DAVOS - O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou de 2% para 2,2% a projeção de crescimento econômico do Brasil em 2020, num ambiente global de baixo dinamismo. A estimativa anterior havia sido publicada em outubro. Para justificar a revisão, o relatório menciona a melhora das expectativas depois de aprovação da reforma da Previdência e a recuperação das condições de oferta no setor da mineração.
As projeções do governo brasileiro (2,4%) e do mercado (2,31%) continuam mais otimistas que as do Fundo. A expansão brasileira em 2019 deve ter ficado em 1,2%, de acordo com os novos cálculos. Os números foram apresentados em entrevista coletiva em Davos, concedida, como tem ocorrido há vários anos, um dia antes do início da reunião do Fórum Econômico Mundial.
Em 2021 o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 2,3%, segundo o cenário atualizado. Esse número é 0,1 ponto menor que o calculado em outubro. Não saíram novas estimativas para os ano seguintes, mas os números permanecem na vizinhança de 2,5%. Esse continua sendo o potencial de crescimento da economia brasileira, disse ao Estado o vice-diretor do Departamento de Pesquisa, Gian Maria Milesi-Ferretti.
O governo deve manter como prioridade o ajuste de suas contas. Um dos objetivos deve ser a contenção da dívida pública, assinalou a economista chefe do FMI, Gita Gopinath. Esse trabalho deve incluir também, segundo acrescentou, a contenção da folha salarial dos servidores. Pelos dados oficiais brasileiros, a dívida do governo geral – isto é, dos três níveis – está próxima de 78% do PIB. Pelas contas do FMI já ultrapassou 80%. As contas oficiais brasileiras excluem da dívida bruta os papéis do Tesouro em poder do Banco Central (BC). Isso explica a diferença.
Mesmo com o melhor desempenho previsto para este e para o próximo ano, o crescimento brasileiro continuará inferior à média global. A expansão do produto mundial deve passar de 2,9% em 2019 para 3,3% em 2020 e 3,4% em 2021, de acordo com o FMI. As novas projeções são menores que as de outubro. Apesar do avanço em relação a 2019, a economia mundial continuará com baixo dinamismo, com pouco ânimo.
Revisões para baixo foram feitas para os números de vários países, mas o caso da Índia, com crescimento agora previsto de 5,8% em 2020 (1,2 ponto menos que em outubro) teve um peso especial no conjunto. A melhora das projeções para algumas economias emergentes, incluída a brasileira, proporcionou alguma compensação.
Apesar do quadro medíocre, há boas notícias, comentou a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva. O mundo passou de uma “desaceleração sincronizada” – expressão usada em outubro” – para uma “estabilização tentativa com recuperação sem ânimo”. A atividade da indústria e o comércio internacional parecem reagir depois de bater no fundo do poço. As notícias positivas incluem também a assinatura da fase 1 de um acordo entre Estados Unidos e China, com redução das tensões comerciais.
Do lado negativo, permanecem riscos de conflito comercial entre Estados Unidos e União Europeia, de agravamento da crise no Oriente Médio e até de uma recaída na disputa entre americanos e chineses.
Cooperação internacional é a solução para fortalecer e consolidar o crescimento e também para evitar o risco de um retrocesso, segundo a economista Gita Gopinath. É preciso, insistiu, manter políticas monetárias brandas e criar incentivos fiscais onde houver espaço para isso.
Além disso, é necessária cooperação multilateral para facilitar as trocas internacionais e favorecer a recuperação econômica. Isso deve incluir a eliminação de barreiras comerciais e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio, com rápida solução do impasse em torno do Órgão de Apelação, atualmente sem condições de operar. O impasse a respeito da nomeação de árbitros para completar o quadro daquele órgão impede o seu funcionamento e entrava a solução de conflitos.
Não houve referência a governos e a países, mas o multilateralismo tem sido solapado a partir da onda nacionalista e antiglobalista, liderada pelo presidente Donald Trump e apoiada pelo brasileiro Jair Bolsonaro.