NOVA YORK - O Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçou o coro internacional e elogiou a decisão do Brasil de adotar uma meta de inflação contínua no lugar da chamada ano-calendário, em vigor desde 1999, em relatório publicado hoje. No novo modelo, anunciado em junho último, o Banco Central (BC) segue perseguindo um alvo, mas a partir de um horizonte mais extenso, seguindo o sistema adotado em economias avançadas como os Estados Unidos e a Europa.
Com a mudança, o Brasil passa a adotar uma meta contínua de inflação de 3% a partir de 2025, com bandas de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. As metas anteriores foram mantidas inalteradas. Neste ano, o centro do alvo é de 3,25%.
“A recente decisão do Brasil de adotar uma meta contínua (em vez de ano-calendário) de inflação de 3% a partir de 2025 é um exemplo concreto de uma melhoria na eficácia operacional e na estratégia de comunicação, ajudando a reduzir a incerteza e a aumentar a eficácia da política monetária”, diz o FMI, em estudo publicado hoje, parte do relatório Perspectiva Econômica Global (WEO, na sigla em inglês).
Além do Brasil, o Fundo cita como outros exemplos de melhorias na comunicação da política monetária iniciativas dos bancos centrais do Uruguai e do Paquistão, que desde 2020 anunciam de maneira prévia os seus calendários de decisões, e ainda do Chile e da Tailândia.
No estudo do FMI, os autores Silvia Albrizio e John Bluedorn avaliam como as expectativas futuras impactam a inflação e a margem de manobra que os bancos centrais têm para conduzir o índice à meta, sem causar uma recessão em termos de crescimento econômico e emprego. “Os bancos centrais podem incentivar as expectativas a serem mais prospectivas através de melhorias na independência, transparência e credibilidade da política monetária e através de uma comunicação mais clara e eficaz”, afirmam, em nota.
Depois de o custo de vida ter atingido o patamar máximo em várias décadas em muitas economias em 2022, o índice global de inflação tem se reduzido, mas o núcleo, que exclui os voláteis preços de energias e alimentos, revela-se mais rígido em um cenário de aumento salarial, avaliam. “O risco de a inflação elevada ficar incorporada nas expectativas e levar a decisões que mantêm a inflação elevada assombra os bancos centrais”, alertam Albrizio e Bluedorn, no documento.
De acordo com eles, as projeções futuras desempenham “papel fundamental” na conduta da inflação uma vez que têm impacto direto no consumo e investimentos e, consequentemente, nos preços e salários. Após o choque na esteira da pandemia, pesam, sobretudo, as expectativas de curto prazo, dizem.
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Mas isso muda de país para país. Albrizio e Bluedorn identificaram que a inflação nas economias avançadas normalmente aumenta cerca de 0,8 p.p. para cada aumento de 1 p.p. nas expectativas de curto prazo. Já nos mercados emergentes, esse impacto é de apenas 0,4 p.p..
No caso das economias desenvolvidas, as expectativas de curto prazo são o principal motor para a dinâmica da inflação. No caso dos mercados emergentes, tal fator cresceu de importância, mas o passado segue tendo mais peso. “Isto poderia refletir, em parte, a experiência inflacionária historicamente mais elevada e mais volátil em muitas destas economias”, justificam os autores.