WASHINGTON - O ajuste fiscal dominou o terceiro dia das reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Para o Brasil, as notícias trouxeram sinais divergentes. E as reações também. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, celebrou projeções de menor crescimento da dívida este ano. Já o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a lembrar a correlação da credibilidade fiscal com a política monetária e disse e repetiu que fará “o que for necessário para ancorar a inflação”.
O FMI, por sua vez, reforçou o alerta. “Colocar firmemente o Brasil em uma trajetória descendente da dívida pública exigiria esforços fiscais mais ambiciosos e sustentáveis, ancorados na melhoria do quadro fiscal, protegendo simultaneamente os gastos com prioridades sociais e com investimento”, disse o diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do fundo, Vitor Gaspar, em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira, 17.
O fundo piorou as projeções fiscais para o Brasil em 2024 e nos próximos anos, na esteira da mudança das metas anunciada pela equipe econômica no início da semana. Para o organismo, o superávit não virá no Lula 3, mas a dívida deve crescer menos.
Haddad minimizou a piora nas projeções fiscais e focou no reconhecimento o fundo para a trajetória do endividamento brasileiro, que deve crescer menos. “O mais importante para nós é que o FMI comece a rever a trajetória da dívida. Isso para nós é muito importante, porque todo esse esforço tem a ver com essa trajetória”, disse Haddad.
Mas, de outro lado de Washington, o presidente do BC brasileiro também deu o seu recado - e acabou com as apostas do mercado de um novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic na reunião de maio. Ele participou de um evento da XP Investimentos - inicialmente fechado à imprensa, mas depois liberado para jornalistas, em um claro sinal de que Campos Neto queria que todos tivessem acesso às suas falas.
Nelas, o banqueiro central voltou a alertar sobre os riscos para a política monetária vindos de uma possível desancoragem da âncora fiscal, como já havia feito em discurso, em Nova York. “Se você perde credibilidade na âncora fiscal, fica mais caro para âncora monetária”, afirmou.
E quase pôde pedir música no Fantástico (programa da Globo). Campos Neto falou e repetiu que o BC fará “o que for necessário para ancorar a inflação”. “É importante repetir”, frisou.
Por sua vez, Haddad acha que o pior do efeito das tensões geopolíticas pode ter sido superado. O dólar à vista fechou a R$ 5,2439, queda de 0,47% frente à sessão anterior. “Penso que esse movimento (de arrefecimento das tensões) vai continuar nas próximas semanas. O pico foi na terça-feira”, disse.