Formado em Economia pela PUC-SP, Gabriel Galípolo chamou a atenção nos últimos dias após participar com a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do Partido dos Trabalhadores, de um jantar com empresários em São Paulo e ser apontado como um dos novos economistas do círculo de Luiz Inácio Lula da Silva.
A ida de Galípolo e Gleisi ao jantar é um indício de que o PT busca um discurso menos radical – ao menos na economia. Vai na mesma linha da aproximação do ex-presidente com Geraldo Alckmin, segundo o diretor de um banco estrangeiro na Faria Lima. O encontro, organizado pelo grupo Esfera Brasil, reuniu nomes como Abilio Diniz (do Grupo Península), Flávio Rocha (da Riachuelo) e Eugênio Mattar (um dos sócios fundadores da Localiza).
Convencer o mercado financeiro, no entanto, pode ser difícil em meio a declarações polêmicas de Lula, que sugeriu em evento da CUT esta semana "mapear endereços" dos parlamentares para fazer pressão por pautas de interesse dos sindicatos.
Galípolo, segundo uma fonte, tem se empenhado em reduzir a tensão entre Lula e parte do setor financeiro. Foi justamente essa defesa do ex-presidente que atraiu os olhos do petista para Galípolo, que tem 39 anos. Ele inclusive diz que Lula deve falar com diferentes economistas para formular sua política econômica, e não tenha apenas "um Messi". Para um economista da Unicamp que o conhece, Galípolo está longe de ser um liberal como Paulo Guedes, mas também não é um radical à esquerda.
"Estamos num bom momento para que sejam discutidas as concepções apressadas de Estado forte ou fraco, intervencionista ou não", diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Fator, que trabalhou com Galípolo até sua saída do banco, em 2021. Segundo ele, Galípolo gosta de dialogar e é aberto a mudanças – e conseguirá conversar com os extremos tanto do partido quanto da sociedade.
"O Galípolo está em um time, do qual também faço parte, que entende ser preciso ajudar o mercado a se viabilizar, mas com limites", afirma o economista-chefe do Fator. "Não me venha dizer que precisa fazer reformas e o mercado faz o resto porque isso simplesmente não funciona."
Além de ter sido presidente do Fator até 2021, Galípolo é professor da UFRJ, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), conselheiro da Fiesp e trabalhou na Secretaria Estadual de Economia e Planejamento, no governo de José Serra. É próximo ao PT há mais de 10 anos, quando colaborou em 2010 na construção do plano de governo do ex-ministro Aloizio Mercadante.
Para o economista-chefe do Fator, o fato de Galípolo ter trabalhado no setor público, na academia e na área financeira é uma vantagem na articulação política. Esse currículo produziu bons resultados no comando do Fator – posto assumido em 2017, no fim de uma crise econômica, troca de governo por impeachment e mudança estrutural no mercado financeiro. "Essa experiência dá uma visão menos ingênua na execução política", diz Gonçalves.
Crítica ao teto de gastos
Em uma live recente, Galípolo afirmou: "O economista é como um navegador do século XVI, só enxerga uma milha e meia pela frente". Ele vê com cautela a independência do Banco Central e o teto de gastos. Para ele, o País não deveria ter um regime fiscal pró-cíclico, ou seja, que acaba acentuando o ciclo econômico para o bem ou para o mal. Assim, o mais indicado, por exemplo, quando a economia piora, seria expandir os gastos públicos e não cortar, como exige o teto. Nas suas palavras, o teto ruiu e é preciso pensar em uma regra fiscal que consiga ter um horizonte temporal mais amplo.
A regra fiscal do teto de gastos foi adotada em 2016 durante o governo de Michel Temer justamente para restabelecer a credibilidade das contas públicas depois de anos de gastos crescentes, durante os governos de Dilma Rousseff. A ex-presidente também seguia visão de que as despesas do governo poderiam ser uma medida contracíclica, para estimular a economia durante períodos de recessão.
Em declarações recentes, Galípolo diz que Jair Bolsonaro vai terminar seu governo com a economia bastante desfavorável à reeleição. Os juros muito altos, se bons para o mercado financeiro, vão penalizar o investimento e o consumo, também afetados pela inflação, disse em um evento pela internet.
Sobre a recente polêmica do reajuste dos preços dos combustíveis, Galípolo afirma que essa política sempre vai gerar tensão. O acionista da Petrobras quer o lucro. Mas para a sociedade, a alta dos preços "machuca", não só para o petróleo, mas para toda cadeia produtiva. Se o mercado financeiro acha que virá um candidato perfeito que consiga equacionar essa questão, Galípolo não vê como factível.
Proximidade com Lula
Com Lula, Galípolo foi ao Natal dos catadores no fim do ano passado. Também é muito próximo de Fernando Haddad, com quem escreveu um artigo no começo do mês defendendo uma moeda única para a América do Sul, que ajudaria a integrar os países sulistas. É discípulo de Luiz Gonzaga Belluzzo, da escola de Economia da Unicamp, conhecida pelo perfil mais desenvolvimentista. Com Belluzzo, escreveu livros, artigos e foi sócio de uma consultoria. A sociedade foi desfeita e Galípolo tem hoje sua própria consultoria. Antes de 2010, era mais próximo do PSDB paulista.
Galípolo está contribuindo para Fundação Perseu Abramo (FPA), a entidade do PT presidida por Mercadante que formula políticas públicas e faz estudos econômicos. O economista não é filiado ao PT e tampouco é membro da Fundação, mas tem dado seus pitacos em temas como infraestrutura, logística e concessões por meio do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas (NAPP).
Procurado, Galípolo não concedeu entrevista.