FGV: desafio fiscal no Brasil é grande e incertezas impedem visão otimista sobre queda de juros


Pesquisadores Armando Castelar, Silvia Matos e José Júlio Senna debateram perspectivas para o cenário econômico no Brasil e no exterior em seminário organizado em parceria com o ‘Estadão’

Por Eduardo Laguna

Com a inflação ainda fora da meta central nas previsões de mercado e o combate a ela longe de terminar, o chefe do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, considera difícil o ciclo de redução da Selic terminar com a taxa abaixo de 10%.

Durante seminário da FGV em parceria com o Estadão, realizado nesta quinta-feira, 14, o economista ponderou que incertezas fiscais, com questionamentos sobre a capacidade de o governo de equilibrar receitas e despesas, como prometido no orçamento do ano que vem, mantêm os juros dos títulos com vencimento mais longo na média histórica, embora o risco-País esteja abaixo da média histórica.

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“Isso significa que os participantes do mercado estão exigindo o que sempre exigiram. Não é uma situação confortável”, comentou Senna.

“Enquanto houver incertezas sobre as contas públicas, a coisa pode se agravar (...). Vai parar talvez em 10%”, complementou o economista, ao mostrar ceticismo em relação a uma Selic em um dígito no fim do ciclo de flexibilização monetária.

Queda dos juros podem demorar mais do que o esperado Foto: Ueslei Marcelino / Reuters
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Para o pesquisador da FGV, o debate sobre até onde vai o ciclo é mais relevante do que o ritmo de cortes do BC, que, opinou, foi conservador ao sinalizar reduções de meio ponto porcentual da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Foi a forma, disse, de o BC assegurar um mínimo de controle sobre ciclo de baixa de juros, afastando o risco de uma euforia no mercado, que poderia fazer apostas de um passo mais arrojado, como cortes de 0,75 a 1,5 ponto porcentual, o que atrapalharia a condução da política monetária. “O Banco Central precisava puxar o freio de mão”, pontuou Senna.

Falsa solução

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Pesquisador associado do Ibre/FGV, Armando Castelar considerou que a saída do governo de buscar equilíbrio das contas públicas por meio de medidas de aumento de arrecadação representa uma “falsa solução”, com impacto negativo no crescimento.

“A forma como estão sendo resolvidas questões de natureza política, seja a aprovação da reforma tributária, seja a questão fiscal via aumento de carga tributaria, é bastante ruim do ponto de vista de crescimento do País”, comentou o economista.

Ele observou que o aumento de carga tributária significa menos produtividade, mais informalidade e menor crescimento. “É uma falsa solução”, classificou o economista, reforçando que a saída pode servir para os objetivos fiscais no curto prazo, mas atrapalhando bastante o crescimento.

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Após lembrar dos dois mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o aumento médio das despesas de 6% ao ano acima da inflação foi em parte compensado pela desvalorização do dólar em um cenário internacional “maravilhoso”, o que ajudou no combate à inflação, Castelar salientou que o ambiente externo não ajuda neste momento.

Segundo ele, não há perspectiva de desvalorização do dólar à frente, dado o quadro no qual a tendência de desaceleração da China se soma ao desejo político de aumentar gastos públicos.

Superávit primário longe do radar

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A coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, disse que não consegue ver no horizonte a volta dos superávits primários, bem como a redução dos juros de rolagem da dívida. A consequência, projetou, é um aumento da dívida pública, impedindo uma visão mais otimista sobre a trajetória de queda dos juros.

“Todo o processo de redução da dívida depende da recuperação do superávit primário e de juros de rolagem da dívida mais baixos. Não conseguimos ver esses dois componentes no radar. Basicamente, a dívida vai subir”, comentou.

Ao prever um déficit próximo a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas primárias do ano que vem, apesar da promessa contida no orçamento de zerar a conta, a economista frisou que o desafio fiscal no Brasil é grande, pois as medidas necessárias para aumentar as receitas do governo avançam mais timidamente do que as políticas de elevação de gastos.

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Ela observou que, desde o ano passado, o governo recebeu uma licença para gastar muito forte, e o País voltou a funcionar sob a ótica de que a solução dos problemas vem pela elevação das despesas públicas.

Silvia Matos, por outro lado, ponderou que o espaço para melhorar o uso dos recursos públicos é enorme, já que parte dos subsídios é ineficiente do ponto de vista tanto econômico quanto social. Ao considerar que a expansão do Bolsa Família produziu um círculo vicioso de dependência das políticas de transferência, criando um obstáculo à participação no mercado de trabalho, ela defendeu maior ênfase na inclusão produtiva, que, pontuou, vai “de fato” mudar a vida das pessoas.

Com a inflação ainda fora da meta central nas previsões de mercado e o combate a ela longe de terminar, o chefe do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, considera difícil o ciclo de redução da Selic terminar com a taxa abaixo de 10%.

Durante seminário da FGV em parceria com o Estadão, realizado nesta quinta-feira, 14, o economista ponderou que incertezas fiscais, com questionamentos sobre a capacidade de o governo de equilibrar receitas e despesas, como prometido no orçamento do ano que vem, mantêm os juros dos títulos com vencimento mais longo na média histórica, embora o risco-País esteja abaixo da média histórica.

“Isso significa que os participantes do mercado estão exigindo o que sempre exigiram. Não é uma situação confortável”, comentou Senna.

“Enquanto houver incertezas sobre as contas públicas, a coisa pode se agravar (...). Vai parar talvez em 10%”, complementou o economista, ao mostrar ceticismo em relação a uma Selic em um dígito no fim do ciclo de flexibilização monetária.

Queda dos juros podem demorar mais do que o esperado Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Para o pesquisador da FGV, o debate sobre até onde vai o ciclo é mais relevante do que o ritmo de cortes do BC, que, opinou, foi conservador ao sinalizar reduções de meio ponto porcentual da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Foi a forma, disse, de o BC assegurar um mínimo de controle sobre ciclo de baixa de juros, afastando o risco de uma euforia no mercado, que poderia fazer apostas de um passo mais arrojado, como cortes de 0,75 a 1,5 ponto porcentual, o que atrapalharia a condução da política monetária. “O Banco Central precisava puxar o freio de mão”, pontuou Senna.

Falsa solução

Pesquisador associado do Ibre/FGV, Armando Castelar considerou que a saída do governo de buscar equilíbrio das contas públicas por meio de medidas de aumento de arrecadação representa uma “falsa solução”, com impacto negativo no crescimento.

“A forma como estão sendo resolvidas questões de natureza política, seja a aprovação da reforma tributária, seja a questão fiscal via aumento de carga tributaria, é bastante ruim do ponto de vista de crescimento do País”, comentou o economista.

Ele observou que o aumento de carga tributária significa menos produtividade, mais informalidade e menor crescimento. “É uma falsa solução”, classificou o economista, reforçando que a saída pode servir para os objetivos fiscais no curto prazo, mas atrapalhando bastante o crescimento.

Após lembrar dos dois mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o aumento médio das despesas de 6% ao ano acima da inflação foi em parte compensado pela desvalorização do dólar em um cenário internacional “maravilhoso”, o que ajudou no combate à inflação, Castelar salientou que o ambiente externo não ajuda neste momento.

Segundo ele, não há perspectiva de desvalorização do dólar à frente, dado o quadro no qual a tendência de desaceleração da China se soma ao desejo político de aumentar gastos públicos.

Superávit primário longe do radar

A coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, disse que não consegue ver no horizonte a volta dos superávits primários, bem como a redução dos juros de rolagem da dívida. A consequência, projetou, é um aumento da dívida pública, impedindo uma visão mais otimista sobre a trajetória de queda dos juros.

“Todo o processo de redução da dívida depende da recuperação do superávit primário e de juros de rolagem da dívida mais baixos. Não conseguimos ver esses dois componentes no radar. Basicamente, a dívida vai subir”, comentou.

Ao prever um déficit próximo a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas primárias do ano que vem, apesar da promessa contida no orçamento de zerar a conta, a economista frisou que o desafio fiscal no Brasil é grande, pois as medidas necessárias para aumentar as receitas do governo avançam mais timidamente do que as políticas de elevação de gastos.

Ela observou que, desde o ano passado, o governo recebeu uma licença para gastar muito forte, e o País voltou a funcionar sob a ótica de que a solução dos problemas vem pela elevação das despesas públicas.

Silvia Matos, por outro lado, ponderou que o espaço para melhorar o uso dos recursos públicos é enorme, já que parte dos subsídios é ineficiente do ponto de vista tanto econômico quanto social. Ao considerar que a expansão do Bolsa Família produziu um círculo vicioso de dependência das políticas de transferência, criando um obstáculo à participação no mercado de trabalho, ela defendeu maior ênfase na inclusão produtiva, que, pontuou, vai “de fato” mudar a vida das pessoas.

Com a inflação ainda fora da meta central nas previsões de mercado e o combate a ela longe de terminar, o chefe do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), José Júlio Senna, considera difícil o ciclo de redução da Selic terminar com a taxa abaixo de 10%.

Durante seminário da FGV em parceria com o Estadão, realizado nesta quinta-feira, 14, o economista ponderou que incertezas fiscais, com questionamentos sobre a capacidade de o governo de equilibrar receitas e despesas, como prometido no orçamento do ano que vem, mantêm os juros dos títulos com vencimento mais longo na média histórica, embora o risco-País esteja abaixo da média histórica.

“Isso significa que os participantes do mercado estão exigindo o que sempre exigiram. Não é uma situação confortável”, comentou Senna.

“Enquanto houver incertezas sobre as contas públicas, a coisa pode se agravar (...). Vai parar talvez em 10%”, complementou o economista, ao mostrar ceticismo em relação a uma Selic em um dígito no fim do ciclo de flexibilização monetária.

Queda dos juros podem demorar mais do que o esperado Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Para o pesquisador da FGV, o debate sobre até onde vai o ciclo é mais relevante do que o ritmo de cortes do BC, que, opinou, foi conservador ao sinalizar reduções de meio ponto porcentual da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Foi a forma, disse, de o BC assegurar um mínimo de controle sobre ciclo de baixa de juros, afastando o risco de uma euforia no mercado, que poderia fazer apostas de um passo mais arrojado, como cortes de 0,75 a 1,5 ponto porcentual, o que atrapalharia a condução da política monetária. “O Banco Central precisava puxar o freio de mão”, pontuou Senna.

Falsa solução

Pesquisador associado do Ibre/FGV, Armando Castelar considerou que a saída do governo de buscar equilíbrio das contas públicas por meio de medidas de aumento de arrecadação representa uma “falsa solução”, com impacto negativo no crescimento.

“A forma como estão sendo resolvidas questões de natureza política, seja a aprovação da reforma tributária, seja a questão fiscal via aumento de carga tributaria, é bastante ruim do ponto de vista de crescimento do País”, comentou o economista.

Ele observou que o aumento de carga tributária significa menos produtividade, mais informalidade e menor crescimento. “É uma falsa solução”, classificou o economista, reforçando que a saída pode servir para os objetivos fiscais no curto prazo, mas atrapalhando bastante o crescimento.

Após lembrar dos dois mandatos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o aumento médio das despesas de 6% ao ano acima da inflação foi em parte compensado pela desvalorização do dólar em um cenário internacional “maravilhoso”, o que ajudou no combate à inflação, Castelar salientou que o ambiente externo não ajuda neste momento.

Segundo ele, não há perspectiva de desvalorização do dólar à frente, dado o quadro no qual a tendência de desaceleração da China se soma ao desejo político de aumentar gastos públicos.

Superávit primário longe do radar

A coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, Silvia Matos, disse que não consegue ver no horizonte a volta dos superávits primários, bem como a redução dos juros de rolagem da dívida. A consequência, projetou, é um aumento da dívida pública, impedindo uma visão mais otimista sobre a trajetória de queda dos juros.

“Todo o processo de redução da dívida depende da recuperação do superávit primário e de juros de rolagem da dívida mais baixos. Não conseguimos ver esses dois componentes no radar. Basicamente, a dívida vai subir”, comentou.

Ao prever um déficit próximo a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) nas contas primárias do ano que vem, apesar da promessa contida no orçamento de zerar a conta, a economista frisou que o desafio fiscal no Brasil é grande, pois as medidas necessárias para aumentar as receitas do governo avançam mais timidamente do que as políticas de elevação de gastos.

Ela observou que, desde o ano passado, o governo recebeu uma licença para gastar muito forte, e o País voltou a funcionar sob a ótica de que a solução dos problemas vem pela elevação das despesas públicas.

Silvia Matos, por outro lado, ponderou que o espaço para melhorar o uso dos recursos públicos é enorme, já que parte dos subsídios é ineficiente do ponto de vista tanto econômico quanto social. Ao considerar que a expansão do Bolsa Família produziu um círculo vicioso de dependência das políticas de transferência, criando um obstáculo à participação no mercado de trabalho, ela defendeu maior ênfase na inclusão produtiva, que, pontuou, vai “de fato” mudar a vida das pessoas.

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