BRASÍLIA - O mercado financeiro subiu as projeções para a inflação deste ano pela quinta semana seguida. De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira, 19, a mediana das previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 subiu de 4,20% para 4,22%, distanciando-se ainda mais do centro da meta de inflação perseguida pelo BC, de 3%. Um mês antes, essa projeção era de 4,05%. Para 2025, a estimativa intermediária para a inflação de cedeu de 3,97% para 3,91%, a segunda baixa seguida. Um mês antes, estava em 3,90%.
As medianas para os horizontes mais longos também se mantiveram descoladas do centro da meta de inflação. Ficaram em 3,60% no caso de 2026 e 3,50% em 2027, pela 11.ª e 59.ª semana consecutiva, respectivamente.
As projeções de uma inflação mais alta chegam em um momento delicado para a política monetária, em que se discute até se será necessário elevar a taxa de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em setembro.
Na semana passada, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse em um evento organizado pelo banco Barclays, em São Paulo, que a autoridade monetária está “muito incomodada” com a desancoragem das expectativas em relação ao alvo da inflação e prometeu fazer o necessário para corrigir esse desvio.
“Não estamos dando um guidance (orientação), mas faremos o que for necessário para levar a inflação à meta. E, se aumentar os juros for necessário, nós aumentaremos”, ele afirmou, reforçando que o BC vai perseguir a meta independentemente de quem seja seu próximo presidente. O mandato de Campos Neto termina em 31 de dezembro.
Projeção de alta do PIB
A mediana para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2024, no relatório Focus, subiu de 2,20% para 2,23%, após o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado na sexta-feira, 16, ter mostrado uma forte expansão da economia brasileira em junho e no segundo trimestre.
Na última sexta-feira, Campos Neto já havia dito que o mercado provavelmente aumentaria as projeções de crescimento da economia brasileira este ano para mais do que 2,5%, devido às surpresas com a atividade.
Também na sexta, economistas do mercado que se reuniram com diretores do BC reforçaram que o hiato do produto (o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda) continua apertado e o mercado de trabalho, aquecido. Esses são fatores que também têm influência direta na decisão de subir ou não os juros.
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A mediana do Focus para a alta do PIB de 2025 caiu de 1,92% para 1,89%, provavelmente considerando uma trajetória de juros mais alta, já que a estimativa intermediária para a taxa Selic no fim do próximo ano avançou. Os economistas do mercado não alteraram as projeções de crescimento da economia em 2026 e 2027. Ambas permaneceram em 2%, como já estão há 54 semanas e 56 semanas, respectivamente.
A última estimativa divulgada pelo BC, no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, indicava crescimento de 2,3% para o PIB brasileiro este ano. O Ministério da Fazenda espera que o PIB brasileiro cresça 2,5% em 2024.
Selic no fim de 2024
A mediana para a Selic no fim de 2025 subiu pela segunda semana consecutiva, de 9,75% para 10%, indicando um total de cortes de apenas 0,5 ponto porcentual no próximo ano. A projeção para a taxa básica de juros no fim de 2024 se manteve em 10,5% pela nona semana consecutiva.
Em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, na terça-feira, Campos Neto reforçou que o Copom tem votado de forma unânime para garantir a convergência do IPCA para a meta. Na sexta, ele reforçou que uma alta de juros está na mesa, se necessária.
O mercado manteve o consenso de que os juros encerrarão 2026 e 2027 em 9%.