BRASÍLIA – Indicado para a presidência do Banco Central pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o economista Gabriel Galípolo atinge o ponto alto de sua carreira aos 42 anos. Desde a indicação de Armínio Fraga para o mesmo cargo, em 1999, ele é o integrante mais novo a ocupar o posto na instituição responsável por definir a taxa de juros e a política monetária do País.
Formado em economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com mestrado em economia política pela mesma instituição, Galípolo foi presidente do Banco Fator, entre 2017 e 2021, e se aproximou da cúpula petista no final de 2021, ainda antes da pré-campanha para as eleições presidenciais.
Com a vitória de Lula, teve papel importante durante a transição entre os dois governos, atuando como braço direito de Fernando Haddad, que se tornaria ministro da Fazenda. No início do mandato, em janeiro de 2023, assumiu a Secretaria-Executiva da Fazenda, sendo o número 2 da pasta, até ser indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, em maio do mesmo ano.
O movimento foi visto no mercado financeiro como uma forma de o governo fazer uma transição sem sobressaltos no BC. Desde então, ele sempre foi visto como o favorito para a indicação por Lula. Em abril, o Estadão antecipou que o anúncio do nome para suceder Campos Neto seria feito mais cedo, de modo que a transição fosse “suave e colaborativa”.
Galípolo já teve experiência no setor público. No governo de São Paulo, sob José Serra, foi chefe da Assessoria Econômica da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, em 2007, e diretor da Unidade de Estruturação de Projetos de Concessão e PPPs, em 2008. Também foi sócio e diretor da Galípolo Consultoria, entre 2009 e 2022.
Aproximação com Lula
Antes de se aproximar da cúpula petista, Galípolo foi sócio do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, por um ano, com quem escreveu três livros: “Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo”, de 2017, “A escassez na abundância capitalista”, de 2019, e “Dinheiro: o poder da abstração real”, de 2021.
No segundo semestre de 2021, Lula pediu uma reunião com alguns economistas para tentar entender por que o mercado financeiro havia abraçado o então presidente Jair Bolsonaro, apesar das constantes declarações vistas como ameaças à democracia.
A proximidade com Belluzzo – economista historicamente ligado ao PT – e a chefia do Banco Fator credenciaram Galípolo para a conversa. Sua resposta ao questionamento de Lula – franca e direta – teria agradado o então candidato, que passou a convidar o economista para participar de novos encontros.
O argumento de Galípolo era que os investidores tinham uma visão pragmática da política em Brasília e tentavam proteger o seu patrimônio de oscilações e risco. Por isso, teriam abraçado a agenda liberal do então ministro da Economia, Paulo Guedes, sem apostar em uma ruptura democrática.
Em abril, a então presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi convidada a participar de um encontro do grupo Esfera Brasil, em São Paulo. A presença de Galípolo ajudou a quebrar o gelo entre a petista e empresários e investidores.
Nas reuniões com a cúpula petista, Galípolo tentava sempre manter uma postura discreta, já que ele não era um quadro do partido e poderia despertar ciúmes em outros economistas mais ligados à legenda.
Divisão do Copom abalou confiança
Desde que assumiu o cargo de diretor de Política Monetária, Galípolo vem ampliando sua interlocução com o mercado financeiro. O ponto de estresse, contudo, aconteceu na reunião de maio deste ano, quando houve uma divergência, por 5 a 4, em relação ao tamanho do corte da Selic naquele encontro.
Galípolo e outros três diretores indicados por Lula defenderam um corte de meio ponto, enquanto outros cinco diretores que vieram da administração Bolsonaro, incluindo Campos Neto, votaram por uma redução menor, de 0,25 ponto. A divisão foi lida por vários integrantes do mercado como uma interferência política – o que foi prontamente negado tanto pelo BC quanto por integrantes do Ministério da Fazenda.
Nas outras duas reuniões, em junho e julho, as decisões foram unânimes, com a manutenção da taxa em 10,5% ao ano – o que ajudou na recuperação da confiança. Nas últimas semanas, com a proximidade do anúncio pelo presidente Lula, Galípolo passou a adotar um tom até mais duro do que Roberto Campos Neto. Ainda assim, o seu nome foi confirmado por Lula.
Filosofia e punk-rock
Ainda na graduação, na PUC-SP, Galípolo se aproximou de economistas de perfis distintos, como Persio Arida, um dos criadores do Plano Real, e Belluzzo, de perfil mais desenvolvimentista.
A convite do economista e professor José Marcio Rego, começou a participar de reuniões na casa de Arida, onde discutia filosofia aos sábados pela manhã, e debatia autores como Edmund Husserl, Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Já na casa de Belluzzo, conheceu nomes como Fernando Henrique Cardoso, Ruy Fausto, e José Arthur Giannotti.
Sua proximidade com o ministro Fernando Haddad foi acelerada por conversas sobre filosofia da física, e sua relações com a economia, o que também era tema de interesse de Haddad, mas pela ótica da antropologia.
Em conversa com o Estadão, em agosto do ano passado, logo após sua nomeação para a diretoria do Banco Central, compartilhou dicas de livros e discos com os leitores, na seção “Pra Ver, ouvir e pensar”. Recomendou ler o escritor russo Fiódor Dostoiévski, divertir-se com uma comédia italiana e cair no punk-rock brasiliense da década de 80 da banda Plebe Rude.