Brasília - Sob olhares atentos do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne esta semana, as estimativas para o IPCA - índice oficial de inflação - voltaram a cair no Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 19, graças a um conjunto de notícias favoráveis à queda dos preços.
A expectativa para o IPCA deste ano dos economistas ouvidos pelo BC caiu de 5,42% para 5,12%, uma queda de 0,30 ponto porcentual em apenas uma semana. Um mês antes, a mediana era de 5,8%. Para 2024, foco da política monetária, a projeção cedeu de forma modesta, de 4,04% para 4%. Há um mês, era de 4,13%.
As estimativas do Focus divulgadas nesta segunda-feira são usadas como variáveis nos modelos do Copom para a inflação. Na reunião de maio, estavam em 5,8% para 2023 e 3,6% para 2024 no cenário de referência. Recentemente, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicou que a inflação deste ano poderia ficar entre 4,5% e 5%. Se, oficialmente, a projeção do Copom cair para este nível, poderia ter um efeito, por inércia, em 2024, aumentando as condições para uma queda de juros em breve.
As expectativas de inflação têm caído em reação a um conjunto de notícias favoráveis. Os dados correntes mostram que a desinflação está em curso, há deflação nos índices de atacado e a moeda brasileira tem se apreciado. Além disso, a alteração da perspectiva de rating do Brasil pela S&P reduz o prêmio de risco, assim como a melhora na percepção no debate fiscal e da meta de inflação. Na semana passada, ainda houve outra redução dos preços da gasolina nas refinarias.
Apesar disso, a mediana no Focus para a inflação oficial em 2023 ainda está acima do teto da meta (4,75%), apontando para três anos de descumprimento do mandato principal do Banco Central, após 2021 e 2022. Para 2024, a mediana supera o centro da meta (3%), mas está dentro do intervalo de tolerância superior, que vai até 4,5%.
Nos horizontes mais longos, a mediana para o IPCA de 2025 também voltou a ceder, de 3,9% para 3,8%. Da mesma forma, houve queda na estimativa para 2026, de 3,88% para 3,8%. Há um mês, ambas as projeções eram de 4%. A meta para 2025 é de 3% (margem de 1,5% a 4,5%). Ainda não há objetivo definido para 2026.
Na avaliação do BC, a desancoragem observada nos prazos mais longos nos últimos meses está ligada ao debate sobre mudança da meta de inflação, levantado pelo governo. Há também questões ligadas ao risco fiscal, que tem diminuído com o andamento do novo arcabouço fiscal, reconhecem BC e mercado.
Deflação em junho
Os economistas do mercado financeiro passaram a prever deflação no índice de inflação oficial (IPCA) de junho no Focus, após a surpresa desinflacionária com o dado de maio e nova queda no preço da gasolina nas refinarias. A mediana passou de alta de 0,2% para recuo de 0,04%. Há um mês, a expectativa era de aumento de 0,34% em junho.
Para o IPCA de julho, a estimativa cedeu de 0,32% para 0,3%, ante a mediana de 0,36% um mês antes. Para agosto, a previsão para o indicador baixou de 0,23% para 0,22%, de 0,24% há quatro semanas.
Taxa de juros
A expectativa para a taxa básica de juros (Selic) no fim deste ano também caiu no Boletim Focus, após oito semanas de estabilidade, em meio à melhora do cenário inflacionário. A mediana para os juros básicos no fim de 2023 baixou de 12,5% para 12,25% ao ano. Para o término de 2024, a expectativa também caiu, de 10% para 9,5% após 17 semanas de manutenção.
Em maio, o Copom decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano pela sexta reunião seguida. O colegiado se reúne de novo nesta semana, com anúncio da decisão na quarta-feira (21). As estimativas de Selic da Focus são usadas no cenário de referência de inflação do colegiado.
Na terceira reunião do Copom no novo governo Lula, o comitê afirmou que a apresentação do arcabouço fiscal reduziu parte da incerteza, mas que a conjuntura é marcada por um processo de desinflação que tende a ser lento em meio às expectativas de inflação desancoradas. Segundo o colegiado, esse contexto demanda maior atenção na condução da política monetária.
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O BC ainda repetiu que vai continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa Selic por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação à meta. Mas acrescentou que o cenário de retomada da alta de juros é menos provável, embora garanta que não hesitará em tomar esse caminho caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado.
Em entrevista recente à Globonews, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu que o cenário está melhor, considerando números mais favoráveis da inflação corrente e sinais positivos à frente. Também destacou a queda na curva de juros longos com a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, mas ponderou que é preciso ver o efeito nas expectativas.
No Focus, a projeção para a Selic no fim de 2025 continuou em 9%, mesma mediana de quatro semanas atrás. O boletim ainda trouxe a projeção para a Selic no fim de 2026, que se manteve em 8,75%, repetindo o porcentual de um mês antes.