BRASÍLIA – Depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dar uma bronca em ministros pela divulgação de programas que não foram acertados com o Planalto, o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB), afirmou nesta terça-feira, 14, que Lula está certo e “nunca erra”, reconhecendo que “realmente era melhor” que a Casa Civil tivesse participação no Voa Brasil, projeto que anunciou para venda de passagens a R$ 200 para estudantes, aposentados e servidores com renda até R$ 6,8 mil.
Ele foi questionado sobre o episódio ao chegar no lançamento da Frente Parlamentar de Portos e Aeroportos (FPPA). Segundo França, Gol e Azul já “toparam” participar, apesar de dizer que a proposta teria surgido das companhias aéreas. “Elas estão formatando as ideias de como vão propor isso. Pelo menos duas toparam já, a Gol e a Azul, e tenho certeza também que a Latam vai topar”, disse.
Perguntado se não havia se precipitado ao anunciar o Voa Brasil, França disse que apresentou o programa internamente durante a reunião ministerial realizada na última sexta-feira por Lula. “Falei sobre esse assunto. Em reunião com 50 pessoas, é claro que não ficaria reservado para mim”, disse o ministro. Ele disse que há um “erro” de interpretação sobre o programa, que, segundo ele, não é do governo, mas das empresas.
“Durante vários períodos do ano, elas operam com ociosidade mesmo. Se as empresas encontrarem jeito de fornecerem essas vagas para as pessoas a preços menores, temos que comemorar. É super positivo que façam isso, e nós do governo temos que incentivar”, disse França ao ser questionado sobre a viabilidade da operação, já que o espaço ocioso das aeronaves é também um mecanismo de gestão da receita das companhias aéreas. “Se eles encontrarem solução para equacionar essas vagas, a um preço que dê o limite de R$ 200, é pouco provável que não vá dar resultado, só que você tem que limitar”, disse França.
Segundo ele, a Secretaria Nacional de Aviação Civil, junto às empresas, irá se debruçar agora sobre recortes possíveis de público para o programa. “Seria por receita, por idade, abaixo de 25, acima de 65? Para também não tirar o cliente que já é deles e passar por uma tarifa...não, queremos novas pessoas voando”, afirmou França. Ontem, porém, ele disse que o programa seria destinado a servidores, aposentados, pensionistas e estudantes com Fies com renda de até R$ 6,8 mil.
O ministro disse que as próprias companhias definirão os voos a entrar no Voa Brasil. “Eles que definem, mas eles vão colocar em todos os voos; vão procurar colocar naturalmente as tardes, as noites, horários alternativos. É da competência deles, não vamos regular”, respondeu, voltando a dizer também que a implementação pode ser escalonada. “Se dependesse de mim, saía amanhã, mas depende das próprias empresas”.
Financiamento
O ministro ainda repetiu que não haverá subsídio do governo, e que o financiamento do parcelamento da passagem não necessariamente precisa sair de um banco público, como a Caixa. “Pode ser da Caixa, pode não ser. Pode ser de banco privado, que também faz isso. Para aposentado, pensionista”, declarou.
França afirmou que estava reunido com as companhias para tratar do assunto logo antes de chegar ao lançamento da frente, que reúne em Brasília representantes do mercado e do governo dos setores de portos e aeroportos. Ao discursar, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, afirmou que a entidade está “otimista e disposta” a participar do debate sobre o Voa Brasil. “Entendemos que construindo isso, com apoio do parlamento, com enfrentamento a custos, podemos aqui também construir essa agenda para o futuro processo de crescimento sustentado e sustentável”, declarou.