RIO - A Federação Única dos Petroleiros (FUP) está convocando uma paralisação para a próxima sexta-feira, 24, com objetivo de discutir uma greve mais ampla contra as privatizações da Petrobras. A categoria questiona os atuais diretores e conselheiros da estatal, herdados do governo anterior, e que vem dando prosseguimento às vendas de ativos que já estavam com as negociações em processo avançado.
“A decisão da diretoria executiva, publicada no dia 17/3, prevê prosseguir com a venda dos projetos que já tiveram pré contrato assinado: Polo Norte Capixaba, Polos Golfinho e Camarupim (ES), Polos Pescada e Potiguar (RN) e Lubnor (CE)”, crítica a FUP.
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Iniciados no governo de Michel Temer, os desinvestimentos de ativos da Petrobras têm sido alvo de pressão não apenas dos petroleiros, mas também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que além de já ter deixado claro que quer fortalecer a petroleira, também deseja rever a privatização da Eletrobras.
O próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, são contra as vendas, que estão suspensas por 90 dias desde o dia 1º de março. Ainda gerida pela gestão do governo anterior, a empresa afirmou ao mercado “que não vê fundamentos para que contratos assinados sejam suspensos”.
O processo de venda no governo Bolsonaro visava manter apenas os ativos da região Sudeste e focar a atividade da companhia na produção de petróleo e gás natural no pré-sal. Já o governo Lula pretende expandir novamente as ações da estatal no País inteiro, em vários setores e estados, e interromper as vendas que ainda não tiveram o fechamento (closing) do processo.
Durante o governo Bolsonaro, foram vendidos 54 ativos da Petrobras, alcançando a marca de R$ 175 bilhões, ou 62,3% do total de vendas realizadas pela empresa em oito anos. No total, entre janeiro de 2015 e dezembro de 2022, a estatal se desfez de 70 ativos, obtendo R$ 281 bilhões, segundo o Observatório Social do Petróleo (OSP).
A FUP afirma que a atual diretoria bolsonarista “está correndo contra o tempo” para vender os ativos que já estavam perto de serem alienados, e por isso decidiu parar para avaliar quais medidas poderiam ser tomadas para evitar a concretização das vendas, como uma possível greve. Em visitas ao Nordeste, Prates prometeu que a estatal vai continuar na Bahia e no Rio Grande do Norte, dois estados que a Petrobras ficará sem ativos se as vendas forem concretizadas (Polo Potiguar e Polo Bahia Terra).
“É inadmissível que profissionais alinhados ao governo anterior sigam entranhados na gestão da empresa, inviabilizando e boicotando o programa de governo que foi aprovado nas urnas”, diz o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
De mãos atadas até a próxima Assembleia Geral Ordinária (AGO), prevista para 27 de abril, que vai mudar os conselheiros da companhia, Prates segue sendo pressionado para interromper as vendas, mas tem sido derrotado pela pressão contrária do Conselho e da diretoria.
Segundo fontes, na reunião sobre o resultado do quarto trimestre da estatal do Conselho de Administração, do qual Prates faz parte, o executivo tentou demover dos membros do órgão a intenção de pagar mais um dividendo bilionário aos acionistas, direcionando os recursos para mais investimentos, porém teve que aceitar a decisão dos conselheiros, que abriram mão apenas de uma parte dos proventos, cuja destinação será julgada pela AGO de abril.