ser candidato protagonista em 2026; como pela esquerda e pelo centro.

Outros efeitos negativos - já extensamente comentados nos meios de comunicação - da vitória de Trump para Lula e o Brasil ocorrem na economia: um surto protecionista americano prejudicando não só o comércio brasileiro diretamente, mas também atiçando a inflação norte-americana, o que leva à alta do juro internacional e maior prêmio de risco para países emergentes.

Já na área diplomática, o pesquisador aponta que Lula deve perder interlocução com a Casa Branca, mas nem tanto com o Departamento de Estado, pelas razões já mencionadas acima (a qual se acrescenta que o Itamaraty também costuma ser conduzido com profissionalismo e competência).

A vitória de Trump também pode esvaziar dois grandes encontros a serem sediados no Brasil, com os quais o País pretende projetar sua influência e imagem internacional: o G-20, no Rio em novembro; e a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) em Belém, em novembro do próximo ano.

Adicionalmente, a afinidade ideológica de Javier Milei com Trump deve reforçar o protagonismo do presidente argentino na América do Sul, em detrimento da liderança sempre buscada pelo Brasil no subcontinente. E, por fim, o Brasil assume a presidência dos BRICS em 2025 e a pauta de substituir o dólar nas transações internacionais poderia provocar rusgas com Trump.

Por outro lado, Amorim Neto vê a chance de que "o tipo de diplomacia transacional de Trump acabe encontrando pontos de afinidade com o pragmatismo de Lula".

Pelo lado das oportunidades, o cientista político considera que o ambiente externo mais hostil com a vitória de Trump pode reforçar a mão de Fernando Haddad para obter de Lula e do PT um pacote de corte de gastos mais significativo.

Da mesma forma, a força da extrema-direita revelada pela eleição americana, e que se estende ao Brasil, reforça a necessidade de Lula trilhar o caminho da frente ampla também (e talvez com maior comprometimento) em 2026. Isso, por sua vez, traz a necessidade de que o governo se aproxime mais do centro.

Amorim Neto nota que o recente veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICS (que já levou a muitas agressões a Lula e seu governo por parte dos bolivarianos) já é um passo em direção do centro. Boa parte do centro liberal que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro se horroriza com a aproximação pretérita do presidente e ainda presente do PT com a ditadura venezuelana. Isso poderia até ser razão para as mesmas forças saírem da nau de Lula em 2026. Uma guinada ao centro nesse e em outros tópicos pode ajudar Lula ou o seu candidato em 2026 a se prepararem melhor para enfrentar a extrema-direita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 8/11/2024, sexta-feira.

A vitória de Donald Trump fortalece Jair Bolsonaro e a extrema-direita no Brasil, mas pode ser até uma oportunidade para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva corrigir seu rumo econômico e político. A análise é de Octavio Amorim Neto, cientista político da EBAPE-FGV.

Como efeito imediato, Bolsonaro já deixou claro que ele e seu grupo vão tentar instrumentalizar a vitória de Trump para conseguir uma anistia da inelegibilidade do ex-presidente brasileiro. Bolsonaro espera que ela venha pelo Congresso, com o PL, seu partido, como o maior da Câmara, pressionando por um Projeto de Lei para perdoar as pessoas envolvidas no 8 de janeiro e para torná-lo elegível novamente.

A ideia é que o Executivo e o Legislativo (a ser dominado pelos republicanos) dos Estados Unidos pressionem o Brasil nesse sentido. Amorim Neto considera essa hipótese improvável, já que, independentemente do teor ideológico do presidente, o Departamento de Estado norte-americano costuma agir com profissionalismo. O risco de se indispor com o maior país da América Latina por uma tentativa de intromissão em assuntos externos pode ser forte demais, principalmente em vista da crescente importância da China na região.

Já no Congresso americano, parlamentares individualmente podem tentar iniciativas nesse sentido, mas isso não parece ser uma bandeira majoritária nem uma prioridade.

Internamente no Brasil, Amorim Neto nota que haverá resistência à anistia a Bolsonaro tanto por parte dos seus concorrentes, pela direita, a liderar esse campo e ser candidato protagonista em 2026; como pela esquerda e pelo centro.

Outros efeitos negativos - já extensamente comentados nos meios de comunicação - da vitória de Trump para Lula e o Brasil ocorrem na economia: um surto protecionista americano prejudicando não só o comércio brasileiro diretamente, mas também atiçando a inflação norte-americana, o que leva à alta do juro internacional e maior prêmio de risco para países emergentes.

Já na área diplomática, o pesquisador aponta que Lula deve perder interlocução com a Casa Branca, mas nem tanto com o Departamento de Estado, pelas razões já mencionadas acima (a qual se acrescenta que o Itamaraty também costuma ser conduzido com profissionalismo e competência).

A vitória de Trump também pode esvaziar dois grandes encontros a serem sediados no Brasil, com os quais o País pretende projetar sua influência e imagem internacional: o G-20, no Rio em novembro; e a COP30 (30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas) em Belém, em novembro do próximo ano.

Adicionalmente, a afinidade ideológica de Javier Milei com Trump deve reforçar o protagonismo do presidente argentino na América do Sul, em detrimento da liderança sempre buscada pelo Brasil no subcontinente. E, por fim, o Brasil assume a presidência dos BRICS em 2025 e a pauta de substituir o dólar nas transações internacionais poderia provocar rusgas com Trump.

Por outro lado, Amorim Neto vê a chance de que "o tipo de diplomacia transacional de Trump acabe encontrando pontos de afinidade com o pragmatismo de Lula".

Pelo lado das oportunidades, o cientista político considera que o ambiente externo mais hostil com a vitória de Trump pode reforçar a mão de Fernando Haddad para obter de Lula e do PT um pacote de corte de gastos mais significativo.

Da mesma forma, a força da extrema-direita revelada pela eleição americana, e que se estende ao Brasil, reforça a necessidade de Lula trilhar o caminho da frente ampla também (e talvez com maior comprometimento) em 2026. Isso, por sua vez, traz a necessidade de que o governo se aproxime mais do centro.

Amorim Neto nota que o recente veto do Brasil à entrada da Venezuela nos BRICS (que já levou a muitas agressões a Lula e seu governo por parte dos bolivarianos) já é um passo em direção do centro. Boa parte do centro liberal que apoiou Lula no segundo turno contra Bolsonaro se horroriza com a aproximação pretérita do presidente e ainda presente do PT com a ditadura venezuelana. Isso poderia até ser razão para as mesmas forças saírem da nau de Lula em 2026. Uma guinada ao centro nesse e em outros tópicos pode ajudar Lula ou o seu candidato em 2026 a se prepararem melhor para enfrentar a extrema-direita.

Fernando Dantas é colunista do Broadcast e escreve às terças, quartas e sextas-feiras (fojdantas@gmail.com)

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