Investidor estrangeiro já retirou R$ 31 bi da bolsa brasileira neste ano; entenda


Brasil vem perdendo atratividade no mercado externo; agenda fiscal tem provocado incerteza e preocupação

Por Caroline Aragaki

O pacote de estímulos anunciado pela China no fim de setembro decepcionou e não foi suficiente para reverter a saída de investimentos estrangeiros da bolsa brasileira, a B3. O movimento também foi influenciado pela deterioração no sentimento com a situação fiscal brasileira, pela incerteza sobre as eleições dos Estados Unidos e pelas dúvidas quanto aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, novembro e dezembro podem ter entrada de recursos pontuais, assim como a verificada no fim de 2023, mas dificilmente de forma consistente. Em outubro, até a sessão de quarta-feira, 23, os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,081 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está negativo em R$ 31,309 bilhões. Em 2023, o saldo estava positivo em R$ 6 bilhões até o mês de outubro.

“Estamos falando de uma saída muito constante de fluxo em 2024, e vemos investidor estrangeiro olhando com maior reticência para o Brasil”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, baseado em Nova York. Ele destaca que a evolução esperada para o arcabouço fiscal neste ano não aconteceu e isso foi preponderante na perda de atratividade do Brasil neste mês.

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“O governo já fez tudo o que podia em termos de arrecadação e ainda vem aumentando gastos públicos, então isso vai aumentando a pressão sob risco. Acaba sendo mais arriscado alocar no Brasil do que no México, por exemplo”, avalia.

Eleição nos Estados Unidos pode ser crucial para final de ano da B3 Foto: Werther Santana / Estadão

Em setembro, o relatório bimestral de despesas e receitas reacendeu temores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal de maneira mais estrutural. Já em outubro, a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma faixa de isenção mais ampla para o Imposto de Renda Pessoa Física (promessa da campanha eleitoral em 2022) e da compra de aviões para uso da Presidência e dos ministros foi interpretada negativamente pelo mercado.

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O chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, pondera que o investidor local tende a dar mais atenção ao fiscal do que o estrangeiro, mas afirma que ainda assim quem está lá fora monitora a questão.

EUA

Dúvidas em relação à maior economia do mundo também ficaram no radar em outubro, com a proximidade das eleições, em uma corrida eleitoral acirrada entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump. Bolsas de apostas indicam maior chance de o republicano vencer, embora nas pesquisas ambos os candidatos estejam emparelhados.

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“Trump tem viés mais protecionista, então para emergentes é pior. Faria com que o dólar se mantivesse mais apreciado, o que pode afetar o lucro das empresas brasileiras”, avalia Moliterno, da Veedha Investimentos.

Apesar de as eleições americanas ocorrerem em 5 de novembro, o resultado pode demorar até semanas para ser oficializado.

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Para o analista educacional da CM Capital, Vitor Agnello Piazzi, grande parte da retirada de recursos da B3 é fruto da incerteza em relação aos juros americanos. Dirigentes do Fed apontaram a possibilidade de que na próxima reunião os juros sejam cortados em 0,25 ponto porcentual (ritmo menor do que os 0,5 ponto da reunião anterior) ou até que sejam mantidos.

Velloni, da Frente Corretora, destaca que dados da economia americana vêm se mostrado resilientes, o que é um panorama desfavorável para corte de juro. “Começa a ter convergência da curva de juros entre Brasil e Estados Unidos, e com nosso fator risco elevado por dúvidas em torno do fiscal, ficamos menos atrativos”, afirma.

Há também no mercado a percepção de que uma eventual eleição de Trump pode deixar o Fed mais comedido em seu processo de distensão monetária, pelo efeito inflacionário das medidas protecionistas defendidas pelo republicano.

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China

Até mesmo a China, que poderia ter sido um contraponto ao anunciar medidas de estímulos, acabou decepcionando o mercado. Piazzi, da CM Capital, afirma que, por ora, a segunda maior economia do mundo “parece ter prometido mais do que colocou em prática em relação a estímulos”.

Em relatório deste mês, o Bank of America (BofA) destacou que os estímulos na China eventualmente poderiam levar a maiores fluxos estrangeiros para a América Latina, mas que isto não se materializou ainda.

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“O mercado pergunta efetivamente sobre os estímulos da China e espera ver no detalhe onde os recursos vão ser injetados, e quais serão os efeitos”, avalia Moliterno, da Veedha. Para ele, o PIB chinês mostrou uma margem de melhora no terceiro trimestre - cresceu 4,6% ante igual período de 2023 -, mas ainda ficou abaixo da expectativa da própria China, de crescimento de 5%.

O mercado segue atento para a possibilidade de novas medidas para estimular a segunda economia do mundo, que marcou um Congresso Nacional para 4 a 8 de novembro. A expectativa é de que legisladores revisem diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais.

Rali de fim de ano?

O panorama segue complicado em termos de fluxo para o Brasil, mas Moliterno, da Veedha, e Piazzi, da CM, não descartam a possibilidade de que a Bolsa tenha um rali de fim de ano e que haja fluxo também de estrangeiros, assim como ocorreu no fim de 2023, considerando que os múltiplos Preço por Lucro do Ibovespa seguem descontados e que há possibilidade de os pacotes de estímulos da China ajudarem.

Já Velloni, da Frente Corretora, avalia que se o Brasil não resolver a tônica fiscal, dificilmente haverá um retorno de estrangeiros de maneira consistente. “A Bolsa acaba sendo entrada e saída de curto prazo para o estrangeiro”, diz.

O pacote de estímulos anunciado pela China no fim de setembro decepcionou e não foi suficiente para reverter a saída de investimentos estrangeiros da bolsa brasileira, a B3. O movimento também foi influenciado pela deterioração no sentimento com a situação fiscal brasileira, pela incerteza sobre as eleições dos Estados Unidos e pelas dúvidas quanto aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, novembro e dezembro podem ter entrada de recursos pontuais, assim como a verificada no fim de 2023, mas dificilmente de forma consistente. Em outubro, até a sessão de quarta-feira, 23, os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,081 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está negativo em R$ 31,309 bilhões. Em 2023, o saldo estava positivo em R$ 6 bilhões até o mês de outubro.

“Estamos falando de uma saída muito constante de fluxo em 2024, e vemos investidor estrangeiro olhando com maior reticência para o Brasil”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, baseado em Nova York. Ele destaca que a evolução esperada para o arcabouço fiscal neste ano não aconteceu e isso foi preponderante na perda de atratividade do Brasil neste mês.

“O governo já fez tudo o que podia em termos de arrecadação e ainda vem aumentando gastos públicos, então isso vai aumentando a pressão sob risco. Acaba sendo mais arriscado alocar no Brasil do que no México, por exemplo”, avalia.

Eleição nos Estados Unidos pode ser crucial para final de ano da B3 Foto: Werther Santana / Estadão

Em setembro, o relatório bimestral de despesas e receitas reacendeu temores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal de maneira mais estrutural. Já em outubro, a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma faixa de isenção mais ampla para o Imposto de Renda Pessoa Física (promessa da campanha eleitoral em 2022) e da compra de aviões para uso da Presidência e dos ministros foi interpretada negativamente pelo mercado.

O chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, pondera que o investidor local tende a dar mais atenção ao fiscal do que o estrangeiro, mas afirma que ainda assim quem está lá fora monitora a questão.

EUA

Dúvidas em relação à maior economia do mundo também ficaram no radar em outubro, com a proximidade das eleições, em uma corrida eleitoral acirrada entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump. Bolsas de apostas indicam maior chance de o republicano vencer, embora nas pesquisas ambos os candidatos estejam emparelhados.

“Trump tem viés mais protecionista, então para emergentes é pior. Faria com que o dólar se mantivesse mais apreciado, o que pode afetar o lucro das empresas brasileiras”, avalia Moliterno, da Veedha Investimentos.

Apesar de as eleições americanas ocorrerem em 5 de novembro, o resultado pode demorar até semanas para ser oficializado.

Para o analista educacional da CM Capital, Vitor Agnello Piazzi, grande parte da retirada de recursos da B3 é fruto da incerteza em relação aos juros americanos. Dirigentes do Fed apontaram a possibilidade de que na próxima reunião os juros sejam cortados em 0,25 ponto porcentual (ritmo menor do que os 0,5 ponto da reunião anterior) ou até que sejam mantidos.

Velloni, da Frente Corretora, destaca que dados da economia americana vêm se mostrado resilientes, o que é um panorama desfavorável para corte de juro. “Começa a ter convergência da curva de juros entre Brasil e Estados Unidos, e com nosso fator risco elevado por dúvidas em torno do fiscal, ficamos menos atrativos”, afirma.

Há também no mercado a percepção de que uma eventual eleição de Trump pode deixar o Fed mais comedido em seu processo de distensão monetária, pelo efeito inflacionário das medidas protecionistas defendidas pelo republicano.

China

Até mesmo a China, que poderia ter sido um contraponto ao anunciar medidas de estímulos, acabou decepcionando o mercado. Piazzi, da CM Capital, afirma que, por ora, a segunda maior economia do mundo “parece ter prometido mais do que colocou em prática em relação a estímulos”.

Em relatório deste mês, o Bank of America (BofA) destacou que os estímulos na China eventualmente poderiam levar a maiores fluxos estrangeiros para a América Latina, mas que isto não se materializou ainda.

“O mercado pergunta efetivamente sobre os estímulos da China e espera ver no detalhe onde os recursos vão ser injetados, e quais serão os efeitos”, avalia Moliterno, da Veedha. Para ele, o PIB chinês mostrou uma margem de melhora no terceiro trimestre - cresceu 4,6% ante igual período de 2023 -, mas ainda ficou abaixo da expectativa da própria China, de crescimento de 5%.

O mercado segue atento para a possibilidade de novas medidas para estimular a segunda economia do mundo, que marcou um Congresso Nacional para 4 a 8 de novembro. A expectativa é de que legisladores revisem diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais.

Rali de fim de ano?

O panorama segue complicado em termos de fluxo para o Brasil, mas Moliterno, da Veedha, e Piazzi, da CM, não descartam a possibilidade de que a Bolsa tenha um rali de fim de ano e que haja fluxo também de estrangeiros, assim como ocorreu no fim de 2023, considerando que os múltiplos Preço por Lucro do Ibovespa seguem descontados e que há possibilidade de os pacotes de estímulos da China ajudarem.

Já Velloni, da Frente Corretora, avalia que se o Brasil não resolver a tônica fiscal, dificilmente haverá um retorno de estrangeiros de maneira consistente. “A Bolsa acaba sendo entrada e saída de curto prazo para o estrangeiro”, diz.

O pacote de estímulos anunciado pela China no fim de setembro decepcionou e não foi suficiente para reverter a saída de investimentos estrangeiros da bolsa brasileira, a B3. O movimento também foi influenciado pela deterioração no sentimento com a situação fiscal brasileira, pela incerteza sobre as eleições dos Estados Unidos e pelas dúvidas quanto aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, novembro e dezembro podem ter entrada de recursos pontuais, assim como a verificada no fim de 2023, mas dificilmente de forma consistente. Em outubro, até a sessão de quarta-feira, 23, os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,081 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está negativo em R$ 31,309 bilhões. Em 2023, o saldo estava positivo em R$ 6 bilhões até o mês de outubro.

“Estamos falando de uma saída muito constante de fluxo em 2024, e vemos investidor estrangeiro olhando com maior reticência para o Brasil”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, baseado em Nova York. Ele destaca que a evolução esperada para o arcabouço fiscal neste ano não aconteceu e isso foi preponderante na perda de atratividade do Brasil neste mês.

“O governo já fez tudo o que podia em termos de arrecadação e ainda vem aumentando gastos públicos, então isso vai aumentando a pressão sob risco. Acaba sendo mais arriscado alocar no Brasil do que no México, por exemplo”, avalia.

Eleição nos Estados Unidos pode ser crucial para final de ano da B3 Foto: Werther Santana / Estadão

Em setembro, o relatório bimestral de despesas e receitas reacendeu temores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal de maneira mais estrutural. Já em outubro, a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma faixa de isenção mais ampla para o Imposto de Renda Pessoa Física (promessa da campanha eleitoral em 2022) e da compra de aviões para uso da Presidência e dos ministros foi interpretada negativamente pelo mercado.

O chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, pondera que o investidor local tende a dar mais atenção ao fiscal do que o estrangeiro, mas afirma que ainda assim quem está lá fora monitora a questão.

EUA

Dúvidas em relação à maior economia do mundo também ficaram no radar em outubro, com a proximidade das eleições, em uma corrida eleitoral acirrada entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump. Bolsas de apostas indicam maior chance de o republicano vencer, embora nas pesquisas ambos os candidatos estejam emparelhados.

“Trump tem viés mais protecionista, então para emergentes é pior. Faria com que o dólar se mantivesse mais apreciado, o que pode afetar o lucro das empresas brasileiras”, avalia Moliterno, da Veedha Investimentos.

Apesar de as eleições americanas ocorrerem em 5 de novembro, o resultado pode demorar até semanas para ser oficializado.

Para o analista educacional da CM Capital, Vitor Agnello Piazzi, grande parte da retirada de recursos da B3 é fruto da incerteza em relação aos juros americanos. Dirigentes do Fed apontaram a possibilidade de que na próxima reunião os juros sejam cortados em 0,25 ponto porcentual (ritmo menor do que os 0,5 ponto da reunião anterior) ou até que sejam mantidos.

Velloni, da Frente Corretora, destaca que dados da economia americana vêm se mostrado resilientes, o que é um panorama desfavorável para corte de juro. “Começa a ter convergência da curva de juros entre Brasil e Estados Unidos, e com nosso fator risco elevado por dúvidas em torno do fiscal, ficamos menos atrativos”, afirma.

Há também no mercado a percepção de que uma eventual eleição de Trump pode deixar o Fed mais comedido em seu processo de distensão monetária, pelo efeito inflacionário das medidas protecionistas defendidas pelo republicano.

China

Até mesmo a China, que poderia ter sido um contraponto ao anunciar medidas de estímulos, acabou decepcionando o mercado. Piazzi, da CM Capital, afirma que, por ora, a segunda maior economia do mundo “parece ter prometido mais do que colocou em prática em relação a estímulos”.

Em relatório deste mês, o Bank of America (BofA) destacou que os estímulos na China eventualmente poderiam levar a maiores fluxos estrangeiros para a América Latina, mas que isto não se materializou ainda.

“O mercado pergunta efetivamente sobre os estímulos da China e espera ver no detalhe onde os recursos vão ser injetados, e quais serão os efeitos”, avalia Moliterno, da Veedha. Para ele, o PIB chinês mostrou uma margem de melhora no terceiro trimestre - cresceu 4,6% ante igual período de 2023 -, mas ainda ficou abaixo da expectativa da própria China, de crescimento de 5%.

O mercado segue atento para a possibilidade de novas medidas para estimular a segunda economia do mundo, que marcou um Congresso Nacional para 4 a 8 de novembro. A expectativa é de que legisladores revisem diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais.

Rali de fim de ano?

O panorama segue complicado em termos de fluxo para o Brasil, mas Moliterno, da Veedha, e Piazzi, da CM, não descartam a possibilidade de que a Bolsa tenha um rali de fim de ano e que haja fluxo também de estrangeiros, assim como ocorreu no fim de 2023, considerando que os múltiplos Preço por Lucro do Ibovespa seguem descontados e que há possibilidade de os pacotes de estímulos da China ajudarem.

Já Velloni, da Frente Corretora, avalia que se o Brasil não resolver a tônica fiscal, dificilmente haverá um retorno de estrangeiros de maneira consistente. “A Bolsa acaba sendo entrada e saída de curto prazo para o estrangeiro”, diz.

O pacote de estímulos anunciado pela China no fim de setembro decepcionou e não foi suficiente para reverter a saída de investimentos estrangeiros da bolsa brasileira, a B3. O movimento também foi influenciado pela deterioração no sentimento com a situação fiscal brasileira, pela incerteza sobre as eleições dos Estados Unidos e pelas dúvidas quanto aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Segundo profissionais de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast, novembro e dezembro podem ter entrada de recursos pontuais, assim como a verificada no fim de 2023, mas dificilmente de forma consistente. Em outubro, até a sessão de quarta-feira, 23, os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,081 bilhões. No acumulado do ano, o capital externo está negativo em R$ 31,309 bilhões. Em 2023, o saldo estava positivo em R$ 6 bilhões até o mês de outubro.

“Estamos falando de uma saída muito constante de fluxo em 2024, e vemos investidor estrangeiro olhando com maior reticência para o Brasil”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, baseado em Nova York. Ele destaca que a evolução esperada para o arcabouço fiscal neste ano não aconteceu e isso foi preponderante na perda de atratividade do Brasil neste mês.

“O governo já fez tudo o que podia em termos de arrecadação e ainda vem aumentando gastos públicos, então isso vai aumentando a pressão sob risco. Acaba sendo mais arriscado alocar no Brasil do que no México, por exemplo”, avalia.

Eleição nos Estados Unidos pode ser crucial para final de ano da B3 Foto: Werther Santana / Estadão

Em setembro, o relatório bimestral de despesas e receitas reacendeu temores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal de maneira mais estrutural. Já em outubro, a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de uma faixa de isenção mais ampla para o Imposto de Renda Pessoa Física (promessa da campanha eleitoral em 2022) e da compra de aviões para uso da Presidência e dos ministros foi interpretada negativamente pelo mercado.

O chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, pondera que o investidor local tende a dar mais atenção ao fiscal do que o estrangeiro, mas afirma que ainda assim quem está lá fora monitora a questão.

EUA

Dúvidas em relação à maior economia do mundo também ficaram no radar em outubro, com a proximidade das eleições, em uma corrida eleitoral acirrada entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump. Bolsas de apostas indicam maior chance de o republicano vencer, embora nas pesquisas ambos os candidatos estejam emparelhados.

“Trump tem viés mais protecionista, então para emergentes é pior. Faria com que o dólar se mantivesse mais apreciado, o que pode afetar o lucro das empresas brasileiras”, avalia Moliterno, da Veedha Investimentos.

Apesar de as eleições americanas ocorrerem em 5 de novembro, o resultado pode demorar até semanas para ser oficializado.

Para o analista educacional da CM Capital, Vitor Agnello Piazzi, grande parte da retirada de recursos da B3 é fruto da incerteza em relação aos juros americanos. Dirigentes do Fed apontaram a possibilidade de que na próxima reunião os juros sejam cortados em 0,25 ponto porcentual (ritmo menor do que os 0,5 ponto da reunião anterior) ou até que sejam mantidos.

Velloni, da Frente Corretora, destaca que dados da economia americana vêm se mostrado resilientes, o que é um panorama desfavorável para corte de juro. “Começa a ter convergência da curva de juros entre Brasil e Estados Unidos, e com nosso fator risco elevado por dúvidas em torno do fiscal, ficamos menos atrativos”, afirma.

Há também no mercado a percepção de que uma eventual eleição de Trump pode deixar o Fed mais comedido em seu processo de distensão monetária, pelo efeito inflacionário das medidas protecionistas defendidas pelo republicano.

China

Até mesmo a China, que poderia ter sido um contraponto ao anunciar medidas de estímulos, acabou decepcionando o mercado. Piazzi, da CM Capital, afirma que, por ora, a segunda maior economia do mundo “parece ter prometido mais do que colocou em prática em relação a estímulos”.

Em relatório deste mês, o Bank of America (BofA) destacou que os estímulos na China eventualmente poderiam levar a maiores fluxos estrangeiros para a América Latina, mas que isto não se materializou ainda.

“O mercado pergunta efetivamente sobre os estímulos da China e espera ver no detalhe onde os recursos vão ser injetados, e quais serão os efeitos”, avalia Moliterno, da Veedha. Para ele, o PIB chinês mostrou uma margem de melhora no terceiro trimestre - cresceu 4,6% ante igual período de 2023 -, mas ainda ficou abaixo da expectativa da própria China, de crescimento de 5%.

O mercado segue atento para a possibilidade de novas medidas para estimular a segunda economia do mundo, que marcou um Congresso Nacional para 4 a 8 de novembro. A expectativa é de que legisladores revisem diversos projetos de lei e relatórios de agências governamentais.

Rali de fim de ano?

O panorama segue complicado em termos de fluxo para o Brasil, mas Moliterno, da Veedha, e Piazzi, da CM, não descartam a possibilidade de que a Bolsa tenha um rali de fim de ano e que haja fluxo também de estrangeiros, assim como ocorreu no fim de 2023, considerando que os múltiplos Preço por Lucro do Ibovespa seguem descontados e que há possibilidade de os pacotes de estímulos da China ajudarem.

Já Velloni, da Frente Corretora, avalia que se o Brasil não resolver a tônica fiscal, dificilmente haverá um retorno de estrangeiros de maneira consistente. “A Bolsa acaba sendo entrada e saída de curto prazo para o estrangeiro”, diz.

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